… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

24 de novembro de 1756 . Carta de John Fletcher ao SenhorJoão Wesley



24 de novembro de 1756 . Carta de John Fletcher ao Senhor João Wesley


Tern, 24 de Novembro de 1756.

Reverendo Senhor,

Como considero o Senhor o meu guia espiritual, e não podendo duvidar de sua paciência em me ouvir e me responder acerca de uma questão que um de sua Sociedade me sugeriu, desejo espontaneamente citar-lha. Desde que cheguei à Inglaterra, recebi três convites para aceitar uma ordenação. Tenho sempre orado a Deus para que, se esses convites não tivessem a aprovação divina, que fossem embaraçados, e sempre alguma coisa tem estorvado os desígnios dos meus amigos neste sentido. Nisso tudo admiro a bondade de Deus, pois Ele me tem protegido evitando precipitações nessas coisas. Dou graças a Deus pela Sua bondade em tudo isso, especialmente desde que cheguei a conhecer o Evangelho na sua pureza. Antes tinha medo, porém, agora tremo em mexer com essas coisas sagradas. Resolvi, pois, revelar a minha salvação em particular, em vez de me entregar a tal serviço que requer mais dons e graça do que supunha que eu precisasse ter. Contudo, de vez quando em quando, sentia desejo ardente de me entregar de corpo e alma a Deus, se fosse chamado outra vez, crendo que o Senhor poderia ajudar-me e manifestar o Seu poder na minha fraqueza. Já agora reconheço que esse desejo se me tem aumentado desde que reparei que algum êxito tem acompanhado os meus esforços em exortar e escrever cartas aos meus amigos.

Julgo necessário dizer-lhe que o meu patrão me aconselhou diversas vezes que entrasse no ministério, aceitando a ordenação e até prometeu arranjar-me colocação. A tudo isso sempre respondi, friamente, que não era digno, e, além disso, que não eu podia adquirir um título académico. As coisas estavam nesse pé há seis meses, quando um cavalheiro, um homem que eu quase não conhecia, me ofereceu uma colocação que, provavelmente, mui logo estaria disponível. Também um clérigo com quem nunca tinha conversado me ofereceu um título de vigário numa das suas igrejas. Agora, Senhor Wesley, a questão sobre a qual desejo o seu auxílio: Devo eu não aceitar o título e entrar em ordens? Quanto à colocação e ao ordenado, não me importa; porque julgo que poderia pregar com melhor resultado em minha própria língua.

Estou em dúvida: porque de um lado o meu coração me diz que experimente, e assim fala quando eu sinto o amor de Deus; por outro lado, quando me examino para ver se sou digno para isso, reconheço a minha falta de dons, e especialmente aquele dom da alma - amor que deve caracterizar o trabalho ministerial, AMOR, continuo, universal e inflamado, que em minha confiança e coragem me falta. Chego mesmo a acusar-me de vaidade quando penso na grande responsabilidade de levar, ainda que apenas por um dia, a Arca do Senhor, concluindo que sem dúvida um castigo extraordinário há de cair sobre mim, mais cedo ou mais tarde, pela minha ousadia.

Agora, como me acho nestas duas alternativas, tenho de confessar ao Senhor que não posso decidir qual desses dois caminhos devo tomar com segurança. Guiar-me-ei, pois, pelo seu conselho; julgando que Deus o guiará, muito mais, porque em tudo isso nada mais quero senão a glória de Deus. Reconheço quão precioso é o seu tempo, portanto ficarei satisfeito com uma resposta nestes termos: “Persiste ou abstém-te, pois só isto me há de valer.

Rev. Senhor, sou seu servo indigno,

 J. F.

John William Fletcher (ou, Jean Guillaume de la Fléchère) nasceu em Nyon, cantão de Vaud, na Suíça, em 12 de setembro de 1729 e morreu em Madeley, Shropshire, na Inglaterra em 14 de agosto de 1785.

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