… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

sábado, 14 de janeiro de 2017

Sermão n.º 174




C. H. Spurgeon

Sermão n.º 174
Uma chamada aos não convertidos” (A call to the unconverted) pregado na noite de domingo, 8 de novembro de 1857, por Charles Haddon Spurgeon, na Capela New Park Street, Southwark, Londres.

Todos aqueles, pois, que são das obras da Lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da Lei, para fazê-las.” (Gl 3:10, ARC, Pt)


Meu querido ouvinte, és crente ou não o és? Conforme respondas a esta pergunta, escolherei estilo de me dirigir a ti no dia de hoje. Eu pedir-te-ia, como um grande favor para a tua própria alma, que esta noite não penses que estás sentado numa capela, ouvindo um ministro que está pregando a uma grande congregação. Pensa que estás sentado na tua própria casa, na tua própria cadeira, e imagina que eu estou ao teu lado, com a tua mão na minha, conversando pessoalmente contigo, conversando sozinho contigo; pois, assim é, como desejo pregar hoje, a cada um dos meus ouvintes—a cada um, individualmente. Então, antes de começar, quero que tu me respondas, diante de Deus, a esta pergunta solene e de suma importância—estás em Cristo, ou, não estás? Andas fugido, procurando refúgio nEle, o Qual é a única esperança para os pecadores? Ou, és ainda um estranho para a nação de Israel, ignorante acerca de Deus e do Seu santo Evangelho? Sê honesto com o teu próprio coração, e deixa que a tua consciência responda: sim, ou não, pois a tua condição hoje, responde a uma destas duas situações: ou estás debaixo da ira de Deus, ou foste livrado dela. Tu és neste dia, um herdeiro da ira divina, ou um herdeiro do reino da graça. Qual das duas situações é a tua condição?

Na tua resposta não recorras a nenhuma das condicionantes “se” ou “mas”. Responde com sinceridade à tua própria alma; e, se tiveres alguma dúvida a esse respeito, suplico-te que não descanses até que tenhas resolvido essa dúvida. Não utilizes essa dúvida em teu proveito próprio, porém, antes pelo contrário usa-a contra ti. Podes estar seguro que é mais provável que te equivoques, em vez de estares correto; e, agora, põe-te a ti mesmo na balança, e se não inclinares completamente algum dos pratos, e ficares equilibrado entre os dois, dizendo: “Não sei qual dos dois,” é melhor que te decidas pela pior das respostas, ainda que te doa, e não que escolhas a melhor, sendo enganado, e, assim prossigas com presunção, até que o abismo do Inferno te desperte do teu próprio engano. Podes, então, com uma mão posta sobre a santa Palavra de Deus, e com a outra mão sobre o teu próprio coração, alçar os teus olhos ao Céu, e dizer: «Uma coisa sei, é que havendo eu sido cego, agora vejo; eu sei que passei da morte para a vida; já não sou o que antes fui; ‘eu sou o primeiro dos pecadores, mas Jesus morreu por mim;’ e, se eu não estiver terrivelmente enganado, hoje sou, ‘um pecador salvo pelo sangue, um monumento da graça’»? Meu Irmão, que Deus te ajude; a bênção do Altíssimo seja contigo. O meu versículo não contém trovões para ti. Em lugar deste versículo, procurai o versículo 13, e lede ali a vossa herança: “Cristo nos redimiu da maldição da Lei, feito por nós maldição (porque está escrito: Maldito todo o que é pendurado num madeiro).” Assim, Cristo foi feito maldição no teu lugar, e tu estás seguro, se realmente foste convertido, e se, na verdade, és um regenerado filho de Deus.

Meu querido ouvinte, estou solenemente convencido de que uma grande proporção desta assembleia não se atreveria a afirmá-lo; e tu hoje recorda-te (pois estou falando pessoalmente com cada um de vós), que és um desses, e não te atreves a afirmá-lo, pois és um estranho para a graça de Deus. Tu não te atreverias a mentir diante de Deus e da tua própria consciência, e, portanto, dizes honestamente: “Eu sei que nunca fui regenerado; sou agora o que sempre fui, e isso é o tudo o que posso dizer.” Então, tenho de tratar contigo: Exorto-te por Ele, O qual julgará os vivos e os mortos, perante Quem tu e eu nos deveremos apresentar, que escutes as palavras que prego, pois poderá ser a última advertência que jamais ouças, e exorto também a minha própria alma: sê fiel a estes homens moribundos, para que não seja achado no fim, no sopé da montanha, o sangue das almas, e tu mesma sejas desprezada. Oh Deus, faz-nos hoje fiéis, e dá-nos o ouvido que ouça, e a memória que retenha e a consciência tocada pelo Espírito, no nome de Jesus.

Em primeiro lugar, hoje vamos julgar o prisioneiro; em segundo lugar, vamos decretar a sua sentença; e, em terceiro lugar, se nos inteirarmos que ele confessa os seus pecados e se volve penitente, vamos proclamar a sua libertação; porém, não a proclamaremos a menos que comprovemos que ele o faça.

