A glória de Cristo,
por John Owen
Tradução da obra "Meditations on the Glory of
Crist" de John Owen, numa versão abreviada
intitulada "The Glory of
Crist".
CAPÍTULO 5
A Glória de Cristo como Mediador: II. O Seu Amor
Cristo veio a ser um mediador devido ao amor do Pai que escolheu salvar
a um incontável número de pessoas através do sangue derramado de Cristo e a
santificação pelo Espírito (Veja-se 2Ts 2:13-16; Ef 1:4-9 e 1Pe 1:2). A eleição
revela a glória da natureza divina, a qual é amor. Porque Deus é amor, qualquer
comunicação que Ele faz ao Seu povo tem de ser em amor (1Jo 4:8-9,16). O amor
de Deus é o fundamento da nossa redenção e salvação. A eleição é um ato eterno
da vontade de Deus e portanto, não pode estar apoiada em nada alheia a Ele
mesmo. Não havia nada nos escolhidos que motivasse Deus a amá-los. Nós não
fizemos nada para persuadir a Deus para que nos escolhesse. Qualquer bondade na
criatura é o efeito do amor de Deus (Veja-se Ef 1:4). O amor divino é a fonte
eterna da qual a Igreja recebe a sua vida mediante Cristo.
É por meio de muitos atos de amor que a eleição é levada ao seu
propósito fazendo uma realidade a salvação de todos aqueles que Deus escolheu
salvar. Foi devido a que Deus escolheu salvar a um povo desta raça pecaminosa,
que o ofício de Cristo como mediador foi necessário. Também foi devido a que o
Filho de Deus nos amava que esteve disposto a ser nosso mediador e realizar
todo o propósito do amor do Pai.
Para entendermos melhor o amor de Cristo pelos escolhidos, devemos notar
os seguintes pontos:
1. O número total dos escolhidos eram criaturas feitas à imagem de Deus.
2. Desta condição, caíram em pecado e num estado de inimizade contra
Deus. Isto trouxe sobre eles toda a miséria e tristeza que o pecado ocasiona,
não só nesta vida mas também na vindoura.
3. Mas, apesar desta terrível catástrofe, existia a possibilidade de
restaurar a nossa natureza ao seu estado original, a um estado de comunhão com
Deus.
4. Então, o primeiro ato de amor de Cristo para com os escolhidos foi de
compaixão e de misericórdia. Uma criatura feita à imagem de Deus mas caída em
miséria, e, não obstante, capaz de ser restaurada, é verdadeiramente um objeto
da compaixão e da misericórdia divinas. Mas, não pode haver nenhuma compaixão e
misericórdia para aqueles que nunca podem ser restaurados. Então, o Senhor
Jesus Cristo não teve compaixão nem misericórdia dos anjos caídos porque a sua
natureza não podia ser restaurada (Veja-se Hb 2:14-16).
5. O segundo ato do amor de Cristo para com os escolhidos foi
deleitar-Se neles e na possibilidade da sua salvação. Cristo deleitava-Se em
fazer-Se responsável pela salvação deles e em trazer a glória a Deus por esta
salvação.
6. Mas, alguém poderia perguntar, por que é que Cristo, que é bendito
eternamente e suficiente em Si mesmo Se preocupou tanto pela nossa condição
perdida e desamparada? O que foi que O motivou a ter compaixão e misericórdia
de nós? Não foi porque visse algo bom em nós, mas simples e justamente pelo
amor infinito e à bondade da Sua própria natureza (Tg3:5).
7. A Sua vontade disposta em ser o nosso mediador e o Seu deleite em nos
salvar não foram diminuídos pelo conhecimento das grandes dificuldades que
teria que enfrentar. A salvação dos escolhidos O envolveria em grandes
dificuldades e provas. Para a natureza divina não há nada difícil nem gravoso,
mas Cristo teria de enfrentar estas dificuldades numa natureza humana. Para nos
salvar, Cristo teria de perseverar até que a Sua alma fosse entristecida até à
morte. Para nos salvar da ira e da justiça de um Deus santo, teria de sofrer
Ele mesmo esta ira e justiça divinas. Mas, muito longe de desanimar-Se, o Seu
amor crescia como as águas de um rio que saltam todo o obstáculo. Como Ele diz
no Salmo 40:7-8, “Eis aqui venho... Deleito-me em fazer a Tua vontade, ó Deus
Meu.”
