… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

domingo, 5 de junho de 2016

036 - O que diz a Escritura sobre empreender ações legais, reclamar pelos próprios direitos, etc.?



C. H. Mackintosh

Breves Meditações
036 - O que diz a Escritura sobre empreender ações legais, reclamar pelos próprios direitos, etc.?
«Precisaríamos estar melhor informados sobre o caso sobre o qual chama a nossa atenção, antes de lhe dar a nossa opinião. Se lhe podermos recordar o princípio geral que a Bíblia assinala quanto a este tema, ou seja, que é claramente erróneo que um crente «recorra à justiça habitualmente a fim de ganhar umas moedas» —segundo as suas próprias palavras— ou um montante de dinheiro qualquer. Cremos que o cristão é chamado a comportar-se em graça para com todos os homens, e se ele anda em graça, então não pode ir à justiça para iniciar uma demanda contra outros. Ambos os cursos de acção são diametralmente opostos.

É muito triste ver um homem a quem se lhe perdoou uma dívida de dez mil talentos, apertando o pescoço do seu próximo por apenas cem denários (Mt 18:21-35). Devemos dizer que não podemos dar muito crédito ao cristianismo deste indivíduo. Mas, querido amigo, não seria melhor, em todos estes casos, dirigirmo-nos directamente à pessoa e falar-lhe francamente, em amor?...». (1)

«A questão de se um cristão pode levar outro aos tribunais já foi causa de muitas discussões. Se se tratar de uma questão entre irmãos, 1Co 6 resolve a questão definitivamente. Se se tratar de um assunto entre um crente e um homem do mundo, só podemos dizer que se o cristão iniciar uma acção legal contra aquele, está simplesmente fazendo exactamente o contrário do que Deus fez com ele. Ele confessa que lhe perdoou uma dívida de dez mil talentos, mas, não obstante isso, toma a seu próximo pelo pescoço por cem miseráveis denários. É isto justo? É agradável a Deus? É dar um verdadeiro testemunho do nosso Pai celestial? Estamos representando a Deus tal como Ele é? Estamos sendo “imitadores de Deus”? Deus não imputa pecados (2Co 5:19). É um Deus que perdoa, que Se deleita na misericórdia (Mq 7:18-19). Se formos à justiça para demandar a outros, simplesmente não somos como Ele, não representamos o Deus da graça.

Porque é o homem de Mateus 18 chamado “servo malvado”? Porque, quando se lhe perdoaram dez mil talentos, ele tomou o seu próximo pelo pescoço por cem denários. Sem dúvida, suscitar-se-ão muitas questões a respeito deste tema. Alguns perguntarão: «O que devemos fazer?» «Como resolver o assunto?». A tudo isto perguntamos: «É justo, é consequente, é actuar como Deus actua, que um cristão leve um pobre pecador como ele a juízo, seja qual for a causa? Se a resposta for «não», que motivo há então para defender tal acção? Os crentes não têm nada a ver com os resultados; o nosso único dever é obrar bem e deixar os resultados nas mãos de Deus. Mas, inclusive, se fôssemos considerar os resultados, duvidamos que aqueles que recorrem à lei para iniciar uma acção legal realmente obtêm muito com isso. Frequentemente dão-se conta de que estiveram esbanjando o seu dinheiro. Sabemos de muitos crentes dedicados aos negócios que não fazem nenhum tipo de demanda ante a justiça, e não lhes vai a vida pior por isso, inclusive, do ponto de vista monetário. Mas, nós temos o dever de julgar a questão à luz do Novo Testamento, e se assim a julgarmos, cremos que obteremos a resposta facilmente.

Certamente, querido amigo, ainda que seja contrário ao Espírito de Cristo que um cristão leve a juízo o seu próximo, também o é se o faz por meio de uma sociedade comercial que actua em representação dele. Se estivesse bem fazer juízo, por que não o faz de forma aberta e honesta? E se estiver mal, porquê tentar fazê-lo mediante procuração? (2)

Em Mateus 5:48 lemos: “Sede, pois, vós perfeitos, como vosso Pai que está nos céus é perfeito.” Aqui aprendemos pelo contexto que a palavra “perfeito” se refere ao princípio de nosso andar, pois no v. 44 nos diz: “Amai os vossos inimigos… para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus, que faz sair o seu sol sobre maus e bons, e que faz chover sobre justos e injustos.” Ser “perfeitos” no sentido do v. 48, significa pois: actuar segundo um princípio de graça para com todos, inclusive para aqueles que nos injuriam e nos agridem. Um cristão que leva outros a juízo para fazer valer os seus direitos, não é “perfeito como o Seu Pai”, porque Seu Pai actua em graça, enquanto que ele o faz em justiça. Não nos referimos aqui à questão de se está bem ou está mal que um cristão leve as suas demandas contra agente do mundo ante um tribunal (quando se trata de irmãos, 1Co 6 é concludente). A única coisa que sustento é que todo o cristão que inicia um juízo, actua de uma maneira totalmente oposta ao carácter de seu Pai; porque seu Pai, certamente, não leva a juízo, hoje, as pessoas do mundo. Deus não está agora sobre um trono de juízo, mas sim sobre um trono de misericórdia e de graça. Derrama as Suas bênçãos sobre aqueles que deveriam ir para o Inferno se Ele os fosse levar a juízo. É evidente, pois, que quando um cristão faz comparecer um homem ante a justiça, não é “perfeito como o seu Pai que está nos céus é perfeito”.

A parábola que encontramos no final do capítulo 18 de Mateus ensina-nos que aquele que quer fazer valer os seus direitos não conhece o verdadeiro carácter da graça, nem os efeitos da graça. O servo não foi injusto por reclamar o que lhe correspondia, mas, sim, porque actuou sem graça. Obrou de maneira totalmente contrária à de seu amo. Tinham-lhe perdoado dez mil talentos; entretanto, não teve dificuldade em estrangular o seu próximo por cem miseráveis denários. E qual foi a consequência? Terminou sendo entregue aos verdugos. Perdeu o bendito sentimento da graça, e colheu os frutos amargos da sua insistência em ter feito valer os seus direitos quando ele mesmo tinha sido objecto da graça. E observe-se, além disso, que é qualificado como “servo malvado”, não por ter devido precisamente dez mil talentos, mas sim por não ter perdoado os cem denários. O amo teve a graça suficiente para perdoar a dívida, mas o servo não teve graça para perdoar a dívida significativamente inferior do seu companheiro. Esta parábola encerra uma solene voz de advertência para todos os cristãos que iniciam as demandas legais contra outros, pois ainda que se diga com respeito à sua aplicação: “Assim também meu Pai celestial fará convosco se não perdoardes de o todo coração a cada um dos vossos irmãos as suas ofensas” (v. 35), não obstante, o princípio é de aplicação geral, e demonstra-nos que todo aquele que recorre à justiça, perde o sentimento da graça.» (3)


Notas:
(1) (Answers to Correspondents, GOING TO LAW).
(2) (Short Papers, pág. 213, GOING TO LAW).
(3) (Note on the Pentateuch, GENESIS 17, nota).


http://www.verdadespreciosas.com.ar/index.html 

Notas e Tradução de Carlos António da Rocha

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Esta tradução é de livre utilização, desde que a sua ortografia seja respeitada na íntegra porque já está traduzida no Português do Novo Acordo Ortográfico e que não seja nunca publicada nem utilizada para fins comerciais; seja utilizada exclusivamente para uso e desfruto pessoal.

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