C. H. Spurgeon
Sermão n.º 163
“Despertai! Despertai!” (Awake! Awake!),
pregado na manhã de domingo, 15 de novembro de 1857, por Charles Haddon
Spurgeon, no Music Hall, Royal Surrey Gardens, Londres.
“Não durmamos, pois, como os demais, mas
vigiemos, e sejamos sóbrios.” (1Ts 5:6 ARC, Pt)
Que
tristes consequências tem acarretado o pecado. Este formoso nosso mundo foi uma
vez um templo glorioso, e cada um dos seus pilares refletia a bondade de Deus,
e cada uma das suas partes era um símbolo do bem, mas o pecado corrompeu e
viciou todas as metáforas e figuras que se possam desentranhar da terra.
Descompôs de tal maneira a divina economia da natureza, que essas coisas que
eram quadros inimitáveis de virtude, bondade, e divina plenitude de bênção,
tornaram-se figuras representativas do pecado. É estranho dizê-lo, mas é
estranhamente certo, que os supremos dons de Deus se tenham convertido nos
piores quadros da culpa humana, pelo pecado do homem. Contemplai as correntes
de água! Brotando das suas fontes, precipitam-se pelos campos, levando a
abundância no seu seio; cobrem-nos por um tempo, e depois de uns dias
apaziguam-se e deixam sobre a planície um depósito fértil, no qual o lavrador lancará
a semente para obter uma colheita abundante. Alguém teria chamado à irrupção
das águas um formoso quadro da plenitude da providência, da magnificência da
bondade de Deus para com a raça humana; mas descobrimos que o pecado se
apropriou dessa figura. O começo do pecado é como o prorromper das águas. Olhai
o fogo! Quão amavelmente nos deu Deus esse elemento, para nos alegrar durante
as geadas invernais. Quando fugimos da neve e do frio, apressamo-nos a ir para
o fogo do nosso lar, e ali, junto à chaminé, aquecemos as nossas mãos e nos
contentamos. O fogo é um rico quadro das influências divinas do Espírito, um
santo emblema do zelo do cristão; mas, ai!, o pecado há tocado isto, e a língua
é chamada “um fogo;” “é inflamada pelo Inferno,” diz-se-nos, e, frequentemente,
está evidentemente cheia, quando emite blasfémias e calúnias; e S. Tiago, ao contemplar
os males causados pelo pecado, alça a sua mão e exclama: “Vede quão grande
bosque um pequeno fogo acende!” E logo está o sono, um dos mais doces dons de
Deus, formoso sono
“Doce restaurador da
natureza cansada, balsâmico sono.”
Deus
selecionou o sonho como a melhor figura do repouso dos benditos. “Assim também àqueles
que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com Ele,” diz a Escritura. David
coloca-o entre os dons peculiares da graça: “Pois que ao seu amado dará Deus o
sono.” Mas, ai!, o pecado não pôde deixar em paz nem sequer isto. O pecado tem
contra-arrestado inclusivamente esta metáfora celestial; e, ainda que o próprio
Deus tenha empregado o sono para expressar a excelência do estado dos benditos,
todavia, o pecado deveria profanar até isto, antes de poder expressar-se. O
sono é empregado no nosso texto como um quadro de uma condição pecaminosa.
“Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos, e sejamos sóbrios.”
Depois
desta introdução, passarei imediatamente ao versículo. O “durmamos” do
versículo é um mal que deve ser evitado. Em segundo lugar, as palavras
“portanto” são empregues para nos mostrar que há certas razões para evitarmos
este sono. E posto que o apóstolo fala deste sono com tristeza, é para nos
ensinar que há algumas pessoas, a quem ele chama “os demais,” por quem devemos
lamentar-nos, porque eles dormem e não velam e não são sóbrios.
I.
Começamos, então, em primeiro lugar, esforçando-nos por assinalar o MAL QUE O
APÓSTOLO TENTA DESCREVER SOB O TERMO DURMAMOS. O apóstolo fala de “os demais”
que dormem. Se revisardes o original, encontrareis que a palavra que é
traduzida como “os demais” tem um significado mais enfático. Pode ser traduzida
(e Horne assim a traduz) como “o refugo,” — “portanto, não durmamos como o
refugo,” a gentalha, os espíritos ignóbeis, os que não têm uma mente que se
eleve acima dos problemas da Terra “Portanto, não durmamos como os demais,” a
ignóbil multidão ruim que não está viva para a elevada chamada celestial de um
Cristão. “Não durmamos como o faz o refugo da humanidade.” E vós descobrireis
que a palavra “durmamos,” no original, tem também, um sentido mais enfático.
Significa um sonho profundo, uma perda de consciência quase extrema; e o
Apóstolo indica que o refugo da humanidade encontra-se, agora, sumido nesse
sonho profundo. Vamos, então, tentar explicar, se pudermos, o que ele quis
dizer com isso.
Em
primeiro lugar, o Apóstolo quis dizer que o refugo da humanidade está num
estado deplorável de ignorância. Os que dormem não sabem nada. Pode haver
júbilo na casa, mas o ocioso não compartilha essa alegria; pode haver morte na
família, mas nenhuma lágrima roda pela face do que dorme. Grandes eventos
puderam ter acontecido na história mundial, mas ele desconhece-os. Um terramoto
pôde ter desabado toda uma cidade devido à sua magnitude, ou uma guerra pôde
ter devastado uma nação, ou o estandarte do triunfo pode estar ondeando ao
vento, e os clarins do seu país podem estar-nos saudando com a vitória, porém,
ele desconhece tudo isso.
