… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

O ESPÍRITO SANTO CONVENCENDO O MUNDO DO PECADO, DA JUSTIÇA E DO JULGAMENTO




George Whitefield
 O Espírito Santo convencendo o Mundo do Pecado, da Justiça e do Julgamento


 “E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo.” (Jo 16:8, ARC, Pt)



Estas palavras contêm parte de uma grande promessa, que o Bendito Jesus Se agradou fazer aos Seus discípulos chorosos e pesarosos. O momento aproximava-se, no qual o Filho do Homem ia primeiro ser elevado na cruz, e depois para o céu. Amigo afável, maravilhoso amigo afável! Este Sumo Sacerdote tinha sido misericordioso para com os Seus discípulos durante o tempo do Seu tabernáculo entre eles. Ele teve compaixão das suas enfermidades, respondeu por eles quando eram assaltados pelos seus inimigos, e pô-los no caminho correto, quer em princípio quer na prática. Ele não os chamou, nem os usou como servos, mas como amigos; e revelou-lhes os Seus segredos de vez em quando. Ele abriu-lhes o seu entendimento, para que eles pudessem compreender as escrituras; explicou-lhes os mistérios ocultos do reino de Deus, quando falou com os demais em parábolas: mais ainda, Ele tornou-Se o servo de todos eles, e até condescendeu em lavar-lhes os pés. O pensamento de se separarem de tão querido e amoroso Senhor como este, especialmente por um longo período, deveria tê-los afetado muito. Quando, em certa ocasião, Ele tentou estar ausente deles somente por uma noite, é-nos dito, que Ele estava obrigado a constrangê-los para que O deixassem. Não é para estranhar, que quando Ele então os informou de que devia ausentar-Se para sempre, e que na sua ausência os Fariseus os expulsariam das suas sinagogas, e que os excomungariam; sim, que viria a hora, em que qualquer que os matasse, pensaria que faria um serviço a Deus (uma profecia, que alguém poderia imaginar, projetada duma maneira especial para os ministros sofredores da sua geração); não é de admirar, digo, considerando tudo isto nos diz no versículo 6. A tristeza encheu os vossos corações: "Porque isso vos tenho dito, o vosso coração se encheu de tristeza."


A expressão é muito enfática; os seus corações estavam tão cheios de preocupação, que estavam prontos para estalar. Portanto, para os reconciliar da sua triste dispensação, o nosso querido e compassivo Redentor mostrou-lhes a necessidade em que Se encontrava de os deixar; "Todavia, digo-vos a verdade: que vos convém que eu vá:’’ Como se Ele lhes tivesse dito, não penseis, meus queridos discípulos, que eu os deixo com irritação: "não, é para vosso bem, para vosso benefício que eu vá: porque se eu não for, se Eu não morrer na cruz pelos vossos pecados, e Me ergue-Se outra vez para vossa justificação, e subisse para o céu para fazer intercessão, e implorasse os Meus méritos perante o Trono de Meu Pai; o Consolador, O Espírito Santo, não poderia vir para vós; mas se Eu for, enviá-lo-ei para vós. E para que ele soubessem o que Ele ia fazer, “Quando Ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo.”



A pessoa referida nas palavras do versículo, é claramente o Consolador, o Espírito Santo; e a promessa foi primeiro feita aos apóstolos de nosso Senhor. Mas, se bem que ela tivesse  sido primeiramente feita a eles, e fosse literalmente e extraordinariamente cumprida no dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo veio como um vento veemente e impetuoso, e também quando três mil foram compungidos no coração pelo sermão do Pedro; agora, como os Apóstolos eram os representantes de todo o corpo de crentes, nós devemos inferir, que esta promessa deve ser vista, como se fosse falada para nós, e para os nossos filhos, e para tantos como o Senhor nosso Deus chamar.



A minha ideia destas palavras, é mostrar a maneira como o Espírito Santo geralmente trabalha nos corações daqueles, os quais através da Sua graça, são feitos vasos de misericórdia, e transladados do reino da escuridão para o reino do querido Filho de Deus.



Digo, geralmente: Porque assim como Deus é Agente Soberano, o Seu Santo Espírito sopra não só sobre quem quer, mas quando e como Ele quer soprar. Portanto longe esteja de mim confinar o Todo-Poderoso somente uma maneira de atuar, ou dizer que tudo submete a um só grau de convicção: não, há uma santa variedade nos métodos de Deus para chamar a casa a seus eleitos. Mas isto podemos afirmar com segurança, que onde quer que há um trabalho de verdadeira convicção e conversão forjado nos corações dos pecadores, o Espírito Santo, ou por um maior ou por menor grau de problemas no interior da alma, faz o que nosso Senhor disse aos Seus discípulos, nas palavras do versículo, que Ele faria quando viesse.



