… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

sábado, 31 de julho de 2010

 Leituras Cristãs
 MEDITANDO 
 
(texto de “O Estandarte”, Ano 02, nº 1, 06/I/1894, Jornal Oficial d “A Igreja Presbiteriana Independente do Brasil”)

O que mais ressalta da narração do Evangelho é a doutrina da divindade de Cristo e o valor da Sua obra dirigida pelo Pai.

A humanidade não conheceu o Pai senão pelo Filho.

A natureza, esse livro imenso cujas páginas qual jóias diamantinas estão engastadas em ouro puríssimo. a natureza, digo, não bastou para que o homem mortal lesse com clareza e reconhecesse quem era Deus. Foi necessário que Ele lhe falasse na Sua própria linguagem e lhe manifestasse de um modo mais positivo o Seu amor imenso.

Se os Evangelhos, que tão desinteressados se mostram em suas doutrinas, dizem-nos que Cristo era Deus, porque, negá-lo? Como contestá-los?

Não é Jesus o nosso Mestre, o nosso Guia, o nosso Salvador?

Não confundiu Ele o fariseu, não curou o cego e o paralítico, não ressuscitou mortos, não dominou os elementos e, com o poder da Sua doutrina, não impôs leis ao mundo?Obras tais não são de um mero homem, mas de um Deus.

Se os inimigos de Cristo não querem reconhecer a Sua divindade, é mais porque temem a pureza das Suas doutrinas do que pela importância do que eles chamam os Seus argumentos e ensinos.

O bem é sempre odiado pelo mal.

Os Evangelhos exaltam a Deus e abatem os homens que obstinadamente não se querem sujeitar às suas salutares máximas.

E Cristo, o Unigénito do Pai, consentiu em morrer pela humanidade, para a glória excelsa de Deus e para levantar-nos do abatimento em que jazíamos. Era esta a vontade do Pai. Dir-nos-ão que Sócrates consentiu em beber a venenosa cicuta até à última gota, confundindo destarte com a sua austeridade aos seus cruéis perseguidores, e levantando a bandeira da independência do espírito humano; que Platão, seu discípulo, arriscou a sua vida propagando os ensinos do mestre, pouco se lhe dando de vir a ter o mesmo fim que ele.Nem estes e nem outros tais como eles são comparáveis ao Mártir do Gólgota, que nos revelou o Pai e nos fez participantes do Espírito e da graça infinita da Trindade, manifestando-nos Deus no seu tríplice aspecto.

Primeiro como Deus criador invencível e de infinito poder; segundo como Deus manifestado em carne, que pela Sua morte na cruz salvou o homem e pelas Suas doutrinas purificadoras regenerou a humanidade; terceiro, como Deus Espírito santificador e guia invisível e permanente do cristão.

Nós como que percebemos a Trindade pelos nossos próprios sentidos, pela consciência e pela razão.

A Deus Pai vemos na Sua magna criação, e podemos tomar como argumento o verdor dos campos matizados de flores, o majestoso azul do firmamento com as suas multíplices luminárias, a majestade do agitado espumante oceano, cujas ondas são açoutadas pelo vento, os mundos que pululam pelo espaço e tudo mais que não cessa de anunciar o proclamar a glória do Criador, e ainda o mais abjecto verme da terra como a mais insignificante flor do vale ou erva do campo, pois que todas estas coisas unânimes, como que em um concerto universal, bradam incessantemente «Há um Deus, sábio, poderoso e imenso que nos deu o ser e que com benfazeja mão nos conserva e nos dirige.»

Deus Espírito, nós O distinguimos na parte moral da mesma criação, que assume o seu verdadeiro aspecto agitando-Se de uma maneira extraordinária na influência divina que exerce sobre o ser mais inteligente da terra, revelando-lhe o bem, encaminhando-o pela senda do dever ensinando-lhe a única estrada que conduz à gloria eterna.

Deus Homem, ou o Deus humanado, exibe-se em Jesus Cristo.

NEle vibram com notas dulcíssimas as mais nobres e sensíveis fibras: do amor pela humanidade decaída, o desinteresse mais explícito e a abnegação mais completa pelo bem universal.

Ele é a manifestação da voz de Deus no Sinai e a verdade puríssima tal qual a gravou Deus na consciência de Seus filhos, e que deve servir de norma e exemplo ao género humano a quem veio libertar do jugo do mal.

A Trindade não é produto da superstição ou do engano; não, é o resultado da combinação de factos demonstrados, onde não cabe a mínima dúvida e em que não pode haver mistério. Cristo e Seus Apóstolos ensinando a doutrina da Trindade, não o fizeram por seguir as concepções do paganismo e muito menos por servilismo às antigas tradições. Longe deles uma tal aberração. Pregaram esta doutrina pela força indiscutível de uma verdade palpável para os que conhecem Deus.

InO Estandarte”, Ano 02, nº 1, 06/I/1894, Jornal Oficial d “A Igreja Presbiteriana Independente do Brasil”, fundado em 1893. (Grafia actualizada por Carlos António da Rocha)

http://interdocs.com.br/ipibdig/oestandarte/digital/1894/ano_02_n01_06-01-1894.PDF


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