… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Sermão n.º 848




C. H. Spurgeon

Sermão n.º 848

“Jesus Cristo é imutável” (Jesus Christ Immutable), pregado na manhã de domingo, 3 de janeiro de 1869, por Charles Haddon Spurgeon, no Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres.

“Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente.” (Hb 13:8, ARC, Pt)


Um estimado e venerável vigário de uma paróquia de Surrey enviou-me pelo Ano Novo, durante um número muito considerável de anos, um generoso testemunho do seu afeto e o reconhecimento do prazer que a leitura semanal dos meus sermões lhe proporciona. Incluído no pacote, que a sua bondade me remeteu, há um versículo sobre o qual espera que pregue na manhã do primeiro domingo do Novo Ano. Este ano envia-me esta linha de ouro: “Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente.”



Ainda que já antes tenha pregado sobre este versículo, não devemos temer pregar nunca sobre o mesmo versículo duas vezes, pois a Palavra é inesgotável: pode ser pisada no lagar muitas vezes que sempre escorre dela mais vinho generoso. Devemos pregar uma segunda vez sobre uma passagem sem vacilar, assim como ninguém se envergonharia de ir ao poço do povoado e baixar o balde duas vezes ou ninguém se sentiria ofendido por navegar duas vezes pelo mesmo rio! A verdade do Evangelho contém sempre frescura e, ainda que o assunto seja o mesmo, há formas de apresentá-lo sob uma luz renovada que traga um novo gozo aos que meditam nessa verdade.



Além disso, o que importa se repetirmos as nossas lições concernentes a Cristo? O que importa se ouvirmos, uma e outra vez, as mesmas coisas “referentes ao Rei”? Podemos permitir-nos ouvi-las! As repetições que concernem a Jesus são melhores do que as variações sobre qualquer outro tema. Assim como o monarca francês declarou que preferia ouvir as repetições de Bourdaloue[1] do que as novidades de qualquer outra pessoa, assim também podemos asseverar no referente ao nosso Senhor Jesus, que preferimos ouvir repetidamente as preciosas verdades que O glorificam, do que escutar os mais eloquentes discursos solenes sobre qualquer outro tema em todo mundo!



Há umas quantas obras de arte e maravilhas da criação que poderias contemplar em cada dia da tua vida sem te cansares delas. Um grande arquiteto disse-nos que há apenas uns poucos edifícios desse tipo, e dá como exemplo de um deles a Abadia de Westminster; e todo aquele que tenha contemplado alguma vez o mar ou as cataratas do Niágara, sabe que não importa quantas vezes se olhem, ainda que se veja precisamente o mesmo objeto, há novas tintas, novos movimentos das ondas, novos brilhos de luz, que proíbem a menor intrusão da monotonia e proporcionam à concentração das águas um encanto duradouro. O mesmo ocorre com esse mar de todos os deleites que se encontra no precioso Amante das nossas almas.



Vamos, então, ao antigo tema deste versículo antigo, e peçamos que o bendito Espírito nos dê uma nova unção enquanto meditamos nele. Havemos de notar, primeiro, o nome Pessoal do nosso Senhor: Jesus Cristo. Notemos, em segundo lugar, o Seu memorável atributo: “Ele é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente”, e logo vamos dizer umas quantas palavras a respeito dos Seus evidentes direitos derivados da posse de tal carácter.



I. Primeiro, então, notemos os nomes pessoais do nosso Senhor mencionados aqui: “JESUS CRISTO.”



“JESUS” está primeiro. Esse é o nome hebreu do nosso Senhor, “Jesus”, ou “Josué.” A palavra significa: um Salvador, “porque Ele salvará o Seu povo dos seus pecados.” Foi-Lhe dado no Seu berço.



“Frias, no Seu berço, as gotas de orvalho refulgem;

A Sua cabeça descansa entre as bestas do estábulo;

Os anjos adoram-No, reclinado num profundo sonho,

Criador, e Monarca e Salvador de tudo.”



Sendo ainda um Infante sustentado no peito de Sua mãe, Ele foi reconhecido como Salvador, pois o facto de que Deus Se encarnara foi o compromisso seguro, a garantia e o começo da salvação humana. Ao pensar simplesmente no Seu nascimento a virgem cantou: “O meu espírito se regozija em Deus, meu Salvador.” Há esperança de que o homem seja elevado até Deus quando Deus condescende em baixar até ao homem! Na manjedoira Jesus merece ser chamado o Salvador, pois quando se pode dizer que “Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, e Ele morará com eles”, há esperança de que à raça caída serão dadas todas as coisas boas.



Ele foi chamado Jesus na Sua infância: “O Santo Menino Jesus.” Foi como Jesus que Ele subiu com os Seus pais ao Templo e Se sentou no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. Sim, e Jesus como Mestre nos primeiros princípios da Sua doutrina é um Salvador emancipando as mentes dos homens da superstição, liberando-os das tradições dos pais espalhando, inclusive, com a Sua mão Infantil as sementes da Verdade, os elementos de uma gloriosa liberdade que emancipará a mente humana das cadeias de ferro da falsa filosofia e dos enganos sacerdotais.