I. Então, em primeiro lugar, estamos para JULGAR O PRISIONEIRO.

O versículo diz: “Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas escritas no livro da Lei, para fazê-las.” Homem não convertido, és culpado ou não és culpado? Tens permanecido “em todas as coisas escritas no livro da Lei, para fazê-las”? Parece-me que não te atreverias a declarar-te: “inocente.” Mas, vou supor, por um momento, que és suficientemente audaz para fazê-lo. Assim, então, meu amigo, queres sustentar que permaneceste “em todas as coisas escritas no livro da Lei.” Decerto a simples leitura da Lei deveria ser suficiente para te convencer que estás completamente equivocado. Acaso sabes o que é a Lei? Vamos, vou dar-te o que poderia chamar-se uma pincelada exterior da Lei, mas recorda que dentro dela há um espírito mais profundo, não expressado por simples palavras.

Escuta estas palavras da Lei: “Não terás deuses alheios diante de mim.” O quê! Não amaste jamais alguma outra coisa mais do que Deus? Nunca fizeste um Deus do teu ventre, ou do teu negócio, ou do tua família, ou da tua própria pessoa? Oh!, certamente não te atreverias a dizer que és inocente nisto. “Não farás imagem, nem nenhuma semelhança do que esteja em cima no céu, nem abaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.” O quê! Nunca na tua vida puseste algo em lugar de Deus? Se tu não o tens feito, eu sim, e muitas vezes. E eu sei que se a tua consciência falasse com sinceridade, dir-te-ia: “Homem, tu tens sido um adorador das riquezas, tu tens sido um adorador do ventre, tens-te inclinado diante do ouro e da prata; tens-te prostrado diante da honra, tens-te inclinado perante o prazer, tens feito deus da tua bebedeira, um deus da tua concupiscência, um deus da tua imundície, um deus dos teus prazeres!” Atrever-te-ias a dizer que jamais tomaste o nome de Jeová, teu Deus, em vão? Se nunca juraste profanamente, provavelmente na conversação comum, tens feito uso algumas vezes do nome de Deus, quando não deverias havê-lo feito. Responde: Santificaste sempre esse santíssimo nome? Nunca nomeaste Deus sem necessidade? Acaso nunca leste o Seu livro com um espírito frívolo? Nunca ouviste o Seu Evangelho sem a devida reverência? Provavelmente és culpado disto. E quanto ao quarto mandamento, relativo a guardar o dia de repouso: “Lembra-te do dia de repouso para santificá-lo.” Alguma vez o quebrantaste? Oh, cala a boca e confessa-te culpado, pois estes quatro mandamentos seriam suficientes para te condenar!

“Honra a teu pai e a tua mãe.” Dir-me-ás que guardaste esse mandamento? Acaso nunca foste desobediente na tua juventude? Nunca espezinhaste o amor da tua mãe, e nunca pugnaste com as chamadas de atenção, do teu pai? Passa as páginas da tua história até chegares à tua infância: vê se não podes comprovar que já está escrito ali; ai, e a tua maturidade poderia confessar que nem sempre falaste a teus pais como devias, e nem sempre os trataste com essa honra que mereciam, e que Deus te mandou que lha desses. “Não matarás”; talvez não tenhas matado a ninguém alguma vez, porém, por acaso, nunca te irritaste? Qualquer que se irrita contra o seu irmão é um assassino; tu és culpado nisto. “Não cometerás adultério.” Talvez tenhas realizado atos imundos e neste preciso dia estás manchado de lascívia; mas, se tiveres sido muito casto, estou seguro que não estás isento de culpa, quando o Senhor diz: “Qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.” Acaso nenhum pensamento lascivo tem atravessado pela tua mente? Acaso nenhuma impureza tem sacudido a tua imaginação? De certeza que se te atrevesses a afirmá-lo, serias um desavergonhado impudico. E, por acaso, nunca roubaste? “Não furtarás”: talvez estejas hoje aqui, no meio da multidão, com o produto do teu roubo; cometeste esse ato; perpetraste um roubo; mas, se tens sido muito honesto, houve momentos nos quais hás sentido uma inclinação a defraudar o teu vizinho, até poderão ter existido algumas pequenas fraudes, ou talvez algumas mais graves que cometeste secreta e silenciosamente, nas quais a Lei civil não te pôde lançar a mão, mas, que, não obstante, foram um quebrantamento desta Lei. E, quem se atreveria a afirmar que nunca prestou falso testemunho contra o seu próximo? Acaso, nunca repetimos alguma vez, alguma história que tenha sido em detrimento do nosso vizinho e que era falsa? Acaso, alguma vez interpretamos mal os seus motivos? Acaso nunca entendemos sinistramente os seus planos? E, quem de nós se atreveria a dizer que é inocente do último mandamento: “Não cobiçarás”? Pois todos desejamos ter mais do que Deus nos deu; e, às vezes, o nosso coração extraviado cobiçou coisas que o Senhor não nos concedeu. Vamos, se nos declararmos inocentes, estaríamos anunciando a nossa própria insensatez; pois, na verdade, meus irmãos, a simples leitura da Lei é suficiente, se somos abençoados pelo Espírito, para conduzir-nos a declarar-nos: “Culpados, oh Senhor, culpados.”

