“Arrepia-se-me
a carne com temor de ti, e temo os teus juízos.” (Sl 119:120)
Quem pode
vangloriar-se de possuir um espírito puro e estar livre da carne que se opõe ao
Espírito, mesmo que esteja livre da sensualidade, da ganância e de outras
tolices? Porque, enquanto você tem carne, está na carne, está em você aquele
orgulho, e você nele, até que este corpo se torne inteiramente espírito. Pois
pecamos sempre e permanecemos impuros toda a vida. Carne e espírito formam o
homem. Por isso não há dúvida de que é culpa do homem o facto de a carne ser
tão má e de se comportar de modo tão ruim. E assim estamos sempre a caminho,
sempre no estado da justificação, justamente nós, os que somos justos. É por isso
que toda a justiça que realizamos no momento, é, ao mesmo tempo, pecado para a
justiça que teremos de fazer em seguida. É, pois, com razão que afirma São
Bernardo: “Quando se começa a deixar de
ambicionar o melhor, deixa-se de ser bom.” Por esta razão não existe parada
no caminho de Deus, pois reter-se um momento já é pecado. Quem, portanto, neste
instante se fia no facto de ser justo, esse já perdeu a justiça, como mostra a
ilustração do movimento: o ponto que estamos tentando alcançar no momento, logo
passa a ser ponto de partida para o próximo alvo. Esse ponto de partida, do
qual sempre temos de partir, é o pecado. O alvo, porém, que buscamos sempre é a
justiça.
Martinho Lutero
In Meditações de Lutero, Castelo Forte - 1983
Sem comentários:
Enviar um comentário