Ele era Jesus, também, e é comummente chamado assim, tanto pelos Seus inimigos como pelos Seus amigos, na Sua vida ativa. É como Jesus, o Salvador, que Ele sara os doentes, que Ele ressuscita os mortos, que Ele salva a Pedro do afundamento e que resgata do naufrágio a embarcação sacudida sobre o mar da Galileia. Em todos os ensinos da Sua vida adulta, nesses laboriosos três anos de diligente serviço tanto no Seu ministério público como na Sua oração privada, Ele continua sendo Jesus, o Salvador, pois tanto pela Sua obediência ativa como pela Sua obediência passiva, nós somos salvos. Ao longo de toda a Sua morada terrestre Ele deixou muito claro que o Filho do Homem veio buscar e a salvar o que se havia perdido. Se o Seu sangue nos redime da culpa do pecado, a Sua vida mostra-nos como vencer o seu poder. Se pela Sua morte no madeiro Ele esmaga a Satanás por nós, pela Sua vida de santidade ensina-nos como romper a cabeça do dragão dentro de nós. Ele é o Salvador como Bebé, o Salvador como Menino e o Salvador como Homem que trabalha com grande esforço, que trabalha e que é tentado.



Mas Ele ressalta mais claramente como Jesus quando morre na Cruz; assim foi chamado, num escrito do qual o seu autor disse: “O que escrevi, escrevi”, pois sobre a cabeça do Salvador moribundo lê-se: “JESUS NAZARENO, REI DOS JUDEUS.” Ali, Ele era proeminentemente o Salvador, sendo feito maldição por nós para que nós fôssemos feitos justiça de Deus nEle. Depois de contemplar as agonias da morte do seu Mestre, o Apóstolo amado disse: “E nós temos visto, e testificamos que o Pai enviou Seu Filho como Salvador do mundo.” No Calvário viu-se que o Filho de Deus salvou os outros, ainda que, por causa de uma bendita incapacidade de amor, “a Si mesmo não Se pôde salvar.” Quando foi levado a sentir a ira de Deus por conta do pecado, e sofreu dores desconhecidos como nosso substituto, quando Ele foi obrigado a atravessar a densa escuridão e o ardente calor da ira divina, então Ele foi, de acordo com a Escritura, “O Salvador de todos os homens, principalmente dos que creem.” Sim, é no madeiro que Cristo é peculiarmente um Salvador. Se não fosse nada melhor do que o nosso Exemplo, ai de nós! Poderemos estar agradecidos pelo Seu exemplo se pudéssemos imitá-lo, mas sem o perdão que nos preserva e a Divina Graça que nos outorga o poder para a santidade, o exemplo mais brilhante seria uma exasperação da nossa aflição! Que nos mostre o que deveríamos ser, sem que nos facilite um método mediante o qual possamos alcançá-lo, seria escarnecer da nossa miséria! Porém, Jesus primeiro tira-nos da horrível fossa na qual estávamos caídos, tira-nos da argila lamacenta pela eficácia do Seu Sacrifício expiatório e, então, tendo posto o nosso pé sobre uma rocha pelo poder de Seus méritos, Ele mesmo guia o caminho para a perfeição! E, assim, Ele é um Salvador tanto na vida como na morte.



“Que Jesus salva do pecado e do Inferno,

É uma verdade divinamente certa;

E sobre esta Rocha que a nossa fé pode descansar

Imutavelmente segura.”



Ainda com o nome de Jesus, o nosso Senhor ressuscitou dos mortos. Os evangelistas deleitam-se chamando-Lhe: Jesus, na Sua aparição a Madalena no jardim e na Sua manifestação aos discípulos quando estavam reunidos estando as portas fechadas. Ele é sempre Jesus para eles como o Ressuscitado.



Amados, como somos justificados pela Sua Ressurreição, fazemos bem em considerá-Lo como Salvador sob esse aspeto. A Salvação está mais vinculada ainda com um Cristo ressuscitado, porque pela Sua Ressurreição vemo-Lo destruindo a morte, derrubando a prisão do sepulcro e levando-Se, como outro Sansão das portas do sepulcro. Ele é um Salvador para nós posto que Ele venceu o último inimigo que será destruído, para que nós, tendo sido salvos do pecado pela Sua morte, sejamos salvos da morte pela Sua Ressurreição.



Jesus é o título com o qual Ele é chamado na Glória, pois “A este, Deus, com a Sua destra, o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão de pecados.” Ele é hoje “o Salvador do corpo.” Adoramo-Lo como o único Deus sábio e como nosso Salvador. “Pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, porquanto vive sempre para interceder por eles.”



Como Jesus virá brevemente, e nós estamos “aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus.” O nosso clamor diário é, “Sim, vem, Senhor Jesus.” Sim, e este é o nome, o nome de “Jesus”, pelo qual Ele é conhecido no Céu nesta hora. Assim falou dEle o anjo antes de ser concebido pela virgem! Assim O servem os anjos e cumprem as Suas ordens, pois Ele disse a João em Patmos: “Eu, Jesus, enviei o Meu anjo para vos testificar estas coisas.” Os anjos profetizaram a Sua vinda sob esse nome sagrado. Vieram para aqueles que estavam olhando para o alto, e disseram-lhes: “Varões galileus, por que ficais aí olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi elevado para o céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir.” Sob este nome os diabos O temem, pois acaso não disseram: “A Jesus conheço, e sei quem é Paulo; mas vós, quem sois?” Esta é a palavra mágica que ata os corações dos querubins com cadeias de amor, e esta é a Palavra que faz com que as hostes do Inferno tremam e se acovardem! Este nome é o gozo da Igreja na Terra! E é o gozo da igreja no Céu! É uma Palavra comum, um nome familiar para o nosso amado Redentor no meio da família de Deus aqui em baixo! E lá em cima, onde ainda é cantado:



“Jesus, o Senhor, as suas harpas, inspira:

Jesus, meu Amor, cantam eles!

Jesus, a vida dos nossos gozos,

Ressoa melodioso desde cada corda.”



