Martinho Lutero
Cristo Traz-Nos Perdão E Ensina-Nos Uma Nova
Obediência
Sermão para o XXIX Domingo depois da Trindade.
Data: 11 de outubro de 1534.
Texto: (Mateus 9:1-8 ARC, Pt) “E eis que lhe trouxeram um paralítico deitado numa cama. E Jesus, vendo a fé deles, disse ao paralítico: Filho, tem bom ânimo; perdoados te são os teus pecados. E eis que alguns dos escribas diziam entre si: Ele blasfema. Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse: Por que pensais mal em vosso coração? Pois o que é mais fácil? Dizer ao paralítico: Perdoados te são os teus pecados, ou: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra autoridade para perdoar pecados (disse então ao paralítico) Levanta-te, toma a tua cama e vai para tua casa. E, levantando-se, foi para sua casa. E a multidão, vendo isso, maravilhou-se e glorificou a Deus, que dera tal poder aos homens.”
1. Cristo tem poder para conceder o perdão dos
pecados.
O primeiro ponto que trataremos à base do nosso
versículo de hoje é como um compêndio de todo o evangelho, posto que, como
este, versa sobre a remissão dos pecados. Esta doutrina, por outro lado,
concerne unicamente aos cristãos, dado que a remissão dos pecados não a obtemos
por nenhum outro senão por Cristo, e em Seu nome. Houve muitos gentios que
escreveram livros volumosos, e em parte de excelente conteúdo, a respeito das
boas obras, ou seja, acerca das obrigações que nos incumbem; mas nada dizem
quanto ao perdão dos pecados. E nós, os cristãos, quando ainda vivíamos sob o
domínio do papado, achávamo-nos de tal maneira obcecados que acreditávamos
poder conseguir a remissão de pecados mediante votos, peregrinações e práticas
semelhantes. E assim nos esforçávamos por obter o perdão dos pecados não no
nome de Cristo, mas em virtude das nossas próprias boas obras. Mas a verdade é
que o perdão dos pecados nos é dado de presente, gratuitamente, por causa de
Cristo; e só no Seu nome nos são perdoados os nossos pecados. Resulta, pois,
que qualquer que me perdoa os meus pecados no nome de Cristo, não mos perdoa
deveras. Portanto, desprezemos completamente pensamentos como este: "Bem é
certo que o paralítico foi um pecador e teve de suportar no seu próprio corpo o
castigo do pecado; não obstante, Cristo outorga-lhe o caráter de justo ao
dizer-lhe: ‘Filho,
tem bom ânimo; perdoados te são os teus pecados.’ Por outro lado, eu,
por estar submergido completamente em pecados, não posso consolar-me com este
exemplo; eu não tenho Cristo a meu lado para que me possa livrar das minhas
maldades." Quando tais reflexões queiram assaltar a nossa mente, devemos
ater-nos ao que o próprio Cristo nos mandou testemunhar acerca dEle: "Ide
por todo mundo" —disse— "e pregai o evangelho a toda a criatura"
(Mc 16:15). Porém neste evangelho oferece-te o perdão de todos os pecados, no
nome de Cristo.
2. Cristo oferece perdão precisamente e somente aos
afligidos.
O segundo ponto de que queremos falar está
relacionado com aquelas palavras ditas por Cristo: "Filho, tem bom ânimo;
perdoados te são os teus pecados." Se Cristo ordena ao
paralítico para que tenha bom ânimo, é forçoso supor que até esse momento o
homem tinha o ânimo deprimido. Pois os de ânimo alegre não necessitam de
consolo. Isto dá-nos a prova de que às pessoas que se sentem seguras e
despreocupadas, não as alcança a remissão dos pecados. E com estas Suas
palavras, Cristo nos descreve ao mesmo tempo a característica essencial do
pecado: o pecado acusa os homens, condena-os e leva-os ao desespero. Se me
reconheço pecador, necessariamente tenho de julgar que Deus está irado comigo.
Já São Paulo o diz: "A lei produz ira" (Rm. 4:15). Mas se Deus me
odeia, odeiam-me, também, todos os anjos e a criação inteira. E assim, ao fim e
ao cabo, cairei inevitavelmente no desespero. Temos como exemplo o doutor
Krause, de Hall, o qual, acossado pelos seus pecados, exclamou: "Eis aqui,
vejo o Filho do Homem, Cristo, acusando-me no Céu, perante o Seu Pai". Tal
é a natureza do pecado. Mas assim como imaginamos a Deus, assim O temos; por
isso, o doutor Krause não pôde suportar estes quadros terríficos (como nenhum
mortal seria capaz de suportá-los), pelo que tirou a sua vida. O pecado, pois,
condena-nos, e não há força humana com que possamos impedi-lo, a menos que
Cristo, o Mediador, venha em nosso auxílio. Se Ele não Se houvesse interposto,
não haveria escapatória para nós.
