… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

sábado, 29 de outubro de 2016

10 - “O que esperarei?” (1) (Salmo 39:7)


C. H. Mackintosh

Breves Meditações
10 - “O que esperarei?”(1) (Salmo 39:7)
Esta é uma pergunta esquadrinhadora para o coração; porque é normalmente muito saudável, se tivermos em conta a nossa contínua atitude de esperar por coisas que, uma vez chegadas, comprovamos que não eram dignas de ser esperadas.

O coração humano é muito similar ao pobre coxo que se sentava cada dia à porta do templo, segundo se relata em Actos 3. Ele olhava a todos os que passavam, “esperando receber algo”; e o coração é igual, sempre está olhando em busca de algum alívio, algum consolo ou algum prazer no transcurso das circunstâncias. Podemo-lo ver sempre, procurando, sentar-se junto às correntes da pobre criatura, esperando vãmente que algo refrescante fluía por seu intermédio.

É assombroso pensar nas bagatelas sobre as quais a natureza, às vezes, fixa o seu expectante olhar: uma mudança de circunstâncias, uma mudança de cena, uma mudança de ambiente, uma viagem, uma visita, uma carta, um livro —qualquer coisa, para resumir— basta para despertar expectativas, no pobre coração, que não encontra o seu centro, a sua fonte, o seu tudo, em Cristo.

Daí, a importância prática de esquadrinhar com frequência o nosso coração, fazendo-nos a nós mesmos a pergunta: “Que espero eu?”. Sem dúvida, que a sincera resposta a esta pergunta dar-lhe-ia, às vezes, ao cristão mais avançado, motivos de profunda humilhação e “juízo próprio”, diante do Senhor.

No versículo 6 do Salmo 39 “Na verdade, todo homem anda numa vã aparência; na verdade, em vão se inquietam; amontoam riquezas, e não sabem quem as levará” temos três grandes protótipos do carácter do homem, segundo este se manifeste em “vã aparência”, ou como aquele que “em vão se inquieta” ou como o que “amontoa riquezas”. Estes protótipos podem achar-se algumas vezes combinados; mas, geralmente, eles apresentam um desenvolvimento distintivo.

Há muitos, cuja vida é “como uma sombra”, quer seja no seu carácter pessoal, quer seja também na sua posição comercial ou quer seja ainda na sua actividade política ou religiosa. No que a eles se refere, não há nada sólido, nada real, nada verdadeiro. O seu brilho não provem senão da mais fina capa de ouro possível: não há nada profundo, nada intrínseco. Tudo é obra superficial, o golpe de luz mais fugaz, nada mais que fumo.

A seguir, encontramos outra classe de indivíduos cuja vida é um cenário contínuo de “vã aparência; na verdade, em vão se inquietam”. Nunca os veremos tranquilos, satisfeitos ou felizes. Sempre haverá alguma coisa terrível que se aproxima, alguma catástrofe à distância, a mera antecipação do que os mantém numa constante ansiedade febril. Eles vivem preocupados pelos bens materiais, pelos amigos, pelos negócios, pelos filhos, pelos empregados. Ainda que vivam em circunstâncias que muitos dos seus semelhantes estimariam como muito invejáveis, parecessem achar-se numa perpétua inquietude. Vivem acossados por problemas que quiçá nunca se suscitem, por dificuldades com as que quiçá nunca tropecem, por desgraças que provavelmente jamais vejam. Em vez de se recordar das bênçãos do passado e regozijar-se nas divinas bondades do presente, sempre antecipam as provas e angústias do futuro. Numa palavra, eles “em vão se inquietam”.

Finalmente, encontrar-se-á outra classe de gente, totalmente diferente das anteriores: gente astuta, sagaz, industriosa, que faz e acumula dinheiro, gente que viveria enquanto outros morreriam de fome. Quanto a eles não há demasiada “sombra.” São demasiado sólidos, e a vida é uma realidade demasiado prática para gente desse tipo. Também não se pode dizer deles que se afanem demasiado. São, pelo contrário, de espírito sereno, quieto, excessivamente laborioso, de uma mentalidade activa, empreendedora, especuladora. Esta gente “amontoam riquezas, e não sabem quem as levará ”(2).