“O seu trabalho e seu amor
perderam-se,
Da mesma maneira,
desconhecendo, e, sendo desconhecidos.”
A
pessoa que dorme não sabe nada de nada. Contemplai como o refugo da humanidade
coincide nisto! Sabe muito de algumas coisas, mas não sabe nada das coisas
espirituais; não tem a menor ideia da pessoa divina do adorável Redentor; não
pode, nem sequer, adivinhar os doces gozos de uma vida de piedade; não pode
elevar-se aos sublimes entusiasmos, nem aos raptos íntimos do Cristão. Fala-lhe
de doutrinas divinas, e estas são para ele um enigma; comenta-lhe a respeito de
experiências sublimes, e parecem-lhe entusiásticas fantasias. Nada sabe dos
gozos vindouros; e, ai dele!, esquecesse-se dos males que lhe virão se
continuar na sua iniquidade. O grosso da humanidade é ignorante; não tem
conhecimento; não tem o conhecimento de Deus, não tem perante os seus olhos o
temor de Jeová; porém, com os seus olhos vendados pela ignorância deste mundo,
marcha para diante, pelos caminhos da luxúria, para esse fim terrível e certo,
a ruína eterna das suas almas. Irmãos, se somos santos, não sejamos ignorantes
como os demais. Esquadrinhemos as Escrituras, pois nelas temos a vida eterna,
porque certamente elas dão testemunho de Jesus. Sejamos diligentes; não
permitamos que a Palavra se aparte dos nossos corações; meditemos nisso, tanto
de dia como de noite, para que possamos ser como a árvore plantada junto às
correntes de águas. “Portanto, não durmamos como os demais.”
Além
disso, o sono descreve um estado de insensibilidade. Talvez haja muito conhecimento
em quem dorme, escondido, armazenado na sua mente, que poderia ser, muito bem
desenvolvido, se estivesse acordado. Porém, ele não tem nenhuma sensibilidade,
não tem conhecimento de nada. O ladrão introduziu-se na sua casa; tanto o ouro
como a prata estão nas mãos do ladrão; o filho está sendo assassinado pela
crueldade do que se introduziu em casa; porém, o pai dorme, ainda que todo o
ouro e a prata que possui e o seu filho muito prezado, se encontrem nas mãos do
destruidor. Está inconsciente; como poderá sentir, quando o sono selou
completamente os seus sentidos!
Vede!,
há luto na rua. Um incêndio acaba de destruir o albergue dos pobres, e os
mendigos sem lar encontram-se na rua. Estão clamando à sua janela, pedindo-lhe
ajuda. Mas ele dorme, e que sabe ele, ainda que a noite seja fria e ainda que
os pobres estejam tremendo pela tragédia? Não tem consciência; não sente nada
por eles. Por ali!, tomai a escritura da sua propriedade e queimai o documento;
por acolá!, Pegai fogo ao curral da sua granja! Queimai tudo o que tem no
campo; matai o seu cavalo e destruí o seu gado; deixai, agora, que o fogo de
Deus desça e queime as suas ovelhas; que o inimigo caia sobre tudo o que tem e
o devore. Ele dorme tão profundamente como se estivesse protegido pelo anjo do
Senhor.
Tal
é o refugo da humanidade. Mas, ai!, que tenhamos de incluir a maior parte dela
nessa palavra “desprezo”! Quão poucos haverá nela que sentem espiritualmente!
Eles sentem com muita acuidade qualquer lesão corporal ou qualquer dano nas
suas propriedades; mas ai!, não têm nenhuma sensação de qualquer tipo pelos
seus interesses espirituais! Estão parados no bordo do Inferno, todavia, não
tremem; a ira de Deus está ardendo contra eles, porém, não temem; a espada de
Jeová está desembainhada, ainda assim, o terror não se apodera deles. Eles
continuam com a dança festiva; bebem a taça do prazer intoxicante; andam na
farra e entregam-se à libertinagem; ainda entoam a canção lasciva; sim, fazem
mais do que isso; nos seus sonhos vãos desafiam o Altíssimo; enquanto que, se
despertassem uma só vez para a consciência do seu estado, a medula dos seus
ossos derreter-se-ia, e o seu coração dissolver-se-ia como cera no meio das
suas entranhas. Eles estão adormecidos, indiferentes e inconscientes. Podes
fazer algo com eles; podes tirar-lhes tudo o que é esperançoso, tudo o que
possa alegrá-los quando se aproximarem da morte, e contudo, não o sentem; pois,
como poderão sentir algo, enquanto dormem? “Não durmamos, pois, como os demais,
mas vigiemos, e sejamos sóbrios.”
Além
disso, o que dorme não se pode defender. Olhai aquele príncipe; ele é um homem
forte, ai, e um homem forte armado. Entrou na tenda de campanha. Está cansado.
Bebeu o leite que a mulher lhe deu; “em tigela de nobres lhe apresentou
manteiga,” e comeu; atirou-se ao chão e dormiu. E agora ela aproxima-se. Tem na
sua mão o seu próprio o maço, como o dos trabalhadores e a sua estaca.
