… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Cristo traz-nos perdão e ensina-nos uma nova obediência




Martinho Lutero


Cristo Traz-Nos Perdão E Ensina-Nos Uma Nova Obediência

Sermão para o XXIX Domingo depois da Trindade.
Data: 11 de outubro de 1534.

Texto: (Mateus 9:1-8 ARC, Pt) “E eis que lhe trouxeram um paralítico deitado numa cama. E Jesus, vendo a fé deles, disse ao paralítico: Filho, tem bom ânimo; perdoados te são os teus pecados. E eis que alguns dos escribas diziam entre si: Ele blasfema. Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse: Por que pensais mal em vosso coração? Pois o que é mais fácil? Dizer ao paralítico: Perdoados te são os teus pecados, ou: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra autoridade para perdoar pecados (disse então ao paralítico) Levanta-te, toma a tua cama e vai para tua casa. E, levantando-se, foi para sua casa. E a multidão, vendo isso, maravilhou-se e glorificou a Deus, que dera tal poder aos homens.

1. Cristo tem poder para conceder o perdão dos pecados.

O primeiro ponto que trataremos à base do nosso versículo de hoje é como um compêndio de todo o evangelho, posto que, como este, versa sobre a remissão dos pecados. Esta doutrina, por outro lado, concerne unicamente aos cristãos, dado que a remissão dos pecados não a obtemos por nenhum outro senão por Cristo, e em Seu nome. Houve muitos gentios que escreveram livros volumosos, e em parte de excelente conteúdo, a respeito das boas obras, ou seja, acerca das obrigações que nos incumbem; mas nada dizem quanto ao perdão dos pecados. E nós, os cristãos, quando ainda vivíamos sob o domínio do papado, achávamo-nos de tal maneira obcecados que acreditávamos poder conseguir a remissão de pecados mediante votos, peregrinações e práticas semelhantes. E assim nos esforçávamos por obter o perdão dos pecados não no nome de Cristo, mas em virtude das nossas próprias boas obras. Mas a verdade é que o perdão dos pecados nos é dado de presente, gratuitamente, por causa de Cristo; e só no Seu nome nos são perdoados os nossos pecados. Resulta, pois, que qualquer que me perdoa os meus pecados no nome de Cristo, não mos perdoa deveras. Portanto, desprezemos completamente pensamentos como este: "Bem é certo que o paralítico foi um pecador e teve de suportar no seu próprio corpo o castigo do pecado; não obstante, Cristo outorga-lhe o caráter de justo ao dizer-lhe: ‘Filho, tem bom ânimo; perdoados te são os teus pecados.’ Por outro lado, eu, por estar submergido completamente em pecados, não posso consolar-me com este exemplo; eu não tenho Cristo a meu lado para que me possa livrar das minhas maldades." Quando tais reflexões queiram assaltar a nossa mente, devemos ater-nos ao que o próprio Cristo nos mandou testemunhar acerca dEle: "Ide por todo mundo" —disse— "e pregai o evangelho a toda a criatura" (Mc 16:15). Porém neste evangelho oferece-te o perdão de todos os pecados, no nome de Cristo.

2. Cristo oferece perdão precisamente e somente aos afligidos.

O segundo ponto de que queremos falar está relacionado com aquelas palavras ditas por Cristo: "Filho, tem bom ânimo; perdoados te são os teus pecados." Se Cristo ordena ao paralítico para que tenha bom ânimo, é forçoso supor que até esse momento o homem tinha o ânimo deprimido. Pois os de ânimo alegre não necessitam de consolo. Isto dá-nos a prova de que às pessoas que se sentem seguras e despreocupadas, não as alcança a remissão dos pecados. E com estas Suas palavras, Cristo nos descreve ao mesmo tempo a característica essencial do pecado: o pecado acusa os homens, condena-os e leva-os ao desespero. Se me reconheço pecador, necessariamente tenho de julgar que Deus está irado comigo. Já São Paulo o diz: "A lei produz ira" (Rm. 4:15). Mas se Deus me odeia, odeiam-me, também, todos os anjos e a criação inteira. E assim, ao fim e ao cabo, cairei inevitavelmente no desespero. Temos como exemplo o doutor Krause, de Hall, o qual, acossado pelos seus pecados, exclamou: "Eis aqui, vejo o Filho do Homem, Cristo, acusando-me no Céu, perante o Seu Pai". Tal é a natureza do pecado. Mas assim como imaginamos a Deus, assim O temos; por isso, o doutor Krause não pôde suportar estes quadros terríficos (como nenhum mortal seria capaz de suportá-los), pelo que tirou a sua vida. O pecado, pois, condena-nos, e não há força humana com que possamos impedi-lo, a menos que Cristo, o Mediador, venha em nosso auxílio. Se Ele não Se houvesse interposto, não haveria escapatória para nós.

