… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Por que os adolescentes devem acudir a Cristo sem tardança (Sl 90:14)






R. M. McCheyne

Por que os adolescentes devem acudir a Cristo sem tardança (Sl 90:14)

Sermão 2
“Farta-nos de madrugada com a tua benignidade, para que nos regozijemos, e nos alegremos todos os nossos dias.” (Sl 90:14, ARC, Pt)

A última das Condessas de Huntington não só foi rica neste mundo, mas também o foi na fé e foi uma herdeira do reino. Quando tinha uns nove anos, viu o corpo inerte de um menino da sua própria idade a ser conduzido para o sepulcro. Juntou-se ao cortejo e assistiu ao funeral, e foi assim como o Espírito Santo começou a fazer-lhe sentir a sua necessidade de um Salvador.



Queridos jovens, quando olhardes para o ano que vai finalizar, queira Deus que o Espírito Santo produza em vós a mesma convicção, que possa fazer ouvir, também, nos vossos ouvidos a Sua voz penetrante: “Foge da ira que virá; refugia-te em Cristo sem mais tardança”. “Escapa por tua vida; não olhes para trás”.



I. PORQUE A VIDA É MUITO CURTA



“Os dias da nossa vida chegam a setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o orgulho deles é canseira e enfado, pois cedo se corta e vamos voando.” (Sl 90:10, ACF) Até aqueles que vivem mais anos, quando lhes chega a hora da morte têm a impressão de que a sua vida foi um sonho. E é que não é debalde que diz a Bíblia que “é como um sonho”. Enquanto dormimos, as horas passam rapidamente, tanto, que não nos damos conta disso. Quando despertamos é que vemos quanto tempo tem passado. Assim é a vida. É como um “conto, ou uma fábula que se conta”. Quando estais escutando a narração de um conto agradável passa o tempo rapidamente e parece-vos como se vos tivessem roubado as horas. Certamente “acabamos os nossos anos como um pensamento”.



Possivelmente haveis visto mais de uma vez um navio em algum rio com todos os marinheiros a bordo, as âncoras içadas e as velas enfunadas ao vento, quando docemente desliza e balança rápida entre as águas ondulantes. Assim passam os nossos dias, “deslizam-se no mar do tempo como os navios”. Ou quiçá haveis tido ocasião de contemplar alguma águia quando, do seu ninho colocado no mais alto das rochas, equilibra-se voando como uma flecha para apoderar-se de alguma ave. Quão suave, mas velozmente voa! Assim é com a vossa vida. “Escapa-se veloz como a águia sobre a sua presa”. Mais de uma vez haveis contemplado a neblina que se forma ao pé das montanhas nas primeiras horas da manhã e haveis visto, quando o Sol sai com os seus raios temperados, como quão rapidamente se desvanecem as névoas! E o que é a vida? Certamente é um vapor que aparece por um pouco de tempo e logo se desvanece (Tiago 4:14).



Alguns de vós tendes visto quão curta é a vida naqueles que vos rodeiam. “Os vossos pais onde estão ? E os profetas ? Tendes de viver para sempre?” (Zc 1:5). Quantos amigos tendes que dormem no sepulcro! Alguns de vós tendes mais amigos no sepulcro que neste mundo. Deus tem-nos feito passar pelas avenidas de água, como uma catarata que se precipita e vós lhes ides atrás. Não passará muito tempo e a igreja onde agora vos sentais estará ocupada por outros adoradores que vos terão sucedido, uma nova voz guiará no canto dos salmos e um novo homem de Deus ocupará o púlpito. Estai completamente certos de que dentro de poucos anos todos vós que ouvis esta mensagem jazereis no sepulcro. Oh, quão urgente e necessário é ir a Cristo sem demora! Que obra tão grande tens de fazer, de quanta responsabilidade! Ser levado realmente a Cristo! E com quão pouco tempo contas para fazê-la! Tens de fugir da ira que virá, tens de ir a Cristo em busca de refúgio, tens de ir nascer de novo, tens de receber o Espírito Santo para ser feito apto para a glória. O tempo que tens para buscar o Senhor é um tempo solene. Até os muitos anos de uma larga vida resultam excessivamente breves para buscar o Senhor. Busca achar a convicção do pecado e a dar interesse a Cristo e à tua alma. “Farta-nos de madrugada com a tua benignidade, para que nos regozijemos, e nos alegremos todos os nossos dias.” (Sl 90:14, ACF)



