… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

JOB E OS SEUS AMIGOS - 2.ª Parte

 C. H. Mackintosh
Job e os seus amigos


2.ª Parte
Agora bem, Job tinha que despojar-se de tudo isto; e, se compararmos o capítulo 29 com o capítulo 30, poderemos formar uma ideia de quão penoso deveria ter sido o processo deste despojamento. Há uma ênfase particular nas palavras: “Mas agora”, no início do capítulo 30. Job traça, entre estes dois capítulos, um agudo contraste entre o seu passado e o seu presente.

No capítulo 30 ele se encontra ainda ocupado em si mesmo: ainda é o eu o que prepondera; mas ah, quão modificado está tudo! Os mesmos homens que o adulavam nos dias da sua prosperidade, tratam-no com desprezo no tempo da sua adversidade. Sempre é assim neste pobre mundo, falso e enganoso; e bom é precatar-se disso. Todos, mais cedo ou mais tarde, terminarão descobrindo a hipocrisia deste mundo; a veleidade daqueles que estão dispostos a exclamar num dia: “Hosanna!”, e no dia seguinte: “Crucifica-o!”. Não se deve confiar no homem. Todo marcha perfeitamente bem enquanto o sol brilha; aguardemos, porém, que venham as geladas rajadas do vento invernal, e vejamos então até onde podemos confiar nas altissonantes promessas e declarações da natureza. Enquanto o «filho pródigo» teve bens em abundância para dilapidar, achou-se rodeado de multidões de amigos com quem compartilhava as suas riquezas; mas quando começou a padecer necessidade, “ninguém lhe dava nada.”(Lc15:16, ARC, Pt)

O mesmo ocorreu com Job no capítulo 30. Entretanto, temos que ter em conta que o despojamento de si mesmo e o descobrimento da hipocrisia e a veleidade do mundo não é tudo. Pode-se experimentar todas estas coisas e não achar finalmente mais que pesares e desilusões; e esse será o resultado garantido se não elevarmos o nosso olhar para Deus. Enquanto o coração não encontre em Deus a sua plena satisfação, qualquer mudança adversa das circunstâncias o deixará consumi-lo na desolação; então, o descobrimento da veleidade e a hipocrisia dos homens o encherá de amargura. Esta é a explicação da linguagem que Job emprega no capítulo 30: “Agora, porém, se riem de mim os de menos idade do que eu, cujos pais eu teria desdenhado de pôr com os cães do meu rebanho. (Job 30:1, ARC, Pt). Era este o espírito de Cristo? Teria falado assim Job no final do livro? Certamente que não; oh, não, querido leitor! Assim que Job se encontra na presença de Deus, terminaram-se o egotismo do capítulo 29 e a amargura do capítulo 30 (N. do A.— O leitor deve ter em conta que embora o Espírito Santo é quem regista as palavras pronunciadas por Job e por seus amigos, não por isso devemos supor que eles falaram por inspiração.).

Porém oiçamos ainda mais expressões de desabafo: “Eram filhos de doidos, e filhos de gente sem nome, e da terra foram expulsos. Agora, porém, sou a sua canção, e lhes sirvo de provérbio. Abominam-me, e fogem para longe de mim, e no meu rosto não se privam de cuspir. Porque Deus desatou a sua corda, e me oprimiu, por isso sacudiram de si o freio perante o meu rosto. À direita se levantam os moços; empurram os meus pés, e preparam contra mim os seus caminhos de destruição. Desbaratam-me o caminho; promovem a minha miséria; contra eles não há ajudador. Vêm contra mim como por uma grande brecha, e revolvem-se entre a assolação. (Job 30:8-14, ARC, Pt).