Mas, alguém exclama: “Eu não me declararei culpado, pois ainda que esteja muito consciente de que não permaneci ‘em todas as coisas escritas no livro da Lei’, fiz o melhor que pude.” Essa é uma mentira; diante de Deus é uma falsidade. Não o tens feito! Não tens feito o melhor que podias. Houve muitas ocasiões nas quais poderias ter realizado um esforço melhor. Acaso, aquele jovem que está acolá, atrever-se-ia a dizer-me que está fazendo agora o melhor que pode? Que não pode reprimir a sua risada na casa de Deus? É possível que seja difícil para ele que o faça, mas é possível que poderia, se quisesse, refrear-se de insultar o seu Criador, na Sua cara. De certo, nenhum de nós tem feito o melhor que podia. Em cada período, em cada momento, houve oportunidades de escapar da tentação. Se não tivéssemos tido nenhuma liberdade de escapar do pecado, poderia haver alguma desculpa por ele; contudo, houve pontos decisivos na nossa história quando teríamos podido decidir pelo correto ou o incorreto, mas temos feito o mal e evitamos o bem, e dirigimo-nos a esse caminho que conduz ao Inferno.

“Ah, mas eu declaro, senhor,” diz outro, “que embora seja certo que tenho quebrantado essa Lei, sem dúvida alguma, não fui pior do que os meus semelhantes.” E, por certo, esse é um argumento muito triste, pois de que te serve? Seres condenado em grupo, não te serve de mais consolo, do que se tu fores condenado sozinho. É certo que não foste pior do que os teus semelhantes, porém, isto não te servirá de nada. Quando os ímpios forem atirados para o Inferno, será de muito pouco consolo para ti que Deus diga: “Apartai-vos de mim, malditos” a mil pessoas juntamente contigo. Recorda que a maldição de Deus, quando arraste uma nação ao Inferno, será sentida por cada indivíduo da multidão de igual maneira como se o castigo fosse para um só indivíduo. Deus não é como os nossos juízes terrestres. Se os vossos tribunais estivessem saturados de prisioneiros, poderiam sentir-se inclinados a tratar levianamente muitos casos. Mas, com Jeová não acontece o mesmo. Ele é tão infinito na Sua mente, que a abundância de criminosos não será uma dificuldade para Ele. Tratará contigo com a mesma severidade e justiça como se não houvesse nenhum outro pecador em todo mundo.

E eu pergunto-te: o que tens tu que ver com os pecados de outros homens? Tu não és responsável por eles. Deus determinou que tu te sustentarias ou cairias por ti mesmo. De acordo com as tuas próprias ações serás julgado. O pecado da rameira pode ser mais grave do que o teu, porém, tu não serás condenado pelas suas iniquidades. A culpa do assassino pode ultrapassar em muito as tuas transgressões, porém, tu não serás condenado pelo assassino. Oh, homem, a religião é algo entre Deus e a tua própria alma; e, portanto, imploro-te que não olhes para o coração do teu vizinho, mas para o teu próprio coração.

“Ai,” exclama alguém, “Mas eu esforcei-me, muitas vezes, para guardar a Lei, e penso que o logrei por algum tempo.” Escuta outra vez a leitura do versículo: “Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas escritas no livro da Lei, para as fazer.” Oh, senhores!, não é algum rubor febril nas faces que brota por uma irresolução doentia, o que Deus reconhece como a saúde da obediência. Não se trata de uma ligeira obediência durante uma hora, o que Deus aceitará no dia do juízo. Ele usa a palavra “permanecer;” e, a menos que, desde a minha mais temporã infância, até ao dia em que os meus cabelos brancos desçam à sepultura, tenha permanecido em obediência a Deus, deverei ser condenado. A menos que tenha servido obedientemente a Deus, desde o primeiro despertar da razão, quando comecei a ser responsável, até que, como um arbusto de trigo, seja juntado no celeiro do meu Senhor, a salvação pelas obras será impossível para mim, e eu serei condenado se estou apoiado no meu próprio fundamento. Não é, afirmo-o, alguma flutuante obediência o que salvará a alma. Tu não permaneceste “em todas as coisas escritas no livro da Lei,” e, portanto, estás condenado.

