Eu Sei Que Deus
Responde Às Orações
Parte I
Rosalind Goforth
UMA CARTA DO CONHECIDO
MISSIONÁRIO HUDSON TAYLOR
Em
outubro de 1887, pouco antes do nosso casamento, meu marido foi aceito pela
Igreja Presbiteriana do Canadá para abrir um novo campo missionário no norte da
província de Honan, na China. Partimos de navio em janeiro de 1888 e chegamos à
China no mês de março. Nem sonhávamos das enormes dificuldades da tarefa que
nos esperava.
Uma
carta do conhecido missionário Hudson Taylor nos deu a primeira ideia do
desafio:
"Estamos
sabendo que o norte de Honan é o campo onde irão trabalhar. A nossa missão está
tentando há dez anos entrar naquela província e só agora conseguimos uma
pequena porta. É uma das províncias mais hostis a estrangeiros na China.
Irmãos, se quiserem entrar ali, terão de avançar de joelhos..."
Essas
palavras marcaram os nossos primeiros anos de trabalho pioneiro naquele lugar. A
nossa força como missão e como indivíduos, durante aqueles anos tão carregados
de perigos e dificuldades, derivou somente do nosso reconhecimento de que a
nossa tarefa, sem auxílio divino, era totalmente impossível.
APOIO DA BASE EM ORAÇÃO
Ficámos,
inicialmente, numa outra missão, fora da província de Honan, para aprender o
idioma. Meu marido estava encontrando grande dificuldade para dominar a língua;
embora estudasse fielmente durante muitas horas, o seu progresso era doloroso e
lento. Junto com um colega, costumava ir regularmente a um lugar público para
treinar, pregando em chinês ao povo; entretanto, mesmo estando há mais tempo no
país do que seu o colega, o povo pedia sempre que fosse seu colega missionário
que pregasse, porque conseguia compreendê-lo melhor.
Um
dia, logo antes de sair para a pregação, como costume, o meu marido disse-me:
"Se o Senhor não me der ajuda sobrenatural no domínio do idioma, receio
que fracassarei como missionário."
Algumas
horas depois, ele voltou, com o seu rosto radiante de alegria. Contou-me que
sentiu uma intervenção muito clara quando chegou a sua vez de falar: as frases
vieram à sua mente como nunca antes, e, não só, conseguiu fazer-se entender,
mas várias pessoas vieram à frente, depois, para conversar mais com ele. De tão
maravilhado e encorajado que ficou, fez uma nota do incidente no seu diário.
Mais
de dois meses depois do ocorrido, chegou uma carta de um estudante da nossa
cidade de origem no Canadá, dizendo que em determinada noite um grupo se
reunira, especialmente, para orar por nós. O poder na oração foi tamanho e a
presença de Deus tão sensível que resolveram escrever e perguntar se houve
alguma intervenção especial naquela data. Conferindo no seu diário, Jonathan
verificou que o tempo em que decorrera aquela reunião de oração correspondia, exactamente,
ao momento da ajuda sobrenatural na sua pregação.
Isto
mostra a importância das pessoas que ficaram no país de origem orarem em favor
daqueles que saíram para o campo missinário.
PROTEÇÃO DE PERIGO
Durante
o tempo em que aguardávamos a possibilidade de nos mudarmos para Honan, nós, as
esposas dos missionários, passávamos constantemente pela angústia. Cada vez que
os maridos saíam para fazer viagens pela região, os nossos corações enchiam-se
de temor, com receio de que nunca mais os víssemos. O perigo que corriam era
muito grande, no entanto, o Senhor, na Sua misericórdia, ouvia as nossas
orações. Embora frequentemente passassem por provações e dificuldades, nenhum
deles chegou a ser gravemente ferido. A seguir, relato uma das experiências que
ilustra como o Senhor os guardava naqueles dias.
Dois
irmãos do nosso grupo missionário alugaram uma propriedade numa vila dentro da
província de Honan, perto do rio Wei, a pouca distância da fronteira. Foram
para lá, com intenção de passar o inverno, mas uma perseguição repentina e
violenta irrompeu assim que acabaram de se instalar. Uma multidão atacou o
local da missão e saqueou tudo que tinham. Os dois missionários foram agredidos
e um deles foi arrastado à volta do pátio. Finalmente, foram deixados, as suas
vidas foram poupadas, porém, sem possessão alguma.
A
situação estava bastante crítica, pois seus os amigos mais próximos estavam a
vários dias de viagem, e eles não possuíam dinheiro, roupa de cama, ou roupas
pessoais, além do que tinham no corpo. O rigoriso inverno já havia começado.
