… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Leituras Cristãs


024 - AH! SE NÃO EXISTISSE ESSA PORTA!


«Porque decorridos poucos anos eu seguirei o caminho por onde não tornarei» (Job 16:22)



Um passageiro sentiu-se mal no comboio. Na próxima estação apearam e levaram-no à única estalagem que havia nas proximidades da pequena estação de campo. Anoitecia, chovia, e a cidade ficava a uma distância de alguns quilómetros. Mas o consagrado médico que chamaram acorreu da melhor vontade, embora não dispusesse de meios modernos de condução.

Examinou com atenção o doente, e pôde ministrar-lhe, graças ao que tinha trazido consigo, os cuidados necessários. Depois despediu-se com um sorriso cordial, dizendo:

— Espero, caro senhor, que amanhã possa retomar a sua viagem.

— Eu também o espero - respondeu o doente, um grande proprietário bem conhecido na região. — Mas, peço-lhe, assente-se mais um instante, doutor. É preciso que lhe diga que já tenho tido crises semelhantes. Ainda terei outras?

— É possível.

—. Rogo-lhe que me ,diga a verdade.

— Pois bem! Sim, as crises voltarão. Pode ser que tudo acabe amanhã, assim como pode durar anos. Você sabe bem que, cedo ou tarde, nós todos temos de passar pela mesma porta.

— Ah! A porta, sim, mas que há do outro lado dessa porta? O senhor sabe? O senhor deve saber, pois eu sei que o senhor é membro de uma igreja. Eu não pertenço a nenhuma igreja, faço bem a todos indistintamente. Mas agora essa porta mete-me medo... Eu pensava partir deste mundo confiante e contente, depois de tudo que fiz e realizei na minha vida, e no momento de partir não há mais nenhum contentamento. Estou aflito com o receio de que essa porta se feche de um momento para o outro sobre mim, sem que eu saiba o que há por detrás dela.

Conveniente temor nesse homem, que tinha sido produzido por um aviso ante o fim de uma vida farta demais para que Deus tivesse podido ter nela o menor lugar! Esse temor mostrava que, não obstante a sua ignorância e o seu pecado, ele tinha um coração honesto. Deus tomou isso em conta, como faz sempre, e ofereceu-lhe, antes que fosse tarde demais, uma oportunidade para aceitar o Evangelho da salvação.

Porém, vós, que ledes estas linhas, que não sabeis qual o momento em que tereis de passar pela «porta», qualquer que seja a vossa idade e a vossa saúde, sabeis que o terrível mistério do além pode dar lugar a uma esperança feliz? Sabeis que essa mudança pode ocasionar-se em vós da maneira mais simples, sem que sejam necessários longos estudos ou grandes esforços?

Existe uma lâmpada forte para penetrar através das trevas que envolvem a morte. Essa lâmpada é a Palavra de Deus.

Ninguém discute sobre a luz de uma lâmpada; nós servimo-nos ou não nos servimos dela; eis tudo. Se a luz da lâmpada ilumina bem os objectos que estão ao seu alcance, não me virá à ideia pôr em dúvida a existência dos objectos distantes que essa lâmpada ilumina, se bem que eu não possa tocar-lhes.

É fácil verificar que a Palavra de Deus é a única luz moral, quando ela ilumina o que é tangível; por exemplo, este mundo. Como ela discerne bem a verdade, com que segurança ela penetra no seu futuro como no seu passado! «O mundo passa e a sua concupiscência» (I João 2:17).

Por muito pouco honesto que alguém seja é forçado a conceder à Bíblia o valor dum documento fotográfico quando ela faz a descrição moral do homem (de mim, de vós, de quem quer que seja). É Jesus mesmo quem diz: Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios» (Mc 7-21). E Jeremias disse: «Enganoso é o coração mais do que todas as coisas e perverso; quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração, eu provo os rins; e isto para dar a cada um segundo os seus raminhos e segundo o fruto das suas acções» (Jr 17:9,10).

É verdade que muitos substituem evidentemente a palavra «pecado» pela palavra «fraqueza» e afirmam que, por meio da educação, o homem é curável. Esse erro provém do «deus deste século», Satanás, e é a Palavra de Deus que o diz. Não foi Deus quem «cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus» (2Co 4:4).

Este mundo não quer que o homem se reconheça pecador, porque isso seria confessar a sua própria fraqueza. Não pode reconhecer em Jesus o Salvador, porque é o mesmo mundo que O rejeitou e crucificou e sempre detesta o Seu nome. É por isso que rejeita inteiramente a luz, e em conformidade com isso, sente angústia e terror diante da morte.

À luz do evangelho, a morte do crente não é mais que o fim das experiências terrestres; é o estado de repouso da alma, junto do seu Senhor, à espera da ressurreição. «Para mim o viver é Cristo e o morrer é ganho», escreveu o apóstolo Paulo aos Filipenses.

A verdade é admiravelmente bela para aqueles que hoje a aceitam. Ela dá-lhes a paz e segurança; abre-lhes um caminho de certeza. Há no mundo milhares de milhares de crentes que esperam a vinda de nosso Salvador e Senhor, que transformará o nosso corpo abatido para ser conforme o seu corpo glorioso» (Fl 3:21). Esta será a ressurreição dos mortos, e a transformação dos vivos.

Livrai-vos portanto das vossas inquietações e dos vossos temores, e tornai-vos discípulos dAquele que disse: «Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a Minha palavra e crê nAquele que Me enviou tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida» (João 5:24). Já passou, em vida eterna, além dessa «porta»... Ainda a receais?

in Leituras Cristãs, VOL. XXVII, Lisboa, 1970, Depósitos de Literatura Cristã, R. Infantaria 16, n.77, r/c. Esq., páginas 97-99.
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Muito obrigado, Carlos.

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