Clemente de Alexandria
“Ouve, povo Meu, e Eu falarei.” (Sl 50:7 ARC,
Pt)
“Se hoje ouvirdes a sua voz, Não endureçais os vossos corações, assim como na provocação e como no dia da tentação no deserto; Quando vossos pais me tentaram... não entrarão no meu repouso.” (Sl 95:7-11 ACF) A graça da promessa de Deus é abundante, se hoje ouvirmos a Sua voz, porque este hoje estende-se a cada novo dia enquanto se disser «hoje». Este hoje permanece até ao fim dos tempos, como permanece também a possibilidade de aprendermos. Nesse momento, o verdadeiro hoje, o dia sem fim de Deus, confundir-se-á com a eternidade. Obedeçamos pois sempre à voz do Verbo divino, à Palavra de Deus encarnada, porque o hoje de sempre é a imagem da eternidade e o dia é símbolo da luz; ora, o Verbo é para os homens a luz (Jo 1, 9) na qual vemos a Deus.
É pois
natural que a graça superabunde para aqueles que creram e obedeceram, mas
também é natural que, contra aqueles que foram incrédulos [...], que não
reconheceram as vias do Senhor [...], Deus Se irrite e os ameace. [...] O mesmo
aconteceu aos hebreus, que erraram pelo deserto e não entraram no lugar do
repouso por causa da sua incredulidade. [...]
O Senhor
ama os homens e, por isso, convida-os a todos «ao conhecimento da verdade»
(1Tim 2, 4) e envia-lhes o Espírito Santo, o Paráclito. [...] Escutai, pois,
vós que estais longe e vós que estais perto (Ef 2, 17). O Verbo não Se esconde
de ninguém. Ele é a nossa luz, Ele brilha para todos os homens. Apressemo-nos,
pois a alcançar a salvação através do Novo Nascimento. Apressemo-nos a
reunir-nos num só rebanho, na unidade do amor. E esta multidão de vozes [...],
obedecendo a um único Senhor, o Verbo, encontrará do lugar o seu repouso na própria
Verdade e poderá dizer: «Abba, Pai!» (Rom 8, 15).
Clemente
de Alexandria (150-c. 215), teólogo
Protréptico,
9; PG 8, 195-201 (a partir da trad. SC 2, p. 143, cf Orval)
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