Esse homem de Deus, o senhor Henry Craik[2], de Bristol, quem, para nossa grande tristeza foi chamado para o seu repouso recentemente, na sua pequena obra sobre o estudo da língua hebraica, –como um exemplo de quanto pode ser extraído de uma só palavra hebraica– diz-nos que o nome de “Jesus” é particularmente rico e sugestivo para a mente do estudioso do hebraico. Provém de uma raiz que significa amplitude, espaço, e logo chega a significar: deixar solto, deixar livre, libertar e assim chega ao seu uso comum entre nós, quer dizer, o de Salvador.



Mas há duas palavras no nome de Jesus. Uma é uma contração da palavra “Jeová”, e a outra é a palavra que lhes acabo de explicar, que termina significando: “Salvação.” Se desmontarmos a palavra, Jesus significa: JEOVÁ-SALVAÇÃO. Revela para vós a gloriosa essência e a natureza de Cristo como Jeová, “Eu sou o que sou”, e, logo revela, na segunda parte do Seu nome, a Sua grandiosa obra em favor de vós ao deixar-vos em liberdade e em libertar-vos de toda a vossa angústia.



Amado companheiro cristão, pensa na amplitude, na imensidade, na largura, na abundância e na autossuficiência ilimitada que estão concentradas na pessoa do Senhor Jesus! “Agradou ao Pai que nEle habitasse toda a plenitude.” Não tendes um Cristo contraído, não tendes a um Salvador estreito. Oh, a infinitude do Seu amor, a abundância da Sua Graça, a suma grandeza das riquezas do Seu amor para connosco! Não há palavras em nenhuma língua que possam expressar suficientemente o alcance infinito e ilimitado das riquezas da glória de Cristo Jesus, nosso Senhor! A palavra que jaz na raiz do Seu nome “Jesus”, ou “Josué”, tem, às vezes, o significado de riquezas; e quem pode dizer quantas riquezas de Divina Graça e de glória estão concentradas no nosso Emanuel?



O senhor Craik informa-nos que outra forma da mesma palavra significa “um clamor.” “Está atento à voz do meu clamor, Meu rei e Deus meu.” Assim, salvação, riquezas, um clamor, todo isso se deriva da mesma raiz, e todo isso encontra a sua resposta no nosso Josué ou Cristo. Quando o Seu povo clama desde as suas prisões, então Ele vem e o deixa livre, vem com toda a amplitude e a riqueza da Sua Graça eterna, com toda a plenitude do Seu transbordante poder! E, libertando-os de toda a forma de escravidão, Ele permite-lhes gozar das riquezas da Glória entesourada nEle mesmo! Se esta interpretação fizesse mais amado o nome de Jesus ainda que fosse só uma partícula, certamente que me alegraria muito.



Se há tanto conteúdo num só nome, pensai quanto mais não haverá acumulado nEle mesmo! E se podemos dizer com honestidade que seria difícil explicar o pleno sentido deste só nome hebraico que pertence a Cristo, quanto mais difícil seria dar jamais o pleno sentido de todo Seu Carácter? Se apenas o Seu nome é essa mina de excelência, o que não será a Sua Pessoa? Se isto, que não é mais que uma parte da Sua vestidura, cheira de tal maneira a mirra, a aloés e a cássia, oh, o que não será a Sua bendita Pessoa senão um molho de mirra que estará para sempre no meio do nosso peito para ser o perfume da nossa vida e o deleite da nossa alma?



“Precioso é o nome de Jesus,

Quem poderia desentranhar sequer a metade do seu valor?

Para além das preces angélicas,

Docemente cantado com harpas de ouro.



Precioso quando gemendo rumo ao Calvário

Ele sustentava o maldito madeiro;

Precioso quando a Sua morte expiatória,

Pôs um termo ao pecado por mim.



Precioso quando os sangrentos açoites

Provocaram que as gotas sagradas rolassem;

Precioso quando o quebrar das ondas de ira

Afligiram a Sua alma santa.



Precioso quando foi vitorioso na Sua morte,

Ele derrota as hostes do Inferno;

Na Sua ressurreição gloriosa,

Foi coroado vitorioso sobre todos os Seus inimigos.



Precioso Senhor! Além de toda a expressão,

São as Tuas belezas todas divinas!

Glória, honra, poder e bênção,

Sejam Tuas a partir de agora e para sempre!”



Tudo isto havemos dito sobre o nome hebraico. Agora considerai reverentemente o segundo título: Cristo. Esse é um nome grego, um nome gentio: Ungido. Assim podem ver que têm o nome hebraico: Josué, Jesus, e logo o nome grego: “Christos”, Cristo; assim podemos ver que já não há judeu nem grego porque todos são um em Jesus Cristo. A palavra Cristo, como todos vós sabeis, significa “ungido”, e como tal o nosso Senhor é chamado, às vezes, “o Cristo”, “o próprio Cristo”; outras vezes, “o Cristo do Senhor”, e às vezes, “o Cristo de Deus.” Ele é o Ungido do Senhor, nosso Rei e nosso Escudo.



Esta palavra “Cristo” ensina-nos três grandes verdades: primeiro, indica os Seus ofícios. Ele exerce ofícios nos quais é necessária a unção, e são três: o ofício de Rei, o de Sacerdote e o de Profeta. Ele é Rei em Sião, ungido com óleo de alegria mais do que os Seus companheiros, tal como se disse na antiguidade: “Achei David, Meu servo; com o Meu santo óleo o ungi. A minha mão será sempre com ele, e o meu braço o fortalecerá. Porei a sua mão sobre o mar, e a sua destra sobre os rios. Também lhe darei o lugar de primogénito; fá-lo-ei o mais excelso dos reis da terra.” Saúl, o primeiro rei de Israel, foi ungido com um frasco de azeite, mas David foi ungido com um corno de azeite, para significar a maior plenitude do seu poder e a excelência do seu reino; porém, quanto ao nosso Senhor Jesus Cristo, Ele recebeu o Espírito da unção sem medida, Ele é o Ungido do Senhor, para quem é ordenada uma lâmpada que não se apaga. “Ali farei brotar a força de David; preparei uma lâmpada para o Meu Ungido.”



