… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

domingo, 13 de novembro de 2016

Retornei a mim mesmo...



Agostinho de Hipona
“Retornei a mim mesmo...”

“Retornei a mim mesmo, entrei no íntimo do meu coração sob Tua guia, e o consegui, porque Tu te fizeste meu auxilio. Entrei e, com os olhos da alma, acima destes meus olhos e acima da minha própria inteligência, vi uma luz imutável. Não era essa luz vulgar e evidente a todos com os olhos da carne, ou uma luz mais forte do mesmo género. Era como se brilhasse muito mais clara e tudo abrangesse com a sua grandeza. Não era uma luz como esta, mas totalmente diferente das luzes desta Terra. Também não estava acima da minha mente como o óleo sobre a água nem como o céu como a Terra, mas acima de mim porque ela me fez, e eu abaixo porque fui feito por ela. Quem conhece a verdade conhece essa luz, e quem a conhece, conhece a eternidade. O amor a conhece. Ó eterna verdade, verdadeira caridade e querida eternidade! És o meu Deus, por Ti suspiro dia e noite. Desde que Te conheci, Tu me elevaste para me fazer ver que havia algo para ser visto, mas que eu era incapaz de ver. Atingiste a minha vista enferma com a Tua irritação fulgurante, e eu tremi de amor e de temor. Percebi que estava longe de Ti, numa região desconhecida, e parecia-me ouvir a Tua voz do alto: “Eu Sou o pão dos fortes: cresce, e de mim Te alimentarás. Não me transformarás em ti, como fazes com o alimento do corpo, mas te transformarás em Mim”. Compreendi, então que corrigiste o homem pela sua iniquidade e secaste a minha alma como teia de aranha. E eu disse: “Porventura deixará de existir a verdade, por não ser uma realidade difusa pelos espaços finitos e infinitos”? E Tu me gritaste de longe: “Na verdade, Eu sou aquele que sou”. E ouvi como se ouve no coração, e já não tive motivo para duvidar. Mais facilmente duvidaria de estar vivo do que da existência da verdade, a qual se apreende através das coisas criadas.”

Agostinho de Hipona ( 354 – 430)

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