Se qualquer das vossas ridículas religiões íntimas, ou pensamentos de que não há tal coisa, como o nosso sentir ou receber o Espírito Santo, temo que a minha pregação seria completamente uma loucura para vós, e que não me entenderíeis mais, como se eu vos falasse numa língua desconhecida. Mas como a promessa no versículo, é feita ao mundo, e como sei que será cumprida até que o tempo não exista mais, eu procederia a explicar-vos a maneira geral mediante a qual o Espírito Santo trabalha em cada coração dos pecadores convertidos ou transformados; e espero que o Senhor, ainda enquanto eu estou falando, seja agradado de o cumprir nos corações de muitos. “E, quando Ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo.”



A palavra que nós traduzimos como reprovar, deveria ser "convencer" aos rendidos; e no original implica uma convicção por meio do raciocínio, e que vem com um poder à mente igual a uma demonstração. Muitos zombadores destes últimos dias perguntarão como pretendem eles chamar o Espírito, como sentem eles o Espírito, e como conhecem eles o Espírito? Eles poderiam perguntar também, como sabem eles, e como sentem eles o sol quando resplandece em seus corpos? Porquanto com igual poder e demonstração o Espírito de Deus trabalha e convence à alma. E,



Convence-a do pecado; e geralmente de algum enorme pecado, o pior possivelmente da qual a pessoa convertida sempre foi culpada. Assim, quando o nosso Senhor estava conversando com a mulher da Samaria, Ele convenceu-a primeiro do seu adultério. " Vai, chama o teu marido e vem cá. A mulher respondeu e disse: Não tenho marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido, porque tiveste cinco maridos e o que agora tens não é teu marido; isso disseste com verdade.” Com isto houve uma poderosa convicção de todos os seus outros atuais pecados, porque pouco depois, “deixou, pois, a mulher o seu cântaro, e foi à cidade, e disse àqueles homens: Vinde e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito; porventura, não é este o Cristo?”



Assim que nosso Senhor tratou também com Saulo o perseguidor: Ele convenceu-o primeiro do seu horrível pecado de perseguição; “Saulo, Saulo, por que Me persegues?” Tamanha sensação de todos os seus outros pecados, provavelmente, reviveram na sua mente ao mesmo tempo, que imediatamente ele morreu; isto é, morreu para todas as suas falsas confidências, e foi prostrado numa tremenda agonia de espírito, que continuou por três dias, nos quais nem sequer comeu nem bebeu. Este é o método que o Espírito Santo geralmente usa para tratar com pecadores; Ele primeiro convence-os de algum pecado atroz atual, e ao mesmo tempo recorda-lhes todos os seus outros pecados, e assim foi como eles ficaram em ordem de batalha perante eles: “Quando Ele vier, convencerá o mundo do pecado.” E foi sempre assim convosco, meus queridos ouvintes? (Porquanto eu devo perguntar à medida que avanço, porque eu tento, com a ajuda Divina, pregar não somente às vossas mentes, mas também aos vossos corações). Alguma vez o Espírito Santo vos trouxe assim à lembrança todos os vossos pecados e vos fez chorar muito por Deus? “Por que escreves contra mim coisas amargas” Alguma vez os teus atuais pecados apareceram perante ti como se desenhado num mapa? Se não, tens uma grande razão (A menos que tenhas sido santificado desde o ventre) para suspeitar que tu não está convencido, muito menos convertido, e que a promessa do versículo nunca foi cumprida no teu coração.



Mais ainda: quando o Consolador entra num coração de um pecador, embora geralmente Ele convence primeiro o pecador do seu pecado atual, ainda o leva a ver e a chorar o seu pecado original, a fonte de onde brotam todas estas águas poluídas. Embora todas as coisas na terra, no ar e na água; todas as coisas, não só fora mas também dentro; concorrem para provar a Verdade daquela afirmação nas Escrituras “em Adão todos morremos;” entretanto, sois tão endurecidos pelo engano do pecado, que mesmo assim tendes de dar um consentimento conforme à Verdade da proposição nas vossas mentes, mas vós nunca o sentistes realmente nos vossos corações. Mais ainda, alguns que professam ser negam-no nas palavras, embora com a suas obras também, com muita claridade demonstram que são filhos degenerados de pais degenerados. Mas, quando o Consolador, o Espírito de Deus, arresta um pecador, e o convence do seu pecado, todo o raciocínio carnal contra a corrupção original, todo orgulho e alta imaginação, que se exalta por si mesmo, contra essa doutrina, é imediatamente derrubada; e ela o faz chorar, “Quem me livrará do corpo desta morte?” Agora, o pecador dá-se conta que a concupiscência é pecado, e não chora tanto pelos seus atuais pecados mas pela perversidade no interior do seu coração, já que agora se dá conta não somente que é um inimigo, mas sim também de que é uma inimizade direta contra Deus.



