R. M. McCheyne
Por que é que Deus é um estranho na Terra (Jr 14:8-9)
Sermão 9
“Oh! Esperança de Israel, Redentor seu no tempo da angústia! Por que
serias como um estrangeiro na terra e como o viandante que se retira a passar a
noite? Por que serias como homem cansado, como valoroso que não pode livrar?
Mas tu estás no meio de nós, ó SENHOR, e nós somos chamados pelo teu nome; não
nos desampares.” (Jr 14:8-9 ARC, Pt)
Em muitos lugares de Escócia há boas razões para crer que Deus não é um peregrino no país, já que o Senhor Jesus Cristo tem sido proclamado e conhecido e o Espírito Santo tem realizado, conforme ao Seu beneplácito a Sua obra vivificadora em muitíssimos. Sem embargo, é de temer que em muitos outros lugares do nosso país Deus é como um peregrino e como um estrangeiro na terra e como o viandante que se retira a passar a noite.
Em muitos lugares de Escócia há boas razões para crer que Deus não é um peregrino no país, já que o Senhor Jesus Cristo tem sido proclamado e conhecido e o Espírito Santo tem realizado, conforme ao Seu beneplácito a Sua obra vivificadora em muitíssimos. Sem embargo, é de temer que em muitos outros lugares do nosso país Deus é como um peregrino e como um estrangeiro na terra e como o viandante que se retira a passar a noite.
1. Quão poucas conversões há no meio de nós! Quando
Deus está presente com a Sua omnipotência em algum país, então há muitos que
despertam para um sentimento de convicção de pecado e se juntam ao redil de
Cristo. Um ministro piedoso, falando de tal tempo, quando teve lugar um grande
avivamento, dizia: "Indícios e sinais da presença de Deus se manifestavam
em quase todos os lares. Era um tempo de gozo no círculo de toda família pela salvação
que se havia levado aos seus membros. Os pais regozijavam-se pelos seus
filhinhos, porque estes haviam nascido de novo; os maridos por causa da
conversão real das suas esposas e as esposas pela conversão real dos seus
maridos. A cidade –continua ele dizendo- parecia estar cheia da presença de
Deus. Nunca antes se haviam visto dias de tanta plenitude de amor e de gozo,
ainda que houvesse numerosos conflitos e quebrantos, como em realidade os
havia". Nada resta de tudo isso, agora, entre nós. Ai, que contraste tão
desgraçado e triste nos oferece a maioria das nossas famílias agora! Quantas
famílias nos rodeiam nas quais não há nenhum membro convertido, nenhuma alma
salva!
2. Quanta morte há até entre os próprios
verdadeiros cristãos! Em tempos de avivamento,
quando Deus está presente com todo o Seu poder em algum país, não só são
despertadas as pessoas não convertidas de forma que em tropel vão a Cristo, mas também, aqueles que eles mesmos
já são convertidos, recebem sem medida o dom do Espírito Santo; quase se diria
que experimentam um segundo novo nascimento; são, diríamos, levados ao Palácio
do Rei e dizem acerca de Cristo: “Beije-me Ele com os beijos da Sua boca;
porque melhor é o Seu amor do que o vinho.” (Ct 1:2, ARC, Pt) Um querido crente
dizia em tal época: "A minha iniquidade, aquela que eu realmente vejo em
mim mesmo, mostra-se-me enormemente grande, indizivelmente terrível, como se fosse um
dilúvio ou uma inundação infinita, como se fosse uma imensa cordilheira de
montanhas que ameaçam cair sobre a minha cabeça. Não sei como expressar da
melhor maneira e da maneira mais gráfica como vejo os meus pecados, que não
seja dizendo que são como montões infinitos sobre montões infinitos e
multiplicados imensamente pelo infinito. Muito a miúdo pululam pela minha mente
estas expressões, como também pela minha boca, infinito sobre o infinito,
infinito pelo infinito." Que pouco deste sentir há entre nós! Que pouco
parecemos sentir que o pecado seja uma maldade infinita! Oh, quão evidente é
que Deus é um peregrino, um estranho na Terra!