Guerreiro!, tu poderias pulverizá-la em átomos com um golpe do teu poderoso
braço; porém, agora não podes defender-te a ti mesmo. A estaca está nas suas
têmporas; a mão da mulher sustenta o maço e a estaca perfurou-lhe o seu crânio;
porque enquanto ele dormia ficou indefeso. O estandarte de Sísera tinha ondeado
vitoriosamente sobre inimigos poderosos; mas, agora, está manchado por uma
mulher. Proclamai-o, proclamai-o, proclamai-o! O homem que, acordado, fazia com
que as nações tremessem, morre às mãos de uma débil mulher, enquanto dormia.
Assim
é o refugo da humanidade. Dorme; não tem nenhum poder para resistir à tentação.
A sua fortaleza moral perdeu-se, pois Deus separou-Se deles. Existe a tentação
da luxúria. São homens de sólidos princípios em assuntos de negócios, e nada os
faria desviar-se da honestidade; porém, a lascívia destrói-os; são aprisionados
como um pássaro na armadilha; estão totalmente submetidos. Ou, talvez, seja de
outra maneira que são conquistados. São homens que não realizariam um ato
impuro, que não teriam nenhum pensamento lascivo; desprezam-no, até. Mas, eles
têm outro ponto débil, estão apanhados pela taça. São submetidos e apanhados
pela ebriedade. Ou, se podem resistir a estas coisas, e não são dados nem à
libertinagem nem aos excessos da vida, todavia, talvez, a ambição entrou neles;
escondida, sob o nome de prudência, deslizou para os seus corações, e são
levados a aferrar-se ao tesouro e a acumular o ouro, ainda que esse ouro tenha
sido espremido das veias dos pobres, e ainda que tenham chupado o sangue dos
órfãos. Parecem incapazes de resistir às suas paixões. Quantas vezes não me hão
dito alguns homens: “Não posso evitá-lo, senhor, sem importar o que faça;
resolvo, e volto a resolver, mas faço o mesmo; estou indefeso; não posso
resistir à tentação!” Oh, evidentemente que não podes, enquanto estiveres
adormecido. Oh, Espírito do Deus vivente! Desperta o que está adormecido! Que a
preguiça pecaminosa e a presunção, ambas, sejam espantadas, não seja que quiçá
Moisés se encontre com elas no caminho, e encontrando-os adormecidas, as
pendure no patíbulo da infâmia, para sempre.
Agora
vou dar outro significado à palavra “durmamos.” Espero que alguns membros da
minha congregação tenham estado toleravelmente tranquilos enquanto estive
descrevendo as três primeiras coisas, porque pensaram que estes assuntos não
lhes incumbiam. Mas, o sono também significa inatividade. O lavrador não pode
arar os seus campos enquanto dorme, nem tampouco pode lançar a semente nos
sulcos, nem esquadrinhar as nuvens, nem recolher a sua colheita. O marinheiro
não pode içar a sua vela, ou pilotar o seu navio através do oceano, enquanto
dormita. Não é possível que na casa de câmbio, ou no mercado, ou na casa de
comércio, os homens levem a cabo as suas transações com os seus olhos
fortemente fechados pelo sono. Seria algo singular ver uma nação de pessoas que
dormem; seria uma nação de ociosos. Todos morreriam de fome; não produziriam
qualquer riqueza do solo; não possuiriam nada para pôr às suas costas, não
teriam roupas nem mantimentos. Porém, quantos encontramos no mundo que estão
inativos por causa do sono! Sim, digo inativos. Com isso quero dizer que estão
bastante ativos numa certa direção, mas, estão inativos em referência à direção
correta. Oh, quantos homens há que estão totalmente inativos em tudo aquilo que
é para a glória de Deus, ou para o bem-estar dos seus semelhantes! Quanto a
eles, podem “levantar-se de madrugada e ir repousar tarde, e a comer o seu pão
com temor;” para os seus filhos, que representam o dobro deles, podem trabalhar
até que lhes doam os dedos; podem cansar-se até que os seus olhos se ruborizem
nas suas órbitas, até que o seu cérebro seja um torvelinho, e já não possam
trabalhar mais, todavia, para Deus não podem fazer nada. Alguns dizem que não
têm tempo, outros confessam, com franqueza, que não têm vontade: para a igreja
de Deus não gastarão nem uma hora sequer, enquanto que, para o prazer deste
mundo poderão dedicar um mês. Não podem gastar nem o seu tempo nem a sua
atenção nos pobres. Talvez possam ter tempo para reservar para eles mesmos e
para a sua própria diversão; mas, para obras santas, para atos de caridade ou
piedosos, eles declaram que não têm tempo livre; porém, a razão é que eles não
querem.
Contemplai,
vós mesmos, quantos Cristãos há que professam, mas que estão adormecidos neste
sentido! Estão inativos. Centenas de pecadores estão morrendo na rua; os homens
estão-se afundando nas chamas da ira eterna; todavia, os Cristãos cruzam os
seus braços, sentem compaixão pelo pobre pecador que perece, mas não fazem nada
para mostrar que a sua compaixão é real. Assistem nos seus lugares de adoração;
ocupam o seu bem almofadado banco; desejam que o ministro os alimente cada
domingo; todavia, não ensinam a nenhum menino na Escola Dominical; não
distribuem qualquer folheto pela casa do homem pobre; não levam a cabo nenhum ato
que possa ser o instrumento para salvar almas. Nós dizemos que são homens bons;
inclusivamente a alguns deles escolhemo-los para o ofício de diáconos; e, sem
dúvida, são homens bons; são bons, da mesma maneira como António quis dizer que
Brutus era honorável, quando afirmou: “Isso somos todos, homens honoráveis.”