“Mas,” dirá outro, “Há muitas coisas que eu não tenho feito, mas apesar de tudo, tenho sido muito virtuoso.” Essa, também, é uma pobre desculpa. Supõe que tens sido virtuoso; supõe que tens evitado muitos vícios: lê o meu versículo. Não é minha a palavra, mas a palavra de Deus, lê-o: “Todas as coisas.” Não diz: “Algumas coisas.” “Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas escritas no livro da Lei, para as fazer.” Agora, tens posto em prática todas as virtudes? Tens-te apartado de todos os vícios? Podes pôr-te de pé e declarar: “Nunca fui um bêbado”? Entretanto, serás condenado, se tiveres sido um fornicador. Respondes acaso: “Nunca fui imundo”? Entretanto, quebrantaste o dia de repouso. Declaras-te culpado desse cargo? Acaso declaras que nunca quebrantaste o dia de repouso? Tu tomaste o nome de Deus em vão, não é verdade? Em alguma parte ou em outra, a Lei de Deus pode ferir-te. É certo (deixa agora que fale à tua consciência e afirme o que eu assevero), é certo que não permaneceste “Em todas as coisas escritas no livro da Lei.” E mais, estou convencido de que não permaneceste plenamente em nenhum mandamento de Deus, pois o mandamento é extremamente amplo. Não é o ato patente, simplesmente, o que condenará um homem; é o pensamento, a imaginação, a concepção do pecado, os que bastam para arruinar a alma. Recordai, meus queridos ouvintes, que estou pregando agora a própria palavra de Deus, não uma rigorosa doutrina da minha propriedade. Se nunca tivésseis cometido um só ato de pecado, o mero pensamento de pecado, a simples imaginação do pecado bastariam para arrastar a alma para o Inferno para sempre.

Se tivesses nascido numa cela, e não tivesses podido sair nunca para o mundo, para cometer atos de lascívia, de assassinato ou de roubo, bastaria o pensamento do mal nessa cela solitária, para apartar a tua alma para sempre do rosto de Deus. Oh!, não há ninguém aqui que possa ter a esperança de escapar. Cada um de nós deve inclinar a sua cabeça diante de Deus, e clamar: «Culpado, Senhor, culpado, cada um de nós é culpado: ‘Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas escritas no livro da Lei, para as fazer.’» Quando olho o teu rosto, oh Lei, o meu espírito treme de horror. Quando escuto os teus trovões, o meu coração derrete-se como a cera no meio das minhas entranhas. Como poderia suportar-te? Se estiver para ser julgado no fim, pela minha vida, de certeza não necessitarei de um juiz, pois eu serei o meu próprio acusador voluntário, e a minha consciência será uma testemunha para me condenar.

Penso que não preciso de me alargar mais neste ponto. Oh, tu, que estás sem Cristo e sem Deus, não permaneces condenado diante dEle? Tira de ti todas as máscaras, e despreza todas as desculpas; que cada um de nós arremesse ao vento todas as suas vãs pretensões. A menos que contemos com o sangue e a justiça de Cristo, para que nos cubram, cada um de nós deve reconhecer que esta sentença fecha as portas do Céu na nossa cara, e unicamente nos prepara para as chamas da perdição.

II. Desta maneira julguei o carácter, e foi culpado; agora tenho de DECLARAR A SENTENÇA.

Os ministros de Deus não gostam nada de um trabalho como este. Eu preferiria deter-me neste púlpito e pregar vinte sermões sobre o amor de Jesus, que pregar um como este. Muito raramente toco este tema, pois não creio que seja necessário fazê-lo frequentemente; mas, sinto que se estas coisas se guardassem completamente no fundo, e a Lei não fosse pregada, o Senhor não abençoaria esse Evangelho; pois Ele quer que ambos os temas sejam pregados, na sua medida, e cada um deve ter a sua própria proeminência. Agora, portanto, ouvi-me enquanto vos digo, cheio de tristeza, qual é a sentença contra todos vós que estais sem Cristo, no dia de hoje.

Pecador, tu és maldito neste dia. Tu és maldito, não por algum feiticeiro cujo bruxedo imaginário aterra unicamente no ignorante. Tens sido amaldiçoado, não por algum monarca terrestre que poderia enviar as suas tropas contra ti, e apoderar-se rapidamente da tua casa e do teu património. Maldito! Oh, que terrível coisa é uma maldição de qualquer tipo! Que coisa tão assustadora é a maldição de um pai. Temos ouvido de alguns pais que, conduzidos à loucura pela conduta desobediente e ofensiva de seus filhos, têm alçado as suas mãos ao Céu, e têm implorado uma maldição, uma maldição fulminante sobre os seus filhos. Não podemos desculpar o ato insensato e irreflectido desses pais. Não poderíamos eximi-lo de pecado; mas, oh, a maldição de um pai deve ser horrenda. Não posso imaginar o que seria ser amaldiçoado pela pessoa que me engendrou. Certamente apagaria a luz do sol da minha história para sempre, se fosse merecida. Mas, ser amaldiçoado por Deus: não tenho palavras para vos dizer o que deve ser isso. “Oh, não,” dirás, “isso pertence ao futuro; não nos importa a maldição de Deus; não está caindo sobre nós agora.” Não, alma, sim está caindo. A ira de Deus está sobre ti, até mesmo agora. Ainda não chegaste ao ponto de conhecer a plenitude dessa maldição, mas maldito és nesta mesma hora. Ainda não estás no Inferno; ainda Deus não Se agradou de fechar as entranhas da Sua compaixão, e te arrojou para sempre da Sua presença; porém, apesar de tudo isso, és maldito. Busca a passagem no livro de Deuteronómio, e comprova como a maldição é algo que está presente no pecador. No capítulo 28 de Deuteronómio, no versículo 15 e seguintes, lemos tudo isto como a sentença do pecador: “Maldito serás tu na cidade,” onde realizas os teus negócios, Deus te amaldiçoará. “E maldito no campo,” onde fazes o teu entretenimento; onde vais, para aí alcançares a maldição. “Maldito o teu cesto e a tua amassadeira. Maldito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e a criação das tuas vacas, e os rebanhos das tuas ovelhas. Maldito serás ao entrares e maldito serás ao saíres.” Há alguns homens sobre quem esta maldição é muito visível. Eles alcançam riquezas, mas ali está a maldição de Deus nas suas riquezas. Eu não quereria ter o ouro de alguns homens nem por todas as estrelas, ainda que fossem de ouro: e, se pudesse ter toda a riqueza do mundo, mas tivesse de ter a avareza do miserável, preferiria antes ser pobre do que ter essa riqueza. Há alguns homens que são visivelmente malditos. Não vês o bêbado? Ele é maldito, não importa onde vá. Quando chega a sua casa, os seus filhos pequenos sobem, correndo para as suas camas, pois têm medo de ver o seu próprio pai; e, quando crescem um pouco mais, começam a beber como ele, e segui-lo-ão e imitá-lo-ão; e eles também começarão a blasfemar, de tal maneira, que o bêbado é maldito no fruto do seu corpo. Ele pensou que não era tão mau que fosse um bêbado e que blasfemasse; oh, mas que dor atravessa a consciência do pai, se é que tem consciência, quando vê o seu filho seguindo os seus passos. A bebedeira atrai tal maldição sobre um homem, que não pode desfrutar o que come. Maldito o teu cesto e a tua amassadeira. E, na verdade, ainda que um vício dê a impressão que atrai a maldição mais do que outros, todo o pecado conduz à maldição, embora nem sempre a vejamos.

