… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

segunda-feira, 22 de maio de 2017

A união do Espírito Santo com o ministro (Is 61:1-3)






R. M. McCheyne

A união do Espírito Santo com o ministro (Is 61:1-3)

Sermão 8

“O espírito do Senhor DEUS está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos; a apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes; a ordenar acerca dos tristes de Sião que se lhes dê glória em vez de cinza, óleo de gozo em vez de tristeza, vestes de louvor em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem árvores de justiça, plantações do SENHOR, para que ele seja glorificado.” (Is 61:1-3, ARC, Pt)

Faz hoje seis anos que vos preguei pela primeira vez a vós, na qualidade de pastor, e fi-lo sobre este mesmo texto. Estes anos transcorreram ante nós como rio caudaloso. É algo muito solene olhar para atrás e contemplá-los. Ao subir a uma elevada montanha é agradável, uma vez coroada, achar um lugar de repouso no qual descansar e olhar para atrás. Dessa maneira podeis olhar o progresso que haveis feito e observar ao mesmo tempo o panorama com tudo o que o rodeia. Do mesmo modo, ao subir o monte de Sião é, muito agradável chegar a um lugar de repouso muito adequado, como hoje podemos fazer, e daí contemplar o progresso que temos feito e ver se havemos adquirido uma visão mais clara e mais ampla do panorama da eternidade. Quantos nos abandonaram nestes seis anos! Foram prestar contas naquele mundo no qual o tempo não se mede por anos. De alguns confio que podemos dizer: "Bem-aventurados os mortos que morrem no Senhor". Muitos, confio que nasceram de novo, passaram da morte para a vida, começaram uma nova vida que não tem fim.Outros, confio que foram levados a dar um grande salto, um grande passo na escada de Jacob, um passo que os levou ao cume do monte Pisga, do qual lhes é dado contemplar melhor a nossa feliz terra de Canaan. Sem embargo, outros me temo que tornaram atrás, e já não andam com Jesus. "Vós corríeis bem, quem vos embaraçou?" Pusestes a vossa mão no arado, mas olhastes para atrás e não fostes aptos para o reino dos céus. Outros sei que se acham seis anos mais perto do Inferno, o seu ouvido tem-se feito mais surdo à voz de Deus, o seu coração mais apegado aos seus ídolos, eles estão mais mortos para Deus. Contemplemos solenemente estes seis anos, tanto vós como eu, e oh! Sejamos avisados pelos enganos do passado e emendemos a nossa vida melhorando a nossa carreira a partir de agora. 

 I. A UNÇÃO DO ESPIRITO SANTO FAZ FRUTÍFERO O MINISTÉRIO DO EVANGELHO

Foi assim no ministério do próprio Cristo. "O Espírito do Senhor é sobre Mim." Assim é com todo o ministério. Quanto maior unção do Espírito, tanto maior êxito terá o ministério. Lembrai-vos dos dois ramos de oliveiras que estavam a ambos os lados do castiçal e que vertiam de si azeite como ouro por meio de dois tubos de ouro (Zc 4:12). Representam e simbolizam o ministério frutífero, representam "aos ungidos do Senhor que se acham por toda a terra.” Oh, vede quanta necessidade há de que os ministros sejam cheios do Espírito, que, como João, sejam levados "no Espírito no dia do Senhor" para que os crentes possam ser ardentes "como lâmpada que arde"! Recordai-vos de João, o Baptista. Antes de que nascesse, o anjo disse acerca dele: "Será cheio do Espírito Santo ainda no seio da sua mãe." Qual, pois, seria o seu êxito? "E a muitos dos filhos de Israel converterá ao Senhor, Deus deles." Oh, dai-vos conta de quanta necessidade há que os pastores sejam cheios do Espírito Santo para que possam converter a muitos, que, como João, possam "converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à obediência dos justos"!Recordai-vos dos apóstolos. Antes do Pentecostes eles eram como árvores secas e sem seiva. Foram às cidades de Israel pregando as alegres novas do reino, mas parece que tinham escasso êxito ou possivelmente êxito nulo. Não podiam falar de nenhum filho espiritual. Porém, quando o dia de Pentecostes chegou, quando o Espírito desceu sobre eles como poderoso e ressoante vento, que mudança se operou! Na primeira pregação, 3000 varões foram compungidos de coração e exclamaram: "Varões e irmãos, o que faremos?" Oh, sim! Vede quanta necessidade há de que tenhamos outro Pentecostes que comece no coração dos ministros para que as nossas palavras sejam como fogo e os corações das pessoas sem Cristo, como madeira em que facilmente o fogo pega.Olhando o meu ministério estou seguro de que esta tem sido a minha grande necessidade. Não temos sido como os ramos de oliveiras verdes; não temos sido como João, o Baptista, cheio do Espírito Santo, não temos sido como os Apóstolos no dia do Pentecostes, não pudemos dizer, como o Salvador, "o Espírito do Senhor é sobre Mim", porque se assim tivesse sido vós não seríeis como sois hoje. Não haveria tantos pecadores mortos nos seus delitos e pecados entre vós, adormecidos sob a voz do Evangelho da graça e colocados na beira do próprio Inferno. Não haveria tantos pecadores cansados e oprimidos indo da montanha à colina, mas sem achar o lugar de descanso, que é Cristo. Não haveria tantos filhos da luz andando em trevas, tristes, ofuscados. Palavra penetrante e aguda é esta. “Se estivessem estado no meu conselho, então teriam feito o meu povo ouvir as minhas palavras, e o teriam feito voltar do seu mau caminho, e da maldade das suas acções.” (Jr 23:22, ARC, Pt)

