J. N. Darby
A Santidade
“Como é santo aquele que vos chamou, sede
vós, também, santos, em toda a vossa maneira de viver; Porquanto está escrito:
Sede santos, porque eu sou santo.” (1Pd 1:15-16, ARC, Pt)
“PORTANTO nós, também, pois que estamos rodeados de
uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado, que
tão de perto nos rodeia, e corramos, com paciência, a carreira que nos está
proposta, Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que
lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à
dextra do trono de Deus. Considerai, pois, aquele que suportou tais
contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais,
desfalecendo em vossos ânimos. Ainda não resististes até ao sangue, combatendo
contra o pecado, E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como
filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, e não desmaies quando,
por ele, fores repreendido; Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a
qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como
filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem
disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não
filhos. Além do que tivemos os nossos pais, segundo a carne, para nos
corrigirem, e nós os reverenciámos; não nos sujeitaremos, muito mais, ao Pai
dos espíritos, para vivermos? Porque aqueles, na verdade, por um pouco de
tempo, nos corrigiam, como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito,
para sermos participantes da sua santidade. E, na verdade, toda a correção, ao
presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas, depois, produz um
fruto pacífico de justiça, nos exercitados por ela. Portanto, tornai a levantar
as mãos cansadas, e os joelhos desconjuntados. E fazei veredas direitas para os
vossos pés, para que o que manqueja se não desvie inteiramente, antes seja
sarado. Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o
Senhor, Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que
nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se
contaminem. (Hb 12:1-15, ARC, Pt)
No começo deste capítulo achamos duas exortações:
não menosprezar a disciplina do Senhor e não desmaiar quando se é repreendido
por Ele (v. 5). Duas coisas convergem para constituir a disciplina: a inimizade
de Satanás e a bondade de Deus que nos castiga, tal como o vemos no caso do
Job. A prova de que a disciplina produziu o seu fruto é que em vez de pensar em
nós mesmos, vemos nela a Deus que atua para quebrantar a nossa vontade e
alcançar o mal nos nossos corações, com o fim de nos submeter a Ele. Quando a
disciplina nos desanima é porque há em nós uma vontade que não quer ser
quebrantada; há algo em nós que tem de ser repreendido, e Deus castiga-nos para
nosso proveito, porque nos ama e para que participemos da sua santidade.
Deus tem sempre por objeto a nossa comunhão eterna
com Ele, enquanto que o objeto da nossa vontade está sempre fixo nas
circunstâncias pressentes. Pois bem, se a nossa vontade tem um objeto e a
vontade de Deus tem outro, necessariamente haverá uma luta e circunstâncias
penosas destinadas aquebrantar-nos.
Amiúde as ideias dos cristãos a respeito da santificação
estão muito equivocadas. Quereriam ser mais Santos com o fim de ser mais
agradáveis a Deus, quer dizer, referem a si mesmos as suas relações com Deus,
enquanto que Deus refere tudo a Si mesmo. A Sua graça atua tanto para nos
santificar como para nos justificar.
Na Palavra de Deus, a santificação é atribuída a
cada pessoa da Trindade, ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. É atribuída à
vontade de Deus (Hb 10:10), e de um modo especial ao Pai (Jo 17:17). Deus
tem-Se proposto pôr-nos à parte para Si mesmo. Também somos santificados,
apartados para Deus, pelo sangue de Cristo, e neste sentido fala-se da
santificação na epístola aos Hebreus (10:10, 29; 13:12). Frequentemente a
santificação é-nos apresentada pelo Espírito (2Ts 2:13; 1Pd 1:2; etc.), pois Deus
faz tudo por meio do Espírito, quer seja que Se ocupe do caos na terra (Gn
1:2), ou do caos em nossos corações. Deus quer-nos apegar a Cristo pelo
Espírito Santo, depois de nos resgatar pelo Seu sangue. Assim, a santificação é
fruto da Trindade.
Uma vez separados assim para Deus, o Espírito
Santo, que nos dá uma posição de santidade, também nos comunica uma vida. Os
afetos do cristão, uma vez purificado pela fé, vêem-se fortemente atraídos para
o Senhor Jesus e purificam o coração. Também Hebreus 12:14 nos exorta a seguir
a santidade. A vida santa manifesta-se através de toda a espécie de
dificuldades; é um exercício de fé, e, quanto ao aspecto prático, o progresso
na santificação é levado a cabo, pela fé, contemplando a Jesus, contemplação
que purifica o coração ao encher o dEle. Sem a santidade prática ninguém verá o
Senhor.
Quer se trate da sã doutrina, quer do amor
fraterno, quer da sabedoria do alto, ou de ver o Senhor, estas coisas não se
acham a não ser num coração limpo, o único que pode gostar da comunhão atual e
prática com Deus.
A santidade é ter parte em algo que está em Deus; a
carne não tem parte alguma nisso. A santidade do cristão é nada menos que a
santidade de Deus mesmo, e se estamos separados da comunhão com Deus, estamo-lo
da fonte da santidade. Este poder acha-se em Deus, e não em nós. Todo aquele
que tem a esperança de ser semelhante a Jesus na glória “se purifique a si
mesmo, assim como ele é puro” (1Jo 3:3). Todo aquilo que não corresponde a essa
pureza não satisfaz a vida de Jesus em nós. Temos essa vida e Jesus está na
glória. Nada em nós nos pode fazer felizes salvo o que satisfaz a Jesus no Céu.
A carne não pode ter parte nisto.
Precisamos de estar vigilantes, pois tudo o que há
no mundo é utilizado por Satanás para nos fazer perder a comunhão com Deus e
estorvar a oração que nos põe em contacto direto com Ele. Também precisamos
meditar na Palavra pensando no que Jesus é, assim como na Sua glória atual e
futura. Só se pode desfrutar disso por meio da meditação. Se estas coisas se
acham nas nossas mentes de forma vaga, não é de estranhar que façamos pouco
caso delas, e se fazemos pouco caso delas, isso prova que o nosso coração tem
pouca capacidade para agarrar o que Deus nos dá. Não é de estranhar, pois, que
sejamos débeis.
O caráter e a medida de nossa santidade é a santidade de Deus mesmo.
Se, para levá-la a cabo, procuramos algo mais próximo a nós, que é Cristo na
glória, e, ao contemplá-Lo, purificamo-nos assim como Ele é puro. Por isso o
cristão deve evitar cuidadosamente tudo aquilo que o impede de seguir a
santidade, até mesmo coisas que se consideram inocentes, pois nada que desvie
da comunhão com Deus é inocente. Quanto ao mais, aplicado às coisas, esse termo
não figura na Palavra.
John Nelson Darby (1800-1882)
Tradução de Carlos
António da Rocha
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Esta tradução é de
livre utilização, desde que a sua ortografia seja respeitada na íntegra porque
já está traduzida no Português do Novo Acordo Ortográfico e que não seja nunca
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