Oh!, tu que estás sem Deus, e sem Cristo, és um estranho para Jesus, tu és maldito onde te sentes, e maldito onde pares; maldita é a cama sobre a qual te deitas; maldito o pão que comes; maldito o ar que respiras. Tudo é maldito para ti. Não importa onde vás, és um homem maldito. Ah!, esse é um pensamento espantoso. Oh!, alguns de vós sois malditos hoje. Oh, que um homem tenha de dizer isto de seus irmãos! Mas devemos dizê-lo, ou não seríamos fiéis às suas pobres almas agonizantes. Oh, Deus queira que alguma pobre alma dissesse neste lugar: “Então eu sou maldito neste dia; maldito por Deus, e maldito por Seus santos anjos: maldito! Maldito! Maldito! Sou maldito pois estou sob a Lei.” Penso, na verdade, que com a bênção de Deus, o Espírito Santo nela, só se necessita dessa única palavra: “Maldito!” “Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas escritas no livro da Lei, para as fazer.”

Mas agora, querido leitor, tu que te encontras neste estado, impenitente e incrédulo, tenho trabalho por diante, antes de concluir. Recorda, a maldição que os homens recebem nesta vida, não é nada comparada com a maldição que cairá sobre eles no além. Nuns breves anos, tu e eu vamos morrer. Vamos, falarei contigo sobre uma base pessoal outra vez: jovem amigo, logo envelheceremos, ou, talvez, morreremos antes desse momento, e seremos colocados nas nossas camas (a última cama sobre a qual jamais dormiremos), e vamos despertar do nosso último sonho para ouvir as lúgubres novas nas quais não temos esperança; o médico tomará o nosso pulso, e assegurará solenemente aos nossos parentes que tudo terminou! E jazeremos imóveis nesse quarto, onde tudo se cala excepto o tic tac do relógio, e o pranto da nossa esposa e filhos; e vamos morrer. Oh, quão solene será essa hora quando tivermos que combater com esse inimigo, a Morte! Os estertores da Morte estão na nossa garganta (com muita dificuldade podemos articular algo), procuramos falar, o verniz da morte está sobre os nossos olhos: a Morte pôs os seus dedos nessas janelas do corpo, e apagou a luz para sempre; as mãos negam-se a elevar-se, e ali estamos, acercando-nos aos limites da sepultura! Ah, esse momento, quando o espírito vê o seu destino; esse momento, o mais solene de todos os momentos, quando a alma vê o mundo vindouro através dos barrotes da sua jaula! Não, não posso dizer-lhes o que sente o espírito, se for um espírito ímpio, quando vê o trono ardente do juízo, e ouve os trovões da ira de Todo-Poderoso, quando não há senão um instante entre isso e o Inferno. Não posso descrever qual será o terror que sentirão os homens, quando experimentarem aquilo que frequentemente escutaram! Ah!, está bem que se riam de mim esta noite. Quando se forem, será um pouco divertido fazer uma piada relativa ao que disse o pregador; que comentem entre si, e se divirtam com tudo isto. Mas, quando estiverem nos seus leitos de morte, não se rirão. Agora, a cortina está fechada e não podem ver as coisas do futuro; está bem que se divirtam. Quando Deus correr essa cortina e se dêem conta da solene realidade, não vão poder encontrar brincadeiras nos seus corações. Acab, sentado no seu trono, ria-se de Micas. Entretanto, não lemos que Acab se riu de Micas quando a flecha se cravou por entre as junturas da sua armadura. Nos tempos do Noé, as pessoas riam-se do velho; chamavam-lhe um néscio decrépito, não o duvido, porque lhes dizia que Deus estava a ponto de destruir a Terra com um dilúvio. Mas, ah!, vós gozadores, vós não vos haveis rido naquele dia, quando as cataratas estavam desabando do céu, e quando Deus abriu as portas do grande abismo, e deu a ordem a todas as águas escondidas que saíssem com ímpeto à superfície; então, vos haveis dado conta que Noé tinha razão. E, quando se aproximar a hora da vossa morte, talvez vós não vos rireis de mim. Direis, quando estiverdes nesse transe: “Posso recordar que uma certa noite caminhei até à Park Street; escutei um homem que falava muito solenemente; naquele momento decidi que eu não gostava do que ele pregava, mas eu sabia que ela era sincero, tinha a certeza de que queria o meu bem; Oh, que eu tivesse escutado com atenção o seu conselho; Oh, que eu tivesse considerado as suas palavras!