Isso somos todos, bons, se eles realmente fossem bons. Porém, eles são bons num
sentido: bons para nada; pois, unicamente, se sentam e comem o pão, todavia,
não aram o campo; bebem o vinho, mas não cultivam a videira que o produz.
Pensam que devem viver para si mesmos, olvidando que “nenhum de nós vive para
si, e nenhum morre para si.”
Oh,
que vasta quantidade de sono temos em todas as nossas igrejas e capelas; pois,
certamente, se as nossas igrejas se despertassem duma vez, falando do tema, há
homens e mulheres suficientes convertidos, e há neles talento suficiente, e têm
dinheiro suficiente e tempo suficiente, (outorgando Deus a abundância do Seu
Espírito Santo, o que faria com certeza, se todos fossem zelosos); há o suficiente
para pregar o Evangelho em cada rincão da Terra. A igreja não precisa de
deter-se por falta de instrumentos ou por falta de meios; temos tudo, agora, exceto
a vontade; temos tudo o que podemos esperar que Deus dê para a conversão do
mundo, exceto, unicamente um coração para a obra, e o Espírito de Deus
derramado no meio de nós. Oh!, irmãos, “não durmamos como os demais.” Vós
podeis encontrar “os demais” na igreja e no mundo: “o refugo” de ambos os
grupos estão profundamente adormecidos.
Todavia,
antes de finalizar este primeiro ponto da explicação, é necessário que diga
simplesmente que o próprio Apóstolo nos subministra uma parte da exposição;
pois, a segunda frase, “mas vigiemos, e sejamos sóbrios,” implica que o reverso
destas coisas é o sono, que é o que ele quer dizer. “Vigiemos.” Há muitos que
não vigiam nunca. Não vigiam nunca contra o pecado; não vigiam nunca contra as
tentações do inimigo; não vigiam contra si mesmos, nem contra “os desejos da
carne, os desejos dos olhos, e a vanglória da vida.” Eles não estão atentos às
oportunidades de fazer o bem; não vigiam por oportunidades para instruir o
ignorante, para confirmar o fraco, para consolar o aflito, para socorrer os
necessitados; não vigiam para encontrar oportunidades para glorificar a Jesus,
ou para encontrar tempos de comunhão; não vigiam pelas promessas; não estão
atentos às respostas das suas orações; não estão atentos à Segunda Vinda do
nosso Senhor Jesus. Estes são o refugo do mundo: não vigiam porque estão
adormecidos. Mas nós vigiemos: assim demonstraremos que não estamos adormecidos.
Além
disso: “sejamos sóbrios,” afirma Albert Barnes que isto se refere
principalmente à abstinência ou temperança na comida e na bebida. Calvino diz
que não é assim: que isto se refere mais especialmente ao espírito de moderação
nas coisas do mundo. Ambos têm razão; refere-se a ambos. Há muitos que são
sóbrios; outros dormem porque não o são; pois, a falta de sobriedade conduz ao
sono. Não são sóbrios: não podem estar contentes por fazer um pequeno negócio;
querem fazer um grande. Não são sóbrios: não podem fazer um investimento que
seja seguro; devem especular. Não são sóbrios: se perderem a sua propriedade o
seu espírito decai internamente, e são semelhantes a homens que estão bêbados
com absinto. Se por outro lado, enriquecem, não são sóbrios: põem de tal
maneira os seus afetos nas coisas do mundo que se intoxicam com orgulho, por
causa das suas riquezas; tornam-se orgulhosos do seu bolso, e necessitam que os
Céus sejam levantados mais alto, para que as suas cabeças não se firam contra
as estrelas.
Oh!,
eu poderia urgir este preceito neste momento, meus queridos amigos. Agora, os
tempos já são muito duros, todavia, aproximam-se tempos difíceis. Sejamos
sóbrios. O pânico nos Estados Unidos da América surgiu principalmente pela desobediência
a este mandamento: “Sejamos sóbrios;” e se as pessoas que professam a fé, nos
Estados Unidos da América tivessem obedecido a este mandamento, e tivessem sido
sóbrios, o pânico, no pior dos casos, teria sido mitigado, se é que não teria
sido evitado totalmente. Agora, em breve, vós que tendes algum dinheiro
investido, correreis ao banco para retirá-lo, porque temeis que o banco declare
bancarrota. Não estais suficientemente sóbrios para ter um pouco de confiança
nos vossos semelhantes, e ajudá-los nas suas dificuldades e desta maneira
serdes uma bênção para a nação. E, os que pensais que podeis obter lucro
emprestando o dinheiro que possuis a interesses agiotas, não estareis contentes
emprestando o que tendes disponível, antes pelo contrário, estareis extorquindo
e espremendo os vossos pobres devedores, para terdes mais dinheiro para
emprestardes. Muito poucas vezes os homens se contentam com enriquecer
gradualmente; porém, quem se apressa a enriquecer, não ficará inocente. Cuidai-vos,
meus irmãos, se vierem tempos difíceis para Londres, se as casas comerciais se
desabarem e os bancos falirem, cuidai-vos e sede sóbrios. Não há nada que nos
permita resistir tão bem ao pânico, como que cada um de nós mantenha o seu
espírito elevado; simplesmente, levantando-nos pela manhã, digamos: “Os tempos
são muito difíceis, e hoje posso perder tudo o que tenho; porém, angustiar-me
não me servirá de nada; portanto, vou enfrentar com um coração valente a dura
tristeza, e vou continuar fazendo o meu trabalho. As rodas do comércio poderão
deter-se; eu louvo a Deus, o meu tesouro está no Céu; não posso falir. Pus os
meus afetos nas coisas de Deus; não posso perdê-las. Ali está o meu tesouro;
ali está o meu coração!”
