C.
H. Mackintosh
Breves Meditações
19 - A Ceia do Senhor (Resposta a
uma carta)
A Escritura é clara e definida sobre o tema da Ceia do Senhor. As palavras não podem ser mais precisas: “Todas as vezes que comerdes este pão, e beberdes esta taça, a morte do Senhor anunciai até que ele venha.” (1Co 11:26). Deste modo lemos: “Façam isto em memória de mim.” (Mt 22:19) Nós recordamo-nos da Sua morte, a qual constitui a base, o centro e a fonte de tudo para nós. Sem dúvida, o Apóstolo chama a atenção sobre o facto de que o nosso bendito Senhor, na mesma noite em que foi entregue, no Seu atento e desinteressado amor por nós instituiu a festa; e isto está cheio de comovedor interesse para os nossos corações. Mas, quanto à expressão da festa em si, o seu significado, o seu objecto e o seu lugar, a Escritura é muito pontual: “a morte do Senhor anunciam”; “façam isto em memória de mim”. Recordamos a Cristo na Sua morte. Trazemo-Lo para a nossa memória nessa condição em que, graças a Deus, Ele já não está. Tudo isto só pode realizar-se pela fé, mediante o poder do Espírito Santo. Não é necessário que entremos em detalhes sensacionais, o que seria muito ofensivo para todo o verdadeiro sentimento espiritual. Não podemos —nem nisto, nem em nenhuma outra coisa— apartarmo-nos, nem um ápice da verdadeira linguagem das Santas Escrituras.
É totalmente certo que o objecto particular da Ceia do Senhor é o recordar e anunciar a Sua morte; mas, ao mesmo tempo, os capítulos 14 a 16 do Evangelho de João demonstram muito claramente que, depois da Ceia, o nosso Senhor discorreu sobre vários temas; e, se Ele o fez, os seus servos certamente podem fazer o mesmo. Seria, pois, um sério engano excluir todo o ensino ou exortação que não tivesse por tema o facto da morte de Cristo ou as circunstâncias que giram em torno do mesmo. Cremos que nisto, como em todo o resto, o Espírito Santo deve guiar e ordenar. Corre-se sempre o perigo de tomar certa ideia e fazer uma desmedida insistência nela. Estamos plenamente conscientes do verdadeiro carácter e objecto da Ceia em si mesma; mas também acreditamos que, uma vez que a festa foi devidamente celebrada, há um amplo campo para a acção do Espírito Santo no ensino e na exortação. “Faça-se tudo para edificação.” (1Co 14:26).
Você pergunta: «Se achasse um jovem que lhe inspirasse a mais absoluta segurança de que é salvo, que goza da paz com Deus, da comunhão com as coisas de Cristo, e cuja conduta no lar manifestasse o poder de todas estas coisas, você o receberia, se ele expressasse o desejo de participar da mesa do Senhor, ou o deixaria em suspenso, para mais adiante, se ele tivesse só 13 ou 14 anos?» Com toda a segurança, receberíamos a esse jovem com muito prazer, e não dilataríamos nem em só uma hora a sua recepção. O que tem de ver a idade, com a vida divina? Quantos anos tinha Samuel quando conheceu pela primeira vez ao Senhor? Quantos anos tinha Josias, ou Timóteo?
Consideramos que a sua observação não é de maneira nenhuma presunçosa; mas devemos persistir dizendo que não vemos nenhum fundamento na Escritura para que uma pessoa parta o pão sozinha. O partimento do pão é, claramente, um acto de comunhão para cuja integridade é absolutamente essencial, no nosso julgamento, pelo menos, a presença de dois.
“Quando chegou a noite, sentou-se à mesa com os doze” (Mt 26:20). De igual modo também Mc 16:17. Do mesmo modo, em Lc 22:14: “Quando era a hora, sentou-se à mesa, e com ele os apóstolos.” Além disso, Judas é claramente mencionado como participante da festa e ouve-se-lhe fazer uma pergunta. Então, não meramente na Páscoa, mas na Ceia, o nosso Senhor diz: “Eis aqui a mão do que me entrega está comigo à mesa.” (Lc 22:21) Não entendemos como alguém é capaz de questionar o facto da presença de Judas na Ceia. O carácter de Judas só era conhecido pelo Senhor. Os seus companheiros apóstolos não parecem ter tido nenhuma suspeita a respeito dele. Mas argumentar, apoiados nisto, que deveríamos aprovar um mal conhecido na mesa do Senhor, é simplesmente iniquidade. Dizer que podemos ter traidores à mesa, dos quais nada sabemos, é confessar a nossa própria debilidade; mas dizer que devemos ter traidores conhecidos, é algo totalmente chocante para qualquer mente santa.
Há alguma autoridade bíblica para limitar a Ceia do Senhor, ao primeiro dia da semana? Não existe dúvida de que os discípulos a celebravam especialmente nesse dia; mas originalmente foi instituída num dia de semana. Seria um gozo partir o pão em qualquer ocasião, sempre que os irmãos sejam competentes para esse propósito, e todas as circunstâncias desse acto estejam de acordo com o pensamento de Deus.
“A festa”, em 1Co 5:8, constitui o anti-tipo da festa dos pães sem levedura, a qual, como se desprende de Êxodo 12, apoiava-se na Páscoa e achava-se inseparavelmente relacionada com esta. O dintel ensanguentado não tinha que ser separado dos pães sem levedura: a paz e a pureza, a segurança e a santidade devem andar sempre juntas. Seria uma estranha aplicação de 1Co 5:8 —ou melhor diríamos, uma miserável aplicação— se nos referíssemos ao assunto para usar pão sem levedura, ou vinho sem fermentar, na Ceia do Senhor. Cremos, querido amigo, que a festa se refere a toda a nossa vida cristã neste mundo. Ela deveria ser, do princípio ao fim, uma festa de pão sem levedura, apoiada no grande facto de que “a nossa páscoa, que é Cristo, já foi sacrificada por nós” (1Co 5:7); uma vida de santidade pessoal que flui de uma redenção cumprida, conhecida e aplicada pelo poder do Espírito Santo (1).
Nota:
(1) Artigo n.º 48
http://www.verdadespreciosas.com.ar/index.html
Tradução de Carlos António da Rocha
****
Esta tradução é de
livre utilização, desde que a sua ortografia seja respeitada na íntegra porque
já está traduzida no Português do Novo Acordo Ortográfico e que não seja nunca
publicada nem utilizada para fins comerciais; seja utilizada exclusivamente
para uso e desfruto pessoal.
Sem comentários:
Enviar um comentário