Ah!, não há muito tempo, um homem que se tinha rido e se tinha zombado de mim muitas vezes, foi um domingo a Brighton, para passar esse dia numa excursão. Regressou nessa mesma noite para morrer! Na segunda-feira pela manhã, quando estava morrendo, a quem crêem que procurou? Necessitava que viesse o senhor Spurgeon! Necessitava do homem do qual sempre se tinha rido; necessitava que viesse e lhe ensinasse o caminho para o Céu, e lhe assinalasse o Salvador. E se bem que eu me alegrasse de ir, foi uma tarefa triste ter de falar com um homem que acabava de quebrantar o dia de repouso, e que tinha gasto o seu tempo ao serviço de Satanás, e tinha regressado a casa para morrer. E, efetivamente morreu, sem uma Bíblia no seu lar, sem que se oferecessem orações por ele, exceto a oração que eu ofereci junto ao seu leito.

Ah!, é estranho como a visão do leito de um moribundo pode ser bendita para estimular o nosso zelo. Há um ano, mais ou menos, estive junto do leito de um pobre moço, de aproximadamente dezasseis anos de idade, que tinha estado bebendo até provocar a sua morte, num episódio alcoólico que teve lugar uma semana antes. Quando lhe falei sobre o pecado e da justiça, e do julgamento vindouro, sei que tremeu, e pensei que se tinha aferrado a Jesus. Quando baixei as escadas, depois de orar por ele muitas vezes, e de procurar que ele olhasse para Jesus, e não tendo eu senão uma débil esperança da sua salvação final, pensei dentro de mim: Oh Deus!, quereria poder pregar cada hora, e a cada momento do dia, as inescrutáveis riquezas de Cristo; pois que coisa tão terrível é morrer sem um Salvador. E logo recordei quantas vezes tinha estado no púlpito, e não tinha pregado com o denodo com que devia ter pregado; como tenho narrado com frieza a história do Salvador, quando devia ter chorado correntes de lágrimas, com emoção entristecedora. Em muitas ocasiões fui para a minha cama, e chorei até ficar dormindo, porque não preguei como desejei, e acontecerá o mesmo esta noite. Mas, oh, a ira vindoura! A ira vindoura! A ira vindoura!

Meus queridos ouvintes, os temas dos quais falo agora não são sonhos, nem fraudes, nem maluquices, nem velhas histórias de comadres. São realidades e logo as verificareis. Oh pecador, tu que não tens permanecido em todas as coisas escritas no livro da Lei; tu que não tens a Cristo; aproxima-se o dia quando estas coisas estarão diante de ti, como coisas reais, solenes e terríveis. E então; ah!, então; ah!, então, o que farás? “Como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo.” Oh, imaginai:

“A pompa desse tremendo dia,
Quando Cristo vier com as nuvens.”

