“Ouvindo
isto, admirou-se Jesus e disse aos que o seguiam: Em verdade vos afirmo que nem
mesmo em Israel achei fé como esta... Então disse Jesus ao centurião: Vai-te, e
seja feito conforme a tua fé. E naquela hora o servo ficou curado.” (Mt 8:10 e 13)
Neste exemplo do
texto aconteceram dois milagres, ou, então, um milagre duplo. Um, feito pelo
Senhor, outro, pelo centurião. Pois lemos aí que o próprio Jesus se admira da
grande fé do centurião. Se, pois, Cristo considera isso um milagre e o louva,
também nós o consideraremos assim. Encontrar um centurião com tal fé é para
Jesus erva rara e caça excepcional.
As pessoas
consideram grande milagre o facto de Jesus devolver a vista aos cegos, o ouvido
aos surdos, a saúde aos leprosos. É claro, de facto, são grandes sinais. Jesus,
porém, considera milagre maior o que acontece na alma do que as coisas que
acontecem no corpo. Portanto, quanto mais vale a alma do que o corpo, tanto
maior deve ser considerado este milagre em comparação com os milagres físicos.
Aconteceram,
pois, aqui dois milagres; e Cristo continuá-los-á fazendo diariamente, até ao
fim dos tempos. Os milagres físicos Ele fá-los raras vezes, como, aliás, os fez
raras vezes enquanto estava na Terra. Pois não curou a vista a muitos cegos,
nem curou a todos os doentes. A muitos deixou cegos e doentes... Por isso tais
milagres e sinais físicos não são eternos nem generalizados. Pois não é neles
que está o Seu interesse. Ele fá-los por amor de nós, para a cristandade
começar a crer. Aqueles sinais, porém, que Ele próprio considera milagres,
esses permanecem para sempre, como, por exemplo, a fé do centurião de
Cafarnaum. É uma obra milagrosa, uma grande obra milagrosa o homem ter uma fé
tão maravilhosa, forte, correta. Por isso também elogia e exalta a fé desse
centurião como se fosse o milagre dos milagres.
Martinho Lutero
In Meditações de Lutero, Castelo Forte - 1983
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