… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

sábado, 6 de maio de 2017

George Müller e Henry Craik Amigos de longa data




George Müller e Henry Craik

 Amigos de longa data
George Müller conheceu Henry Craik quando ambos tinham 24 anos de idade. Desde então, até à morte de Craik eles foram companheiros, condiscípulos inseparáveis no ministério Cristão. Pouco depois da morte de Craik, Müller escreveu o seguinte acerca do seu amigo de toda a vida:

UNIDOS NO QUE IMPORTA

O que me atraiu em Henry Craik não foi o facto de ambos termos formação universitária, nem o facto de ambos gostarmos muito de estudar a língua Hebraica, nem o facto de ambos termos sido trazidos ao Senhor Jesus Cristo ao mesmo tempo. O que me atraiu em ele foi o seu zelo, o seu entusiasmo e o seu ardor para com o Senhor.

Nós concordávamos nas importantes verdades da “Segunda Vinda de nosso Senhor Jesus”, na “Plena suficiência das Escrituras como nossa regra de fé” e no “Espírito Santo como nosso ensinador”. Víamos claramente as preciosas doutrinas da graça de Deus, e a chamada celestial da Igreja de Cristo, assim como a consequente posição do crente neste mundo.

Estávamos assim muito unidos. Desde aquela altura até à sua partida para estar com o Senhor Jesus, a nossa amizade aprofundou-se ininterruptamente durante 36 anos.

COMO É QUE NOS PRENDEMOS?

As pessoas observavam muitas vezes como era notável que trabalhássemos tão harmoniosamente durante tantos anos.

Ora isso não aconteceu porque o Henry não tivesse ideias próprias, e tivesse o hábito de se submeter às minhas decisões, nem porque eu o seguisse cegamente, sendo desprovido de ideias.

Aconteceu desta forma. Dois anos depois de o conhecer, vi como algumas pessoas preferiam as pregações do meu amigo às minhas. Então, determinei-me, com a força de Deus, em regozijar-me em vez de o invejar. Eu disse como João Batista, «O homem não pode receber coisa alguma, se lhe não for dada do Céu» (João 3.27). Este resistir ao diabo impediu que nos separássemos no coração.

A partir dessa altura Deus honrou-me grandemente sempre que pregava. Isto revela a dupla bênção, que vem de se resistir ao diabo!

Sete anos mais tarde Deus honrou-me grandemente com a grande bênção dos Orfanatos (em Bristol) e com a obra missionária da “Instituição de Conhecimento Bíblico Para o País e Estrangeiro”. Agora, o meu amigo Henry, humanamente falando, tinha motivos para cair no pecado da inveja. Mas será que isso aconteceu? Poucos, se alguns, se regozijaram tanto com a honra que o Senhor graciosamente me concedeu, como o meu amigo!

Independentemente de quaisquer que tenham sido as fraquezas espirituais que o meu amigo e eu tenhamos tido, durante os nossos 36 anos de amizade tivemos o propósito honesto de vivermos para Deus, e não para nós mesmos. O nosso objectivo foi sempre agradar-Lhe a Ele, e não a nós mesmos.

A PRESSÃO PODIA TER-NOS SEPARADO

A nossa amizade permaneceu inquebrável até ao fim, embora as tentações para que nos separássemos aumentassem, em vez de diminuírem. A nossa forma natural de pensar e os nossos temperamentos eram muito diferentes. E, no entanto, trabalhámos juntos, enquanto cerca de 2 500 crentes eram recebidos em comunhão depois de termos vindo para Bristol. Durante os recentes anos trabalhámos tanto nas capelas de Bethesda como nas capelas de Salem com quase 1000 crentes em comunhão.

Quem é que, então, pode duvidar da existência de constantes dificuldades que ameaçavam o nosso amor e o nosso esforço unido? Porém, encontrámos sempre ajuda em Deus. E encontrámo-la até ao fim.

Henry era dotado de uma capacidade intelectual superior. Mas o seu carácter e talentos espirituais eram mais importantes. Ele era muito afável. Como Natanael, do Velho Testamento, ele não tinha dolo. Quaisquer que tenham sido as falhas e fraquezas que ele possa ter tido, podeis ter a certeza de que ele actuava convictamente. Ele fazia o que fazia porque pensava que estava certo. Os nossos pontos de vista em várias ações diferiam significativamente. Mas eu chegava sempre a este ponto: o meu amigo tem convicções. Se ele tão somente visse como eu faço, decerto que actuaria de modo diferente.

Deus deu a Henry um grande intelecto. Mas ele não o usou para obter nome entre os homens, nem para ser admirado por eles. Ele queria lançar luz sobre as Escrituras, para expor a verdade. A Universidade de St. Andrews quis, por duas vezes, conferir-lhe o doutoramento honoris causa, todavia ele pediu que o doutoramento fosse concedido a outros. Ele tinha proposto no seu coração não buscar a honra que vem do homem, mas confiar inteiramente em Deus, como Seu servo.

Henry era de fraca constituição física, e durante as suas longas horas de estudo ele não cuidava suficientemente da sua saúde. Ele foi a pessoa mais devota à oração e ao estudo da Palavra que jamais conheci. (Isto afirmado por quem é, é digno de registo!)

Henry passou pelos seus sofrimentos sem se queixar, ainda que orasse e suspirasse por ser libertado deles. Por fim foi liberto.

ADEUS, AMIGO

Lembro-me do nosso último adeus. Ele tinha estado em grande agonia durante quase sete meses. Eu beijei-o e voltei-me para me retirar. Henry estava demasiado fraco para falar, mas ainda conseguiu dizer, “Senta-te. Quero olhar para ti.” Ele também pediu à sua mulher para fazer o mesmo. Sentámo-nos, e ele olhou para nós durante algum tempo. A seguir tive de ir. No dia seguinte adoeci, e enquanto fiquei retido na cama, o meu querido amigo Henry adormeceu cheio de paz, confiado em Jesus.

Adaptado de “Introdução de George Müller ao Diário e Cartas de Henry Craik”

Tradução de Carlos António da Rocha

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Esta tradução é de livre utilização, desde que a sua ortografia seja respeitada na íntegra porque já está traduzida no Português do Novo Acordo Ortográfico e que não seja nunca publicada nem utilizada para fins comerciais; seja utilizada exclusivamente para uso e desfruto pessoal.

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