O êxito é a regra no ministério vivo. A falta de êxito é a excepção. Oh, pedi a Deus que, se nos conceder outro ano, possamos ser mais como o sumo sacerdote, que primeiro entrava no lugar santíssimo e depois saía e abençoava, com as mãos ao alto, o povo. Pedi que possamos ser mais como os anjos, seres que contemplam sempre a face do nosso Pai e por isso são como chamas de fogo. "Faz dos seus anjos espíritos, e de seus ministros labareda de fogo.” (Hb 1:7, ARC, Pt) Sabeis que o ferro candente facilmente pode ser atravessado, o que é impossível de conseguir até mesmo com a mais penetrante ferramenta quando está frio. Assim aconteceria com os nossos pastores se fossem cheios do Espírito Santo, que é como chama de fogo. Penetrariam nos mais duros corações, aonde o mais fino engenho e a mais fina destreza não podem abrir caminho. Assim foi com Whitefield. Aquele grande homem viveu tão perto de Deus, viveu tão cheio de gozo celestial e do Espírito Santo, que as almas se desfaziam como a neve no tempo do degelo. John Newton menciona como um facto que numa só semana, Whitefield recebeu não menos de mil cartas de pessoas redarguidas na sua consciência sob a sua pregação. Oh, pedi que não sejamos "nuvens sem água, que certamente têm toda a aparência de nuvens, mas que não têm chuva em si mesmas"! Pedi que nos seja concedido vir a vós como Paulo foi aos Coríntios "em fraqueza, e em temor, e em grande tremor", o qual lhes dizia: "nem a minha palavra nem a minha pregação consistia de palavras persuasivas de humana sabedoria, mas com demonstração do Espírito e de poder." (1 Co 2:3-4) 

