… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Génesis 1 - Versículos 26-28 - A Criação



Comentário Completo de Matthew Henry sobre a Bíblia
(Matthew Henry’s Complete Commentary on the Bible)

Génesis 1


Versículos 26-28
A Criação

Temos aqui a segunda parte da obra do sexto dia, a criação do homem, o que somos, de um modo especial, interessados em observar, para que possamos conhecer-nos a nós mesmos. Observe:



I. Que o homem foi a última de todas as criaturas a ser feita, para que não pudesse ser suspeito de ter, de alguma forma, ajudado Deus na criação do mundo. Há uma pergunta que deve ser sempre humilhante e mortificante para o homem: Onde estavas tu, ou qualquer um da tua espécie, quando Eu fundava a terra?, Jb 88:4. No entanto, foi tanto uma honra como um favor para com o homem ele ter sido feito por último: uma honra, porque o método da criação era avançar a partir daquilo que era menos perfeito para aquilo que era mais perfeito. E um favor, porque não seria adequado que o homem fosse alojado no palácio criado para ele, até que tudo estivesse completamente preparado para a sua recepção. O homem, logo que foi feito, teve toda a criação visível diante de si, tanto para a contemplar como para ter o conforto dela. O homem foi feito no mesmo dia em que os animais foram feitos, porque o seu corpo foi feito da mesma terra que o deles. E, enquanto ele estiver no corpo, habitará na mesma terra com eles. Que Deus nos guarde de que na busca da satisfação da carne e das suas concupiscências venhamos a tornarmo-nos como os animais que perecem!



II. Que a criação do homem foi mais extraordinária e um ato mais imediato da sabedoria e do poder divino do que a criação das outras criaturas. A narrativa deste facto é apresentada com solenidade e uma manifesta distinção da restante. Até agora, havia sido dito: “Haja luz”, e: “Haja uma expansão”, e: “Produza a terra, ou as águas” estas coisas. Mas, agora, a palavra de ordem é transformada numa palavra de conselho: “Façamos o homem, por causa de quem todas as criaturas foram feitas. Esta é uma obra que devemos tomar em nossas próprias mãos.” No início, o Senhor fala como Alguém que tem autoridade. Neste ponto, Ele fala como Alguém que tem afeição porque as Suas delícias estavam com os filhos dos homens, Pv 8:31. Tudo indica que esta era a obra que Ele mais desejava ardentemente. Era como se o Senhor tivesse dito: “Tendo finalmente estabelecido os preliminares, vamos agora ocupar-Nos com o fundamental. Façamos o homem.” O homem deveria ser uma criatura diferente de todas aquelas que tinham sido feitas até agora. Carne e espírito, céu e terra, devem ser reunidos nele, e ele deve ser associado a ambos os mundos. E, portanto, o próprio Deus não só tomou a Seu cargo fazê-lo Ele mesmo, mas teve prazer em Se expressar como se Ele convocasse um conselho para considerar a formação do homem: Façamos o homem. As três pessoas da Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, deliberam sobre isso e concordam com isso, porque o homem, quando foi feito, deveria ser dedicado e consagrado ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Neste grandioso Nome somos, com boa razão, batizados, porquanto a este grandioso Nome devemos a nossa existência. Que o homem seja sempre governado por Aquele que disse: Façamos o homem.



III. Que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, duas palavras para expressar a mesma coisa, tornando-as mais expressivas. Imagem e semelhança denotam a imagem mais parecida, a semelhança mais próxima de qualquer das criaturas visíveis. O homem não foi feito à semelhança de nenhuma criatura que foi feita antes dele, mas à semelhança do seu Criador, ainda que entre Deus e o homem haja uma distância infinita. Só Cristo é a imagem expressa da Pessoa de Deus Pai, como o Filho de Seu Pai, tendo a mesma natureza. É apenas um pouco da honra de Deus que é colocada sobre o homem, que é a imagem de Deus apenas como a sombra no vidro, ou a marca do rei sobre uma moeda. A imagem de Deus sobre o homem consiste nestas três coisas: 1. Em sua natureza e constituição, que não se referem ao Seu corpo (porque Deus não possui um corpo), mas à sua alma. Esta honra de facto Deus colocou-a sobre o corpo do homem, que o Verbo Se fez carne, o Filho de Deus estava vestido com um corpo como o nosso e, e em breve vestirá o nosso corpo, com uma glória como a Sua. E isto podemos seguramente dizer: Que Aquele por quem Deus fez os mundos, não só o grande mundo, mas o homem que é o pequeno mundo, formou o corpo humano, no princípio, de acordo com o projeto que Ele criou para Si mesmo na plenitude dos tempos. Mas, é a alma, a grande alma, do homem, que traz em si, de uma forma especial, a imagem de Deus. A alma é um ser espiritual, um ser inteligente e imortal, um ser influente e ativo, que lembra Deus, o Pai dos Espíritos, e a alma do mundo. A alma do homem é a lâmpada do Senhor. A alma do homem, considerada nas suas três nobres faculdades –entendimento, vontade e poder ativo– , é talvez o espelho mais brilhante e mais claro na natureza, através do qual possamos ver a Deus. 2. No seu lugar e autoridade: Façamos o homem à nossa imagem, e que ele domine. Como ele tem o governo das criaturas inferiores, ele é, por assim dizer, o representante de Deus, ou o vice-rei, sobre a terra. Como as demais criaturas não são capazes de temer e servir a Deus, portanto, Deus fez com que temessem e servissem ao homem. Todavia, o governo que o homem tem sobre si mesmo, pela liberdade da sua vontade, tem em si mais da imagem de Deus do que seu o governo sobre as outras criaturas. 3. Na sua pureza e retidão. A imagem de Deus sobre o homem consiste em conhecimento, justiça e em verdadeira santidade, Ef 4:24; Cl 3:10. Ele era reto, Ec 7:29. Ele tinha uma conformidade habitual de todos os seus poderes naturais com toda a vontade de Deus. O seu entendimento viu as coisas divinas clara e verdadeiramente, e não havia erros nem enganos no seu conhecimento. A sua vontade obedeceu (agiu de acordo) prontamente e universalmente (sem exceção, em toda parte) de acordo com a vontade de Deus, sem relutância ou resistência. Os seus sentimentos eram todos segundo a regra, e não tinha apetites ou paixões desordenadas. O seus pensamentos eram facilmente trazidos e fixados nos melhores assuntos, e não havia vaidade nem falta de controle neles. Todos os poderes inferiores estavam sujeitos aos preceitos e orientações dos poderes superiores, sem qualquer motim ou rebelião. Assim santos, e assim felizes eram os nossos primeiros pais, que traziam a imagem de Deus sobre eles. E esta honra, colocada sobre o homem no princípio, é uma boa razão pela qual não devemos falar mal uns dos outros (Tg 3:9), nem fazer mal uns aos outros (Gn 9:6), e uma boa razão pela qual não nos devemos rebaixar no serviço do pecado, e por que nos devemos dedicar ao serviço de Deus. Mas, como estás caído, ó filho da alva! Como esta imagem de Deus sobre o homem está deformada! Quão pouco é o que resta dela nele, e quão grande é a ruína dele! Porém, o Senhor renova-o nas nossas almas através da Sua graça santificadora!



IV. Que o ser humano foi feito macho e fêmea, e abençoado com a bênção da fertilidade e do crescimento. Deus disse, Façamos o homem, e imediatamente sucedeu, E criou Deus o homem. Ele executou o que Ele havia decidido. Connosco, dizer e fazer são duas coisas diferentes. Mas não é assim com Deus. Ele criou-os, macho e fêmea, Adão e Eva, Adão primeiro, e Eva da sua costela, (Gn 2:21-23). Parece que das restantes criaturas Deus fez muitos casais, mas do homem não fez Ele somente um? (Ml 2.15). O Senhor tinha o Seu precioso Espírito em ação e, por este motivo, Cristo traz um argumento contra o divórcio, Mt 19:4,5. O nosso primeiro pai, Adão, estava limitado a uma mulher. E, se a tivesse despedido, não haveria outra com quem se pudesse casar, o que claramente sugere que os laços do casamento não deveriam ser dissolvidos à vontade. Os anjos não foram feitos macho e fêmea, porque eles não deveriam propagar a sua espécie (Lc 20:34-36). Mas o homem foi feito assim, para que a natureza pudesse ser propagada e a raça humana tivesse a sua continuidade. Fogos e candeias, os luminares deste mundo inferior, muitas vezes eles consomem-se e gastam-se, tem um poder de iluminar mais, mas não é assim com os luminares do céu: as estrelas não pegam fogo às outras estrelas. Deus fez apenas um macho e uma fêmea, para que todas as nações dos homens pudessem saber que eles mesmos foram feitos de um único sangue, descendentes de uma origem comum, e assim pudessem ser levados a amarem-se uns aos outros. Deus, tendo-os feito capazes de transmitir a natureza que haviam recebido, disse-lhes, Frutificai, e multiplicai-vos, e povoai a terra. Aqui Ele deu-lhe a eles: 1. Uma grande herança: Enchei a terra; é isto que é concedido aos filhos dos homens. Eles foram feitos para habitar sobre toda a face da terra, At 17:26. Este é o lugar em que Deus estabeleceu o homem para ser o servo da sua providência no governo das criaturas inferiores, e, por assim dizer, a inteligência deste mundo. Para ser o destinatário da abundância de Deus, da qual outras criaturas vivem dependentes, mas não sabem disso. Para ser igualmente o coletor dos Seus louvores neste mundo inferior, e pagá-los ao tesouro de céu (Sl 145:10). E, finalmente, ser um aprendiz para um estado melhor. 2. Uma família numerosa e permanente, para desfrutar desta herança, pronunciando uma bênção sobre eles, em virtude do que a sua posteridade deve estender-se até aos confins da terra e continuar até ao período de tempo mais longínquo. A fertilidade e o crescimento dependem da bênção de Deus: Obed-edom tinha oito filhos, porque Deus o tinha abençoado, 1Cr 26:5. É devido a esta bênção, que Deus ordenou no princípio, que a raça humana ainda existe, e que uma geração vai, e outra geração vem.



V. Que Deus deu ao homem, quando o fez, um domínio sobre as criaturas inferiores, sobre os peixes do mar e sobre as aves do céu. Embora o homem não supra as necessidades de nenhum delas, ele tem poder sobre ambas, e muito mais sobre todo ser vivente que se move sobre a terra, que estão sob o seu cuidado e ao seu alcance. Deus planeou, com isso, colocar honra sobre o homem, para que ele se pudesse julgar fortemente obrigado a trazer honra ao seu Criador. Este domínio está muito diminuído, e perdido, em virtude da queda. Porém, a providência de Deus continua para aos filhos dos homens tanto quanto é necessário para a segurança e sustento das suas vidas, e a graça de Deus tem dado aos santos um título novo e melhor para a criatura do que aquele que foi perdido pelo pecado, porque tudo será nosso se formos de Cristo, 1 Co3:22.


http://www.studylight.org/commentaries/mhm/view.cgi?bk=0&ch=1




Tradução de Carlos António da Rocha

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