Creio que vejo esse terrível dia. O sino do tempo tangeu o último dia. Agora vem o funeral das almas condenadas. O teu corpo acaba de se levantar da sepultura, e desatas a mortalha encerrada, e olhas para cima. O que é que eu vejo? Oh!, o que é que eu ouço? Ouço uma explosão tremenda e terrível, que sacode os pilares do Céu, e faz com que o firmamento se cambaleie de espanto; a trombeta, a trombeta, a trombeta do arcanjo sacode os últimos limites da criação. Olhas e ficas pasmado. Subitamente, escuta-se uma voz, e uns dão alaridos, e outros cantam hinos, Ele vem, Ele vem, Ele vem; todo olho O verá. Ali está; o trono apoia-se sobre uma nuvem, branca como o alabastro. Ali está sentado. “É Ele, o Homem que morreu no Calvário (vejo as Suas mãos trespassadas), mas, ah, quão modificado Ele está! Não tem uma coroa de espinhos. Esteve perante o tribunal do Pilatos, contudo agora a Terra inteira deve estar perante o Seu tribunal. Mas escutai! A trombeta soa outra vez: o Juiz abre o livro, há um silêncio no Céu, um solene silêncio: o Universo está quieto. “Junta os Meus escolhidos e os Meus redimidos dos quatro ventos do Céu.” Rapidamente são ajuntados. E como o brilho de um relâmpago, assim a asa de anjo divide a multidão. Aqui estão os justos todos congregados; e, pecador, lá estás tu, à esquerda, deixado de fora, entregue a suportar a sentença ardente da ira eterna. Escuta! As harpas do Céu tocam doces melodias; mas não te trazem nenhum gozo, enquanto os anjos estão repetindo as boas-vindas do Salvador aos Seus santos. “Vinde, benditos de Meu Pai, herdai o reino preparado para vós desde a fundação do mundo.” Vós tivestes esse momento de pausa, e agora o Seu rosto está acumulando nuvens de ira, e o trovão está na Sua frente; olha-te a ti que o tens desprezado, a ti que te ludibriaste da Sua graça, que desprezaste a Sua misericórdia, a ti que quebrantaste o Seu dia de descanso, a ti que te zombaste da Sua cruz, a ti que não aceitaste que reinasse sobre ti; e, com uma voz mais forte que dez mil trovões, Ele clama: “Apartai-vos de mim, malditos.” E logo... não, não continuarei. Não falarei das chamas inextinguíveis. Não vou falar dos padecimentos do corpo, nem das torturas do espírito. Mas o Inferno é terrível; a condenação é aflitiva. Oh, escapa! Escapa! Escapa, para que, aí onde estás, não tenhas de aprender talvez o que significam os horrores da eternidade, no golfo da eterna perdição! “Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas escritas no livro da Lei, para as fazer.”

III. LIBERTAÇÃO PROCLAMADA.

“Condenaste a todos,” exclama um. Sim, mas não fui eu: Deus tem-no feito. Estás condenado? Sentes esta noite que estás condenado? Vem, outra vez, deixa-me tomar-te a tua mão, meu irmão: sim, posso olhar ao redor de toda esta assembleia, e posso dizer que não há ninguém neste lugar a quem não ame como a um irmão. Se vos falo com severidade a qualquer de vós, é para que saibais a verdade. O meu coração e o meu espírito inteiramente estão comovidos por vós. As minhas palavras mais duras estão muito mais cheias de amor do que as suaves palavras dos ministros que falam com tranquilidade, e que dizem: “Paz, paz;” e não há paz. Vós pensais que me causa prazer pregar desta maneira? Oh!, preferiria muito mais estar pregando a respeito de Jesus; da Sua gentil e gloriosa Pessoa, e da Sua justiça, a qual é completamente suficiente.

Agora, vem aqui, e pratiquemos com palavras gentis antes de terminar. Sentes que estás condenado? Dizes: “Oh, Deus, eu confesso, serias justo, se fizesses tudo isto comigo”? Sentes que jamais podes ser salvo pelas tuas próprias obras, senão que estás totalmente condenado pelo teu pecado? Odeias o pecado? Arrependes-te sinceramente? Então, deixa-me dizer-te como podes escapar.

Homens e Irmãos, Jesus Cristo, da semente de David, foi crucificado, morto e sepultado; agora ressuscitou, e está sentado à mão direita de Deus, onde também intercede por nós. Ele veio a este mundo para salvar os pecadores, pela Sua morte. Ele viu que os pobres pecadores eram malditos: Ele tomou a maldição sobre os Seus próprios ombros, e salvou-nos dela. Agora, se Deus tiver feito maldição a Cristo por algum homem, não amaldiçoará a esse homem de novo. Tu perguntas-me, então: “Foi Cristo feito maldição por mim?” Responde-me a esta pergunta, e eu dir-te-ei: ensinou-te o Espírito que és maldito? Tem-te feito sentir a amargura do pecado? Conduziu-te a clamar: “Deus, sê propício a mim, pecador”? Então, meu querido amigo, Cristo foi feito maldição por ti; e tu não és maldito. Tu não és maldito, agora. Cristo foi feito maldição por ti. Tem ânimo; se Cristo foi feito maldição por ti, tu não podes ser maldito de novo. “Oh!” dirá alguém, “se pudesse estar convencido de que Ele foi feito maldição por mim.” Vê-lO sangrando no madeiro? Vês as Suas mãos e os Seus pés gotejando sangue? Olha-O, pobre pecador. Não te olhes já mais a ti mesmo, nem ao teu pecado; olha-O a Ele e sê salvo. Tudo o que Ele te pede que faças é que olhes, e Ele te ajudará até mesmo a fazeres isso. Vem a Ele, confia nEle, crê nEle. Deus, o Espírito Santo ensinou-te que tu és um pecador condenado.