II. PORQUE A VIDA É MUITO INCERTA.



“O homem é como a erva, que cresce na manhã, na manhã floresce e cresce; à tarde é cortado e seca-se”. A maioria dos homens são cortados sem ter chegado à idade amadurecida; possivelmente há cinquenta por cento da humanidade que morre antes de alcançá-la. Unicamente na cidade do Glasgow morrem mais da metade dos seus habitantes antes dos 20 ou 30 anos de idade. Da maioria dos homens pode-se dizer: “Sai como uma flor e é cortado”. A morte é muito certa, mas o tempo em que nos surpreenderá muito incerto. Muitos acreditam que ainda não morrerão porque desfrutam de saúde de ferro, mas não tendes em conta que muitos muito sãos também morreram por acidente ou outras causas fortuitas. Nem os bons mantimentos e vestidos da melhor qualidade constituem uma eficaz defesa contra a morte. Está escrito: “O rico também morreu e foi enterrado”. Tampouco amáveis e atentos médicos ou amigos podem defendê-los da morte. Quando a morte chega burla-se dos esforços dos mais hábeis médicos e arranca o ser querido dos braços mais ternos. Há alguns que pensam que não morrerão ainda porque não estão preparados para morrer, mas não reparam no facto de que muitos morreram sem estar preparados, sem estar convertidos, sem ser salvos. Esqueceis-vos de que está escrito acerca da porta estreita “que poucos sois os que a acham”. A maioria das pessoas jaz numa escura tumba e numa eternidade ainda mais escura.



Alguns de vós credes que não morrereis porque ainda sois jovens. Esqueceis o que já havemos dito, que a metade da Humanidade morre antes de alcançar a idade madura. A metade dos habitantes desta cidade morre antes de chegar aos vinte anos. Oh, se tu tivesses de estar presente como eu no leito de morte de meninos e adolescentes e pudesses ver o seu inquieto olhar e os seus movimentos espasmódicos e trémulos e ouvir os seus agonizantes lamentos, compreenderias quão necessário te é acudir, ir agora sem demora a Cristo! Pode estar próxima a tua vez. Estás preparado para morrer? Foste sem demora a Cristo para te refugiares n’Ele? Foste perdoado? “Não presumas do dia de amanhã, porque não sabes o que ele trará.” (Pv 27:1, ACF)



III. A MAIORIA DOS SALVOS FORAM A CRISTO NA SUA JUVENTUDE.



Foi assim nos dias do nosso bendito Salvador. Aqueles que eram entrados em anos, eram, ou melhor dizendo, consideravam-se muito sábios e prudentes para ser salvos pelo sangue do Filho de Deus e Ele assim o revelou àqueles que eram mais jovens e que tinham menos sabedoria. “Louvo-Te, Pai, Senhor do Céu e da terra, que tenhas escondido estas coisas dos sábios e dos entendidos e as tenhas revelado aos meninos” (Mateus 11:25). “Junta os cordeiros com o seu braço e os leva no seu seio”. Tem sido assim em quase todos os tempos de avivamento. Se perguntardes aos cristãos já amadurecidos, vereis como vos responderão a maioria deles que foram despertados, e tiveram ansiedade ou inquietação pelas suas almas e foram salvas sendo ainda jovens.