Nas
sua extremidade, ajoelharam-se e entregaram-se ao cuidado do Senhor. Fiel às Suas
promessas, o Senhor respondeu-lhes, pois, enquanto eles ainda oravam, um
missionário de um posto distante estava a caminho. Ele chegou inesperadamente,
sem saber o que acontecera, poucas horas depois dos saques. A sua chegada em
tal momento tão oportuno encheu os corações do povo nativo da vila de temor. O
dinheiro e os bens foram devolvidos, e, daquele tempo em diante, a oposição
violenta cessou.
DIRIGINDO AS MÃOS DO
MÉDICO
Poucos
meses depois do incidente acima referido, conseguimos mudar-nos para a província
de Honan, juntamente com algumas outras famílias. Embora não houvesse
violência, o coração do povo chinês parecia duro como pedra. Odiavam-nos e
desconfiavam de nós como se fôssemos os seus piores inimigos. Este distrito era
conhecido pelo seu espírito turbulento e pela sua hostilidade contra os
estrangeiros, e nós, como missionários, frequentemente corríamos grave perigo.
Muitas
vezes percebíamos que nós, assim como os co-obreiros em outros postos
missionários, éramos guardados de sérios riscos somente pelo poder protetor e
soberano de Deus, em resposta às muitas orações que subiam em nosso favor,
nesse momento tão crítico da história da nossa missão. A seguir, relato um
exemplo concreto de como Deus ouvia as nossas orações naquele tempo.
Contávamos,
no nosso grupo, com um missionário que era médico, um homem com talentos
admiráveis. Possuía anos de treinamento especializado e experiência prática em
hospitais e era considerado um dos médicos mais destacados da sua cidade de
origem. Aqui na missão, porém, passaram-se meses sem aparecer um caso
significativo para ser tratado. Além de não conhecer o médico, nem as suas
habilidades, o povo tinha medo de se colocar em suas mãos. Começámos a orar
especificamente para que o Senhor enviasse pessoas com essa necessidade ao
hospital, que pudessem abrir o coração do povo para connosco e para a nossa
mensagem.
Em
pouco tempo, vimos as nossas orações respondidas acima de toda expectativa.
Vários casos importantes apareceram, quase ao mesmo tempo, um tão sério que o
médico hesitou por alguns dias antes de o operar. Quando finalmente efetuou a
operação, as mãos do médico foram fortalecidas pelas nossas orações, o paciente
sobreviveu com segurança, e, poucos dias depois, estava ele andando pela cidade,
como milagre vivo, diante do povo.
Muita
coisa dependia desse resultado e das outras cirurgias delicadas que o médico
realizou naquela mesma época. Se algum dos pacientes tivesse morrido nas suas
mãos, teria sido suficiente para causar a destruição de todas as propriedades
da missão e a morte de todos os missionários. Três anos depois, os registros do
hospital mostravam uma média de 28 000 (vinte e oito mil) tratamentos por ano!
NOVOS CONVERTIDOS
A
nossa oração constante era que o Senhor nos desse convertidos desde o
princípio. Sabíamos de missionários na Índia, na China e em outros lugares, que
haviam trabalhado durante muitos anos sem ganhar um convertido, contudo nós não
acreditávamos que essa era a vontade de Deus para nós. Críamos que a Sua
vontade e prazer era salvar homens e mulheres por meio dos Seus canais humanos,
e, por que não desde o princípio?
O
primeiro a ser convertido foi Wang Feng-ao, que foi connosco para Honan como
professor particular do meu marido. Era um homem com um alto grau de educação,
equivalente a um mestrado no Ocidente, e era um dos seguidores mais orgulhosos
e altivos de Confúcio. Ele desprezava os missionários e os seus ensinamentos, e
tão grande era a sua hostilidade que batia na sua esposa de cada vez que ela
vinha para nos ver ou para ouvira «nossa» mensagem. Mesmo assim, Jonathan
continuava orando por esse homem e usava toda a sua influência para ganhá-lo
para Cristo.
Poucos
meses depois, uma grande mudança ocorreu na vida do Sr. Wang. O seu ar soberbo
e “snobe” mudou-se e ele veio a tornar-se num seguidor simples e devoto do
humilde Nazareno. Deus usou um sonho para despertar a sua consciência, o que
não é incomum na China. Certa noite, ele sonhou que estava lutando para sair de
um poço fundo e lamacento. Por mais que se esforçasse, não encontrava meio de
escapar. Quando estava prestes a desistir, ele olhou para cima e viu Jonathan
com outro missionário, estendendo-lhe as suas mãos para o salvar. Ainda assim,
tentou achar uma outra forma de sair; finalmente, sem saída, permitiu que os
dois o puxassem para fora.
Este
homem tornou-se, depois, um dos evangelistas mais dedicados da equipe do meu
marido. Durante muitos anos, os seus dons maravilhosos foram usados, para a
glória do seu Mestre, na obra entre a classe mais intelectual no distrito de
Changtefu.