3. Que grande é o atrevimento e a falta de
vergonha dos pecadores no seu pecado! Como era nos dias de
Isaías, assim é nos nossos, nos quais parece que muitos têm "cerviz, um
nervo de ferro, e a sua testa, de bronze.” (Is 48:4, ARC, Pt) Quando Deus está
presente num país com poder, os pecadores, ainda que continuem permanecendo nos
seus pecados, sem se converterem, andam de outra maneira, não têm uma ousadia
tão descarada como a que ostentam agora. Um certo temor e reverência pesa sobre
as suas cabeças. Ai, que não é assim entre nós! As comportas do pecado estão
totalmente abertas de par em par. “Publicam os seus pecados como Sodoma; não os
dissimulam.” (Isa 3:9, ARC, Pt) Não é, pois, tempo de clamarmos "Oh! Esperança de Israel,
Redentor seu?"
Não deveríamos interrogarmo-nos solenemente sobre
quais são as causas pelas quais Deus é um peregrino na Terra?
I. NOS MINISTROS.
Comecemos por aqueles que levam os vasos do
santuário.
1. É de temer que abunde demasiada pregação
não fiel à Palavra apresentada aos não convertidos.
Jeremias lamentava-se por este facto nos seus dias. “Curam a ferida da filha do
meu povo levianamente, dizendo: Paz, paz; quando não há paz.” (Jr 6:14 ARC1995) Não
é esta a mesma razão que devia levar-nos a nos lamentarmos como Jeremias nos
nossos dias? A maioria das nossas congregações estão fora de Cristo e acham-se
expostas noite e dia à ira do Senhor Deus todo-poderoso: e isso devemos
atribui-lo ao facto de que grande parte das ânsias e preocupações dos pastores
não é o preocupar-se com a verdadeira salvação deles, e os seus sermões não se
ocupam principalmente do seu caso tão desesperado. Todas as palavras dos homens
e dos anjos não podem descrever a horrenda situação dos que estão sem Cristo e
ainda sendo isto assim, é de temer que não falamos com os perdidos com aquela
claridade, frequência e urgência que era de desejar. Ai, que poucos ministros
são como os anjos de Sodoma, misericordiosamente ousados, de tal forma que
tomando os pecadores pela mão os empurravam, e os arrastavam para fora do
perigo! (Génesis 19:16), Pois os pecadores são lentos, são tardos para fugir
por si mesmos. Quão poucos obedecem àquela palavra de Judas: "Salvai alguns,
arrebatando-os do fogo; tende deles misericórdia com temor"!
Muitos daqueles que cumprem tudo isto fielmente,
não o fazem, sem embargo, tenra e docemente. Temos mais da amargura do homem do
que da ternura amorosa de Deus. Não os homens se compadecem nas entranhas de
Jesus Cristo. Paulo escrevia acerca d’ "os inimigos da cruz de
Cristo" com lágrimas nos seus olhos! Há agora muito pouco deste pranto e
deste sentir entre os ministros de Deus. "Sabendo o temor que se deve ao Senhor"
-citando literalmente o texto grego de II Coríntios 5:11-, Paulo persuadia nos
seus dias os homens à fé. Hoje em dia não é fácil ver o rasto deste espírito
nos pastores atuais. Como podemos entranhar-mo-nos de que os ossos sejam muito
secos, muito secos e que Deus seja um peregrino na Terra?
2. É de temer-se que haja muita
infidelidade ao manifestar-se a Cristo como o refúgio dos pecadores.
- Quando um pecador tem sido convertido recentemente, afana-se a persuadir a
outro para que ele vá a Cristo; o caminho é tão plano, tão fácil -pensa-, tão
precioso. Oh se eu fosse-se um ministro –diz ele-, como persuadiria os homens!
