… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

terça-feira, 18 de outubro de 2016

01 - Como estudar as Escrituras, (Extracto de uma carta)



C. H. Mackintosh

Breves Meditações

01 – COMO ESTUDAR AS ESCRITURAS, (Extrato de uma carta)
Não é fácil para ninguém prescrever a outros o seu próprio método de estudo das Escrituras. As infinitas profundidades da Palavra, assim como as glórias morais da Pessoa de Cristo, revelam-se unicamente à fé e segundo as suas necessidades espirituais. Isto, simplifica, notavelmente a questão. Não é de talento, nem de capacidade intelectual o que necessitamos, mas da natural simplicidade de uma criança. O Autor das santas Escrituras é Quem deve abrir o nosso entendimento a fim de que possamos receber os Seus preciosos ensinamentos. E, Ele seguramente o fará, se tão somente esperarmos nEle, com todo o nosso coração.

Mas, nunca devemos perder de vista o facto fundamental de que o nosso conhecimento se incrementará na medida em que púnhamos em prática o que sabemos. De nada nos aproveitará sentarmo-nos, quais ratos de biblioteca, a estudar a Bíblia. Pudemos encher o nosso intelecto de conhecimentos bíblicos, saber de cor as doutrinas da Bíblia e a letra da Escritura sem daí obter um jota de unção ou de poder espiritual. Devemos acorrer às Escrituras da mesma maneira como um homem sedento se aproxima duma fonte; ou, da mesma maneira como um homem esfomeado vai à busca de comida; ou também, da mesma forma como um navegante se orienta pelo seu mapa. Devemos recorrer às Escrituras por quanto sem elas não podemos fazer absolutamente nada. Socorremo-nos delas, não somente para as estudarmos, mas também para nos alimentarmos. Os instintos da nova natureza conduzem-nos naturalmente à Palavra de Deus, assim como, a criança recém nascida deseja o leite que a fará crescer. O novo homem cresce quando se alimenta da Palavra.

Daí, a grande importância prática deste assunto relativo a como estudar as Escrituras. Está intimamente relacionado com a nossa condição moral e espiritual, com o nosso andar diário, com os nossos hábitos e com a nossa conduta. Deus deu-nos a Sua Palavra para formar o nosso carácter, para governar a nossa conduta e para dirigir os nossos caminhos. Por esta razão, se a Palavra de Deus não exerce uma influência formativa e um poder governante sobre nós, é o cúmulo da insensatez pensar em acumular uma grande quantidade de conhecimentos bíblicos na cabeça. Isto só nos inflama –nos envaidece– e nos engana. É algo muito perigoso manejar verdades sem senti-las; isto fomenta a fria indiferença, a leviandade do espírito e o endurecimento da consciência, algo horroroso para os santos de piedade formal. Não há nada que nos empurre tanto para as garras do inimigo do que um elevado conhecimento intelectual da verdade sem uma consciência sensível, um coração sincero e uma mente recta. A mera profissão da verdade, sem que esta faça mossa na consciência, nem que se manifeste na vida, constitui um dos maiores perigos dos nossos dias. É muitíssimo melhor conhecer pouco de forma real e efectiva do que acumular uma grande quantidade de verdades que jazam impotentes na região do entendimento, sem exercer qualquer influência formativa na vida. Prefiro muito mais achar-me, honestamente, em Romanos 7 do que ficticiamente no capítulo 8 de Romanos. No primeiro caso, estou certo de proceder correctamente; enquanto que, no segundo, quem sabe, o que será de mim!?

Em relação à sua pergunta, concernente ao uso de escritos humanos que nos ajudem a estudar as Escrituras, requer-se muita cautela. O Senhor, sem dúvida, pode fazer uso –e, de facto, Ele o faz– dos escritos dos Seus servos, da mesma forma como Se vale dos Seus ministérios orais, para a nossa instrução e edificação. Na verdade, é maravilhoso enfatizar a rica graça do Senhor e os Seus ternos cuidados para com o Seu amado povo, ao qual nunca deixou sem alimento, no presente estado fendido e dividido da Igreja, senão que o prouve do ministério escrito dos Seus servos.

Mas, repetimo-lo, requer-se uma grande cautela e uma diligente dependência do Senhor para não abusar deste dom tão precioso; por outras palavras, a fim de que não sejamos levados a «viver de empréstimos». Se verdadeiramente dependemos de Deus, Ele nos dará o conveniente; porá nas nossas mãos o livro adequado; Ele alimentar-nos-á com os meios apropriados. É, pois, dEle que o recebemos; e em comunhão com Ele o fazemos. Desta maneira, o que Deus nos der será refrescante, vivo, poderoso e formativo; falará ao coração e brilhará na nossa vida; cresceremos na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Precioso crescimento! Oxalá que haja mais dele!

Por fim, devemos recordar-nos que a santa Escritura é a voz de Deus, e que a Palavra escrita é a transcrição da Palavra viva. Somente pelo ensino do Espírito Santo podemos realmente entender a Escritura, e Ele revela as Suas vivas profundidades à fé e de acordo com as necessidades da alma. Nunca nos olvidamos disto.

(Volume I - Artigo 2)


Tradução de Carlos António da Rocha

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Esta tradução é de livre utilização, desde que a sua ortografia seja respeitada na íntegra porque já está traduzida no Português do Novo Acordo Ortográfico e que não seja nunca publicada nem utilizada para fins comerciais; seja utilizada exclusivamente para uso e desfruto pessoal.

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