Outra
ponta de luz, no meio da escuridão daqueles primeiros dias, foi a conversão
impressionante de Wang Fu-Lin. Durante muitos anos, fora um contador de histórias
público; porém, quando Jonathan o encontrou, a sua vida estava em ruínas devido
ao vício do ópio. Ele aceitou o Evangelho, mas durante muito tempo ele não
conseguia obter força suficiente para romper com o hábito que o escravizara.
Vez após vez, ele tentava fazer isso e falhava miseravelmente.
O
pobre homem estava quase sem esperanças quando, um dia, Jonathan o trouxe à
missão na sua carroça. Os dez dias que se seguiram nunca serão esquecidos por
aqueles que viram Wang Fu-Lin lutando para sobreviver física e espiritualmente.
Com certeza, nada além da oração o poderia ter feito vencer. No final dos dez
dias, o poder do ópio estava quebrado e Wang Fu-Lin saiu da luta como um novo
homem em Jesus Cristo.
Cura Divina
Logo
depois de chegar na China, ouvi um testemunho de Hunter Corbett, um dos missionários
mais dedicados e santos que já conheci, o qual Deus usou mais tarde para me
salvar e me impedir de voltar para o Canadá.
Dr.
Corbett contou que todo ano, durante quinze anos, ele tinha estado acamado com
aquela terrível praga do Oriente, a disenteria. Finalmente, perante a sua
doença permanente, os médicos deram-lhe como
diagnóstico a decisão definitiva de ele regressar imediatamente à sua terra
natal e abandonar o serviço missionário na China.
"Porém",
disse aquele grande homem, "eu sabia que Deus me havia chamado para a
China, e, também sabia que Deus não mudava. Então, o que poderia eu fazer? Não
ousava abandonar a minha chamada missionário; assim, determinei que se eu não
podia viver na China, só me restava morrer ali. Daquele dia em diante, a doença
perdeu o seu poder sobre mim."
Nessa
época, já havia quase trinta anos que o Dr. Corbett estava na China. Ele viveu
muitos anos depois e faleceu com quase noventa anos de idade.
Pois
bem, durante vários anos eu também passei a sofrer daquela mesma doença. A cada
ano que passava, a doença parecia fortalecer-se mais e apoderar-se mais de mim.
Finalmente, o meu marido trouxe-me a decisão dos médicos, dizendo que eu teria
de regressar para o Canadá. Enquanto ali estava deitada, enferma e
enfraquecida, a tentação de ceder e entregar os pontos veio com muita força.
Lembrei-me, então, do testemunho do Dr. Corbett e da minha própria chamada, que
era tão claro, e senti que voltar seria ir contra a minha própria consciência.
Determinei, assim, fazer o que ele fizera: entregar-me nas mãos do Senhor,
quer para a vida, quer para a morte. Isso aconteceu há mais de vinte anos, e,
desde então, tive muito pouco problema com aquela temida doença.
Sim,
quanto maior a necessidade, quanto mais amarga a extremidade, maior é a
oportunidade para Deus revelar o Seu grande poder nas nossas vidas, se
tão-somente LHE dermos uma chance através da obediência inabalável, seja qual
for o custo.
“No dia em
que eu clamei, me escutaste; alentaste-me, fortalecendo a minha alma.” (Sl 138:3, ARC, Pt)
Durante
o nosso quarto ano na China, quando estávamos passando a estação do calor perto
do litoral, o nosso pequenino filho, com dezoito meses, ficou gravemente doente
com disenteria. Depois de lutar vários dias pela vida da criança, começamos a
sentir que o anjo da morte estava prestes a chegar.
Minha
alma inteira rebelava-se; parecia, até mesmo, que eu odiava a Deus. Eu não
podia ver nada senão cruel injustiça em tudo isso, e o meu filho parecia estar
partindo rapidamente. Ajoelhei-me com meu marido perto do berço e ele suplicou-me
intensamente para que eu cedesse a minha vontade e entregasse o meu filho a
Deus. Depois de uma longa e amarga peleja, Deus obteve a vitória, e falei com o
meu marido que estava entregando o filho ao Senhor. Em seguida, Jonathan orou,
entregando a preciosa alma do nosso filho ao cuidado do nosso Pai.
Enquanto
ele orava, notei que a respiração irregular e ofegante da criança havia parado.
Pensando que o meu tesouro já havia partido, procurei rapidamente uma luz, pois
estava escuro. Ao examinar o rosto dele, porém, percebi que acabara de
adormecer num sono profundo e natural, que durou a maior parte da noite. No dia
seguinte, ele estava praticamente curado da disenteria.
