Hoje,
deixo um convite à leitura do ‘Cantico delle Creature’ (Cântico das Criaturas)
de Francisco de Assis [Giovanni di Pietro di Bernardone, mais conhecido como
São Francisco de Assis (Assis, 5 de julho 1182 — 3 de outubro de 1226)] que
faleceu há 784 anos!
Falar deste Cântico (também conhecido como ‘Cântico do Irmão Sol’ ou, em latim, como ‘Laudes criaturarum’) é falar da poesia que Francisco criou no final da sua vida, provavelmente em 1224, isto é, dois anos antes de morrer. O período é dos mais duros para ele. Francisco acha-se enfraquecido pela doença e quase cego. Está afastado da direcção da comunidade que fundara e já pressente os conflitos que nela surgirão após a sua morte. Ainda nesses últimos anos é que Francisco, mais uma vez, se volta para a poesia. Mais uma vez, porque ele desde jovem gostava de recitar e cantar os poemas dos rimadores provençais, cuja língua bem conhecia. E a sua grande fonte de inspiração, durante a vida toda, foram as poesias da Escritura Sagrada, sobretudo os salmos e o Cântico dos Cânticos. O seu amor à poesia é que o tornou conhecido como jogral de Deus, ‘giullare di Dio’.
Não
é de estranhar, portanto, que no momento em que se preparava para partir,
Francisco voltasse a buscar na poesia a expressão de toda a sua experiência
espiritual. Nascem, assim, os versos do “Cântico das Criaturas.” Vale a pena
reproduzi-los (e desfrutar a sua leitura!):
Cântico das Criaturas
Altíssimo, omnipotente e bom Deus,
Teus são o louvor,
a glória, a honra e toda bênção.
Só a Ti, Altíssimo,
são devidos,
e homem algum é digno
de Te mencionar.
Louvado sejas, meu
Senhor, com todas as Tuas criaturas.
Especialmente o
irmão Sol,
que clareia o dia e
com sua luz nos ilumina.
Ele é belo e
radiante, com grande esplendor
de Ti, Altíssimo é
a imagem.
Louvado sejas meu
senhor, pela irmã Lua e as Estrelas,
que no céu
formastes claras, preciosas e belas.
Louvado sejas meu
Senhor, pelo irmão Vento,
pelo ar ou
neblina,ou sereno e de todo tempo
pelo qual as Tuas
criaturas dais sustento.
Louvado sejas meu
Senhor,pela irmã Água,
que é muito útil e
humilde e preciosa e casta.
Louvado sejas meu
Senhor, pelo irmão Fogo,
pelo qual iluminas
a noite,
e ele é belo e
jucundo e vigoroso e forte.
Louvado sejas meu
Senhor, pela nossa irmã a mãe Terra,
que nos sustenta e
nos governa,
e produz frutos diversos,
e coloridas flores e ervas.
Louvado sejas meu
Senhor, pelos que perdoam por teu amor
e suportam
enfermidades e tribulações.
Bem aventurados os
que sustentam a paz,
que por Ti,
Altíssimo serão coroados.
Louvado sejas meu
Senhor, pela nossa irmã a morte corporal,
da qual homem algum
pode escapar.
Ai dos que morrerem
em pecado mortal!
Felizes os que ela
achar
conforme à Tua
Santíssima vontade,
porque a segunda
morte não lhes fará mal.
Louvai e bendizei
ao meu Senhor, e dai lhes graças
e serví-O com
grande humildade.
|
Cantico delle Creature
Altissimo,
onnipotente, bon Signore,
tue so' le laude, la gloria e l' honore et
onne benedictione.
Ad te solo ,
Altissimo, se confano
e nullu homo ène
dignu te mentovare.
Laudato sie, mi'
Signore, cum tucte le tue criature,
spetialmente messer
lo frate sole,
lo qual' è iorno,
et allumini noi per lui
Et ellu è bellu e
radiante cum grande splendore:
de te, Altissimo,
porta significatione.
Laudato si', mi'
Signore, per sora luna e le stelle:
in celu l' ài
formate clarite e pretiose e belle.
Laudato si', mi'
Signore, per frate vento
e per aere nubilo e
sereno et onne tempo,
per lo quale a le
tue creature dài sostentamento.
Laudato si', mi' Signore, per sor' acqua,
la quale è molto
utile et humile et pretiosa et casta.
Laudato si', mi' Signore, per frate focu,
per lo quale
ennallumini la nocte:
et ello è bello et
iocondo e robustoso e forte.
Laudato si', mi'
Signore, per sora nostra madre terra,
la quale ne
sustenta et governa,
e produce diversi
frutti con coloriti fiori et herba.
Laudato si', mi'
Signore, per quelli ke perdonano per lo tuo amore
e sostengono
infirmitate e tribulatione.
Beati quelli ke'l sosterranno in pace
ca da te,
Altissimo, sirano incoronati.
Laudato si', mi'
Signore, per sora nostra morte corporale
da la quale nullu
homo vivente po' scappare:
guai a quelli ke
morrano ne le peccata mortali;
beati quelli ke
trovarà ne le tue sanctissime voluntati,
ca la morte secunda
no 'l farà male.
Laudate et benedicete mi' Signore et
rengratiate
e serviateli cum
grande humilitate.
|
Sem comentários:
Enviar um comentário