Este é um sentimento verdadeiro e um sentimento reto. Mas Oh! Quão pouco há
dele entre os ministros. David disse: "Cri; por isso, falei". Poucos são como
David nisto. Paulo disse que ele "não se propôs saber outra coisa entre os
homens, a não ser a Cristo, e a este crucificado". Poucos são como Paulo
nisto. Muitos não têm como objetivo e fim do seu ministério testificar de Jesus
como o refúgio dos pecadores. É de temer que muitos são como os escribas e os
fariseus : "Pois que fechais aos homens o Reino dos céus; e nem vós entrais, nem
deixais entrar aos que estão entrando". Alguns expõem a
Cristo clara e fielmente, mas onde está aquela maneira de rogar, de constranger
de Paulo, aos homens para que se reconciliassem com Deus? Não convidamos os
pecadores com ternura, não rogamos encarecidamente aos homens para que vão a
Cristo, não lhes pedimos com autoridade para que vão às bodas do Cordeiro, não
os compelimos a entrar, não "estamos de parto até que Cristo seja
formado" neles "a esperança de glória." Oh! Como podemos
maravilhar-nos que Deus seja um peregrino na Terra?
II. NOS CRISTÃOS
1. Com relação à Palavra de Deus. - Parece
que há pouca sede de ouvir a Palavra de Deus entre os cristãos de hoje em dia.
Do mesmo modo que um estômago delicado obriga a comer escassamente, assim
parece que muitos cristãos estão agora submetidos a uma verdadeira dieta
espiritual. Muitos cristãos parece que ouvem a Palavra de Deus mesclando
orgulho em vez de fé. Acodem mais como juízes do que como meninos. Poucos se
comportam como meninos de peito. A maioria prefere a cadeira do Moisés à
cadeira de Maria, aos pés de Jesus. Muitos vêm ouvir a palavra de um homem que
há-de que morrer, em vez da palavra do Deus vivo. Oh! Não se deve ensinar aos
cristãos esta oração: "Oh! Esperança do Israel”?
2. Com respeito à oração. –Abunda o trabalho
de arar e de semear, mas não, por outro lado, o de revolver o terreno com
oração. Deus e a vossa consciência são testemunhas de quão pouco orais. Sabeis
que seríeis homens de poder se fosseis homens de oração e, sem embargo, não
quereis orar. Instáveis, inconstantes como as águas, não vos orgulheis. Lutero
dedicava as suas três melhores horas do dia à oração. Quão poucos Luteros temos
agora! John Welch passava sete horas diárias em oração. Quão poucos John Welch
há agora!
É de temer que haja pouquíssima oração agora entre os
cristãos. O sumo-sacerdote levava os nomes dos filhos do Israel sobre as
suas costas e diante do seu peito quando entrava diante da presença de Deus no
lugar santíssimo, um quadro do que agora faz Cristo e do que os cristãos
deveriam fazer. Deus e as vossas consciências são testemunhas de quão pouco
intercedeis a favor dos vossos filhos e dos vossos servos, dos vossos vizinhos,
da igreja, dos vossos pais, e dos ímpios que vos rodeiam nos ambientes em que
vos envolveis. Quão pouco orais pelos ministros, pelo dom do Espírito Santo,
pela conversão do mundo.
É de temer que haja pouca
união na oração. Os cristãos
envergonham-se de se juntarem para orar em comum. Cristo prometeu: “Se dois de
vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será
feito por meu Pai, que está nos céus.” (Mt 18:19, ARC, Pt). Muitos cristãos são
negligentes deitando no esquecimento esta promessa. E nos Atos encontramos que
quando os apóstolos e os discípulos oraram juntos, "De repente, veio do
céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que
estavam assentados.” (As 2:2, ARC, Pt) Oh, quão amiúde e por quanto tempo temos
andado pouco este caminho de obter a unção do Espírito Santo! Não falam com
desprezo algumas pessoas da oração unida? Eis aqui uma razão pela qual Deus
manda que as nuvens, cuja função normal é produzir a chuva, não chovam sobre
nós. Ele aguarda até que O busquemos juntos e então abrirá as janelas do Céu e
derramará a Sua bênção. Oh, que todos os cristãos olhando ao Céu clamassem:
"Oh! Esperança de Israel"!