E o Consolador, meus queridos amigos sempre vem com tal poder de convencimento como este para os vossos corações? Alguma vez te fez ver e sentir, que na tua carne não habita nada bom; que tu foste concebido e nascido em pecado; que tu és por natureza filho de ira, que Deus seria justo se Ele te amaldiçoasse, embora tu nunca tenhas cometido um pecado atual na tua vida? Tantas vezes quando estiveste na igreja e nos sacramentos, alguma vez confessaste comovido, que não havia saúde em ti; que a recordação do teu pecado original e atual era penoso para ti, e que a carga dele insuportável? Se não, tu estiveste oferecendo a Deus somente oblações vãs; tu, além disso, nunca oraste na tua vida; O Consolador nunca entrou eficazmente na tua alma: consequentemente, tu não estás propriamente na assim chamada Fé; não, tu atualmente estás num estado de condenação e de morte.



De novo, o Consolador, quando vem obrar efetivamente dentro de um pecador, convence-o não somente do pecado da sua natureza, e do pecado da sua vida, mas também do pecado das suas obras.



Todos nós somos legalistas por natureza, pensando sermos justificados pelas obras da lei. Quando algo desperta o terror do Senhor, imediatamente, como os antigos fariseus, vamos estabelecer a nossa própria justiça, e pensamos que deveríamos encontrar aceitação com Deus. Se a buscarmos com lágrimas, achando-nos a nós mesmos malditos por natureza e pelos nossos atuais pecados, então pensamos nos recomendar nós mesmos perante Deus pelas nossas obras; e esperamos, pelas nossas próprias obras de uma forma ou outra, herdar a vida eterna. Mas quando o Consolador entra nos corações, Ele convence a alma destes falsos apoios, e faz ver ao pecador que todas as suas obras são como trapos de imundície; e que, ainda nos serviços mais pomposos ele merece-se um castigo não melhor que o do servo inútil, “ser lançados nas trevas exteriores; ali, haverá pranto e ranger de dentes.”



Alguma vez foi forjado este grau de convicção nas vossas almas? Veio o Consolador alguma vez aos vossos corações, para te adoecer dos seus deveres, e também de teus pecados? Alguma vez, como ao grande Apóstolo dos gentios, te fez aborrecer da tua própria justiça que é pela lei, e te fez saber que tu mereces ser maldito, embora desses todos o teus haveres aos pobres? Fez-te sentir que o teu arrependimento precisava de ser arrependido, e que tudo em ti é apenas esterco e escória? E que todos os argumentos que tu possas procurar por misericórdia, devem estar fora do coração, e ser achados no amor puro de Deus, imerecido para nós? Alguma vez mentiste aos pés da Graça soberana, e seguidamente disseste: "Senhor, se Tu quiseres, podes me salvar; se não, podes justamente amaldiçoar-me; Não tenho nada que alegar, não posso me justificar a mim mesmo na Tua presença; as minhas melhores ações, vejo que me condenam, e que unicamente posso depender da Tua Graça gratuita"? O que dizes? Foi isto alguma vez, ou é agora, a linguagem habitual dos vossos corações? Estiveste frequentemente no templo; mas alguma vez te aproximaste da disposição do publicano pobre, e, depois que fizeste tudo, deste-te conta que não tens feito nada; e, que por cima disso experimentas um sentimento da tua própria indignidade e de qualquer forma pecaminoso, fere o teu peito e diz "Deus, sê misericordioso connosco, pecadores?" Se tu nunca sentiste isto, o Consolador nunca entrou eficazmente na tua alma, estás fora de Cristo; e se Deus requeresse a tua alma nesta condição, não ia ser melhor para ti que um fogo consumidor.