II. O TEMA OBJECTO DE TODA A PREGAÇÃO FIEL.

1. O ministro fiel prega boas novas a todos os quebrantados do coração. Este foi o grande objecto do ministério de Cristo: "O Senhor Me ungiu para pregar boas novas aos quebrantados do coração." Jesus veio ao mundo para ser o Salvador dos pecadores débeis, não veio para os amáveis e bons que se crêem justos, mas veio para aqueles que estão angustiados a respeito das suas almas. O homem natural, que ainda nem chegou sequer a estar despertado, diz: "Eu sou rico e não me falta nada." Por isso é orgulhoso e "a sua língua passeia pela terra." Mas, quando Deus começa a Sua obra de graça no seu coração, Deus redargui-lhe e convence-o do pecado, humilha-o até ao pó e fá-lo sentir-se "desventurado e miserável, e pobre, e cego e nu." Para estes sempre Jesus Se oferece a Si mesmo como um Salvador. Um pobre leproso disse-Lhe: "Senhor, se quiseres, podes limpar-me." Jesus respondeu-lhe: "Quero; sê limpo". Eis aqui que agora estende o Seu convite até ao fim do mundo, convite que será precioso à alma afligida e atormentada. "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. " A fatal noticia é que tudo quanto estes homens naturais possam fazer é pecaminoso porque sai de um coração mau e perverso, que ainda "as suas justiças são como trapos de imundície", pois "pelas obras da lei nenhuma carne se justificará", então o coração do pecador fica quebrantado, fica como morto; diz então para si: "É inútil, nunca poderei justificar-me diante de Deus."É este o estado da tua alma"? Então, tu, sem dúvida, tu és o objecto da obra de Cristo. Ele justifica ao ímpio. Ele imputa a justiça sem obras; o Seu sangue e justiça estão preparados para os quebrantados de coração. Tais são as almas que respondem a Jesus. Ele é o Senhor que responde a elas, que responde ao seu clamor. Numa ocasião uma mulher de coração quebrantado, que tinha gasto toda a sua fazenda em médicos e não tinha obtido melhoria alguma, antes ia piorando, veio a Jesus por detrás dEle e tocou-Lhe a orla do Seu vestido.  Chegou Ele a ser o Salvador da mulher de coração quebrantado?" Sim. Ele Disse-lhe: "Filha, tem bom ânimo, a tua fé te salvou."Jesus veio "para dar liberdade aos cativos." O homem natural é escravo. Alguns estão inclusive atados e não sabem que exista liberdade, como o escravo das Índias Ocidentais que não podia compreender o que significava a liberdade. Estão aprisionados pelos seus próprios pecados, embora digam: "Eu sou livre". Alguns estão encadeados sem sabê-lo. Outros há que estão despertados suficientemente para sentir o ruído das cadeias das suas paixões; sentem que os seus pés se afundam em lamacentas alegrias. Alguns de vós sabeis o que é pecar e chorar e voltar a pecar e chorar outra vez. "O caminho dos pecadores é duro." Jesus veio para ser o Salvador dos tais. Veio não só para ser a nossa justiça, mas também para ser a fonte da nossa vida. "No Senhor tenho justiça e fortaleza." Houve um homem que estava possuído por uma legião de demónios, tremendamente feridores, que o impulsionavam a andar nu entre os sepulcros, mas Jesus mandou ao espírito imundo que saísse dele e "assentou-se aos pés do Jesus”, vestido, inquieto ao ouvir a Palavra, que é o que sentem nos seus corações aqueles que não são rectos diante de Deus, que são escravos do pecado e que dia após dia têm sobre si uma pesada carga que os aflige. Eu sempre tentei falar com tais almas. Ensinei-vos claramente que vós não sereis salvos por causa da vossa ansiedade, que vós precisais de estar em Cristo Jesus, pois essas convicções podem ser passageiras. Tentei pôr o laço salvador do Evangelho ao vosso alcance para que pudesseis agarrar-vos a ele. Mostrei-vos como Cristo Se oferece a Si mesmo de forma especial para os pecadores como vós. "Os sãos não têm necessidade de médico senão os doentes". Quão frequentemente Brainerd anotava no seu diário como uma alma abatida tinha sido gasta verdadeira e solidamente no consolo de Cristo! Por que tenho eu de anotar tão poucas vezes o nome de alguma alma dos que entre vós se convertem? Durante muitos anos vos estive pregando o único fundamento de paz para o pecador. Sem embargo, que escassa foi a visão que tivestes de Cristo, tão pouco viva e profunda! Quão poucos podeis dizer: "As coisas que me eram ganho, reputo-as perda pelo eminente conhecimento de Cristo." Ah, meus amigos, a falta está em vós ou em mim, porque Deus não sente prazer em que as vossas almas estejam abatidas! “Ah! se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos, então seria a tua paz como o rio, e a tua justiça como as ondas do mar!” (Is 48:18 , ARC, Pt) 