Agora, suplico-te, ouve esta palavra e crê nela: “Palavra fiel e digna de ser recebida por todos: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores.” Oh, podes dizer: “Eu creio nesta Palavra (é verdadeira), bendito seja o Seu amado nome; é verdade para mim, pois independentemente do que não sou, eu sei que sou um pecador; o sermão de hoje convenceu-me disso, ainda que não me tivesse convencido de outra coisa; e, bom Senhor, Tu sabes que quando eu digo que sou um pecador, não quero dizer o que antes estava acostumado a dizer mediante essa palavra. Quero dizer que sou um pecador real. Quero dizer que se Tu me condenasses, eu mereço-o; se Tu me lançasses da Tua presença para sempre, seria unicamente o que tenho merecido em abundância. Oh, meu Senhor, eu sou um pecador; sou um pecador desenganado, a menos que Tu me salves; sou um pecador sem esperança, a menos que Tu me cures. Não tenho nenhuma esperança na minha justiça própria; e, Senhor, bendigo o Teu nome, e digo algo mais: eu sou um pecador dolente, pois o pecado me aflige; não posso descansar, estou aflito. Oh, se me pudesse desfazer do pecado, seria santo como Deus é santo. Senhor, eu creio.”

“Como, senhor, crer que Cristo morreu por mim simplesmente porque sou um pecador!” Sim, assim é. “Não, senhor, mas se eu tivesse um pouquito de justiça, se pudesse orar bem, então poderia pensar que Cristo morreu por mim.” Não, isso não seria tudo da fé, isso seria confiança no eu. A fé crê em Cristo quando vê que o pecado é negro, e confia nEle para que Ele o tire completamente. Agora, pobre pecador, com todo o pecado que tens, toma esta promessa nas tuas mãos, e vai para casa no dia de hoje, ou se puderes, fá-lo antes de chegar a casa: vai para casa, digo eu, sobe ao teu aposento, sozinho, de joelhos junto à tua cama, e derrama o teu coração: “Oh, Senhor, tudo o que esse homem disse é verdade; estou condenado, e, Senhor, eu mereço-o. Oh, Senhor, procurei ser melhor, e não logrei nada, a não ser justamente o contrário, tornei-me pior. Oh, Senhor, tenho subtraído importância à Tua graça, e tenho desprezado o Teu Evangelho: surpreende-me que não me tenhas condenado há anos; Senhor, maravilha-me que tenhas permitido viver a um miserável tão ruim, como eu sou. Desprezei o ensino de uma mãe, e esqueci as orações de um pai. Senhor, eu tenho-me esquecido de Ti; tenho quebrantado o dia de repouso, tenho tomado o Teu nome em vão. Tenho feito tudo o que é mau; e se Tu me condenas, o que posso dizer? Senhor, fico mudo perante a Tua presença. Não tenho nada para argumentar. Mas Senhor, venho a dizer-Te no dia de hoje que Tu hás dito na Palavra de Deus: “Aquele que vem a Mim, não o lanço fora.” Senhor, eu venho: o meu único argumento é que Tu hás dito: “Palavra fiel e digna de ser recebida por todos: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar aos pecadores.” Senhor, eu sou um pecador; Ele veio para me salvar a mim; confio nisso (seja que depois me afunde ou nade), Senhor, esta é minha única esperança: descarto qualquer outra, e odeio-me ao pensar que jamais tenha tido outra esperança. Deus, eu descanso unicamente em Jesus. Salva-me, isso Te peço, e embora não espere apagar o meu pecado passado com a minha vida futura, oh Senhor, peço-te que me dês um novo coração e um espírito reto, para que a partir deste momento e para sempre, caminhe na senda dos Teus mandamentos: pois, Senhor, não desejo nada a não ser só o Teu filho. Oh, Senhor, renunciaria a tudo porque Tu me amas-te; e estou motivado a pensar que Tu me amas; pois assim o sente o meu coração. Sou culpado, mas nunca teria sabido que sou culpado, se Tu não me tivesses ensinado isso. Sou vil, mas nunca teria conhecido a minha vileza, se Tu não me tivesses revelado isso. Certamente, Tu não me destruirás, oh Deus, depois de me haveres ensinado isto. Se o fizesses, seria justo, mas:

“Salva a um pecador tremente, Senhor,
Cujas esperanças revoam ao redor da Tua Palavra,
Queria descansar aí sobre alguma doce promessa;
Algum apoio seguro contra o desespero.

Se não puderes orar com uma oração tão comprida como esta, digo-te que vás para casa e digas isto: “Senhor Jesus, eu sei que não sou absolutamente nada; sê Tu o meu precioso tudo, em tudo.”

Oh, eu confio em Deus, que haverá algumas pessoas hoje que serão capazes de orar dessa maneira, e se assim for, que os sinos do Céu toquem; cantai, vós, serafins; gritai, vós, os redimidos; pois o Senhor tem-no feito, e glória seja dada ao Seu nome, por toda a eternidade.

Nota do tradutor: No Prefácio do Volume 4 dos Sermões do Púlpito da Capela New Park Street, correspondentes ao ano de 1858, no qual se encontra este Sermão, Spurgeon comentou: «Outro sermão, intitulado “Uma Chamada aos não convertidos,” foi um instrumento para despertar a muitas pessoas no sentido da sua condição perdida. Foi tão grandemente abençoado por Deus no momento da sua pregação, que foi impresso em forma de livrinho, para poder distribui-lo num formato independente.»


Tradução de Carlos António da Rocha

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