Mas há um quarto pecado, do qual o Consolador, quando vem convence à alma e que é o único (é muito notável) que o nosso Senhor menciona, como se fora, o único pecado que vale a pena mencionar; porquanto, de fato, é a raiz de todos os outros pecados quaisquer que sejam: é o pecado que impera e também o que amaldiçoa no mundo. E o que imaginas que poderia ser esse pecado? É esse pecado maldito, a raiz de todos os perversos. Quero dizer o pecado de incredulidade. Diz nosso Senhor, versículo 9, "do pecado, porque não crêem em mim." Mas acaso o mundo cristão, ou algum de vós que me ouve este dia, quer que o Espírito Santo vos convença da vossa incredulidade? Há alguns infiéis aqui? Se, (como se eu não tivesse razões de mais para pensar assim!) temo-me que a maioria o são: não certamente tão infiéis que negam ao Senhor que nos comprou (Embora temo-me que muitos destes monstros existem ainda em todos os países); mas eu quero dizer tais crentes não têm mais fé do que a dos próprios demónios. Possivelmente tu podes acreditar que tu crês, porque repetes o credo, ou porque assinas uma confissão de fé; ou porque vai à igreja ou a reuniões, ou porque recebes o sacramento, ou porque participas duma comunhão plena. Estas são bênçãos privilegiadas; mas tudo isto pode ser feito, sem ser nós crentes verdadeiros. E não sei como detectar a tua falsa e hipócrita fé, melhor do que fazendo-te esta pergunta: Por quanto tempo creste? Não diria a maioria de vós, desde que nos podemos recordar; nós nunca descremos? Então este é um sinal muito certo que tu não tens, de modo algum, verdadeira fé; não, nem tanto como um grão de mostarda; porque se tu crês agora (e a menos que fosses santificado desde sua infância, que é o caso de alguns), deves saber que houve um tempo em que não acreditavas no Senhor Jesus Cristo; e o Espírito Santo, se alguma vez O recebeste, convenceu-te disto. A Verdade Eterna declarou "Quando Ele vier convencerá ao mundo de pecado porque não crêem em Mim".



Nenhum de nós crê por natureza; mas depois que o Espírito Santo nos convenceu do pecado das nossas naturezas, e do pecado das nossas obras e vidas, com o fim de nos convencer da nossa incapacidade total para nos salvarmos a nós mesmos e que devemos ser devedores com Deus, assim como por todo o resto, pela fé (porque sem fé é impossível agradar, ou ser salvo por Cristo) Ele convence-nos também, que não temos fé. “Credes vós no filho de Deus?” É a grande pergunta que o Espírito Santo faz à alma: ao mesmo tempo que trabalha com tal poder e demonstração, que a alma vê, e fica obrigada a confessar, que não tem fé.



A maioria dos que se chamam a si mesmos crentes pensam que isto é algo insignificante. Sonham que são crentes, porque vivem num país cristão: se tivessem nascido Turcos, acreditariam em Maomé; porquanto a que é os homens chamam geralmente fé, senão a um consentimento exterior em direcção à religião estabelecida? Mas não te enganes a ti mesmo, porque a fé verdadeira é completamente outra coisa. Portanto, pergunta a ti mesmo: alguma vez o Espírito Santo te convenceu poderosamente do pecado de incredulidade? Possivelmente és muito devoto (como te imaginas) para teres um catálogo de pecados; que tu observas e confessas de uma maneira formal, todas as vezes que tu vais ao sagrado sacramento: Mas dentre de todos seus pecados, alguma vez confessaste e choraste esse maldito pecado de incredulidade? Alguma vez choraste "Senhor dá-me fé; Senhor faz-me crer em Ti; Oh, que eu que tenha fé! O que eu creia!” Se nunca assim te angustiaste, pelo menos, se nunca viste nem sente que não tinhas fé, é um sinal certo de que o Espírito Santo, o Consolador, nunca veio a ti nem obrou para a salvação da tua alma.



Mas então não é estranho que o Espírito Santo seja chamado o Consolador, quando é claro, pela experiência dos filhos de Deus que este trabalho de convencimento é geralmente atendido com dor nos conflitos interiores, e de grande quantidade de problemas para a alma? Respondo, o Espírito Santo pode bem ser chamado o Consolador, ainda neste trabalho; porque é a única maneira, e termina num verdadeiro e sólido consolo. Bem aventurados aqueles que são condenados por Ele, porque eles serão consolados. Mais ainda, não somente isso, mas há um consolo presente, até no meio destas condenações: A alma regozija-se secretamente na visão das suas próprias misérias, bendiz a Deus por trazer a nossa da escuridão para a luz, e olhe adiante com uma esperança confortável de futuras liberações, sabendo que, “o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.”



Assim é como o Espírito Santo convence a alma de pecado. E, se é assim, que tão miseravelmente enganados estão os que misturam a luz do Espírito com a luz da consciência, como o fazem, quem diz, que Cristo ilumina cada homem que vem ao mundo, e essa luz, se melhorada trar-nos-á para Jesus Cristo? Se tal doutrina é verdade, a promessa no versículo era desnecessária: os apóstolos de nosso Senhor já teriam essa luz; o mundo de hoje em diante para ser convencido, teria essa luz, e, se isso era suficiente para trazê-los para Cristo, por que foi requerido que Cristo deveria ir para o céu, para mandar o Espírito Santo que fizesse isto por eles! Ai de todos os que não tenham este Espírito! Ele é o presente especial de Deus, e, sem este presente especial, nunca poderemos vir a Cristo.