Ora,
se todos os homens pudessem fazer isso, exercer-se-ia uma influência para criar
confiança pública; mas, a causa da grande ruína de muitos é a ambição de todos
os homens e o temor de alguns. Se todos nós vivêssemos no mundo com confiança,
e com valor, e com coragem, não haveria nada no mundo que pudesse desviar tão
bem o golpe. Eu creio que o golpe vai dar-se; e há muitos homens aqui presentes
que são muito respeitáveis, que podem esperar tornar-se muito em breve em
mendigos. A vossa obrigação é pôr de tal maneira a vossa confiança no SENHOR,
que possais dizer: “Ainda que a terra seja removida, e se transpassem os montes
para o meio do mar, Deus é o meu amparo e fortaleza, o meu pronto auxílio nas
tribulações. Portanto, nada temerei;” e fazendo isso, estareis criando as
maiores probabilidades de evitar a vossa própria destruição, que por qualquer
outro meio, a sabedoria humana vos pudesse ditar. Não sejamos intemperados nos
negócios, como os demais, senão que devemos despertar. “Não durmamos,” não nos
deixemos levar pelo sonambulismo do mundo, ou seja, a atividade e cobiça no
sono, pois há algo melhor do que isso: “Mas vigiemos, e sejamos sóbrios.” Oh,
Espírito Santo, ajuda-nos a vigiar e a sermos sóbrios.
II.
Assim, ocupei um grande espaço de tempo explicando o primeiro ponto —a que espécie
de sono se referia o apóstolo? E, agora, vós observareis que a palavra
“portanto” implica que há CERTAS RAZÕES PARA ISTO. Vou dar-vos essas razões; e
se as expresso numa forma um pouco dramática, não deveis surpreender-vos;
talvez, dessa maneira serão melhor recordadas. “Portanto,” diz o apóstolo, “não
durmamos.”
Procuraremos,
primeiro, as nossas razões no próprio versículo do capítulo. A primeira razão
precede o texto. O apóstolo informa-nos que “Todos vós sois filhos de luz e
filhos do dia; portanto, não durmamos como os demais.” Não me surpreende ver
que quando caminho pelas ruas, ao cair a noite, todas as lojas estão fechadas,
e cada janela tem as suas cortinas corridas; vejo a luz no andar de cima da
casa significando o retiro para o descanso. Não me surpreende que, meia hora
depois, o ruído de meus passos me assuste, e não encontre ninguém nas ruas. Se
eu subisse as escadas, e visse os plácidos rostos dos que dormem, não me
surpreenderia; pois é de noite, o tempo apropriado para o sono. Mas, se uma
manhã, às onze ou doze do dia, caminhasse pelas ruas e me encontrasse sozinho,
e me advertisse que todas as lojas estão fechadas, e que cada casa estivesse
completamente às escuras e não se escutasse qualquer ruído, eu diria: “É muito
estranho, é extremamente estranho, é surpreendente”. O que pretendem estas
pessoas? É de dia e todavia todos dormem. Sentir-me-ia inclinado a pegar na
primeira aldraba que encontrasse, e dar-lhe-ia um golpe duplo, e correria à
porta seguinte, e tocaria a campainha, e continuaria fazendo o mesmo pela rua
toda; ou iria à esquadra da polícia, e despertaria a todos os homens que
encontrasse ali, e pedir-lhes-ia que fizessem ruído na rua; ou iria ao quartel
dos bombeiros, e pedir-lhes-ia que soassem as sirenes ao longo da rua para
procurar despertar a estas pessoas. Pois diria a mim mesmo: “Há algum tipo de
peste aqui; o anjo da morte deve ter sobrevoado por estas ruas durante a noite
e deve ter morto estas pessoas, pois do contrário, estariam acordadas.” Dormir
durante o dia é totalmente incongruente. “Bom,” diz o apóstolo Paulo, “Povo de
Deus, é de dia para vós; o Sol da Justiça se há alçado sobre vós com o poder
curador sobre as Suas asas; a luz do Espírito de Deus ilumina as vossas
consciências; fostes tirados das trevas e levados para a luz admirável; que vós
durmais, que a igreja se entregue ao sono, é como uma cidade que está na cama
durante o dia, como toda uma cidade que dormita quando o sol brilha. É
inoportuno e impróprio.”
E
agora, se olhardes novamente para o versículo, descobrireis que há outro
argumento. “Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, havendo-nos vestido com
a couraça da fé e do amor.” Assim, então, parece que é tempo de guerra; e
portanto, digo-o de novo, é impróprio dormir. Há uma fortaleza lá, muito longe,
na Índia. Uma tropa desses abomináveis cipaios sitiou-a. Sabujos, sedentos de
sangue, se conseguissem entrar uma vez, fariam em pedaços a mãe e os seus
filhos, e esmiuçariam o homem forte. Já estão frente às portas: os seus canhões
estão carregados; as suas baionetas têm sede de sangue, e as suas espadas têm
fome de matar. Vão por toda a fortaleza e encontrareis toda a gente dormindo. O
sentinela da torre está cabeceando sobre a sua baioneta. O capitão está na sua
tenda, com a sua pluma na mão e os despachos militares perante ele, dormindo,
junto à mesa. Os soldados estão encostados nas suas tendas, preparados para a
guerra, todavia, todos dormem. Não se vê que algum homem vigie; não há qualquer
sentinela ali. Todos dormem. Bem, meus amigos, vós diríeis: “O que está
acontecendo aqui? O que poderá ser? Acaso, algum grande mago esteve agitando a
sua mão, e a todos enfeitiçou? Ou, acaso, terão todos enlouquecido? Terão
perdido a razão? Certamente, estar adormecido em tempos de guerra é algo atroz.