Mas, leitor, recorde que o Espírito Santo qualificou as três classes de pessoas com o mesmo qualificativo: “vaidade”. Sim, “tudo”, sem excepção, “debaixo do sol” — como o pronunciou alguém (3) que sabia isto por experiência e que escreveu por inspiração —é “vaidade e aflição de espírito. ” (4) Vire-se para onde quiser “debaixo do sol”; o seu coração não achará repouso algum neste mundo. O homem deverá ascender-se na inquebrantável e robusta asa da fé e elevar-se às regiões por cima do Sol, a fim de achar “nos céus uma possessão melhor e permanente ” (5). Aquele que está sentado à destra de Deus disse: “Faço andar pelo caminho da justiça, no meio das veredas do juízo. Para que faça herdar bens permanentes aos que me amam, e eu encha os seus tesouros. ” (6) Ninguém, senão Jesus, nos pode dar-nos “herança”; ninguém senão Ele pode “encher”; ninguém senão Ele pode “satisfazer”. Na perfeita obra de Cristo está aquilo que satisfaz as mais profundas necessidades da consciência; assim como também, na Sua gloriosa Pessoa Se encontra aquilo que pode satisfazer os mais veementes anelos do coração. Aquele que tem achado a Cristo na Cruz, e a Cristo no Trono, tem achado tudo o que pudesse necessitar, seja para esta vida, seja para a vindoura.

Pois bem, o salmista, uma vez que pôs à prova o seu coração com a pergunta: “Que espero eu?”, responde: “A minha esperança está em ti”. Nada de “sombra”, nada de “vã aparência”, nada de “amontoar riquezas” tinha a ver com ele. Ele tinha achado em Deus um objectivo digno de ser esperado, e, em consequência, afastando os seus olhos de tudo o mais, diz: “A minha esperança está em ti”.

Esta, amado leitor, é a única posição verdadeira, aprazível e feliz. A alma que se apoia em Jesus, que põe os seus olhos nEle e espera nEle, nunca será defraudada. Ela possui um inesgotável fundo de gozo presente, em comunhão com Cristo; ao tempo que é animada pela “esperança bem-aventurada” de estar com Jesus aonde Ele está, para contemplar a Sua glória, de expor-se à luz da Sua face e de ser conformada à Sua imagem, para sempre, uma vez que este cenário presente, com todas as suas “sombras”, a sua “vã aparência” e os seus recursos, tenha passado.

Cultivemos o hábito de pôr à prova os nossos corações, tão ligados às coisas da Terra e tão anelantes dos recursos humanos, com a esquadrinhadora pergunta: “Que espero eu?” Estou esperando alguma mudança das circunstâncias ou ao Filho de Deus dos Céus ? (7) Podemos elevar os nossos olhos a Jesus e, com coração pleno e honesto, dizer-Lhe: Senhor, “a minha esperança está em Ti”? 

Oxalá que os nossos corações estejam plenamente separados deste “presente século mau” e de tudo o que lhe pertence, pelo poder da comunhão com as coisas que são invisíveis e eternas.

De várias ânsias o meu coração se aparta,
Por profundos e ilimitados que sejam os seus desejos.
Devo agora agradar só a Um,
Àquele, ante quem os anciãos se inclinam.
Com Ele está agora toda a minha ocupação,
E com as almas que Suas são.
Com estas, a minha feliz sorte está lançada,
Através dos desagradáveis ermos do mundo
Ou através dos seus belos jardins.
Seja que arrasem as tormentas das dificuldades,
Ou, que todos durmam com mortal descuido,
Apesar disso, seguir adiante é a minha ânsia plena. (8)

 
Notas:
(1) Agora, pois, SENHOR, que espero eu? A minha esperança está em ti”
(2) Sl 39:6
(3) Ec 1:1 “Palavras do pregador, filho de David, rei em Jerusalém.”
(4) Ecl 1:1
(5) Hb 10:34
(6) Pv 8:20 e 21
(7) 1Ts 1:10
(8) Artigo n.º 6


http://www.verdadespreciosas.com.ar/index.html

Tradução de Carlos António da Rocha

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Esta tradução é de livre utilização, desde que a sua ortografia seja respeitada na íntegra porque já está traduzida no Português do Novo Acordo Ortográfico e que não seja nunca publicada nem utilizada para fins comerciais; seja utilizada exclusivamente para uso e desfruto pessoal.

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