João
Crisóstomo
«A morte de João Baptista»
Homilias sobre S. Mateus, n.º 48
"Dá-me aqui,num prato, a cabeça de João Baptista". E Deus
permitiu-o, não lançou o raio do alto dos céus para devorar aquele rosto
insolente; não ordenou à terra que se abrisse e engolisse os convivas daquele
horroroso banquete. Deus dava assim a mais bela coroa ao justo e deixava uma
magnífica consolação aos que, no futuro, viessem a ser vítimas de semelhantes
injustiças. Escutemo-lo, pois, todos nós que, apesar da nossa vida honesta,
temos de suportar os malvados... O maior dos filhos nascidos de mulher (Lc
7,28) foi levado à morte pelo pedido de uma jovem impudica, de uma mulher
perdida; e isso por ter defendido as leis divinas. Que estas considerações nos
façam suportar corajosamente os nossos próprios sofrimentos...
Mas repara no tom moderado do evangelista que, na medida do possível,
procura circunstâncias atenuantes para este crime. A propósito de Herodes, ele
nota que agiu "por causa do seu juramento e dos convivas" e que
"ficou entristecido"; a propósito da jovem, nota que tinha sido
"induzida pela mãe"... Também nós, não odiemos os malvados, não
critiquemos as faltas do próximo, escondamo-las tão discretamente quanto
possível; acolhamos a caridade na nossa alma. Porque, acerca desta mulher
impudica e sanguinária, o evangelista falou com toda a moderação possível...
Tu, porém, não hesitas em tratar o teu próximo com malvadez... Toda a diferença
está na maneira de agir dos santos: ele choram pelos pecadores, em vez de os
amaldiçoarem. Façamos como eles; choremos por Herodíades e pelos que a imitam.
Porque vemos hoje muitos banquetes do género do de Herodes; não se condena à
morte o Precursor mas destroem-se os membros de Cristo..."
João Crisóstomo (349 — 407)
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