Aqui! Desprende essa trompa; aproxime-te do ouvido do capitão, e soa o alarme,
e verás que acordada imediatamente. Tira, ao soldado que dormita sobre as
muralhas, a sua baioneta, e, dá-lhe uma aguda espetada, e verás que acordada
imediatamente.” Mas certamente, certamente, ninguém pode ser paciente com gente
que dorme quando o inimigo rodeia os muros e está arruinando os portões.
Pois
bem, Cristãos, esse é o vosso caso. A vossa vida é uma vida de guerra; o mundo,
a carne e o demónio são uma trindade infernal, e a pobre natureza humana é uma
miserável construção de barro para nela nos entrincheirarmos. Estás adormecido?
Adormecido, quando Satanás tem balas de fogo de luxúria para as lançar nas
janelas dos teus olhos, quando tem flechas de tentação para as disparar sobre o
teu coração, quando tem armadilhas preparadas para apanhar os teus pés?
Adormecido, quando ele minou a tua própria existência, e quando está a ponto de
acender o fogo com que te vai destruir, a menos que a Graça Soberana o previna?
Dormir em tempos de guerra é totalmente inconsistente. Que o grande Espírito de
Deus impeça que durmamos.
Mas,
agora, deixando o que diz o capítulo em si, vou dar uma ou duas razões que
moverão o povo cristão, assim o espero, a despertar do seu sono. “Retirai os
vossos mortos! Retirai os vossos mortos! Retirai os vossos mortos!” Logo vem o
tangido de um sino. O que é isto? Aqui está uma porta marcada com uma grande
cruz branca. Senhor, tem misericórdia de nós! Todas as casas, ao longo dessa
rua, parecem ter sido marcadas com essa cruz branca da morte. O que é isto?
Vede o pasto, como cresce nas ruas; aqui estão Cornhill e Cheapside e estão
desertas; ninguém caminha pelo seu solitário pavimento; não se escuta outro som
do que o dos cascos dos cavalos, como os cascos do pálido cavalo da morte sobre
as pedras, ou o badalar desse sino, ressoando a dobrar de morte, para muitos, e
o retumbar das rodas desse carro, e o grito terrível: “Retirai os vossos
mortos! Retirai os vossos mortos! Retirai os vossos mortos!” Vedes aquela casa?
Ali vive um médico. É um homem que possui uma grande habilidade, e Deus
emprestou-lhe sabedoria. Até há pouco tempo, estando no seu estudo, agradou a
Deus guiar a sua mente, e assim descobriu o segredo da peste. Ele mesmo foi
golpeado pela praga, e esteve quase a morrer; mas, levou o bendito frasco aos
lábios e deu um sorvo e curou-se. Acreditareis, no que vos estou contando?
Podeis imaginá-lo? Esse homem tem a receita que vai curar todo este povo;
tem-na no seu bolso. Ele possui o medicamento, que se fosse distribuído nessas
ruas, faria com que os doentes se regozijassem, e faria silenciar esse sino
fúnebre. E ele está adormecido! Ele está adormecido! Ele está adormecido! Oh,
vós, Céus! Por que não cais e esmagais esse infeliz? Oh, Terra! Como podes suportar
este demónio no teu regaço? Por que não o tragas rapidamente? Ele possui o
medicamento; porém, é muito preguiçoso para ir e proclamar o remédio. Ele tem a
cura, mas, é muito ocioso para sair e administrá-la aos doentes e aos
moribundos! Não, meus amigos, um miserável desumano deste tipo não deveria
existir! Mas posso vê-lo hoje aqui. Ali está! Tu sabes que o mundo está doente
com a praga do pecado, e tu mesmo foste curado com esse remédio, que te foi
subministrado. Todavia, estás adormecido, inativo, ocioso. Não sais para:
“Dizer aos demais, em toda
a parte,
Que o maravilhoso Salvador
tu encontraste.”
Ali
está o precioso Evangelho: tu não sais para levá-lo aos lábios dum pecador. Ali
está o sangue extremamente precioso de Cristo: tu jamais vais dizer aos
moribundos o que devem fazer para ser salvos. O mundo está perecendo por algo
que é pior do que uma praga: e tu estás ocioso! E tu és um ministro do
evangelho; e assumiste esse santo ofício sobre os teus ombros; e contentas-te
pregando duas vezes no domingo, e uma vez durante a semana, e não sentes
qualquer remorso. Não desejas nunca atrair multidões para que escutem a tua
pregação; tu preferes ter os teus bancos vazios, e apegar-te ao que é
conveniente, em vez de, ao menos uma vez e com o risco de pareceres
extremamente zeloso, atraíres as multidões e pregar-lhes a Palavra. Tu és um
escritor: tens grande poder para escrever; tu dedicas os teus talentos
unicamente à literatura ligeira ou à produção de outras coisas que te podem
distrair, mas que não podem beneficiar a alma. Conheces a verdade, mas não a
divulgas. Aquela mãe é uma mulher convertida: tens filhos, mas esqueces-te de
instrui-los, em relação ao caminho que conduz ao Céu. Tu, acolá, és um homem
jovem, que não tens nada que fazer no dia de domingo, e ali está a Escola
Dominical esperando; não te congregas para instruir esses meninos no remédio
soberano que Deus há provido para a cura das almas doentes.