Pois bem: neste transe difícil, Cristo consola o
paralítico apavorado pelo seu pecado, e diz-lhe: "Tem bom ânimo."
Além disso chama-lhe "Filho" e assegura-lhe que os seus pecados lhe
são perdoados e que o Pai já não lhe guarda ira, contanto que creia nEle.
Portanto, creiamos também nós que no nome de Cristo temos o perdão dos nossos
pecados. Do mesmo modo, se o meu próximo me disser: "Tem bom ânimo, Irmão,
os teus pecados te são perdoados no nome de Cristo", devo crer nele com
toda a firmeza e não duvidar de que é assim como ele me diz.
Esta é, em toda a sua simplicidade, a doutrina do
perdão dos pecados. Muitos, porém, resistem a aceitá-la. Se Cristo nos ensina
isso, é porque nos quer livrar deste mal de não Lhe darmos crédito, para que
não nos façamos eco das suspeitas dos escribas ímpios que diziam dentro de si:
"Este blasfema" (v. 3). Se tivéssemos perguntado aos fariseus de que
maneira se deve conseguir o perdão dos pecados, eles teriam respondido: "A
justiça que nos faz aceitos perante Deus terás de consegui-la mediante a
observância das cerimónias prescritas na lei de Moisés." Deus, por outro
lado, ordena-nos que nos aferremos a Cristo e O ouçamos, pois Deus diz-nos:
"Escutai-O" (Mt 17:5). E o que ouvimos de Cristo? Ele é precisamente
O que nos ensina a remissão dos pecados!
3. Aos perdoados, Cristo envia-os a desempenhar
fielmente as suas tarefas.
Há um terceiro ponto que queremos tomar em
consideração: Havendo dito ao paralítico: "Filho, tem bom ânimo; perdoados te são os
teus pecados", o Senhor acrescenta: "Levanta-te, toma a tua
cama e vai para tua casa" (v. 6). Cristo quer
demonstrar de uma maneira visível que Ele tem pleno poder para perdoar os pecados.
Por isso confirma-o com este sinal de curar o paralítico; e havendo-Lhe já
perdoado as suas transgressões, ordena-Lhe para tomar sua cama e ir para sua
casa. Quer dizer: depois de ter sido reconciliado com Deus Pai por meio dEle,
Cristo, o até então paralítico devia ir para o seu lar e aí cumprir
diligentemente com as tarefas próprias da vocação que Deus lhe tinha atribuído.
Mal ensinam pois os papistas ao sustentar que com as nossas obras devemos fazer
méritos para obter o perdão dos pecados. Aqui ensina-se outra coisa.
Aqui ensina-se que as
obras devem seguir o perdão. Isto tem de ser tomado em conta muito
cuidadosamente, pois é de temer que, desaparecidos nós, venham professores que
afirmarão que as obras devem preceder o perdão, tal como o vêm ensinando os
papistas, que em tom de recriminação gritam que este nosso ensino da remissão
gratuita dos pecados é muito cômodo, uma "doutrina doce", já que não
exige algum esforço próprio. Esta gente carece de toda a experiência; por isso
falam assim do que nós ensinamos. É que jamais experimentaram o tremendo poder
do pecado. Por certo, se alguma vez corressem realmente o perigo de cair em
desespero por causa dos seus pecados, falariam destas coisas duma outra forma.
Cristo perdoa os pecados sem exigir nada em troca; não é um agiota. Tão-pouco é
um feirante que faz do perdão dos pecados um negócio. Pela remissão de pecados
que Ele nos dá de graça não quer cobrar-nos interesses de agiota. Só quer que
façamos as obras próprias da nossa vocação; quer que, havendo recebido dEle a
remissão dos nossos pecados, ajudemos o próximo, mostrando assim que a nossa fé
não é uma fé morta, mas viva, que dá frutos em abundância.
Fonte:
http://www.iglesiareformada.com/
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Fontes Utilizadas:
Vários “Sítios” e enciclopédias na Internet e ainda algumas obras em papel.
Respigado daqui e dali.
Carlos António da Rocha
Este
texto é de livre utilização, desde que a sua ortografia seja respeitada
na íntegra porque já está escrito com o Português do Novo Acordo
Ortográfico e que não seja nunca publicado nem utilizado para fins
comerciais; seja utilizado exclusivamente para uso e desfruto pessoal.
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