Agora bem, tudo isto—bem poderíamos dizer— estava muito, mas muito longe do alvo. Lamentações por uma grandeza desvanecida e amargas invectivas contra os nossos semelhantes, não servirão de nada para o coração nem manifestam ao menos o espírito e a mente de Cristo; assim como tampouco glorificarão o seu santo Nome. Se contemplarmos a bendita Pessoa do Senhor, veremos algo completamente diferente: O Senhor Jesus, “manso e humilde de coração”, recebe todo o desprezo deste mundo, sofre o desengano no meio do Seu povo Israel, e se topa com a incredulidade e os desatinos de seus discípulos. Todo isso Jesus o assumiu dizendo simplesmente: “Sim, ó Pai, porque assim te aprouve. (Mt 11:26, ARC, Pt) Ele foi capaz de se apartar de toda a agitação dos homens e olhar simplesmente para Deus, para proferir então estas fragrantes palavras: “Vinde a mim, ...  e eu vos aliviarei.” (Mt 11:28, ARC, Pt) Nenhum desgosto, amargura, invectivas nem palavras duras ou ofensivas poderemos encontrar jamais neste gracioso Salvador que desceu a este mundo frio e sem coração para manifestar o perfeito amor de Deus e prosseguir a sua senda de serviço apesar de todo o ódio dos homens.

Mas o mais excelente, o melhor dos homens, quando se mede com a vara perfeita da vida de Cristo, não lhe chega nem à sombra. A luz da Sua glória moral deixa claro os defeitos e as imperfeições do mais perfeito dos filhos dos homens, “para que em tudo tenha a preeminência” (Cl 1:18, ARC, Pt). Enquanto à paciente submissão a tudo o que foi chamado a suportar, Ele sobressai em vigoroso contraste com um Job ou com um Jeremias. Job sucumbiu sob o peso das provas pelas que teve que passar. Não só deixou escapar uma torrente de amargas invectivas contra os seus semelhantes, senão que até amaldiçoa o dia de seu nascimento. “Depois disto abriu Job a sua boca, e amaldiçoou o seu dia. E Job, falando, disse: Pereça o dia em que nasci, e a noite em que se disse: Foi concebido um homem! (Job 3:1-3, ARC, Pt)

Encontramos algo idêntico no caso de Jeremias, esse bem-aventurado varão de Deus. Ele também, não podendo resistir à pressão das diversas provas que se iam acumulando, deu lugar aos seus sentimentos com estes amargos palavras: “Maldito o dia em que nasci; não seja bendito o dia em que minha mãe me deu à luz. Maldito o homem que deu as novas a meu pai, dizendo: Nasceu-te um filho; alegrando-o com isso grandemente. E seja esse homem como as cidades que o SENHOR destruiu e não se arrependeu; e ouça clamor pela manhã, e ao tempo do meio-dia um alarido. Por que não me matou na madre? Assim minha mãe teria sido a minha sepultura, e teria ficado grávida perpetuamente! Por que saí da madre, para ver trabalho e tristeza, e para que os meus dias se consumam na vergonha?” (Jr 20:14-18, ARC, Pt)

Que linguagem! Só pensa em amaldiçoar o homem que traz as novas de seu nascimento! E o amaldiçoa porque não o matou no ventre! Tudo isto, tanto no que se refere ao patriarca como ao profeta, acha-se em vivo contraste com o manso e humilde Jesus de Nazaré. Ele, o Salvador imaculado, sofreu provas muito mais numerosas e terríveis que todos os Seus servidores juntos. Todavia, jamais um só murmúrio brotou dos Seus lábios. Tudo suportou com paciência e enfrentou a hora mais sombria com estas palavras: “Não beberei eu o cálice que o Pai me deu?” (Jo 18:11, ARC, Pt). Bendito Senhor, Filho do Pai, quão digno és da nossa adoração! Prostramo-nos a teus pés, concentrados em adoração, amor e louvores, reconhecendo-Te como Senhor de tudo! “O primeiro entre dez mil, ele é totalmente desejável!” (Ct 5:10, 16, ARC, Pt)


As fontes em inglês e espanhol:
http://www.stempublishing.com/authors/mackintosh/Bk1/JOB.html
http://www.verdadespreciosas.com.ar/documentos/CHM_miscelaneos_I/job.htm


Tradução de Carlos António da Rocha

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Esta tradução é de livre utilização, desde que a sua ortografia seja respeitada na íntegra porque já está traduzida no Português do Novo Acordo Ortográfico e que não seja nunca publicada nem utilizada para fins comerciais; seja utilizada exclusivamente para uso e desfruto pessoal.

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