O
sino da morte está repicando agora mesmo; o Inferno está clamando, uivando de
fome pelas almas dos homens. “Tirai o pecador! Tirai o pecador! Tirai o
pecador! Que morra e seja condenado!” E ali estás tu que professas ser cristão,
mas que não fazes nada que te possa converter num instrumento de salvação de
almas; nunca estendes a tua mão para seres o meio utilizado pela mão do Senhor
para arrancar os pecadores da fogueira, como tições! Oh! Que a bênção de Deus
esteja convosco, para apartar-vos desse mau caminho, para que não durmais como
os demais, mas que vigiais e sejais sóbrios. O perigo iminente do mundo demanda
que estejamos ativos, e que não durmamos. Escutai como range o mastro! Vede as
velas ali, rasgadas e transformadas em tiras. Os escolhos estão em frente! O
navio vai direito para as rochas. Onde está o capitão? Onde está o
contramestre? Onde estão os marinheiros? Vós, aí! Onde estais? Aproxima-se uma
tormenta. Onde estão vocês? Estão em baixo, nos camarotes. Ali está o
timoneiro, que não pode dormir mais profundamente; e ali estão todos os
marinheiros nas suas redes. Como! E os escolhos em frente? Como! As vidas de
duzentos passageiros estão em perigo, e aqui estão dormindo estes insensatos?
Acordai-os a pontapés. Qual é o objeto de permitir que homens como estes sejam
marinheiros, especialmente num momento como este? Saiam todos! Se estivessem
dormindo com bom tempo, poderíamos havê-los perdoado. Levante-se, capitão! O
que esteve fazendo? Está louco? Mas, escute!, o navio encalhou; afundar-se-á
num momento. Agora, vai pôr-se a trabalhar, não é verdade? Agora, vai pôr-se a
trabalhar, quando já não serve de nada, quando os alaridos das mulheres que se
afogam lhe comprarão um bilhete para o Inferno, pela sua negligência
extremamente maldita, ao havê-los descuidado tão plenamente. Pois bem, assim
somos muitos de nós, inclusive nestes tempos.
Este
orgulhoso navio da nação balança numa tormenta de pecado; o próprio mastro
desta grande nação chia sob o furacão do vício que varre todo o pobre navio;
cada madeiro está tenso ao máximo, e Deus ajude ao bom navio, ou ai!, ninguém
poderá salvá-lo. E, quem são o seu capitão e os seus marinheiros, senão os
ministros de Deus, e os que professam a religião? Estes são aqueles a quem Deus
dá a Sua graça para que conduzam o navio. “Vós sois o sal da terra;” vós
preservais e conservais a vida, oh filhos de Deus. Estais dormindo, na
tormenta? Estais dormitando, agora? Se não houvesse guaridas de vício, se não
houvesse prostitutas, se não houvesse casas de impiedade, se não houvesse
assassinatos nem crimes, oh!, vós que sois o sal da terra, vós poderíeis
dormir; porém, hoje, o pecado de Londres clama aos ouvidos de Deus. Esta cidade
monstruosa está coberta de crimes, e Deus está aborrecido com ela. E nós
estamos adormecidos e não fazemos nada? Então, que Deus nos perdoe! Mas,
certamente, de todos os pecados que Ele nos perdoa, este é o maior, o pecado da
sonolência quando o mundo se está condenando; é um pecado ficar ocioso quando
Satanás está ocupado, devorando as almas dos homens. “Irmãos, não durmamos” em
tempos como estes; pois, se o fazemos, uma maldição cairá sobre nós, horrível
de suportar.
Lá
está um pobre prisioneiro numa cela. O seu cabelo está todo enredado sobre os
seus olhos. Há umas quantas semanas, o juiz pôs o negro barrete e ordenou que
fosse levado ao lugar de onde veio, para ser pendurado pelo pescoço, até
morrer. O pobre infeliz tem o seu coração dilacerado internamente, enquanto
pensa nos grilhões, na forca, na queda ao abrir-se o alçapão, e no além da
morte. Oh!, quem pode dizer quão despedaçado e atormentado está o seu coração,
enquanto pensa que vai deixar tudo, e que não sabe para onde vai?