Para
mim, sempre me pareceu que o Senhor me tinha estado provando até ao último extremo
da minha força natural. Depois, quando Lhe cedi a Ele o meu maior tesouro e
coloquei o Senhor em primeiro lugar, Ele devolveu-me a criança.
Fonte: in “O Arauto da Sua Vinda” - Ano 22, nº 6 - novembro/dezembro
de 2004
Florence
Rosalind Bell-Smith (6 de maio de 1864 - 31 de maio de 1942) (nome de casada
Rosalind Goforth) nasceu em Kensington Gardens, Londres, Inglaterra, e mudou-se
com os pais para Montreal, Canadá, três anos depois.
O
pai dela era um artista. Rosalind formou-se na Escola de Artes de Toronto em
maio de 1885. Ela casou-se com Jonathan Goforth em 25 de outubro de 1887 na
Knox Presbyterian Church, Toronto, Canadá. Eles estiveram casados durante
quarenta nove anos e tiveram onze filhos (Gertrude, Donald, Paul, Florença,
Helen, Grace, Ruth, William, [a Amélia] Constance, Mary, e [o John] o
Frederick), cinco deles morreram ainda crianças ou muito jovens. Ela foi a
autora de “Eu sei que Deus responde às orações” (1921), da biografia do marido
dela, “Goforth na China” (1937), e “Memórias da Esposa de um Missionário”
(1940).
A
vida de um missionário na China durante o final do século XIX e início do
século XX incluía muitos fardos físicos, emocionais e espirituais. Entre estes
era preciso aprender um idioma novo, ajustar-se a uma dieta diferente, deixar
os modos da cultura ocidental para adotar os modos da cultura chinesa, enquanto
suportavam o motim político ininterrupto e a guerra.
Jonathan
e Rosalind Goforth foram missionários presbiterianos canadianos (se bem que
Rosalind tenha nascido em Londres, como acima referi), que trabalharam entre os
Chineses durante quarenta e seis anos. Eles suportaram a perda de cinco dos
filhos ainda crianças em terras chinesas. Durante a Guerra dos Boxers
(1899-1900), que é chamada também de Movimento Yijetuan, e que foi um movimento
popular antiocidental e anticristão na China, os missionários cristãos que
trabalhavam na China foram expulsos, perseguidos, presos e mortos. A história
do casal Goforth é um exemplo “paradigmático” das vidas dos missionários que
pregaram no passado o Evangelho na China.
Rosalind
Goforth no seu livro “Eu sei que Deus responde às orações” dá-nos um relato das
experiências fantásticas da providência de Deus na vida que ela e o seu marido
(a sua família, melhor dito, a sua família espiritual) viveram inteiramente
pela fé, enquanto foram missionários na China. Nele somos presenteados com histórias
maravilhosas sobre como orar rodeados por dificuldades, sofrimento, escassez de
recursos, tribulações e perseguições. Nos seus relatos contados na primeira
pessoa percebemos o quanto Deus está próximo de nós e como Ele participa e Se
interessa pelas nossas vidas agindo poderosamente nos mínimos pormenores da
vida dos seus servos, como a casa onde moravam, as roupas de vestir, o pão de
cada dia e os livramentos de morte. Muitos dos milagres que aconteceram na vida
daquele casal são revelados em histórias, que descrevem os instantes em que
eles mais precisavam do socorro do Senhor, e como Ele movia alguém do outro
lado do mundo para interceder em oração e enviar ajuda. Quantas vezes eles
usaram a oração como último recurso e o Senhor atendia-os na forma de uma carta
que chegava com notícias e ajuda. É um livro para ler e ser relido.
Mas,
dando toda a glória a Deus, pelo extraordinário e poderoso ministério missionário
do Casal Goforth desenvolvido na China, para nós hoje, podemos ainda reter, o
que me parece mais relevante, é que o DEUS que “Eu sei que Deus responde às
orações” de Rosalind Goforth, é ainda o nosso Deus! Deus é o mesmo, os Seus
recursos são os mesmos, o Seu amor é o mesmo, em tudo é o mesmo, “Jesus Cristo é
o mesmo ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13:8, ARC, Pt), o Deus que respondeu a
este denodado casal de missionários cristãos nas terras do Sol nascente também
nos responderá hoje a nós! Por isso… joelhos em terra, porque “para mim, bom é
aproximar-me de Deus; pus a minha confiança no SENHOR Deus” (Sl 73:28 ARC, Pt)
porque “Estamos nEle” (1Jo 4:13, ARC, Pt) ou na tradução da KJV “Nós moramos nEle.”(1Jo
4:13), e, como muito bem expressa e condensa este pensamento o profeta
Sofonias “O SENHOR, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para te salvar” (Sf
3:17, ARC, Pt)!
1 comentário:
Testemunho muito edificante. Obrigado!
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