… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

quinta-feira, 26 de maio de 2016

028 - A autoridade e o poder



C. H. Mackintosh

Breves Meditações

028 - A autoridade e o poder
Se houve um momento na história da igreja professante em que foi necessário mais que nunca ter autoridade divina para a senda cristã, e poder divino para andar nela, esse momento é precisamente, o presente.

São tantas as opiniões antagónicas, as vozes discordantes, as escolas opostas, as partes litigiosas, que, por todos lados, corremos o perigo de perder o nosso equilíbrio e de ser arrastados sabe-se lá sabe para onde. Vemos os melhores dos homens ficando em lados opostos do mesmo assunto; homens que, até aonde chega a nossa apreciação, parecem ter um olho simples para a glória de Cristo, e tomar a Palavra de Deus como a sua única autoridade em todas as coisas.

O que é que, pois, tem de fazer uma simples alma? Que atitude se tem de tomar frente a toda esta situação? Não haverá um porto tranquilo e seguro onde se possa ancorar a nossa pequena embarcação, longe das ferozes ondas do agitado e tempestuoso oceano das opiniões humanas? Sim, bendito seja Deus, que o há. E o leitor pode experimentar neste mesmo momento a profunda bênção de lançar aí a âncora. É o doce privilégio do mais simples filho de Deus, do mais singelo menino de Cristo, ter a autoridade divina para o seu caminho e poder divino para avançar por ele —autoridade para a sua posição, e poder para ocupá-la— , autoridade para seu o serviço, e poder para levá-lo a cabo.

No que consiste? Onde está? A autoridade encontra-se na Palavra Divina; o poder, na Presença Divina. Portanto —bendito seja Deus—, todo o filho de Deus pode saber isto; mais ainda, deveria sabê-lo, para a firmeza do seu caminho e o gozo do seu coração.

Ao contemplar a condição actual dos cristãos professantes em geral, vimo-nos surpresos com este tão lamentável estado, ou seja, que tão, mas tão poucos estão preparados para encarar as Escrituras em todos os pontos e em todos assuntos: pessoal, doméstico, comercial e eclesiástico. Uma vez que a questão da salvação da alma foi resolvida —e ai, quão raramente está verdadeiramente resolvida!— então, as pessoas, na realidade, consideram-se em liberdade para se desprenderem do sagrado domínio das Escrituras, e de lançar-se sobre as perdidas águas turbulentas da opinião e da vontade humanas, onde cada qual pode pensar, escolher e actuar por si mesmo.

Pois bem, nada é mais certo que isto: que quando se trata simplesmente de uma questão da opinião humana, da vontade do ser humano, ou do julgamento do homem, não há nem uma sombra de autoridade, nenhuma partícula de poder. Nenhuma opinião humana tem alguma autoridade sobre a consciência; nem tampouco pode comunicar algum poder à alma. Pode aceitar-se, na medida do seu próprio valor, mas não tem autoridade nem poder para mim. Devo ter a Palavra de Deus e a presença de Deus, de contrário, não posso dar um só passo. Se algo, não importa o quê, vem interpor-se entre a minha consciência e a Palavra de Deus, não sei onde estou, não sei o que fazer, nem para aonde me dirigir. E se alguma coisa, não importa o quê, vem interpor-se entre o meu coração e a presença de Deus, fico absolutamente desprovido de poder. A Palavra do meu Senhor é o meu único directório; a Sua morada em mim e comigo, é o meu único poder. “Olha que te mando... o teu Deus estará contigo.”

Mas, pode ser que o leitor se sinta disposto a perguntar: «É realmente certo que a Palavra de Deus contém amplo guia para todos os pormenores da vida? Diz-me, por exemplo, aonde devo ir no dia do Senhor; e o que tenho que fazer desde segunda-feira pela manhã até sábado, à noite? Dirige-me no meu caminho pessoal, nas minhas relações domésticas, na minha posição comercial, nas minhas associações e opiniões religiosas?»