A luz da consciência acusar-nos-á ou convencer-nos-á de qualquer pecado comum; mas a luz da consciência natural nunca assim o fez, nunca o fará, e, nunca poderá convencer-nos de incredulidade. Se pudesse, como é que acontece, que ninguém dos pagãos, que melhoraram a luz do natural em tal grau de eminência, nunca foram convencidos de incredulidade. Não, a consciência natural não pode fazer isto; ela é a propriedade peculiar do Espírito Santo, o Consolador: “E, quando Ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo”. Ouvimos como convence de pecado; que não deve mostrar,



O que é a justiça, da qual o Consolador convence ao mundo?



Pela palavra justiça, em alguns lugares da Escritura, compreendemos a justiça comum que deveríamos praticar entre os homens como quando Paulo disse a razão da moderação e da justiça ante um Félix tremente. Mas aqui (como numa multidão de outros lugares nas Sagradas Escrituras) temos de entender pela palavra justiça, a obediência passiva e ativa do nosso amado Senhor Jesus; ainda essa justiça perfeita, pessoal, toda suficiente, que Ele forjou para esse mundo ao qual o Espírito Santo tem de convencer "de justiça, (diz o nosso Senhor) porque Eu vou ao Pai, e não me verão mais." Este é um argumento que o Espírito Santo faz uso para provar a justiça de Cristo, porque Ele foi para o Pai, e não O vemos mais. Porque se Ele não tivesse forjado uma justiça suficiente, o Pai tê-Lo-ia de mandar de volta, por não ter feito o que Se comprometeu; e nós tê-Lo-íamos visto outra vez.





Oh, a justiça de Cristo! Ela conforta tanto a minha alma, que me devem desculpar se o menciono em quase todos meus discursos. Não deveria, se eu o pudesse evitar, ter um sermão sem a mencionar. Tudo o que os infiéis possam objetar, ou os Arminianos sofisticadamente protestem contra uma justiça imputada; apesar de tudo, qualquer um que se conheça si mesmo e a Deus, deve reconhecer, que “Jesus Cristo é o fim da lei pela justiça (e perfeita justificação à vista de Deus), para qualquer um que crê,” e que nós somos feitos nEle a justiça de Deus. A isto e somente a isto, um pobre pecador se pode agarrar, como uma âncora segura da sua esperança. Em qualquer outro esquema de salvação, o homem pode determinar que se dá conta que não pode ver outra salvação onde construir as suas esperanças de salvação, somente na justiça pessoal da Rocha de Cristo, imputada à minha alma.



Muitos, creio eu, têm uma convicção racional disso, e estão de acordo comigo nisto: mas as convicções racionais se descansarem em tão pouco, deve ser uma convicção da verdade espiritual e experimental que está salvando. E, portanto, nosso Senhor disse, quando o Espírito Santo vier no dia do Seu poder, Ele convencerá desta justiça, da realidade, da plenitude, e da eficiência dela, para salvar um pobre pecador.



Vimos como o Espírito Santo convence o pecador do pecado da sua natureza, da sua vida, das suas obras, e do pecado de incredulidade; e então o que deve fazer a pobre criatura? Ela deveria, deveria inevitavelmente desesperar-se, se não houvesse esperança exceto nEle mesmo. Então, quando o Espírito Santo descobriu o pecador nas suas falsa comodidades e nos seus esconderijos, e tirou as desprezíveis folhas de figueira das suas próprias obras, conduzindo-o para fora das árvores do jardim (as suas reformas exteriores) e colocando-o nu perante o tribunal de um Deus Soberano, Santo, Justo, e Vingador do pecado; então é quando a alma, tendo a sentença de morte dentro dela mesmo pela sua incredulidade, tem uma doce demonstração da Justiça de Cristo feita pelo Espírito Santo de Deus. Aqui é que Ele começa mais imediatamente a atuar na qualidade de um Consolador, e convence a alma tão poderosamente da realidade e da auto-suficiência da justiça de Cristo, que a alma sente imediatamente fome e sede depois disso. Agora o pecador começa a ver, que apesar de que ele se destruiu a si mesmo, ainda sua ajuda está em Cristo, que, a pesar de que ele não tem justiça própria para se recomendar a si mesmo, há um plenitude de graça, uma plenitude de verdade e uma plenitude de justiça no amado Senhor Jesus, a qual, uma vez imputada a ele (ao pecador), fá-lo-á feliz para sempre.