Pois bem: neste transe difícil, Cristo consola o paralítico apavorado pelo seu pecado, e diz-lhe: "Tem bom ânimo." Além disso chama-lhe "Filho" e assegura-lhe que os seus pecados lhe são perdoados e que o Pai já não lhe guarda ira, contanto que creia nEle. Portanto, creiamos também nós que no nome de Cristo temos o perdão dos nossos pecados. Do mesmo modo, se o meu próximo me disser: "Tem bom ânimo, Irmão, os teus pecados te são perdoados no nome de Cristo", devo crer nele com toda a firmeza e não duvidar de que é assim como ele me diz.

Esta é, em toda a sua simplicidade, a doutrina do perdão dos pecados. Muitos, porém, resistem a aceitá-la. Se Cristo nos ensina isso, é porque nos quer livrar deste mal de não Lhe darmos crédito, para que não nos façamos eco das suspeitas dos escribas ímpios que diziam dentro de si: "Este blasfema" (v. 3). Se tivéssemos perguntado aos fariseus de que maneira se deve conseguir o perdão dos pecados, eles teriam respondido: "A justiça que nos faz aceitos perante Deus terás de consegui-la mediante a observância das cerimónias prescritas na lei de Moisés." Deus, por outro lado, ordena-nos que nos aferremos a Cristo e O ouçamos, pois Deus diz-nos: "Escutai-O" (Mt 17:5). E o que ouvimos de Cristo? Ele é precisamente O que nos ensina a remissão dos pecados!

3. Aos perdoados, Cristo envia-os a desempenhar fielmente as suas tarefas.

Há um terceiro ponto que queremos tomar em consideração: Havendo dito ao paralítico: "Filho, tem bom ânimo; perdoados te são os teus pecados", o Senhor acrescenta: "Levanta-te, toma a tua cama e vai para tua casa" (v. 6). Cristo quer demonstrar de uma maneira visível que Ele tem pleno poder para perdoar os pecados. Por isso confirma-o com este sinal de curar o paralítico; e havendo-Lhe já perdoado as suas transgressões, ordena-Lhe para tomar sua cama e ir para sua casa. Quer dizer: depois de ter sido reconciliado com Deus Pai por meio dEle, Cristo, o até então paralítico devia ir para o seu lar e aí cumprir diligentemente com as tarefas próprias da vocação que Deus lhe tinha atribuído. Mal ensinam pois os papistas ao sustentar que com as nossas obras devemos fazer méritos para obter o perdão dos pecados. Aqui ensina-se outra coisa.

Aqui ensina-se que as obras devem seguir o perdão. Isto tem de ser tomado em conta muito cuidadosamente, pois é de temer que, desaparecidos nós, venham professores que afirmarão que as obras devem preceder o perdão, tal como o vêm ensinando os papistas, que em tom de recriminação gritam que este nosso ensino da remissão gratuita dos pecados é muito cômodo, uma "doutrina doce", já que não exige algum esforço próprio. Esta gente carece de toda a experiência; por isso falam assim do que nós ensinamos. É que jamais experimentaram o tremendo poder do pecado. Por certo, se alguma vez corressem realmente o perigo de cair em desespero por causa dos seus pecados, falariam destas coisas duma outra forma. Cristo perdoa os pecados sem exigir nada em troca; não é um agiota. Tão-pouco é um feirante que faz do perdão dos pecados um negócio. Pela remissão de pecados que Ele nos dá de graça não quer cobrar-nos interesses de agiota. Só quer que façamos as obras próprias da nossa vocação; quer que, havendo recebido dEle a remissão dos nossos pecados, ajudemos o próximo, mostrando assim que a nossa fé não é uma fé morta, mas viva, que dá frutos em abundância.

Fonte: http://www.iglesiareformada.com/

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Fontes Utilizadas:
Vários “Sítios” e enciclopédias na Internet e ainda algumas obras em papel.
Respigado daqui e dali.

Carlos António da Rocha

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