Muito certamente que sim. A Palavra de Deus prepara-nos ou equipa-nos inteiramente para toda a boa obra (2Tm 3:17), e nenhuma obra para a qual ela não nos prepare, pode ser boa, a não ser má. Portanto, se você não pode encontrar autoridade para o lugar aonde vai no dia do Senhor —não importa onde seja— deve, imediatamente, deixar de ir. E se não poder encontrar autoridade para o que faz na segunda-feira, você deve, imediatamente, deixar de fazê-lo. “Certamente o obedecer é melhor que os sacrifícios, e o emprestar atenção que a grossura(1) dos carneiros” (1Sm 15:22). Confrontemos honestamente a Escritura. Inclinemo-nos debaixo da sua santa autoridade em todas as coisas. Submetamo-nos humilde e reverentemente à sua direcção celestial. Renunciemos a todo hábito, a toda prática, a toda associação —da natureza que for, ou aprovada por quem for— para os quais não temos a autoridade directa da Palavra de Deus, e nas quais não podemos gozar do sentido de Sua presença, da vida do Seu talante(2) apreciativo.

Este é um ponto da mais séria importância. Seria de facto impossível que a linguagem humana expressasse com a devida força ou nos términos(3) adequados, a imensa importância da absoluta e completa submissão à autoridade da Escritura em todas as coisas —sim, e dizemo-lo com ênfase— em todas as coisas.

Uma de nossas maiores dificuldades práticas ao tratar com as almas, surge do facto de que elas não parecem ter nenhuma ideia de submeter-se em todas as coisas à Escritura. Não querem confrontar-se com a Palavra de Deus, nem consentir em ser ensinados exclusivamente pelas suas sagradas páginas. Credos e confissões; formulações religiosas; mandamentos, doutrinas e tradições dos homens: estas coisas sim serão ouvidas e a elas se submeterão. À nossa própria vontade, ao nosso próprio juízo, às nossas próprias opiniões das coisas, ser-lhes-ão permitidos amplo lugar. A conveniência, a posição, a reputação, a influência pessoal; o utilitarismo; a opinião dos amigos; os pensamentos e o exemplo de bons e grandes homens; o medo de melindrar ou de causar ofensa àqueles a quem amamos e estimamos e com quem pudemos ter estado associados por largo tempo na nossa vida e serviço religiosos; o temor de que pensem que sejamos presunçosos; querer evitar a todo o custa a aparência de julgar ou de condenar a muitos a cujos pés nos sentaríamos de boa vontade: todas estas coisas actuam e exercem uma muito perniciosa influência na alma, e impedem a plena entrega de nós mesmos à suprema autoridade da Palavra de Deus.

Queira o Senhor na Sua graça avivar os nossos corações em relação com este solene tema! Queira Ele conduzir-nos, pelo Seu Santo Espírito, a vermos o verdadeiro lugar, valor e poder da Sua Palavra! Que essa Palavra se estabeleça nas nossas almas como a única regra plenamente suficiente, de modo que tudo —não importa o quê— o que não se ache apoiado na sua autoridade, seja absolutamente rechaçado sem a menor vacilação! Então podemos esperar fazer progressos. Então o nosso caminho será como “o caminho dos justos, como a luz da aurora, que vai em aumento até que o dia é perfeito” (Pv 4:18). Nunca estejamos satisfeitos, em relação a todos os nossos hábitos, a todos os nossos caminhos, a todas as nossas associações, à nossa posição religiosa e ao nosso serviço, a tudo o que fazemos e a tudo o que não fazemos; ao lugar aonde vamos e aonde não vamos, até que possamos verdadeiramente dizer que temos a aprovação da Palavra de Deus e a luz da Sua presença! Aqui, e somente aqui, jaz o profundo e precioso secreto de DA AUTORIDADE E DO PODER.

Notas:
(1) gordura.
(2) vontade; arbítrio.
(3) termo


http://www.verdadespreciosas.com.ar/index.html 

Tradução de Carlos António da Rocha

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Esta tradução é de livre utilização, desde que a sua ortografia seja respeitada na íntegra porque já está traduzida no Português do Novo Acordo Ortográfico e que não seja nunca publicada nem utilizada para fins comerciais; seja utilizada exclusivamente para uso e desfruto pessoal.

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