Ninguém o pode contar, somente aquelas almas felizes que o experimentaram, com que demonstração do Espírito esta convicção vem. Oh, quão amável e todo suficiente parece agora o bem-aventurado Senhor Jesus! Com que novos olhos agora a alma vê o Senhor, que é a sua justiça! Irmãos, é inexprimível. Se tu nunca estiveste assim convencido da justiça de Cristo na tua própria alma, embora possas crer nisto doutrinalmente, não te aproveitará para nada, se o Consolador nunca entrou na tua alma como salvador, então estás abandonado, de facto. Mas, no que te aproveitará esta justiça, se ela não está na posse da tua alma?



Portanto, a coisa seguinte do que o Consolador convence a alma quando Ele vem é de julgamento.



Pela palavra julgamento, eu entendo essa bem fundada paz, esse julgamento firme, que a alma forma de si mesma, quando ela é capacitada pelo Espírito de Deus a lançar mão da justiça de Cristo, que eu creio que ela sempre faz, quando convencida do assunto antes mencionado. “De julgamento (diz o nosso Senhor) porque o Príncipe de este mundo é julgado”; A alma, sendo ativada para deitar a mão da perfeita justiça de Cristo por uma fé viva, tem uma convicção forjada pelo Espírito Santo, de que o Príncipe de este mundo é julgado. A alma sendo agora justificada pela fé, tem paz com Deus através de nosso Senhor Jesus Cristo, e pode triunfantemente dizer, é Cristo quem me justifica, quem é o que me condena? O homem forte armado é agora expulso; a minha alma está (tem) numa paz verdadeira; o Príncipe deste mundo virá e me acusará, mas ele agora não tem parte comigo. O bendito Espírito que recebi, e mediante o Qual estou capacitado a aplicar a justiça de Cristo à minha pobre alma, poderosamente me convence disto: por que deveria eu temer? Ou do que deveria eu ter medo, se o Espírito de Deus testifica com o meu espírito, que eu sou um filho de Deus? O Senhor está ascendido acima no alto; Ele levou cativo o cativeiro; Ele enviou o Espírito Santo, o Consolador, o melhor dos presentes para a humanidade: E esse Consolador entra em meu coração: E é fiel com o que prometeu: Eu, ainda eu, sou poderosamente, racionalmente, espiritualmente convencido de pecado, justiça e julgamento. Por isso eu sei que o Príncipe deste mundo está julgado.



Assim, digo, suponhamos que a alma triunfa, na qual a promessa do versículo é felizmente cumprida. E, embora, no princípio deste discurso, eu disse, que a maioria nunca tinham experimentado nada disto, e que portanto esta pregação deve ser uma tolice para tais pessoas; mas ainda eu não duvido de que haja algumas almas felizes, quem através da graça, foram habilitados para me seguir passo a passo; e, não obstante o Espírito Santo possa não obrar diretamente na mesma ordem como a tenho descrito, e possivelmente não possam dizer exatamente a hora quando tiverem uma bem fundada confiança de que a obra está feita, e que foram realmente convencidos de pecado, de justiça e de julgamento, de algum modo, ou em alguma ou outras vez.



E agora, o que deveria dizer-te? Oh, graças a Deus, graças ao Senhor Jesus, graças à sempre bendita Trindade, por este inefável presente: porque tu nunca tinhas estado tão altamente favorecido, não havia quem tivesse chamado pela primeira vez luz à escuridão, amando-te com um amor tão eterno, e iluminando-te com o Seu Santo Espírito, e que também, não em conta de algo bom prognosticado em ti, somente pelo seu Santo Nome.