Oh, que razão tão poderosa para buscar uma pronta e urgente verdadeira aproximação a Cristo! Se não fordes salvos na vossa juventude, pode ser que depois nunca o chegueis a ser. Existe um tempo especial e adequado, o tempo apropriado para a salvação. Jesus disse aos de Jerusalém: “Não conhecestes o tempo da vossa visitação”. Há tempos e períodos que bem poderiam chamar-se “dias de conversão”. Abundam especialmente e de forma inequívoca em mais de uma alma. O domingo é o grande dia em que se reúnem as almas; o dia do Senhor pode ser chamado o dia do mercado do Senhor. É o dia da grande colheita de almas. Bem sei que há uma geração que se levanta contra esse dia e se afana por pisá-lo sob os seus pés, com a sua vil e nefanda conduta, mas vós apreciais o dia do Senhor. O tempo de aflição é também um tempo de conversão. Quando Deus leva a algum ser amado, então dizeis: “Isto é o dedo de Deus”, recordai que Cristo com isso procura salvar-vos: abri-Lhe a porta e permi-Lhe entrar. O tempo em que o Espírito Santo contende com a vossa alma é também tempo de conversão. Se sentirdes no vosso coração a Sua chamada e a Sua acção que vos impulsiona a buscar na Bíblia a vossa salvação, ou a consultar ao vosso pastor, “não extingais o Espírito”; “não resistais ao Espírito Santo”, “não afronteis o Espírito Santo de Deus”. A juventude é tempo de conversão. “Deixai vir os meninos para mim e não os impeçais, porque dos tais é o reino dos céus”. Oh, vós que sois como ovelhas, buscai ser achados e recolhidos pelos braços do Salvador e permiti que Ele vos leve no Seu ombro ou junto ao seu Seio! Ide depressa e confiai sob as asas potentes do Salvador. “Ainda há lugar”.



IV.PORQUE SE É MAIS FELIZ ESTANDO EM CRISTO QUE FORA DE CRISTO.



Muitos há que ao ler estas palavras dizem no seu coração: “Coisa triste é ser religioso”. A juventude, pensais, é o tempo do prazer, de comer, de beber, de viver desenfreadamente. Eu sei que a juventude é o tempo do prazer; é nela que os pés são mais ligeiros, que o olho está mais cheio de vida e de brilho, que o coração transborda mais alegria. Mas, esta é precisamente a razão que eu dou para irdes a Cristo. É-se mais feliz estando em Cristo que fora de Cristo.





1. Porque satisfaz o coração. Nunca neguei que possam achar-se alegrias fora de Cristo. A música e o baile, os jogos e os desportos estão intimamente ligados e atraem fortemente os corações dos jovens. Mas, ah! Pensai um momento. Não é confuso viver feliz, não estando salvo? Não é trágico ver um homem dormindo plácida e tranquilamente numa casa em chamas? E não é suficiente para nos horrorizar ver-vos bailando e divertindo-vos sabendo que Deus está zangado e a Sua ira ameaçando contra vós, seriamente, a cada dia?



Pensai outra vez. Não se acham em Cristo prazeres imensamente mais doces? “Qualquer que beber desta água tornará a ter sede; Mas aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.” (Jo 4:13-14,  ARC, Pt) “Fartura de alegrias há no Teu rosto e deleites à Tua dextra para sempre”. Ser perdoado, ter paz com Deus, tê-Lo a Ele por Pai, contar com a Sua complacência e amor, desfrutar do Seu Espírito Santo derramado em nossos corações e fazendo-nos mais e mais santos, são todos eles prazeres dignos de toda a eternidade. “Um dia nos Teus átrios é melhor que mil fora deles” (Salmo 84:10). Oh, sede cheios do Seu favor e ficai satisfeitos com a bênção do Senhor! O vosso pão de cada dia vos será mais doce. Comereis então o vosso alimento” com alegria e simplicidade de coração” (Actos 2:46). Os vossos pés tornam-se mais ligeiros e empreendedores porque são os pés de um corpo redimido, de um corpo libertado. O vosso sonho é mais doce “porque o SENHOR dá ao Seu amado o sonho”. O Sol brilha com um novo atractivo e a Terra apresenta um novo sorriso porque conscientemente podeis dizer: “Meu Pai tudo criou”.



