George Müller e Henry Craik
Amigos de longa data
George
Müller conheceu Henry Craik quando ambos tinham 24 anos de idade. Desde então,
até à morte de Craik eles foram companheiros, condiscípulos inseparáveis no
ministério Cristão. Pouco depois da morte de Craik, Müller escreveu o seguinte
acerca do seu amigo de toda a vida:
UNIDOS NO QUE IMPORTA
O
que me atraiu em Henry Craik não foi o facto de ambos termos formação
universitária, nem o facto de ambos gostarmos muito de estudar a língua
Hebraica, nem o facto de ambos termos sido trazidos ao Senhor Jesus Cristo ao
mesmo tempo. O que me atraiu em ele foi o seu zelo, o seu entusiasmo e o seu ardor
para com o Senhor.
Nós
concordávamos nas importantes verdades da “Segunda Vinda de nosso Senhor Jesus”,
na “Plena suficiência das Escrituras como nossa regra de fé” e no “Espírito
Santo como nosso ensinador”. Víamos claramente as preciosas doutrinas da graça
de Deus, e a chamada celestial da Igreja de Cristo, assim como a consequente
posição do crente neste mundo.
Estávamos
assim muito unidos. Desde aquela altura até à sua partida para estar com o
Senhor Jesus, a nossa amizade aprofundou-se ininterruptamente durante 36 anos.
COMO É QUE NOS PRENDEMOS?
As
pessoas observavam muitas vezes como era notável que trabalhássemos tão
harmoniosamente durante tantos anos.
Ora
isso não aconteceu porque o Henry não tivesse ideias próprias, e tivesse o
hábito de se submeter às minhas decisões, nem porque eu o seguisse cegamente,
sendo desprovido de ideias.
Aconteceu
desta forma. Dois anos depois de o conhecer, vi como algumas pessoas preferiam
as pregações do meu amigo às minhas. Então, determinei-me, com a força de Deus,
em regozijar-me em vez de o invejar. Eu disse como João Batista, «O homem não
pode receber coisa alguma, se lhe não for dada do Céu» (João 3.27). Este
resistir ao diabo impediu que nos separássemos no coração.
A
partir dessa altura Deus honrou-me grandemente sempre que pregava. Isto revela
a dupla bênção, que vem de se resistir ao diabo!
Sete
anos mais tarde Deus honrou-me grandemente com a grande bênção dos Orfanatos
(em Bristol) e com a obra missionária da “Instituição de Conhecimento Bíblico
Para o País e Estrangeiro”. Agora, o meu amigo Henry, humanamente falando,
tinha motivos para cair no pecado da inveja. Mas será que isso aconteceu?
Poucos, se alguns, se regozijaram tanto com a honra que o Senhor graciosamente
me concedeu, como o meu amigo!
Independentemente
de quaisquer que tenham sido as fraquezas espirituais que o meu amigo e eu
tenhamos tido, durante os nossos 36 anos de amizade tivemos o propósito honesto
de vivermos para Deus, e não para nós mesmos. O nosso objectivo foi sempre
agradar-Lhe a Ele, e não a nós mesmos.
A PRESSÃO PODIA TER-NOS SEPARADO
A
nossa amizade permaneceu inquebrável até ao fim, embora as tentações para que
nos separássemos aumentassem, em vez de diminuírem. A nossa forma natural de
pensar e os nossos temperamentos eram muito diferentes. E, no entanto,
trabalhámos juntos, enquanto cerca de 2 500 crentes eram recebidos em comunhão
depois de termos vindo para Bristol. Durante os recentes anos trabalhámos tanto
nas capelas de Bethesda como nas capelas de Salem com quase 1000 crentes em
comunhão.
Quem
é que, então, pode duvidar da existência de constantes dificuldades que
ameaçavam o nosso amor e o nosso esforço unido? Porém, encontrámos sempre ajuda
em Deus. E encontrámo-la até ao fim.
Henry
era dotado de uma capacidade intelectual superior. Mas o seu carácter e
talentos espirituais eram mais importantes. Ele era muito afável. Como Natanael,
do Velho Testamento, ele não tinha dolo. Quaisquer que tenham sido as falhas e
fraquezas que ele possa ter tido, podeis ter a certeza de que ele actuava
convictamente. Ele fazia o que fazia porque pensava que estava certo. Os nossos
pontos de vista em várias ações diferiam significativamente. Mas eu chegava
sempre a este ponto: o meu amigo tem convicções. Se ele tão somente visse como
eu faço, decerto que actuaria de modo diferente.
Deus
deu a Henry um grande intelecto. Mas ele não o usou para obter nome entre os
homens, nem para ser admirado por eles. Ele queria lançar luz sobre as
Escrituras, para expor a verdade. A Universidade de St. Andrews quis, por duas
vezes, conferir-lhe o doutoramento honoris causa, todavia ele pediu que o
doutoramento fosse concedido a outros. Ele tinha proposto no seu coração não
buscar a honra que vem do homem, mas confiar inteiramente em Deus, como Seu
servo.
Henry
era de fraca constituição física, e durante as suas longas horas de estudo ele
não cuidava suficientemente da sua saúde. Ele foi a pessoa mais devota à oração
e ao estudo da Palavra que jamais conheci. (Isto afirmado por quem é, é digno
de registo!)
Henry
passou pelos seus sofrimentos sem se queixar, ainda que orasse e suspirasse por
ser libertado deles. Por fim foi liberto.
ADEUS, AMIGO
Lembro-me
do nosso último adeus. Ele tinha estado em grande agonia durante quase sete
meses. Eu beijei-o e voltei-me para me retirar. Henry estava demasiado fraco
para falar, mas ainda conseguiu dizer, “Senta-te. Quero olhar para ti.” Ele
também pediu à sua mulher para fazer o mesmo. Sentámo-nos, e ele olhou para nós
durante algum tempo. A seguir tive de ir. No dia seguinte adoeci, e enquanto
fiquei retido na cama, o meu querido amigo Henry adormeceu cheio de paz,
confiado em Jesus.
Adaptado
de “Introdução de George Müller ao Diário e Cartas de Henry Craik”
Tradução de Carlos
António da Rocha
****
Esta tradução é de
livre utilização, desde que a sua ortografia seja respeitada na íntegra porque
já está traduzida no Português do Novo Acordo Ortográfico e que não seja nunca
publicada nem utilizada para fins comerciais; seja utilizada exclusivamente
para uso e desfruto pessoal.
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