Portanto, sê humilde, oh crente, sê humilde: Olhe para a rocha da qual foste lavrado: exalta a graça que não tem preço; admira essa eleição de amor, que te tem feito diferir do resto dos teus irmãos. Trouxe-te Deus à luz? Caminha como convém aos filhos da luz. Não provoques o Espírito Santo se afaste de ti: porquanto embora Ele te tenha selado para o dia da redenção, e tu sabes que o Príncipe deste mundo está julgado; mas se tu reincidires, crescendo morno, ou se esqueces o teu primeiro amor, o Senhor visitará as tuas ofensas com a vara da aflição, e o teu pecado com castigo espiritual, portanto não sejas de mente brilhante, mas sê temeroso. Regozija-te, mas fá-lo com tremor. Como escolhido de Deus, reveste-te não só de uma mente humilde, mas também de entranhas de compaixão; e ora, oh!, ora pelos seus irmãos não convertidos! Ajudem-me, ajudem-me agora, oh filhos de Deus, e sustentem as minhas mãos, como Aarão e Hur uma vez o fizeram a Moisés. Orem. enquanto eu estou pregando, que o Senhor possa habilitar-me para dizer, neste dia é a promessa no versículo, cumprida no coração de alguns pobres pecadores. Clamem fortemente a Deus, e com as cordas da violência santa, baixem bênçãos sobre as cabeças dos vossos vizinhos. Cristo ainda vive e reina nos Céus: o resto do Espírito ainda está nas Suas mãos, e uma efusão abundante das Suas promessas nos últimos dias da igreja. E oh! Que o Espírito Santo, o bendito Consolador, venha agora, e convença a aqueles que estão sem Cristo entre vós, de pecado, de justiça, e de julgamento! Oh que vós fosseis uma vez aprontados disponíveis para serdes convencidos!



Mas possivelmente prefiras ser cheio de vinho do que do Espírito, e estares diariamente afugentando esse Espírito da tua alma. O que diria a Deus de vós? "Pai perdoa-lhes porque não sabem o que fazem." Que diria a Deus de vós? Por quê? Que "Deus estava em Cristo reconciliando o mundo consigo mesmo”: Por isso vos rogo, como em lugar de Cristo, reconciliai-vos com Deus. Não vos afasteis contradizendo e blasfemando. Sei que Satã vos soltará. Muitos de vós podeis estejar inquietos. E estais preparados para chorar. "Que  aborrecimento é este!" Mas eu não vos deixarei ir. Eu lutei com Deus pelos meus ouvintes em privado, e devo lutar convosco aqui em público. Embora de mim mesmo não posso fazer nada, e vós não podeis mais vir e crer em Cristo por vós mesmos, mas Lázaro pôde sair do sepulcro; entretanto, quem sabe se Deus possa gerar a algum de vós outra vez para uma esperança viva por esta tolice da pregação, e que tu possas ser alguém deste mundo, que o Consolador está para convencer de pecado, de justiça, e de julgamento?



Pobres almas sem Cristo! Sabeis em que condição vos encontrais? Porque, estais recostados no perverso, o diabo; ele domina-vos, ele caminha e vive em vós, a menos que vivais em Cristo, e o Consolador tenha entrado nos vossos corações. E permanecerás tu alegremente nesse malvado diabo? Que pagamento te dará? Morte eterna. Oh! Vem para Cristo! O presente de Deus que não tem preço através dEle é vida eterna. Ele aceitar-te-á agora mesmo, se tu creres nEle. O Consolador ainda pode vir ao teu coração, igualmente para o vosso. Todos os que são agora Seus templos vivos, algumas vez estavam recostados no malvado, como também vós. Este bendito presente, este bendito Espírito, o bendito Jesus o enviou precisamente para os rebeldes.



Eu vejo muitos de vós afetados. Mas estão as vossas paixões somente um pouco reparadas? Ou estão as vossa almas realmente tocadas com uma sensação viva da enormidade dos vossos pecados, da vossa falta de fé, e da preciosidade da justiça de Jesus Cristo? Se é assim, espero que o Senhor tenha sido clemente, e que o Consolador tenha vindo agora aos vossos corações. Não sufoqueis estas convicções! Não te afastes, e te esqueças imediatamente que forma de doutrina escutaste, e deste modo mostre que estas são somente obra comuns de umas poucas convicções passageiras, flutuando na superfície do teu coração. Rogai a Deus que possais ser sinceros (porque somente Ele vos pode fazer assim) e que possais verdadeiramente desejar que a promessa do versículo seja cumprida nas vossas almas. Quem sabe se o Senhor pode ser clemente? Recorda, não tens desculpa, apenas uma misericórdia soberana; e também para vosso encorajamento, recorda que o mundo é tal como tu és, para quem o Consolador está para vir, e a quem Ele está para convencer: portanto, espera às portas da sabedoria. A simples probabilidade de teres uma porta de misericórdia aberta, é suficiente para que te continues esforçando. Cristo Jesus veio a este mundo para salvar pecadores, o chefe deles: tu não sabes mas Ele veio para te salvar. Não te vás queixando dos decretos de Deus, dizendo, se eu sou um reprovado, deveria estar condenado; se for um eleito, serei salvo; e, portanto, nada farei. O que tens tu que fazer com os decretos de Deus? Os segredos pertencem-Lhe a Ele; é teu dever “procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição.” Se há somente poucos que acham o caminho que leva à vida, esforça-te para ser um deles: tu não sabes, mas tu podes estar no número desses poucos, e que o teu esforço possa ser o significado de que Deus tenta abençoar, para te dar entrada nele. Se tu não atuas assim, não és sincero; e, se tu o fazes, quem sabe se podes encontrar misericórdia? Porquanto, embora, depois de que tu tenhas feito tudo o que podes, Deus pode justamente decidir deixar-te fora, embora nunca fosse uma só pessoa condenada por fazer tudo o que pôde. Por isso, embora as tuas mãos estejam murchas, estende-as; embora sejas impotente, enfermo, e aleijado, vem, repousa no tanque. Quem sabe se já a seguir o Senhor Jesus pode ter compaixão de ti, e mandar o Consolador para que te convença de pecado, de justiça, e de julgamento? Ele é um Deus cheio de compaixão e longanimidade, de outro modo tu e eu há muito tempo teríamos levantado nossos olhos em angústia. Mas Ele ainda é paciente connosco!