Amados, ao pensar nesse nome: Cristo, temos de entregar-Lhe reverentemente as nossas almas a Ele, a quem Deus ungiu para ser Rei. Defendamos os Seus direitos sobre a Sua igreja, pois Ele é Rei em Sião, e ninguém tem o direito de governar a não ser em sujeição à grandiosa Cabeça de tudo e debaixo dela, o qual em todas as coisas tem de ter a preeminência! Defendamos os Seus direitos dentro dos nossos próprios corações, procurando lançar fora todos os objetos rivais, desejosos de conservar castas as nossas almas para Cristo, e de fazer com que cada membro do nosso corpo, ainda que se possa ter entregue ao pecado anteriormente, se subordine ao Rei ungido que tem um direito a governar sobre ele.



Além disso, o Senhor Cristo é Sacerdote. Os Sacerdotes eram ungidos. Eles não deviam assumir esse ofício por si mesmos, nem podiam fazê-lo sem haver completado a cerimónia que os consagrava. A Jesus Cristo, nosso Senhor, deu-Lhe a Graça Divina a Ele o que nenhum outro sacerdote jamais teve. A unção exterior dos sacerdotes era somente simbólica, mas a Sua é a verdadeira e a real! Ele recebeu aquilo que o óleo só estabelecia como tipo e sombra; Ele tem a unção real do Altíssimo.



Amados, temos de olhar sempre para Cristo como o Sacerdote ungido. Minh’ ama, tu não podes nunca vir a Deus exceto através do único Sumo-Sacerdote, sempre vivo e verdadeiramente ungido, da nossa profissão! Oh, não busques, nem por um momento, vir sem Ele, nem através de qualquer enganador que se chame a si mesmo: “um sacerdote!” Sumo-Sacerdote da casa de Deus, vemo-Lo ordenado assim, e pomos a nossa causa nas Suas mãos. Oferece os nossos sacrifícios por nós! Apresenta as nossas orações! Toma os nossos louvores e põe-nos no incensário de ouro, e oferece-os diante do trono do Teu Pai. Regozijai-vos, meus irmãos, cada vez que oiçais o nome de Cristo, porque Aquele que o leva é ungido para ser Sacerdote!



O mesmo acontece em relação com o ofício profético. Vemos Eliseu ungido para profetizar, e assim é Jesus Cristo, o Profeta ungido no meio do Seu povo. Pedro falou com Cornélio de “como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder; o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do Diabo, porque Deus era com Ele.”



Ele foi ungido para pregar as boas novas e para sentar-Se como Senhor de Israel. Nós sustentamos que nenhum ensino do homem é autoritário entre nós, exceto o testemunho de Cristo. O ensino do Cristo do Senhor é o nosso credo, e nada mais. Dou graças a Deus porque nesta Igreja não temos de dividir a nossa lealdade entre algum venerável conjunto de artigos e o ensino do nosso Senhor. Um é o nosso Senhor! Não reconhecemos o direito a nenhum homem de prender a consciência de outro; ainda que tenham sido grandes em piedade e profundos em conhecimento! Como Agostinho e Calvino, cujos nomes honramos, pois Deus honrou-os, eles mesmo assim não têm domínio sobre o julgamento privado em relação ao povo de Deus. Jesus Cristo é o Profeta da Cristandade! As Suas Palavras têm de ser sempre a primeira e a última apelação! Este, então, é o significado da palavra “Cristo” (“Christos”). Ele é ungido como Rei, Sacerdote e Profeta.



Mas significa algo mais do que isso. O nome Cristo declara os Seus direitos a esses ofícios. Ele não é Rei porque Se erija como tal. Deus estabeleceu-O como Rei sobre o Seu santo monte de Sião, e ungiu-O para governar. Ele é também Sacerdote, mas não assumiu o sacerdócio por Si mesmo, pois Ele é a Propiciação, a qual, Deus designou para o pecado humano. Ele é o Mediador, a quem, o Senhor Deus nomeou, e estabeleceu para ser o único Mediador entre Deus e o homem. E quanto ao Seu ofício de profeta, Ele não fala por Si mesmo; aquelas coisas que Ele aprendeu do Pai, isso Ele nos revelou. Ele não vem como um Profeta que assume o ofício, mas Deus ungiu-O para pregar as boas novas aos pobres, e para vir para o meio do Seu povo com as bem-vindas novas do amor eterno.



Além disso, esta unção significa uma terceira coisa: que assim como Ele tem o ofício, e é Seu por direito, assim também Ele tem as qualificações para a obra. Ele é ungido para ser Rei. Deus deu-Lhe poder régio, e sabedoria, e governo; tem-No feito apto para governar na Igreja e para reinar sobre o mundo. Nenhum rei é melhor do que Cristo! Ninguém é tão majestoso como Aquele que levou a coroa de espinhos, mas que porá sobre a Sua cabeça a coroa da monarquia universal! Ele tem também as qualificações para ser sacerdote, e são qualificações tais como não as teve Melquisedec; tais como não podem ser encontradas em toda a casa de Aarão, nem em toda a extensa linha da sua estirpe.



Bendito Filho de Deus, perfeito em Ti mesmo, que não necessitas de um sacrifício para a Tua própria causa; Tu apresentaste a Deus uma oferenda que aperfeiçoaste para sempre, aqueles a quem Tu apartaste, e agora, sem necessidade de fazeres outro sacrifício, Tu tiraste para sempre o pecado!



O mesmo acontece com o ofício de profeta do Senhor. Ele tem poder para ensinar. “A graça se derramou em Teus lábios; portanto, Deus Te abençoou para sempre.” Todas as palavras de Cristo são Sabedoria e Verdade. A substância da verdadeira filosofia e do conhecimento certo têm de ser encontradas nEle, que é a sabedoria e o poder de Deus. Oh, essa palavra “Cristo!” Parece crescer em nós quando refletimos nela; mostra-nos os ofícios de Cristo, o Seu direito a exercer os ditos ofícios, e as Suas qualificações para eles.



“Cristo, ante Ti se inclinam os nossos espíritos!

Profeta, Sacerdote e Rei és Tu!

Cristo, ungido do Senhor,

Para sempre hás-de ser adorado.”



Agora, juntai os dois títulos e fazei ressoar a harmonia das duas melodiosas notas: Jesus Cristo, Salvador-Ungido. Oh, quão bendito! Não vedes que o nosso Amado é um Salvador devidamente designado, um Salvador abundantemente qualificado? Alma minha, se Deus designa a Cristo como Salvador dos pecadores, por que levantas a questão? Deus erigiu-O como o Salvador dos pecadores. Vinde, então, vós, pecadores, tomai-O, aceitai-O e descansai nEle. Oh, quão néscios somos quando começamos a fazer perguntas, e a levantar objeções e dificuldades! Deus declara que Cristo é o Salvador para todos os que confiam nEle! O meu pobre coração confia nEle: ele tem paz! Mas, por que é que alguns de vós imaginais que Ele não pode salvar-vos? Porque perguntais: “Como poderá ser que este Homem me salve?” Deus designou-O! Toma-O! Descansa nEle! Além disso, Deus habilitou-O, dando-Lhe a unção de Salvador. O quê, pensas que Deus não O cingiu com suficiente poder, ou que não O tem provido com o mérito suficiente para que te possa salvar, tal como és? Limitarás o que Deus tem feito? Pensarás que a Sua unção é imperfeita e que não pode habilitar a Jesus para resolver o teu caso? Oh, não calunies assim a Graça do Céu! Não desprezes dessa maneira a Sabedoria do Senhor! Mas honra o Salvador ungido por Deus vindo agora, tal como és, e pondo a tua confiança nEle.



II. Agora havemos de examinar o segundo ponto, OS SEUS MEMORÁVEIS ATRIBUTOS.



Diz-se que Ele é o mesmo. Agora, Jesus Cristo não tem sido o mesmo em todo tempo, quanto à Sua condição, pois Ele uma vez foi adorado pelos anjos, mas posteriormente foi cuspido pelos homens! Ele trocou os esplendores celestiais da corte do Seu Pai pela pobreza da Terra, pela degradação da morte e pela humilhação do sepulcro. Jesus Cristo não é e não será sempre o mesmo quanto à ocupação. Uma vez Ele veio buscar e a salvar o que se havia perdido, mas nós, na verdade, cantamos: “O Senhor virá, mas não o mesmo que uma vez veio em humildade.” Ele virá com um propósito muito diferente; Ele virá para espalhar em todas as direções os Seus inimigos e para quebrantá-los com vara de ferro! Então, não temos de tomar a expressão “o mesmo” no mais ilimitado sentido concebível. Revisando o versículo grego, alguém adverte que poderá ser lido assim: “Jesus Cristo, Ele mesmo, ontem, e hoje, e pelos séculos.” O Salvador ungido é sempre Ele mesmo. Ele é sempre Jesus Cristo; e a palavra “mesmo” parece-me que mostra a mais íntima relação com os dois títulos do versículo, e é o mesmo como se dissesse que Jesus Cristo é sempre Jesus Cristo, ontem, e hoje, e pelos séculos. Jesus Cristo é sempre Ele mesmo; de qualquer maneira, se essa não é a tradução correta, é uma frase muito correta e bendita: é docemente certo que Jesus Cristo é sempre Ele mesmo. A imutabilidade é atribuída a Cristo e nós comentamos que Ele foi para sempre para o Seu povo o que Ele é agora, pois Ele era o mesmo ontem. Estabeleceram-se distinções, por certos homens extremamente sábios (medidos pela Sua própria estimativa deles mesmos), entre o povo de Deus que viveu antes da vinda de Cristo, e aqueles que viveram posteriormente. Havemos chegado a ouvir que se afirma, inclusive, que aqueles que viveram antes da vinda de Cristo não pertencem à igreja de Deus! Não se sabe que novas coisas ouviremos, e talvez seja uma misericórdia que estas coisas absurdas sejam reveladas uma de cada vez, para que sejamos capazes de suportar a sua estupidez sem morrer de assombro! Ora, cada filho de Deus em cada lugar está parado sobre a mesma base! O Senhor não tem alguns filhos preferidos, outra prole de segunda classe, e outros com os quais quase não Se preocupa. Esses que viram o dia de Cristo antes que ele chegasse, tinham uma grande diferença quanto ao que sabiam, e talvez, na mesma medida, uma diferença quanto ao que gozaram enquanto viveram na Terra ao meditar sobre Cristo; mas, todos eles foram lavados no mesmo sangue, todos foram redimidos com o mesmo preço de resgate, e foram feitos membros do mesmo corpo! Israel no Pacto da Graça não é o Israel natural, mas todos os Crentes de todas as épocas. Antes do primeiro Advento, todos os tipos e sombras apontavam numa direção: apontavam para Cristo, e todos os santos olhavam para Ele com esperança. Aqueles que viveram antes de Cristo não foram salvos com uma salvação diferente da salvação que virá para nós! Eles exerceram a fé igualmente como nós devemos fazê-lo; essa fé lutou como a nossa luta, e essa fé obteve a sua recompensa como a nossa a obterá. Tão semelhante como é o rosto de um homem ao rosto que ele vê no espelho, assim é semelhante a vida espiritual de David à vida espiritual do crente de agora. Tomai o livro dos Salmos na vossa mão, e olvidando por um instante que tendes a representação da vida de uma pessoa dos tempos antigos, poderíeis supor que David o acabou de escrever ontem. Inclusive no que ele escreve de Cristo, parece como se ele tivesse vivido depois de Cristo em vez de antes dEle, e tanto no que vê de si mesmo, como no que vê do seu Salvador, parece ser antes um escritor cristão do que um escritor judeu; quero dizer que vivendo antes de Cristo tem as mesmas esperanças e os mesmos temores, os mesmos gozos e as mesmas aflições, e há a mesma estima pelo Seu bendito Redentor que vós e eu temos nestes tempos. Jesus era o mesmo ontem como um Salvador ungido para o Seu povo como o é hoje, e eles receberam dEle dons igualmente preciosos. Se o apreciável agrupamento dos Profetas pudesse estar aqui hoje, todos vos atestariam que Ele foi o mesmo em cada ofício nos tempos deles como Ele o é nos nossos dias.