Por
ali mesmo está outro homem, profundamente adormecido sobre uma cama. Ele esteve
dormindo durante dois dias, e sob o seu travesseiro tem o indulto do
prisioneiro mencionado. Eu gostaria que açoitásseis a esse canalha, que o
açoitásseis com violência, por ser a causa de que aquele pobre homem sofresse
durante dois dias, desnecessariamente, a sua miséria. Pois bem, se eu tivesse
tido nas minhas mãos o perdão desse homem, teria voado dali, ainda que tivesse
tido que montar nas asas do raio para chegar até ele, ou teria considerado que
o comboio mais rápido era muito lento se tivesse que levar uma mensagem tão
doce a um pobre coração decaído. Porém, esse homem, esse insensato, está
profundamente adormecido, com um indulto debaixo do seu travesseiro, enquanto
que o coração do outro homem miserável se desfaz em desmaios! Ah! Todavia não
sede muito duros com ele: ele está aqui presente agora. Junto a ti esta manhã
está sentado um pobre pecador penitente; Deus perdoou-o e quer que tu lhe dês a
boa notícia. Sentou-se ao teu lado no domingo passado, e esteve chorando
durante toda a pregação do sermão, pois sentia a sua culpabilidade. Se lhe
tivesses falado nesse momento, quem sabe o que se teria passado. Teria tido consolo;
mas ali está agora, e não lhe dás a nova notícia. Queres que eu o faça? Ah!,
senhores, vós não podeis servir a Deus outorgando poderes; o que o ministro faz
não é nada para vocês; vós tendes a vossa própria responsabilidade para
cumprir, e Deus tem-vos dado uma preciosa promessa. Está agora nos vossos
corações. Acaso, não te dirigirás ao teu vizinho para lhe dizeres a promessa?
Oh!, há em muitos um coração dolente que se compadece pela nossa ociosidade em
dizer as boas novas desta salvação. “Sim,” diz um dos membros da igreja, que
vem sempre a este lugar, a cada domingo, e que procura os jovens e as jovens
que viu chorar no domingo anterior, e que traz muitos à igreja, “sim, poderia
contar-te uma história.” Olha um jovem no rosto, e diz-lhe, “não te vi muitas
vezes aqui?” “Sim.” “Penso que tens muito interesse no serviço, não é verdade?
“Sim, é certo: por que me pergunta isso?” “Porque vi o teu rosto no domingo
passado, e vi que algo estava trabalhando em ti.” “Oh!, responde, ainda ninguém
me tinha falado desde que assisto aqui, até agora. Queria falar consigo. Quando
estava em casa com a minha mãe, pensava que tinha alguma ideia da religião; mas
fui para longe, e tornei-me aprendiz no meio de um bando de jovens iníquos, e
tenho feito tudo o que não devia fazer. E, agora, senhor, começo a chorar,
começo a arrepender-me. Desejo de todo coração saber como poderei ser salvo!
Escuto a pregação da Palavra, mas, necessito que algo me seja pregado
pessoalmente a mim, por alguém.” E ele volta-se para ele, toma-o pela mão e
diz-lhe: “Meu amado jovem irmão, dá-me tanto gosto falar contigo; isto faz com
que o meu pobre e velho coração se regozije ao pensar que o Senhor ainda está
fazendo algo aqui. Agora, não estejas deprimido; pois sabes que, ‘Esta Palavra
fiel é digna de ser recebida por todos: que Cristo Jesus veio ao mundo para
salvar aos pecadores.»” O jovem leva o lenço aos olhos, e depois de um minuto,
diz, “Queria que me permitisse visitá-lo e reunir-me consigo,” “Claro que
podes!,” responde. Fala com ele, guia-o pelo caminho, e finalmente, pela graça
de Deus, o feliz jovem vem à frente e declara o que Deus tem feito pela sua
alma, e comenta que deve a sua salvação tanto à humilde instrumentalidade do
homem que o ajudou, como à pregação do ministro.
Amados
irmãos, o noivo vem! Despertai! Despertai! A Terra em breve vai ser dissolvida,
e os Céus se derreterão! Despertai! Despertai! Oh Espírito Santo, desperta-nos
a todos e mantém-nos acordados.
III.
E agora já não me resta tempo para o último ponto, e, portanto, já não vos
deterei mais. Basta que diga como advertência que há AQUI UM MAL PARA LAMENTAR.
Há algumas pessoas que estão adormecidas e o Apóstolo lamenta-o.
Companheiro
pecador, hoje és um inconvertido; então, deixa-me dizer-te seis ou sete frases
antes que me vá embora. Homem inconvertido! Mulher inconvertida! Vós dormis
hoje, como esses que dormem na ponta do mastro, no tempo de tormenta; vós
dormis, como o que dorme, quando as águas transbordam e inundam, enquanto a
vossa casa fica sem alicerces, e está sendo arrastada para longe pela corrente,
até ao mar; vós dormis, como o que se encontra no andar superior da habitação,
quando a sua casa está ardendo e as suas próprias chaves se estão derretendo no
fogo, e nada sabe da devastação que o rodeia; vós dormis; dormis como o que jaz
à beira dum precipício, com a morte e a destruição debaixo dele. Apenas um
único sobressalto no seu sono o arrojaria no precipício, mas ele não o sabe.
Tu
dormes hoje; e o lugar onde dormes tem um suporte tão frágil que se ele ceder
uma vez apenas, cairás no Inferno: e se não te despertas antes disso, que
despertar será o teu! “E no Hades elevou os seus olhos, estando em torturas;” e
clamou por uma gota de água, mas foi-lhe negada. “O que crer no Senhor Jesus
Cristo e for batizado, será salvo; mas quem não crer
será condenado.” Este é o
Evangelho. Crede no Senhor Jesus, e então “vos alegrais com
gozo inefável e glorioso.”
Tradução de Carlos
António da Rocha
****
Esta tradução é de
livre utilização, desde que a sua ortografia seja respeitada na íntegra porque
já está traduzida no Português do Novo Acordo Ortográfico e que não seja nunca
publicada nem utilizada para fins comerciais; seja utilizada exclusivamente
para uso e desfruto pessoal.
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