Oh pecadores sem Cristo! Estais vivos e, quem sabe se Deus tenta  trazer-vos para o arrependimento? Pudessem as minhas orações e lágrimas ter influência sobre isso, tu deverias descarregar-te de um e encheres-te do outro. O meu coração está tocado com uma sensação do teu coração. Possa o nosso misericordioso Sumo Sacerdote mandar agora o Consolador, e que te faça sensível a Ele também! Oh o amor de Cristo! Ele constrange-me para te rogar que venhas para Ele; porque se o rejeitas, rejeitas Cristo, o Senhor da Glória! Pecadores, dai ao amado Redentor uma morada nas vossas almas. Não sejais com os de Beth-semes. Dai a Cristo os vossos coração, todo o vosso coração. De facto Ele é digno. Ele criou-vos, e não vós a vós mesmos. Não sois de vós mesmos. Dai a Cristo, então, os vossos corpos e as vossas almas, que são dele! Não é suficiente para te derreteres pensar que o Alto e Soberano, o Qual habita na Eternidade, Se digne convidar-te por Seus ministros? Quão rapidamente Ele pode desaprovar-te para o inferno, e como sabes tu -mas Ele pode, neste preciso instante-, se tu não ouvires a Sua voz? Acaso alguém endureceu o seu coração contra Cristo e prosperou? Vinde então, não me mandem triste: não me deixem ter razões para chorar, oh minha fraqueza, minha fraqueza! Não me deixem ir soluçando para o meu gabinete reservado, e dizer “Senhor, eles não acreditarão no meu relatório; Senhor, chamei-os, e eles não responderão, eu vou até eles como uma agradável canção, e como alguém que toca um agradável instrumento; mas seus corações correm em detrás da luxúria dos olhos, a luxúria da carne e da soberba da vida.” Estariam dispostos a que eu fizesse um relato como este, ou fizesse uma oração dizendo isto a Deus? E não só devo fazer isto, mas também aparecer em julgamento contra vós na outra vida, a não ser que venhais a Cristo. Portanto uma vez mais, suplico-te que venhas. Que objeções tens a fazer? Olhai, eu estou aqui no nome de Deus, para corresponder a tudo o que tu ofereças. Mas também sei que ninguém pode vir, a não ser que o Senhor o traga: portanto eu dirigirei um ao meu Deus. E intercederei com Ele para que mande o Consolador aos vossos corações.



Oh bendito Jesus, que és um Deus cuja compaixão nunca falta, e em Quem todas as promessas são sim e ámen, Tu que estás sentado entre os querubins, revela-Te entre nós. Que nós vejamos A Tuas saídas! Oh, deixa-nos provar que és misericordioso, e revela o Teu braço todo-poderoso! Tu mesmo obtém a vitória nos corações destes pobres pecadores. Não deixes que a palavra falada mostre ser como a água que se divide no chão. Faz descer, faz descer, oh grande Sumo Sacerdote, o Espírito Santo, para convencer o mundo de pecado, de justiça, e de julgamento. Assim dar-te-emos graças e louvares a Ti, oh Pai, a Ti, oh Filho, e a ti, oh bendito Espírito; a quem, como três pessoas, mas um só Deus. Que Te seja atribuído por anjos e arcanjos, por querubins e serafins, e por todas as hostes celestiais, todo o poder possível, força, majestade, e domínio, agora e para sempre. Ámen, Ámen, Ámen.


http://www.sounddoctrine.net/Classic_Sermons/ George%20Whitefield/Holy_Spirit_conviction.htm 

Tradução de Carlos António da Rocha

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1 comentário:

JOÃO disse...

Obrigado, Prof. Carlos, pela tradução deste maravilhoso sermão!
João Damasceno, Brasil.