Está escrito que
Abraão lamentou e chorou por Sara, para que fique bem claro que não há nada de
errado em ficar aflito, triste e enlutado quando falecem aqueles que amamos.
Embora todos tenhamos de comer, estamos, assim mesmo, de tal forma ligados uns
aos outros pelo amor, que cada qual deve se alegrar com a vida do outro, assim
como também nos liga o facto de sermos pobres e termos de comer nosso pão no
suor do rosto. Enquanto vivermos, o amor deve ser colocado em ação,
preocupando-se com a pobreza ou qualquer outra necessidade do próximo.
Deus não deseja
anular a natureza através do Evangelho. Pelo contrário, preserva o que é
natural, dando-lhe, porém, a direção correta. É natural que um pai ame a seu
filho, que a mulher ame a seu marido, e que se alegrem quando tudo vai bem, e
que fiquem tristes quando algo vai mal. Em relação a Deus, segundo a fé, o Cristão
não se deixa abalar, mesmo que tudo vá águas abaixo; agora, segundo o amor,
devemos importar-nos como se fosse nossa própria necessidade, e agir com amor.
Caso contrário, ou seja, se isso não nos servisse de lição, Deus não teria
mandado escrever que o grande patriarca Abraão chorou a morte da sua mulher.
Assim, Deus permite que nos perturbemos interiormente. Contudo, é da Sua
vontade que superemos essa perturbação por meio da fé e, dessa forma, não
desanimemos nem nos afastemos de Deus.
Martinho Lutero
In Meditações de
Lutero, Castelo Forte - 1983
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