2. Porque Cristo torna felizes todos os dias. – Os deleites “transitórios”, não durarão. Mas, ao ser alguém trazido a Cristo, a sua experiência assemelha-se ao amanhecer de um dia eterno; a serena alegria do Céu estende-se sobre todos os dias da sua peregrinação. Nos dias de angústia ou de tribulação quereis dizer-me o que fará por vós o mundo?



O que canta canções para o coração aflito é como aquele que despe a roupa num dia de frio, ou como o vinagre sobre salitre.” (Pv 25:20, ARC, Pt) Crede-me que próximos de vós estão os dias quando direis “Ao riso disse: Está doido; e da alegria: De que serve esta?” (Ec 2:2, ARC, Pt) Mas se fordes agora sem demora a Jesus Cristo, Ele cuidará dos vossos dias maus. Quando o vento é contrário e as ondas são altas, Jesus aproximar-Se-á e dir-vos-á alentadoramente: “Não temais, que sou Eu”. A Sua voz dará paz ao coração ainda na hora mais dolorosa. Quando o mundo vos repoche e censure e despreze o vosso nome como mau, quando se vos fechem as portas, Jesus aproximar-Se-á e vos dirá: “Paz vos dou”. Quem poderá explicar a doçura e paz que Cristo dá ao coração em tais horas? Uma menina que na sua tenra idade tinha sido levada a Cristo, assim o sentia quando ficou presa no leito muito tempo durante uma grave enfermidade. “Não estou triste ﷓dizia﷓ de me achar retida na cama, porque a minha cama é amaciada pelo Senhor e tenho a impressão de que está cheia de um perfume de amor para mim. O tempo, o dia e a noite, o Senhor faz com que me sejam doces. A tarde é-me prazenteira e a manhã refrescante”.



E finalmente, no dia da morte, o que poderá fazer o mundo por vós? O baile, e a música, e os companheiros de diversão nada poderão fazer, estarão incapacitados para dar-vos então consolo e muito menos alegria. Nenhuma brincadeira mais vos satisfará, nenhum sorriso mais vos dará alento. “Quem dera que eles fossem sábios! Que isto entendessem, e atentassem para o seu fim!” (Dt 32:29, ARC, Pt) Pelo contrário, neste mesmo transe, a alma de alguém que está em Cristo regozija-se com um gozo mais íntimo, tão íntimo como inexplicável, e cheio de glória. Jesus pode fazer o leito de morte mais suave do que o fazem os mais finos travesseiros. Recordai que quando morreu Estêvão, o seu nobre peito foi golpeado com cruéis pedras, mas ele, ajoelhando-se, disse: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito”. João Newton fala-nos de uma jovem cristã que, no dia da sua morte, disse: “Se isto é morrer, doce coisa é morrer”. Outro cristão, menino de oito anos, chegou a sua casa doente duma doença da qual morreu. A sua mãe perguntou-lhe se tinha medo de morrer. “ Não  respondeu-lhe, eu desejo morrer se for a vontade de Deus: aquela doce palavra de “dormir em Jesus “faz-me feliz quando penso no sepulcro”.



“Filhinhos, volto a estar de parto até que Cristo seja formado em vós.” Se quereis viver e morrer felizes, ide sem demora agora ao Salvador. A porta da arca está amplamente aberta. Entrai agora, não seja que depois, já não vos seja possível entrar.

http://www.iglesiareformada.com/

Tradução de Carlos António da Rocha

****

Esta tradução é de livre utilização, desde que a sua ortografia seja respeitada na íntegra porque já está traduzida no Português do Novo Acordo Ortográfico e que não seja nunca publicada nem utilizada para fins comerciais; seja utilizada exclusivamente para uso e desfruto pessoal.

Sem comentários: