“Porque
na mão do Senhor há um cálice, cujo vinho espuma, cheio de mistura; dele, dá a
beber; sorvem-nos até as escórias, todos os ímpios da terra.” (Sl 75:8)
Deus jamais abandona os Seus a ponto de não
lhes mostrar nesta vida como Ele se comisera deles. Assim, David foi expulso de
seu reino e, novamente, empossado. O rei Ezequias adoeceu mortalmente e,
depois, recobrou a saúde. O povo judeu, disperso entre os povos pagãos,
retornará à sua pátria. Mas neste ponto também tem o seu lugar a fé que espera
por socorro. Pois a ajuda não está sempre à mão quando dela necessitamos ou a
desejamos. É verdade, nada mais maravilhoso haveria no céu e na terra do que a
palavra sem a cruz. No entanto, esse gozo não duraria muito, visto que a
natureza não suporta por muito tempo a alegria e o gozo. Assim, já diz o
provérbio: “O homem suporta tudo, menos
dias bons; hão que ser pernas fortes as que suportam dias bons”. Por essa
razão, também apimentou um pouco esse doce e amável tesouro, e lhe deu um
gostinho picante de vinagre e mirra, para que não enjoemos dele. Pois, “azedo dá apetite”, diz o adágio. Do
mesmo modo, os incómodos da vida fazem com que o coração seja tanto mais alegre
e radiante e tenha cada vez mais sede desse tesouro. Pois o seu poder se sente
e se reconhece na medida em que se busca consolar o coração em Deus. Assim, diz
um salmo: a palavra é um vinho puro que
embriaga a alma; no entanto, ainda vem misturado com sofrimento, para conservar
o apetite.
Martinho LuteroIn Meditações de Lutero, Castelo Forte - 1983
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