Watchman Nee
Ungindo-O antecipadamente
“Deixai-a, para que a molestais? Ela fez-me boa obra. Porque sempre tendes os pobres convosco, e podeis fazer-lhes bem quando quiserdes; mas, a mim, nem sempre me tendes. Esta fez o que podia; antecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura.” (Mc 14.6-8, ARC, Pt)
Ungindo-O antecipadamente
“Deixai-a, para que a molestais? Ela fez-me boa obra. Porque sempre tendes os pobres convosco, e podeis fazer-lhes bem quando quiserdes; mas, a mim, nem sempre me tendes. Esta fez o que podia; antecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura.” (Mc 14.6-8, ARC, Pt)
Nestes versículos, o Senhor Jesus introduz o fator
tempo, com a palavra “antecipou-se”, e isto é algo que podemos aplicar hoje de
maneira diferente, porque é tão importante para nós como o foi então para ela.
Todos sabemos que, na idade vindoura, seremos chamados a um trabalho maior — e
não à inatividade. “Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o
muito te colocarei: entra no gozo do teu senhor” (Mt 25:21;comparar Mt 24:47 e
Lc 19:17). Sim, haverá um trabalho maior; porque o trabalho da casa de Deus
continuará, assim como continuou, na narrativa, o cuidado pelos pobres. Os
pobres sempre estariam com eles, mas eles não poderiam tê-Lo sempre a Ele.
Houve alguma coisa, representada por este derramamento de unguento, que Maria
teve de fazer antecipadamente, ou ela não teria oportunidade de o fazer mais
tarde. Creio que, naquele dia, amá-Lo-emos como nunca o fizemos até agora, e,
contudo, haverá maior bênção para aqueles que já derramaram o seu tudo sobre o
Senhor hoje. Quando O virmos face a face, espero que todos quebrantaremos e
derramaremos tudo sobre Ele. Mas hoje — o que estamos fazendo hoje?
Alguns dias depois de Maria ter quebrado o vaso de
alabastro e ter derramado o unguento sobre a cabeça de Jesus, houve algumas
mulheres que foram, de manhã cedo, para ungir o Corpo do Senhor. Mas fizeram-no
elas? Conseguiram realizar o seu propósito naquele primeiro dia da semana? Não,
houve apenas uma alma que conseguiu ungir o Senhor, e essa foi Maria, que O
ungiu antecipadamente. As outras nunca o fizeram, porque Ele ressuscitara. Ora,
eu sugiro que a questão do tempo pode ser, de modo semelhante, também
importante para nós, e que a questão toda para nós é: o que estou fazendo ao
Senhor hoje?
Os nossos olhos têm sido abertos hoje para perceber
a preciosidade dAquele a Quem servimos? Já reconhecemos que somente o que nos é
mais querido, caro e precioso é digno de ser oferecido a Ele? Já compreendemos
que o trabalho em favor dos pobres, o trabalho em benefício do mundo, o
trabalho pelas almas dos homens e pelo bem eterno dos pecadores — coisas estas
tão necessárias e valiosas — apenas são boas quando colocadas em seus respectivos
lugares? Em si mesmas, como objetos separados, são como nada, comparadas com o
que é feito ao Senhor.
Os nossos olhos devem ser abertos pelo Senhor para
vermos o Seu valor. Se houver no mundo algum tesouro precioso de arte e eu
pagar o preço mais elevado pedido por ele, quer seja mil, dez mil, ou mesmo um
milhão de euros, ousaria alguém dizer que foi um desperdício? A ideia de
desperdício apenas entra em nossa cristandade quando subestimamos o valor do
nosso Senhor. A questão é esta: Quanto vale Ele para nós, hoje? Se Lhe damos
pouco valor, então, evidentemente, qualquer coisa que Lhe dermos, por pequena
que seja, parecer-nos-á um grande desperdício. Mas quando Ele é, realmente, a preciosa
jóia das nossas almas, nada será demasiado bom, nada demasiado caro para Ele;
tudo o que temos, os nossos tesouros, de maior preço e de maior estima,
derramaremos sobre Ele e não nos sentiremos envergonhados por tê-lo feito.
A respeito de Maria, o Senhor disse: “Esta fez o que podia.” O que significa isto? Significa que
ela dera tudo. Não guardara coisa alguma para si, em reserva para o futuro.
Derramou sobre Ele tudo o que tinha, e, todavia, na manhã da ressurreição, não
tinha razão para lamentar a sua extravagância. E o Senhor não Se satisfará com
qualquer coisa inferior da nossa parte, até que nós também tenhamos feito o que
podemos. Com isto, lembremo-nos, não me refiro ao gasto dos nossos esforços e
energias, ao procurar fazer algo para Ele, porque este não é o caso. O que o
Senhor Jesus espera de nós é uma vida depositada aos Seus pés, e isso em vista
da Sua morte e sepultamento e de um dia futuro. O Seu sepultamento estava já em
vista, naquele dia, no lar de Betânia. Hoje, é a Sua coroação que está em
perspectiva, quando Ele será aclamado, em glória, como o Ungido, o Cristo de
Deus. Sim, então derramaremos tudo sobre Ele! Mas é coisa preciosa — muito mais
preciosa para Ele — que O unjamos agora, não com qualquer óleo material, mas
com alguma coisa que representa valor, algo emanado dos nossos corações.
Aquilo que é meramente externo e superficial não
tem lugar aqui. Tudo isso foi solucionado pela Cruz, e nós já concordámos com o
juízo de Deus quanto a isto, aprendendo a conhecer na experiência a separação
efetuada. O que Deus pede da nossa parte agora é representado pelo vaso de
alabastro, algo extraído das profundezas, algo torneado, gravado e trabalhado,
algo que, devido a falamos tão verdadeiramente do Senhor, estimamos como Maria
estimava aquele frasco — e nós não queríamos, não ousaríamos quebrá-lo. Sai
agora do nosso coração, do mais profundo do nosso ser; e chegamo-nos ao Senhor
com o nosso “vaso” e quebramo-lo e derramamo-lo e dizemos: “Senhor, aqui está,
é tudo Teu, porque Tu és digno!” — e o Senhor recebe o que desejava da nossa
parte. Que Ele possa receber semelhante unção proveniente de nós, hoje.
In “A Vida
Cristã Normal”, Watchman Nee, Editora Fiel
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