… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Leituras Cristãs


DIÁLOGO ENTRE ALCUÍNO DE YORK (735-804) E PEPINO (781-810)


Alcuíno de York foi um monge beneditino inglês, poeta, professor e sacerdote católico. Nasceu na Nortúmbria (Grã-Bretanha), em 735, e morreu 19 de maio, 804.



Escreveu um livro com exercícios de matemática que, quanto a mim, poderia substituir com resultados mais proveitosos alguns dos manuais escolares atualmente em uso, e fundou o palácio-escola de Aix-la-Chapelle, a pedido de Carlos Magno. Alcuíno ensinava através de adivinhas e charadas. Acreditava que se deve ensinar divertindo. Os diálogos que nos deixou, entre ele próprio e Pepino, um menino de 12 anos, iniciam-se com esta pergunta de Pepino: "O que é a fé?" A esta questão responde Alcuíno: "A certeza das coisas não sabidas e admiráveis."



O diálogo, é a Disputatio (discussão) entre o mestre Alcuíno e o segundo filho de Carlos Magno, o jovem Pepino. Quando Alcuíno em 781 - a pedido de Carlos Magno -, se encarrega da Escola Palatina, tem já cinquenta anos de idade, enquanto Pepino, é apenas uma criança de cinco. Pelo próprio texto da Disputatio, pode supor-se que Alcuíno fosse oficialmente o precetor de Pepino, o que teria ocorrido durante a primeira estada de Alcuíno junto a Carlos Magno (781-790). Trata-se, portanto, de um diálogo em que um garoto de doze ou treze anos, faz perguntas ao mestre ancião a respeito de tudo: do homem e do mundo; da vida e da morte. Nas respostas de Alcuíno, encontramos toda uma visão de mundo da época, "une sorte de digest d'une grandeur étonnante", mais preocupado com a verdade do que com a forma literária.



P: O que é a escrita?

A: A Guardiã da História.



P: O que é a palavra?

A: A Guardiã da Alma.



P: O que dá origem à palavra?

A: A língua.



P: O que é a língua?

A: O açoite do ar...



(...)



P: Que é o Homem?

A: Servo da morte, caminhante passageiro, sempre um hóspede em qualquer lugar.



(...)



P: O que é o inverno?

A: O exílio do verão.



(...)



P: Mestre, tenho medo de ir ao alto!

A: Quem te trouxe para o alto?



P: A curiosidade.

A: Se tens medo, descerei. Eu te seguirei aonde quer que vás.



P: Se eu soubesse o que é um navio, prepararia um para ti, para que viesses a mim.

A: Um navio é uma casa errante, é hospedaria em qualquer parte, um viajante que não deixa pegadas, um vizinho da areia.



(...)



A: O que é que é e que não é?

P: O nada.



P: O que é a escrita?

A: O guarda da história.



P: O que é a palavra?

A: A delatora dos segredos da alma.



P: Quem gera a palavra?

A: A língua.



P: O que é a língua?

A: O chicote do ar.



P: O que é o ar?

A: O guarda da vida.



P: O que é a vida?

A: A alegria dos ditosos, a aflição dos miseráveis, a espera da morte.



P: O que é a morte?

A: Um fato inevitável, uma incerta peregrinação, lágrimas dos vivos, confirmação dos testamentos, ladrão do homem.



P: Que é o homem?

A: Servo da morte, caminhante passageiro, sempre um hóspede em qualquer lugar.



P: A que é semelhante o homem?

A: A um fruto.



P: Qual a condição humana?

A: A de uma candeia ao vento.



P: Como está ele situado?

A: Dentro de seis paredes.



P: Quais?

A: Acima, abaixo; diante, detrás; direita e esquerda.



P: De quantos modos ele é variável?

A: De seis modos.



P: Quais?

A: Pela fome e saciedade; pelo repouso e trabalho; pela vigília e sono.



P: O que é o sono?

A: Imagem da morte.



P: O que é a liberdade do homem?

A: A sua inocência.

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P: O que é a cabeça?

A: O cimo do corpo.



P: O que é o corpo?

A: A morada da alma.



P: O que é a cabeleira?

A: A veste da cabeça.



P: O que é a barba?

A: Distinção do sexo, honra da idade.



P: O que é o cérebro?

A: O conservador da memória.



P: O que são os olhos?

A: Os guias do corpo, recipientes de luz, indicadores da alma.



P: O que são as narinas?

A: Os condutos dos aromas.



P: O que são os ouvidos?

A: Captadores de sons.



P: O que é a fisionomia?

A: A imagem da alma.



P: O que é a boca?

A: A alimentadora do corpo.



P: O que são os dentes?

A: Moinho de morder.



Diálogo entre Alcuíno de York (735-804) e Pepino (781-810)



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