… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

segunda-feira, 8 de maio de 2017

EU SEI QUE DEUS RESPONDE ÀS ORAÇÕES - Parte I, Rosalind Goforth


Eu Sei Que Deus Responde Às Orações
Parte I

Rosalind Goforth
  
UMA CARTA DO CONHECIDO MISSIONÁRIO HUDSON TAYLOR

Em outubro de 1887, pouco antes do nosso casamento, meu marido foi aceito pela Igreja Presbiteriana do Canadá para abrir um novo campo missionário no norte da província de Honan, na China. Partimos de navio em janeiro de 1888 e chegamos à China no mês de março. Nem sonhávamos das enormes dificuldades da tarefa que nos esperava.

Uma carta do conhecido missionário Hudson Taylor nos deu a primeira ideia do desafio:

"Estamos sabendo que o norte de Honan é o campo onde irão trabalhar. A nossa missão está tentando há dez anos entrar naquela província e só agora conseguimos uma pequena porta. É uma das províncias mais hostis a estrangeiros na China. Irmãos, se quiserem entrar ali, terão de avançar de joelhos..."

Essas palavras marcaram os nossos primeiros anos de trabalho pioneiro naquele lugar. A nossa força como missão e como indivíduos, durante aqueles anos tão carregados de perigos e dificuldades, derivou somente do nosso reconhecimento de que a nossa tarefa, sem auxílio divino, era totalmente impossível.

APOIO DA BASE EM ORAÇÃO

Ficámos, inicialmente, numa outra missão, fora da província de Honan, para aprender o idioma. Meu marido estava encontrando grande dificuldade para dominar a língua; embora estudasse fielmente durante muitas horas, o seu progresso era doloroso e lento. Junto com um colega, costumava ir regularmente a um lugar público para treinar, pregando em chinês ao povo; entretanto, mesmo estando há mais tempo no país do que seu o colega, o povo pedia sempre que fosse seu colega missionário que pregasse, porque conseguia compreendê-lo melhor.

Um dia, logo antes de sair para a pregação, como costume, o meu marido disse-me: "Se o Senhor não me der ajuda sobrenatural no domínio do idioma, receio que fracassarei como missionário."

Algumas horas depois, ele voltou, com o seu rosto radiante de alegria. Contou-me que sentiu uma intervenção muito clara quando chegou a sua vez de falar: as frases vieram à sua mente como nunca antes, e, não só, conseguiu fazer-se entender, mas várias pessoas vieram à frente, depois, para conversar mais com ele. De tão maravilhado e encorajado que ficou, fez uma nota do incidente no seu diário.

Mais de dois meses depois do ocorrido, chegou uma carta de um estudante da nossa cidade de origem no Canadá, dizendo que em determinada noite um grupo se reunira, especialmente, para orar por nós. O poder na oração foi tamanho e a presença de Deus tão sensível que resolveram escrever e perguntar se houve alguma intervenção especial naquela data. Conferindo no seu diário, Jonathan verificou que o tempo em que decorrera aquela reunião de oração correspondia, exactamente, ao momento da ajuda sobrenatural na sua pregação.

Isto mostra a importância das pessoas que ficaram no país de origem orarem em favor daqueles que saíram para o campo missinário.

PROTEÇÃO DE PERIGO

Durante o tempo em que aguardávamos a possibilidade de nos mudarmos para Honan, nós, as esposas dos missionários, passávamos constantemente pela angústia. Cada vez que os maridos saíam para fazer viagens pela região, os nossos corações enchiam-se de temor, com receio de que nunca mais os víssemos. O perigo que corriam era muito grande, no entanto, o Senhor, na Sua misericórdia, ouvia as nossas orações. Embora frequentemente passassem por provações e dificuldades, nenhum deles chegou a ser gravemente ferido. A seguir, relato uma das experiências que ilustra como o Senhor os guardava naqueles dias.

Dois irmãos do nosso grupo missionário alugaram uma propriedade numa vila dentro da província de Honan, perto do rio Wei, a pouca distância da fronteira. Foram para lá, com intenção de passar o inverno, mas uma perseguição repentina e violenta irrompeu assim que acabaram de se instalar. Uma multidão atacou o local da missão e saqueou tudo que tinham. Os dois missionários foram agredidos e um deles foi arrastado à volta do pátio. Finalmente, foram deixados, as suas vidas foram poupadas, porém, sem possessão alguma.

A situação estava bastante crítica, pois seus os amigos mais próximos estavam a vários dias de viagem, e eles não possuíam dinheiro, roupa de cama, ou roupas pessoais, além do que tinham no corpo. O rigoriso inverno já havia começado.

