… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

"Ungindo-O antecipadamente", Watchman Nee

 Watchman Nee
Ungindo-O antecipadamente


Deixai-a, para que a molestais? Ela fez-me boa obra. Porque sempre tendes os pobres convosco, e podeis fazer-lhes bem quando quiserdes; mas, a mim, nem sempre me tendes. Esta fez o que podia; antecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura.” (Mc 14.6-8, ARC, Pt)

Nestes versículos, o Senhor Jesus introduz o fator tempo, com a palavra “antecipou-se”, e isto é algo que podemos aplicar hoje de maneira diferente, porque é tão importante para nós como o foi então para ela. Todos sabemos que, na idade vindoura, seremos chamados a um trabalho maior — e não à inatividade. “Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei: entra no gozo do teu senhor” (Mt 25:21;comparar Mt 24:47 e Lc 19:17). Sim, haverá um trabalho maior; porque o trabalho da casa de Deus continuará, assim como continuou, na narrativa, o cuidado pelos pobres. Os pobres sempre estariam com eles, mas eles não poderiam tê-Lo sempre a Ele. Houve alguma coisa, representada por este derramamento de unguento, que Maria teve de fazer antecipadamente, ou ela não teria oportunidade de o fazer mais tarde. Creio que, naquele dia, amá-Lo-emos como nunca o fizemos até agora, e, contudo, haverá maior bênção para aqueles que já derramaram o seu tudo sobre o Senhor hoje. Quando O virmos face a face, espero que todos quebrantaremos e derramaremos tudo sobre Ele. Mas hoje — o que estamos fazendo hoje?

Alguns dias depois de Maria ter quebrado o vaso de alabastro e ter derramado o unguento sobre a cabeça de Jesus, houve algumas mulheres que foram, de manhã cedo, para ungir o Corpo do Senhor. Mas fizeram-no elas? Conseguiram realizar o seu propósito naquele primeiro dia da semana? Não, houve apenas uma alma que conseguiu ungir o Senhor, e essa foi Maria, que O ungiu antecipadamente. As outras nunca o fizeram, porque Ele ressuscitara. Ora, eu sugiro que a questão do tempo pode ser, de modo semelhante, também importante para nós, e que a questão toda para nós é: o que estou fazendo ao Senhor hoje?

Os nossos olhos têm sido abertos hoje para perceber a preciosidade dAquele a Quem servimos? Já reconhecemos que somente o que nos é mais querido, caro e precioso é digno de ser oferecido a Ele? Já compreendemos que o trabalho em favor dos pobres, o trabalho em benefício do mundo, o trabalho pelas almas dos homens e pelo bem eterno dos pecadores — coisas estas tão necessárias e valiosas — apenas são boas quando colocadas em seus respectivos lugares? Em si mesmas, como objetos separados, são como nada, comparadas com o que é feito ao Senhor.

Os nossos olhos devem ser abertos pelo Senhor para vermos o Seu valor. Se houver no mundo algum tesouro precioso de arte e eu pagar o preço mais elevado pedido por ele, quer seja mil, dez mil, ou mesmo um milhão de euros, ousaria alguém dizer que foi um desperdício? A ideia de desperdício apenas entra em nossa cristandade quando subestimamos o valor do nosso Senhor. A questão é esta: Quanto vale Ele para nós, hoje? Se Lhe damos pouco valor, então, evidentemente, qualquer coisa que Lhe dermos, por pequena que seja, parecer-nos-á um grande desperdício. Mas quando Ele é, realmente, a preciosa jóia das nossas almas, nada será demasiado bom, nada demasiado caro para Ele; tudo o que temos, os nossos tesouros, de maior preço e de maior estima, derramaremos sobre Ele e não nos sentiremos envergonhados por tê-lo feito.

A respeito de Maria, o Senhor disse: “Esta fez o que podia.” O que significa isto? Significa que ela dera tudo. Não guardara coisa alguma para si, em reserva para o futuro. Derramou sobre Ele tudo o que tinha, e, todavia, na manhã da ressurreição, não tinha razão para lamentar a sua extravagância. E o Senhor não Se satisfará com qualquer coisa inferior da nossa parte, até que nós também tenhamos feito o que podemos. Com isto, lembremo-nos, não me refiro ao gasto dos nossos esforços e energias, ao procurar fazer algo para Ele, porque este não é o caso. O que o Senhor Jesus espera de nós é uma vida depositada aos Seus pés, e isso em vista da Sua morte e sepultamento e de um dia futuro. O Seu sepultamento estava já em vista, naquele dia, no lar de Betânia. Hoje, é a Sua coroação que está em perspectiva, quando Ele será aclamado, em glória, como o Ungido, o Cristo de Deus. Sim, então derramaremos tudo sobre Ele! Mas é coisa preciosa — muito mais preciosa para Ele — que O unjamos agora, não com qualquer óleo material, mas com alguma coisa que representa valor, algo emanado dos nossos corações.

Aquilo que é meramente externo e superficial não tem lugar aqui. Tudo isso foi solucionado pela Cruz, e nós já concordámos com o juízo de Deus quanto a isto, aprendendo a conhecer na experiência a separação efetuada. O que Deus pede da nossa parte agora é representado pelo vaso de alabastro, algo extraído das profundezas, algo torneado, gravado e trabalhado, algo que, devido a falamos tão verdadeiramente do Senhor, estimamos como Maria estimava aquele frasco — e nós não queríamos, não ousaríamos quebrá-lo. Sai agora do nosso coração, do mais profundo do nosso ser; e chegamo-nos ao Senhor com o nosso “vaso” e quebramo-lo e derramamo-lo e dizemos: “Senhor, aqui está, é tudo Teu, porque Tu és digno!” — e o Senhor recebe o que desejava da nossa parte. Que Ele possa receber semelhante unção proveniente de nós, hoje.

In “A Vida Cristã Normal”, Watchman Nee, Editora Fiel

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