Jesus Cristo é o mesmo agora como Ele o foi em tempos idos, pois o versículo diz: “O mesmo ontem, e hoje.” Ele é hoje o mesmo como o era desde a velha eternidade. Antes de todos os mundos Ele planeou a nossa salvação e estabeleceu um pacto com Seu Pai para levá-la a cabo. Os Seus deleites eram com os filhos dos homens em prospeto, e agora, hoje, está tão inamovível quanto a esse Pacto como sempre. Ele não perderá aqueles que Lhe foram dados então, nem falhará nem será desanimado antes de que cada estipulação desse Pacto seja cumprida. Tudo o que havia no coração de Cristo antes de que as estrelas começassem a brilhar, esse mesmo infinito amor está ali hoje! Jesus é hoje o mesmo como era quando Ele esteve aqui na Terra. Há muito consolo neste pensamento. Quando Ele habitou entre os homens, estava sumamente disposto a salvar. “Vinde a Mim todos vós que estais cansados e oprimidos”, foi o peso do Seu clamor; Ele continua chamando ainda aos cansados e oprimidos para que venham a Ele. Nos dias da Sua carne não quis maldizer à mulher encontrada em adultério, nem tampouco quis repelir os publicanos e os pecadores que se reuniam para O ouvir; Ele ainda está cheio de piedade para com os pecadores, e ainda lhes diz: “Nem eu te condeno; vai-te, e não peques mais.” Essa deleitável frase que tão graciosamente saiu dos Seus lábios: “Os teus muitos pecados te são perdoados”, é ainda a Sua expressão favorita nos corações humanos.



Oh, não penseis que Cristo Se tornou distante e reservado no Céu, de tal maneira que não podeis aproximar-vos dEle. Tal como era aqui, um Cordeiro manso e aprazível, um Homem a quem os homens se aproximavam sem duvidar nem por um instante, assim é Ele agora! Vinde valorosamente a Ele, vós que sois os mais vis e os mais culpáveis! Acercai-vos dEle com coração quebrantado e olhos chorosos! Ainda que Ele seja Rei e Sacerdote e esteja rodeado de um esplendor desconhecido, ainda retém o mesmo coração amoroso e as mesmas generosas simpatias para com os filhos dos homens! Ele é ainda o mesmo na Sua habilidade assim como em Sua disposição para salvar. Ele é ainda Jesus Cristo, o Salvador ungido! Nos Seus dias terrestres tocou o leproso e disse-Lhe: “Quero; sê limpo”; chamou a Lázaro da sepultura, e Lázaro saiu; pecador, Jesus é ainda capaz de te curar ou de te vivificar agora como o fazia então! “Ele pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, porquanto vive sempre para interceder por eles.” Agora que o sangue foi realmente derramado, e que o sacrifício foi oferecido plenamente, não há limite para a habilidade de Cristo salvar! Oh, vem e confia nEle, e encontra salvação nEle agora!



Crente, servir-te-á de ânimo recordar também que quando o nosso Senhor estava aqui na Terra, mostrou uma grande perseverança na Sua arte de salvar. Ele podia dizer: “Dos que Me deste, não perdi nenhum.” Regozijai-vos porque Ele é o mesmo hoje. Ele não lançará fora a nenhum de vós, nem permitirá que os Seus pequeninos pereçam! Ele salvou a todos nos dias da Sua carne; Ele certamente Se encarrega de guardar a todos nestes dias da Sua glória. Ele é o mesmo hoje, então, como o era na Terra.



Bendito seja o Seu nome, Jesus Cristo é hoje o mesmo como era nos dias apostólicos. Então, Ele deu a plenitude do Espírito; então, quando Ele subiu ao alto, Ele deu dons aos homens: apóstolos, pregadores, mestres da palavra. Não penseis que não veremos agora dias tão bons como os que eles viram no Pentecostes! Ele é o mesmo Cristo! Ele poderia converter tão facilmente a três mil pessoas com um sermão hoje, como no tempo de Pedro! O Seu Santo Espírito não está exausto, pois Deus não Lhe dá o Espírito por medida! Temos de orar para que Ele levante entre nós homens eminentes para proclamar o Evangelho. Nós não oramos o suficiente pelo ministério. O ministério do Evangelho é peculiarmente o dom da Ascensão. Quando Ele subiu ao alto recebeu dons para os homens e o que lhes deu? Pois, apóstolos, mestres, pregadores. Quando pedimos por salvação, nós argumentamos com o sangue. Por que é que é que nós não pedimos ministros e não argumentamos com a Ascensão? Se fizéssemos isto mais, veríamos que entre nós se levantariam mais Whitefields e Wesleys, mais Luteros e Calvinos, mais homens de cepa apostólica e então a Igreja reviveria. Jesus é o mesmo para enriquecer o Seu povo com todos os dons espirituais neste ano de 1869, como o era no ano quando subiu para o Seu trono. “Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje.”