Nas sua extremidade, ajoelharam-se e entregaram-se ao cuidado do Senhor. Fiel às Suas promessas, o Senhor respondeu-lhes, pois, enquanto eles ainda oravam, um missionário de um posto distante estava a caminho. Ele chegou inesperadamente, sem saber o que acontecera, poucas horas depois dos saques. A sua chegada em tal momento tão oportuno encheu os corações do povo nativo da vila de temor. O dinheiro e os bens foram devolvidos, e, daquele tempo em diante, a oposição violenta cessou.

DIRIGINDO AS MÃOS DO MÉDICO

Poucos meses depois do incidente acima referido, conseguimos mudar-nos para a província de Honan, juntamente com algumas outras famílias. Embora não houvesse violência, o coração do povo chinês parecia duro como pedra. Odiavam-nos e desconfiavam de nós como se fôssemos os seus piores inimigos. Este distrito era conhecido pelo seu espírito turbulento e pela sua hostilidade contra os estrangeiros, e nós, como missionários, frequentemente corríamos grave perigo.

Muitas vezes percebíamos que nós, assim como os co-obreiros em outros postos missionários, éramos guardados de sérios riscos somente pelo poder protetor e soberano de Deus, em resposta às muitas orações que subiam em nosso favor, nesse momento tão crítico da história da nossa missão. A seguir, relato um exemplo concreto de como Deus ouvia as nossas orações naquele tempo.

Contávamos, no nosso grupo, com um missionário que era médico, um homem com talentos admiráveis. Possuía anos de treinamento especializado e experiência prática em hospitais e era considerado um dos médicos mais destacados da sua cidade de origem. Aqui na missão, porém, passaram-se meses sem aparecer um caso significativo para ser tratado. Além de não conhecer o médico, nem as suas habilidades, o povo tinha medo de se colocar em suas mãos. Começámos a orar especificamente para que o Senhor enviasse pessoas com essa necessidade ao hospital, que pudessem abrir o coração do povo para connosco e para a nossa mensagem.

Em pouco tempo, vimos as nossas orações respondidas acima de toda expectativa. Vários casos importantes apareceram, quase ao mesmo tempo, um tão sério que o médico hesitou por alguns dias antes de o operar. Quando finalmente efetuou a operação, as mãos do médico foram fortalecidas pelas nossas orações, o paciente sobreviveu com segurança, e, poucos dias depois, estava ele andando pela cidade, como milagre vivo, diante do povo.

Muita coisa dependia desse resultado e das outras cirurgias delicadas que o médico realizou naquela mesma época. Se algum dos pacientes tivesse morrido nas suas mãos, teria sido suficiente para causar a destruição de todas as propriedades da missão e a morte de todos os missionários. Três anos depois, os registros do hospital mostravam uma média de 28 000 (vinte e oito mil) tratamentos por ano!

NOVOS CONVERTIDOS

A nossa oração constante era que o Senhor nos desse convertidos desde o princípio. Sabíamos de missionários na Índia, na China e em outros lugares, que haviam trabalhado durante muitos anos sem ganhar um convertido, contudo nós não acreditávamos que essa era a vontade de Deus para nós. Críamos que a Sua vontade e prazer era salvar homens e mulheres por meio dos Seus canais humanos, e, por que não desde o princípio?

O primeiro a ser convertido foi Wang Feng-ao, que foi connosco para Honan como professor particular do meu marido. Era um homem com um alto grau de educação, equivalente a um mestrado no Ocidente, e era um dos seguidores mais orgulhosos e altivos de Confúcio. Ele desprezava os missionários e os seus ensinamentos, e tão grande era a sua hostilidade que batia na sua esposa de cada vez que ela vinha para nos ver ou para ouvira «nossa» mensagem. Mesmo assim, Jonathan continuava orando por esse homem e usava toda a sua influência para ganhá-lo para Cristo.

Poucos meses depois, uma grande mudança ocorreu na vida do Sr. Wang. O seu ar soberbo e “snobe” mudou-se e ele veio a tornar-se num seguidor simples e devoto do humilde Nazareno. Deus usou um sonho para despertar a sua consciência, o que não é incomum na China. Certa noite, ele sonhou que estava lutando para sair de um poço fundo e lamacento. Por mais que se esforçasse, não encontrava meio de escapar. Quando estava prestes a desistir, ele olhou para cima e viu Jonathan com outro missionário, estendendo-lhe as suas mãos para o salvar. Ainda assim, tentou achar uma outra forma de sair; finalmente, sem saída, permitiu que os dois o puxassem para fora.