2. O pastor fiel consola aos tristes de Sião. Este foi outro grande objectivo no ministério terrestre de Cristo: "consolar os tristes." Há numerosas coisas que levantam nuvens sobre o seio de um cristão. Há as tribulações do exterior. "Muitos são os males do justo." Levanta-se contra eles a perseguição. "Os inimigos do homem serão os de sua casa." Logo e frequentemente assaltam-no as tentações; são comuns a todos os homens. A preguiça e a falta de vigilância frequentemente nos arrancam a exclamação: "Miserável homem que eu sou!" Mas o Senhor domina a língua daquele que sabe dar a palavra oportuna aos que estão cansados e oprimidos. A religião de Jesus é eminentemente a religião do gozo. Não sente prazer em ver a Sua Igreja sentada sobre cinzas, lamentando-se, fatigada e triste. Agrada-Lhe vê-la revestida da Sua formosa justiça, cheia do Espírito Santo do gozo, e coberta com o manto do louvor e alegria movendo-se majestosamente, como as copas das árvores verdes, na Sua justiça para Sua glória.Numa ocasião Pedro andou sobre as águas. Cristo tinha um braço todo-poderoso para segurar o discípulo que se afundava. Outra vez dois discípulos dirigiam-se a uma povoação que havia ao norte de Jerusalém. Falavam entre si para ir entretendo-se no caminho. Um estranho aproximou-se e uniu-se a eles; e este foi expondo-lhes através de todas as Escrituras as coisas concernentes a Jesus. Ao partir o pão, revelou-Se-lhes e deixou-os enquanto exclamavam: "Não ardiam os nossos corações em nós?" Do mesmo modo Se revela Jesus a Si mesmo aos seus hoje em dia e muda a tristeza dos seus corações em santo e inefável gozo. Este foi um dos principais objectivos do meu ministério entre vós. Este versículo esteve gravado durante algum tempo no meu coração e na minha memória. “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef 4:11-12, ARC, Pt) e de acordo com ele, foi minha preocupação guiar aos tristes de Sião a encontrar a Cristo, o único que vos pode consolar e restaurar. Qual foi o resultado? Onde está o nosso êxito? Temo-me que há muito poucos entre vós tão felizes como deveríeis sê-lo. Não há muitos, como Pedro, afundando-se? Não há muitos entre vós tristes como os dois discípulos do Emaús? A maioria dos crentes das nossas igrejas não são crentes que estão procurando descanso, quando já o têm? Que pouco há entre vós da beleza, para vós aparelhada, do óleo do gozo e do manto da alegria! Oh, quão poucos de entre vós podeis cantar o Salmo 23! Oh, que poucos de entre vós há que sentis com grande gozo que os vossos pecados foram afastados para tão longe como longe está o oriente do ocidente, quão poucos de entre vós que se mantêm no amor de Deus de forma viva, oh quão poucos de entre vós transbordais de gozo porque Cristo habita nos vossos corações pela fé, oh quão poucos de entre vós que fostes cheios com a plenitude de Deus e que gozais com um gozo inefável e cheio de glória! Muito frequentemente menciona Brainerd no seu diário: "As lágrimas sinceras de afecto que derramavam muitos dos congregados, evidenciavam a presença do Espírito Santo." Em outra ocasião escrevia: "Parecia como se os membros desejassem ter as suas orelhas incrustadas nos marcos das portas da igreja, para desta maneira poder ouvir e servir ao Senhor para sempre."Quão poucos há ávidos desta divina solenidade pela presença de Deus nas nossas assembleias e reuniões! Para quantos a reunião de oração perdeu o seu interesse, interesse que antes tinha tido. Ah, certamente que a falta está em vós ou em mim! O Emanuel está ainda entre nós. Ele ainda está "cheio de graça e verdade." "Ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente." Oh, que o pequeno rebanho deste lugar seja coberto com a Sua formosura, cheio do Seu gozo e vestido com o manto da alegria!

3. O fiel servo de Deus prega um Salvador que livremente Se oferece a todo mundo. Este foi também outro dos grandes objectivos do ministério de Cristo: "Apregoar o ano aceitável do SENHOR." Oh, homens, a vós vos chamo!, foi o grande móvel da Sua vida. E no ano do jubileu fazia-se soar a trombeta em toda a terra. Toda a pessoa podia voltar para a sua herança como tu poderás ficar livre assim que os sons da trombeta do Evangelho cessem neste culto de hoje.


Fonte - http://www.iglesiareformada.com/

Tradução de Carlos António da Rocha

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