Ele é hoje o mesmo, hoje, como Ele o foi para com os nossos pais. Eles partiram para o seu descanso, mas, antes de ir eles disseram-nos o que Cristo era para eles; como Ele os socorreu no seu tempo de perigo; como Ele os libertou na sua hora de aflição. Ele fará por nós justamente o que Ele fez por eles. Alguns dos que viveram antes de nós foram para o Céu num carro de fogo, mas Cristo foi muito precioso para eles na fogueira. Nós temos os nossos martirológios que lemos com assombro. Que apoio foi a companhia de Cristo para aqueles estiveram na prisão! Para aqueles que foram atirados aos leões! Para aqueles que andaram daqui para acolá cobertos de peles de ovelhas e de cabras! Inglaterra, Escócia, em todos os países onde Cristo foi pregado, tingiram-se com o sangue e enobreceram-se com os testemunhos dos fiéis! Tudo o que Jesus foi para estes seres dignos que partiram, ainda o é para o Seu povo. Só temos de pedir isso a Deus, e receberemos o mesmíssimo benefício.



“Jesus Cristo é o mesmo hoje,” diz o versículo. Então Ele é o mesmo hoje como o foi para nós no passado. Temos experimentado grandes deleites pela Presença de Deus; na verdade, recordamos o amor dos nossos esponsais, e se não temos os mesmos gozos hoje, não é por Sua culpa. Está ainda a mesma água no poço, e se não a tiramos, é por nossa culpa. Temo-nos apartado do fogo e por isso estamos frios; caminhamos em direção contrária a Ele, e portanto, Ele caminha em direção contrária a nós. Retornemos para Ele e Ele ficará tão contente de nos receber como no nosso primeiro momento de arrependimento. Retornemos para Ele! O Seu coração está tão cheio de amor, e está tão disposto a chorar sobre o nosso pescoço como quando fomos pela primeira vez e procurámos o perdão das Suas mãos. Há muita doçura no versículo, mas não posso demorar-me mais sobre essa parte do tema; baste-nos recordar que Jesus Cristo é o mesmo hoje como sempre o foi.



Agora, prosseguindo, Cristo será amanhã o que foi ontem e é hoje. O nosso Senhor Jesus Cristo não mudará em nenhum aspeto ao longo de toda a nossa vida. Poderia passar muito tempo antes de que desçamos às nossas sepulturas, mas ainda que estes cabelos se tornem todos grisalhos, e estes membros comecem a cambalear e estes olhos se turvem, Jesus Cristo terá o orvalho da Sua juventude nEle, e a plenitude do Seu amor fluirá ainda para nós. E depois da morte, ou se não morremos, na vinda de Cristo e no Seu glorioso reino, Jesus será o mesmo então para Seu povo como é agora. Parece que circula amplamente uma noção entre alguns, que depois da Sua vinda Cristo tratará de maneira diferente com o Seu povo de como o faz agora. Fui informado por uma escola moderna de inventores (e, é como vos digo, vivemos para aprender) que alguns de nós seremos excluídos do reino quando Cristo vier! Salvos pelo sangue precioso e levados muito perto, e adotados como membros da família, e os nossos nomes escritos sobre o peitoral de Cristo e, sem embargo, alguns de nós seremos excluídos do reino! Tolices! Eu não vejo nada na Palavra de Deus, ainda que muito pudesse haver nas fantasias dos homens, para apoiar estas novidades.



O povo de Deus, igualmente comprado com o sangue, e igualmente amado pelo coração de Jesus, será tratado sobre a mesma base e a mesma balança; eles nunca serão postos sob a Lei, nunca vêm a Cristo para encontrar que Ele os governa como um Juiz legal que os golpeia com muitos golpes num estado futuro, ou os exclui do Seu estado de Majestade milenar. Ele não dará a ninguém, como um mero assunto de recompensa, uma regra e um governo que excluam outros dos membros da Sua família redimida! Eles sempre O vão encontrar tratando-os a todos conforme aos ditames do amor que não muda e da Graça imutável. E as recompensas do estado milenar serão sempre as da Graça Divina, serão tais que não excluirão ao mais insignificante de todos os membros da família, mas que todos terão amostras de recompensa procedentes da mão do amado Salvador. Eu sei que não me amará hoje, dando-me vislumbres do Seu rosto e deixando-me deleitar-me no Seu nome e, sem embargo, depois de tudo, que Ele me diga quando vier que tenho de ficar de fora no frio, sem entrar no Seu reino! Eu não tenho nenhuma sombra de fé no purgatório do desterro, que certos desprezadores do ministério decidiram erigir! Maravilha-me que numa seita protestante surja um dogma tão vilão como o dogma do “purgatório”, e isso, também, proveniente daqueles que dizem que não são sectários! Todos estamos equivocados exceto eles, irmãos! Eles são profundamente cultos e podem descobrir o que os mais capazes teólogos nunca viram! Que Jesus amará o Seu povo no tempo vindouro tão fortemente como Ele o faz agora, parece ser uma doutrina, que se é destruída ou é negada, lançaria aflição sobre toda a família de Deus!



