24
de novembro de 1756 . Carta de John Fletcher ao Senhor João Wesley
Reverendo Senhor,
Como considero o Senhor o meu guia
espiritual, e não podendo duvidar de sua paciência em me ouvir e me responder
acerca de uma questão que um de sua Sociedade me sugeriu, desejo
espontaneamente citar-lha. Desde que cheguei à Inglaterra, recebi três convites
para aceitar uma ordenação. Tenho sempre orado a Deus para que, se esses
convites não tivessem a aprovação divina, que fossem embaraçados, e sempre
alguma coisa tem estorvado os desígnios dos meus amigos neste sentido. Nisso
tudo admiro a bondade de Deus, pois Ele me tem protegido evitando precipitações
nessas coisas. Dou graças a Deus pela Sua bondade em tudo isso, especialmente
desde que cheguei a conhecer o Evangelho na sua pureza. Antes tinha medo,
porém, agora tremo em mexer com essas coisas sagradas. Resolvi, pois, revelar a
minha salvação em particular, em vez de me entregar a tal serviço que requer
mais dons e graça do que supunha que eu precisasse ter. Contudo, de vez quando
em quando, sentia desejo ardente de me entregar de corpo e alma a Deus, se
fosse chamado outra vez, crendo que o Senhor poderia ajudar-me e manifestar o Seu
poder na minha fraqueza. Já agora reconheço que esse desejo se me tem aumentado
desde que reparei que algum êxito tem acompanhado os meus esforços em exortar e
escrever cartas aos meus amigos.
Julgo necessário dizer-lhe que o meu
patrão me aconselhou diversas vezes que entrasse no ministério, aceitando a
ordenação e até prometeu arranjar-me colocação. A tudo isso sempre respondi,
friamente, que não era digno, e, além disso, que não eu podia adquirir um
título académico. As coisas estavam nesse pé há seis meses, quando um
cavalheiro, um homem que eu quase não conhecia, me ofereceu uma colocação que,
provavelmente, mui logo estaria disponível. Também um clérigo com quem nunca
tinha conversado me ofereceu um título de vigário numa das suas igrejas. Agora,
Senhor Wesley, a questão sobre a qual desejo o seu auxílio: Devo eu não aceitar
o título e entrar em ordens? Quanto à colocação e ao ordenado, não me importa;
porque julgo que poderia pregar com melhor resultado em minha própria língua.
Estou em dúvida: porque de um lado o meu
coração me diz que experimente, e assim fala quando eu sinto o amor de Deus; por
outro lado, quando me examino para ver se sou digno para isso, reconheço a
minha falta de dons, e especialmente aquele dom da alma - amor que deve
caracterizar o trabalho ministerial, AMOR, continuo, universal e inflamado, que
em minha confiança e coragem me falta. Chego mesmo a acusar-me de vaidade
quando penso na grande responsabilidade de levar, ainda que apenas por um dia,
a Arca do Senhor, concluindo que sem dúvida um castigo extraordinário há de
cair sobre mim, mais cedo ou mais tarde, pela minha ousadia.
Agora, como me acho nestas duas
alternativas, tenho de confessar ao Senhor que não posso decidir qual desses
dois caminhos devo tomar com segurança. Guiar-me-ei, pois, pelo seu conselho;
julgando que Deus o guiará, muito mais, porque em tudo isso nada mais quero
senão a glória de Deus. Reconheço quão precioso é o seu tempo, portanto ficarei
satisfeito com uma resposta nestes termos: “Persiste ou abstém-te, pois só isto
me há de valer.
Rev. Senhor, sou seu servo indigno,
J. F.
John William Fletcher (ou, Jean Guillaume de la Fléchère) nasceu em Nyon, cantão de Vaud, na
Suíça, em 12 de setembro de 1729 e morreu em Madeley, Shropshire, na Inglaterra
em 14 de agosto de 1785.
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