Este homem tornou-se, depois, um dos evangelistas mais dedicados da equipe do meu marido. Durante muitos anos, os seus dons maravilhosos foram usados, para a glória do seu Mestre, na obra entre a classe mais intelectual no distrito de Changtefu.

Outra ponta de luz, no meio da escuridão daqueles primeiros dias, foi a conversão impressionante de Wang Fu-Lin. Durante muitos anos, fora um contador de histórias público; porém, quando Jonathan o encontrou, a sua vida estava em ruínas devido ao vício do ópio. Ele aceitou o Evangelho, mas durante muito tempo ele não conseguia obter força suficiente para romper com o hábito que o escravizara. Vez após vez, ele tentava fazer isso e falhava miseravelmente.

O pobre homem estava quase sem esperanças quando, um dia, Jonathan o trouxe à missão na sua carroça. Os dez dias que se seguiram nunca serão esquecidos por aqueles que viram Wang Fu-Lin lutando para sobreviver física e espiritualmente. Com certeza, nada além da oração o poderia ter feito vencer. No final dos dez dias, o poder do ópio estava quebrado e Wang Fu-Lin saiu da luta como um novo homem em Jesus Cristo.

Cura Divina

Logo depois de chegar na China, ouvi um testemunho de Hunter Corbett, um dos missionários mais dedicados e santos que já conheci, o qual Deus usou mais tarde para me salvar e me impedir de voltar para o Canadá.

Dr. Corbett contou que todo ano, durante quinze anos, ele tinha estado acamado com aquela terrível praga do Oriente, a disenteria. Finalmente, perante a sua doença  permanente, os médicos deram-lhe como diagnóstico a decisão definitiva de ele regressar imediatamente à sua terra natal e abandonar o serviço missionário na China.

"Porém", disse aquele grande homem, "eu sabia que Deus me havia chamado para a China, e, também sabia que Deus não mudava. Então, o que poderia eu fazer? Não ousava abandonar a minha chamada missionário; assim, determinei que se eu não podia viver na China, só me restava morrer ali. Daquele dia em diante, a doença perdeu o seu poder sobre mim."

Nessa época, já havia quase trinta anos que o Dr. Corbett estava na China. Ele viveu muitos anos depois e faleceu com quase noventa anos de idade.

Pois bem, durante vários anos eu também passei a sofrer daquela mesma doença. A cada ano que passava, a doença parecia fortalecer-se mais e apoderar-se mais de mim. Finalmente, o meu marido trouxe-me a decisão dos médicos, dizendo que eu teria de regressar para o Canadá. Enquanto ali estava deitada, enferma e enfraquecida, a tentação de ceder e entregar os pontos veio com muita força. Lembrei-me, então, do testemunho do Dr. Corbett e da minha própria chamada, que era tão claro, e senti que voltar seria ir contra a minha própria consciência. Determinei, assim, fazer o que ele fizera: entregar-me nas mãos do Senhor, quer para a vida, quer para a morte. Isso aconteceu há mais de vinte anos, e, desde então, tive muito pouco problema com aquela temida doença.

Sim, quanto maior a necessidade, quanto mais amarga a extremidade, maior é a oportunidade para Deus revelar o Seu grande poder nas nossas vidas, se tão-somente LHE dermos uma chance através da obediência inabalável, seja qual for o custo.

“No dia em que eu clamei, me escutaste; alentaste-me, fortalecendo a minha alma.” (Sl 138:3, ARC, Pt)

Durante o nosso quarto ano na China, quando estávamos passando a estação do calor perto do litoral, o nosso pequenino filho, com dezoito meses, ficou gravemente doente com disenteria. Depois de lutar vários dias pela vida da criança, começamos a sentir que o anjo da morte estava prestes a chegar.

Minha alma inteira rebelava-se; parecia, até mesmo, que eu odiava a Deus. Eu não podia ver nada senão cruel injustiça em tudo isso, e o meu filho parecia estar partindo rapidamente. Ajoelhei-me com meu marido perto do berço e ele suplicou-me intensamente para que eu cedesse a minha vontade e entregasse o meu filho a Deus. Depois de uma longa e amarga peleja, Deus obteve a vitória, e falei com o meu marido que estava entregando o filho ao Senhor. Em seguida, Jonathan orou, entregando a preciosa alma do nosso filho ao cuidado do nosso Pai.

Enquanto ele orava, notei que a respiração irregular e ofegante da criança havia parado. Pensando que o meu tesouro já havia partido, procurei rapidamente uma luz, pois estava escuro. Ao examinar o rosto dele, porém, percebi que acabara de adormecer num sono profundo e natural, que durou a maior parte da noite. No dia seguinte, ele estava praticamente curado da disenteria.