Ao longo de toda a eternidade, no Céu, Jesus Cristo será sempre o mesmo, com o mesmo amor para com o Seu povo, e eles terão o mesmo trato familiar com Ele; e mais, vê-Lo-ão cara a cara, e regozijar-se-ão para sempre nEle como o Seu imutável e ungido Salvador!



III. O nosso tempo acabou, e portanto, só direi duas ou três palavras sobre OS DIREITOS EVIDENTES do nosso Senhor.



Se o nosso Senhor for “o mesmo ontem, e hoje, e eternamente,” então, de acordo com a ligação do nosso versículo, Ele tem de ser seguido até ao fim. Observai o sétimo versículo: “Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver.” O significado é que estes santos homens terminaram as suas vidas com Cristo; o seu morrer foi ir a Jesus e para reinar com Ele.



Amados, se o Senhor é ainda o mesmo, sigui-O até que O alcanceis! A vossa morte desta vida levá-los-ás aonde Ele está, e encontrá-Lo-eis então como Ele sempre foi. Vê-Lo-eis tal como Ele é. Se Ele fosse um fogo fátuo, continuamente mudando, seria perigoso segui-Lo, mas posto que Ele é sempre e igualmente digno da vossa admiração e exemplo, segui-O para sempre. O discurso que Henrique VI, de França, pronunciou na véspera da batalha, foi muito eloquente, ele disse aos seus soldados: “Cavalheiros, vós sois franceses, e eu sou o vosso rei. Ali está o inimigo!” Jesus Cristo diz: “Vós sois o Meu povo; Eu sou o vosso Líder. Ali está o inimigo!” Como nos atreveremos a fazer alguma coisa indigna de um Senhor tal como Ele é, ou de tal cidadania como a que nos outorgou? Se somos, na verdade, Seus, e se Ele é, na verdade, imutável, perseveremos até ao fim pelo poder do Seu Santo Espírito, para que obtenhamos a coroa!



O seguinte direito evidente de Cristo sobre nós é que temos de estar firmes na fé. Notai o nono versículo: “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente. Não vos deixeis levar em redor por doutrinas várias e estranhas.” Não há nada novo em teologia, salvo aquilo que é falso. Tudo o que é verdadeiro é antigo, ainda que não diga que tudo o que é antigo seja verdadeiro. Alguns falam de desenvolvimentos como se não estivesse ainda descoberta a completa religião cristã; porém, a religião de Paulo é a religião de todo o homem que é ensinado pelo Espírito Santo. Portanto, não devemos consentir, nem por um momento, a ideia de que se tem descoberto algo que pudesse corrigir o ensino de Cristo! De onde é que surgiu alguma nova filosofia ou descobrimento da ciência para corrigir o declarado Testemunho do nosso Redentor?! Sustentemos firmemente o que temos recebido, e nunca nos apartemos “da verdade que uma vez foi dada aos santos” pelo próprio Cristo.



Se Jesus Cristo é imutável, Ele tem um direito evidente para a nossa mais solene adoração. A imutabilidade é unicamente o atributo de Deus. Quem é “o mesmo ontem, e hoje, e eternamente”, tem de ser Divino. Então, crente, leva sempre a tua adoração a Jesus! Rebaixa a tua coroa aos pés dAquele que foi crucificado! Dá honras régias e divinas Àquele que Se submeteu à ignomínia da crucificação! Que ninguém te impeça de te glorificares de possuíres algo que é motivo de orgulho que é o Filho de Deus ter sido feito Homem para ti! Adora-O como a Deus acima de tudo, bendito eternamente!





Além disso, Ele exige de nós que confiemos nEle. Se Ele é sempre o mesmo, aqui há uma rocha que não pode ser movida! Constrói sobre ela! Aqui há uma âncora! Lança a tua âncora de esperança sobre ela e aferra-te solidamente no tempo de tormenta. Se Cristo fosse variável, não seria digno da tua confiança. Posto que Ele é eternamente imutável, apoia-te nEle sem medo.



E, por último, se Ele é sempre o mesmo, regozija-te nEle, e regozija-te sempre! Se alguma vez tiveste uma causa para te regozijares em Cristo, sempre tens uma causa, pois Ele não muda nunca! Se ontem podias cantar a respeito dEle, hoje podes cantar a respeito dEle. Se Ele mudasse, o teu gozo poderia mudar; mas se a corrente da tua alegria brota única e exclusivamente deste grandioso abismo da Imutabilidade de Jesus, então nunca deterás a sua corrente.



Amados, “Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos.” E, até que o dia desaponte, e as sombras fujam, até que chegue a bendita hora quando O vejamos cara a cara e sejamos feitos semelhantes a Ele, este tem de ser o nosso gozo: que “Ele é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente.” Ámen.



Porção da Escritura lida antes do sermão: Hebreus 13.




Adapted from The C.H. Spurgeon Collection, Ages Software, 1.800.297.4307.



[1] Louis Bourdaloue (20 de agosto de 1632—13 de maio de 1704), jesuíta francês e pregador, nasceu em Bourges. Aos 16 anos, entrou para a Companhia de Jesus, e foi sucessivamente indicado como professor de retórica, filosofia e teologia em vários colégios da Ordem.
[2] Henry Craik (8 de agosto de 1805 - 22 de janeiro 1866) foi um hebraísta, teólogo e pregador escocês. Em 1834, com George Müller funda a Scriptural Knowledge Institution (Instituição para o Conhecimento das Escrituras), que ainda hoje funciona. Henry Craik foi conhecido como sendo um homem muito humilde. A sua capacidade de captar a atenção de uma congregação era lendária, expôs os ensinamentos da Bíblia com clareza e exuberância.

Notas e Tradução de Carlos António da Rocha

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