8. Então um corpo Lhe foi preparado (Hb 10:5-7). Neste corpo ou natureza
humana, Cristo realizaria a nossa redenção. A Sua natureza humana foi cheia de
graça e de amor fervoroso pela a humanidade, e assim Cristo foi feito apto para
realizar o propósito do Seu amor eterno.
9. Está claro que o glorioso amor de Cristo não foi somente divino mas
também humano. O amor do Pai revelado no propósito eterno de comunicar graça e
glória aos escolhidos, foi um amor divino. Mas o amor de Cristo foi também
humano. Este amor que procede das suas duas naturezas distintas é entretanto o
amor de uma só pessoa, Cristo Jesus. Foi um ato inexprimível de amor quando
Cristo tomou a nossa natureza humana, mas foi um ato que procedeu só da Sua
natureza divina (posto que nesse momento a Sua natureza humana não existia). A
Sua morte em prol de nós foi também um ato inefável. Não obstante, a Sua morte
foi só um ato da natureza humana na qual Se ofereceu a Si mesmo e morreu posto
que Deus não pode morrer. Mas ambos os atos de amor foram atos da Sua única
pessoa humana e divina como lemos em 1 João 3:16, “Conhecemos a caridade nisto:
que Ele deu a sua vida por nós.”
Não
devemos contentar-nos com ideias vagas sobre o amor de Cristo. Rogo-vos que
prepareis as vossas mentes para pensardes nas coisas celestiais e meditar com
seriedade na glória do amor de Cristo. Isto não o poderemos fazer se as nossas
mentes sempre se encontram cheias de pensamentos terrestres. A fim de ter
ideias claras e distintas do amor de Cristo, pensaremos nos seguintes pontos:
1. Devemos considerar que amor é este: É o amor do Filho de Deus que é
também o Filho de homem. Como Ele é único, também o seu amor é único.
2. Pense na sabedoria, na bondade e na graça manifestadas nos atos
eternos da Sua natureza divina; e na misericórdia e no amor da Sua natureza
humana, manifestas em tudo o que Ele fez e sofreu por nós (Veja-se Ef 3:19, Hb
2:14-15 e Ap 1:5).
3.
Merecíamos o amor de Cristo? Não; merecíamos a Sua ira, mas “ Nisto está a
caridade: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e
enviou Seu Filho para propiciação pelos nossos pecados.” (1Jo 4:10). O amor de
Cristo não se diminuiu pelo facto de que nós não fôssemos dignos de ser amados.
4. O que procurou o amor divino para nós? Procurou a nossa salvação
eterna e o nosso desfrute de Deus para sempre.
Devemos meditar nos ensinos das Escrituras, as quais
contêm a doçura do amor de Cristo. Não devemos contentar-nos com o facto de
termos ideias corretas nas nossas mentes sobre o amor de Cristo, mas devemos
saborear este amor nos nossos corações (Veja-se Ct 2:2-5). Cristo é o alimento
das nossas almas. Não há um nutriente espiritual mais elevado do que o Seu amor
para connoco, o qual sempre deveríamos desejar.
"Meditations on the Glory of Crist" de John
Owen numa versão abreviada intitulada "The Glory of Crist"
Tradução de Carlos António da Rocha
John
Owen (Stadhampton, 1616 - Ealing, 24 de agosto de 1683) é, por
consenso, o mais bem conceituado teólogo puritano, e muitos o
classificariam, ao lado de João Calvino e de Jonathan Edwards, como um
dos três maiores teólogos reformados de todos os tempos.
Nascido em 1616, entrou para o Queen's College, em Oxford, aos 12 anos de idade e completou seu mestrado em 1635 aos 19 anos de idade. Em 1637 tornou-se pastor.
Na década de 1640 foi capelão de Oliver Cromwell e, em 1651, veio a ser deão da Christ Church, a maior faculdade de Oxford. Em 1652, recebeu o cargo adicional de vice-reitor da universidade, a qual passou a reorganizar com sucesso notável.
Depois de 1660, foi líder dos Independentes (mais tarde chamados de congregacionais, até sua morte em 1683.
Nascido em 1616, entrou para o Queen's College, em Oxford, aos 12 anos de idade e completou seu mestrado em 1635 aos 19 anos de idade. Em 1637 tornou-se pastor.
Na década de 1640 foi capelão de Oliver Cromwell e, em 1651, veio a ser deão da Christ Church, a maior faculdade de Oxford. Em 1652, recebeu o cargo adicional de vice-reitor da universidade, a qual passou a reorganizar com sucesso notável.
Depois de 1660, foi líder dos Independentes (mais tarde chamados de congregacionais, até sua morte em 1683.
Carlos António da Rocha
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