Para mim, sempre me pareceu que o Senhor me tinha estado provando até ao último extremo da minha força natural. Depois, quando Lhe cedi a Ele o meu maior tesouro e coloquei o Senhor em primeiro lugar, Ele devolveu-me a criança.

Fonte: inO Arauto da Sua Vinda” - Ano 22, nº 6 - novembro/dezembro de 2004

Florence Rosalind Bell-Smith (6 de maio de 1864 - 31 de maio de 1942) (nome de casada Rosalind Goforth) nasceu em Kensington Gardens, Londres, Inglaterra, e mudou-se com os pais para Montreal, Canadá, três anos depois.

O pai dela era um artista. Rosalind formou-se na Escola de Artes de Toronto em maio de 1885. Ela casou-se com Jonathan Goforth em 25 de outubro de 1887 na Knox Presbyterian Church, Toronto, Canadá. Eles estiveram casados durante quarenta nove anos e tiveram onze filhos (Gertrude, Donald, Paul, Florença, Helen, Grace, Ruth, William, [a Amélia] Constance, Mary, e [o John] o Frederick), cinco deles morreram ainda crianças ou muito jovens. Ela foi a autora de “Eu sei que Deus responde às orações” (1921), da biografia do marido dela, “Goforth na China” (1937), e “Memórias da Esposa de um Missionário” (1940).

A vida de um missionário na China durante o final do século XIX e início do século XX incluía muitos fardos físicos, emocionais e espirituais. Entre estes era preciso aprender um idioma novo, ajustar-se a uma dieta diferente, deixar os modos da cultura ocidental para adotar os modos da cultura chinesa, enquanto suportavam o motim político ininterrupto e a guerra.

Jonathan e Rosalind Goforth foram missionários presbiterianos canadianos (se bem que Rosalind tenha nascido em Londres, como acima referi), que trabalharam entre os Chineses durante quarenta e seis anos. Eles suportaram a perda de cinco dos filhos ainda crianças em terras chinesas. Durante a Guerra dos Boxers (1899-1900), que é chamada também de Movimento Yijetuan, e que foi um movimento popular antiocidental e anticristão na China, os missionários cristãos que trabalhavam na China foram expulsos, perseguidos, presos e mortos. A história do casal Goforth é um exemplo “paradigmático” das vidas dos missionários que pregaram no passado o Evangelho na China.

Rosalind Goforth no seu livro “Eu sei que Deus responde às orações” dá-nos um relato das experiências fantásticas da providência de Deus na vida que ela e o seu marido (a sua família, melhor dito, a sua família espiritual) viveram inteiramente pela fé, enquanto foram missionários na China. Nele somos presenteados com histórias maravilhosas sobre como orar rodeados por dificuldades, sofrimento, escassez de recursos, tribulações e perseguições. Nos seus relatos contados na primeira pessoa percebemos o quanto Deus está próximo de nós e como Ele participa e Se interessa pelas nossas vidas agindo poderosamente nos mínimos pormenores da vida dos seus servos, como a casa onde moravam, as roupas de vestir, o pão de cada dia e os livramentos de morte. Muitos dos milagres que aconteceram na vida daquele casal são revelados em histórias, que descrevem os instantes em que eles mais precisavam do socorro do Senhor, e como Ele movia alguém do outro lado do mundo para interceder em oração e enviar ajuda. Quantas vezes eles usaram a oração como último recurso e o Senhor atendia-os na forma de uma carta que chegava com notícias e ajuda. É um livro para ler e ser relido.

Mas, dando toda a glória a Deus, pelo extraordinário e poderoso ministério missionário do Casal Goforth desenvolvido na China, para nós hoje, podemos ainda reter, o que me parece mais relevante, é que o DEUS que “Eu sei que Deus responde às orações” de Rosalind Goforth, é ainda o nosso Deus! Deus é o mesmo, os Seus recursos são os mesmos, o Seu amor é o mesmo, em tudo é o mesmo, “Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13:8, ARC, Pt), o Deus que respondeu a este denodado casal de missionários cristãos nas terras do Sol nascente também nos responderá hoje a nós! Por isso… joelhos em terra, porque “para mim, bom é aproximar-me de Deus; pus a minha confiança no SENHOR Deus” (Sl 73:28 ARC, Pt) porque “Estamos nEle” (1Jo 4:13, ARC, Pt) ou na tradução da KJV “Nós moramos nEle.”(1Jo 4:13), e, como muito bem expressa e condensa este pensamento o profeta Sofonias “O SENHOR, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para te salvar” (Sf 3:17,  ARC, Pt)!

1 comentário:

Unknown disse...

Testemunho muito edificante. Obrigado!