POESIA
“HINO DE AMOR” de
João de Deus
João de Deus de Nogueira Ramos (São Bartolomeu de
Messines, 8 de março de 1830 — Lisboa, 11 de janeiro de 1896)
Andava um dia
Em pequenino
Nos arredores
De Nazaré,
Em companhia
De São José,
O bom Jesus,
O Deus Menino.
Eis senão quando
Vê num silvado
Andar piando
Arrepiado
E esvoaçando
Um rouxinol,
Que uma serpente
De olhar de luz
Resplandecente
Como a do Sol,
E penetrante
Como diamante,
Tinha atraído,
Tinha encantado.
Jesus, doído
Do desgraçado
Do passarinho,
Sai do caminho,
Corre apressado,
Quebra o encanto,
Foge a serpente,
E de repente
O pobrezinho,
Salvo e contente,
Rompe num canto
Tão requebrado,
Ou antes pranto
Tão soluçado,
Tão repassado
De gratidão,
De uma alegria,
Uma expansão,
Uma veemência,
Uma expressão,
Uma cadência,
Que comovia
O coração!
Jesus caminha
No seu passeio,
E a avezinha
Continuando
No seu gorgeio
Enquanto o via;
De vez em quando
Lá lhe passava
À dianteira
E mal poisava,
Não afroixava
Nem repetia,
Que redobrava
De melodia!
Assim foi indo
E foi seguindo.
De tal maneira,
Que noite e dia
Numa palmeira,
Que havia perto
Donde morava
Nosso Senhor
Em pequenino
(Era já certo)
Ela lá estava
A pobre ave
Cantando o hino
Terno e suave
Do seu amor
Ao Salvador!
João de Deus
João de Deus de Nogueira Ramos (São Bartolomeu de
Messines, 8 de março de 1830 — Lisboa, 11 de janeiro de 1896), mais conhecido
por João de Deus, foi um eminente poeta lírico, considerado à época o primeiro
do seu tempo, e o proponente de um método de ensino da leitura, assente numa
Cartilha Maternal por ele escrita, que teve grande aceitação popular, sendo
ainda utilizado. Gozou de extraordinária popularidade, foi quase um culto,
sendo ainda em vida objeto das mais variadas homenagens e, aquando da sua
morte, sepultado no Panteão Nacional, em Lisboa. Foi considerado o poeta do amor.
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