III. NOS NÃO CONVERTIDOS
Há muito que envergonha os ministros e muito que
envergonha os crentes, mas muito mais é o que envergonha aos não convertidos.
1. Os pecadores hoje em dia têm uma grande
insensibilidade pela sua própria condição de perdidos. –Muitos sabem que
nunca se aproximaram nem acreditaram no Filho de Deus e, não obstante, vivem
satisfeitos e felizes. Muitos sabem que não nasceram de novo e que a Bíblia diz
que não verão o reino de Deus, e ainda que andem por caminhos de perdição
alegram-se como se fossem herdeiros do reino de Deus em vez de herdeiros do
Inferno. Isto é o que faz que Deus esteja longe e seja um peregrino na Terra.
2. Os pecadores hoje em dia têm uma grande
insensibilidade pela sua própria necessidade de Jesus Cristo. - A Bíblia
declara ser Ele o amigo dos pecadores e, sem embargo, quantos que lêem isto
estão contentes vivendo sem conhecê-Lo! Ainda que os cristãos estejam sempre
falando das excelências de Cristo, que é "o primeiro entre dez mil e todo
Ele cobiçável", eles, sem embargo, não descobrem nEle "parecer nem
formosura", não vêem nEle "atrativo para O desejar". Preferem
ouvir falar do Céu ou do Inferno mais do que de Cristo. Ah! Este é o pecado
supremo da Escócia, o desprezo de Cristo, a rejeição do livre oferecimento do
Salvador. Oh!, vós, víboras surdas, que não quereis ouvir a voz do Encantado,
sois vós quem faz que Deus seja um peregrino na Terra e "como o viandante que se
retira a passar a noite"!
3. Tem havido muita resistência ao Espírito
Santo em nossos dias. - Em algumas partes da Escócia
isto tem sido muito real. Muitos foram feridos no seu coração e as suas
conviccões hão sido muito removidas. Alguns foram levados a sentir profunda
inquietação pela sua alma, mas olharam atrás como a mulher do Lot, e como ela,
converteram-se em estátuas de sal. Oh, isto mantém a Deus fora!
Queridos pecadores, não convertidos, vós sabeis bem
pouco o quão interessados deveríeis estar de que este fosse um tempo de
avivamento. Não está no nosso ânimo dizer que venham juízos sobre vós, ou fogo
do Céu e fogo do Inferno; mas sim que vos temos de dizer muito claramente que,
a menos que o Espírito Santo de Deus desca sobre as nossas paróquias ou capelas
como chuva sobre a erva, muitas almas que estão agora num país de paz logo estarão num mundo de angústia e ranger
de dentes. Possivelmente não haverá juízos repentinos; não voltará a cair do
Céu um inferno como caiu sobre Sodoma, possivelmente a Terra não voltará a
abrir-se para engolir a sua presa, como aconteceu com o "campo do
Israel"; mas os quebrantadores do dia do Senhor, os mentirosos, os
perjuros, os bêbados, os impuros e os obscenos, os formalistas religiosos, os
mundanos e as hipócritas, quer dizer, todos os que estais sem Cristo, um a um
silenciosa, mas certamente, sereis levados para a eternidade escura e fatal!
Vinde, portanto, e permiti que cada cristão e, sobretudo, cada ministro derrame
em pranto sobre vós o seu coração e clame a Deus: “Oh! Esperança de Israel,
Redentor seu no tempo da angústia! Por que serias como um estrangeiro na terra
e como o viandante que se retira a passar a noite?”
Tem sido a prática de muitos ministros na Inglaterra
e Escócia levar a cabo em cada domingo das sete às oito horas da manhã uma
reunião de oração. Muitos ministros da nossa própria igreja se encontraram ante
o trono da graça a essa hora. Muitas congregações, em diferentes partes da
Escócia, acordaram orar em secreto e em família das oito às nove horas todos os
domingos pela manhã.
Não poderiam os ministros cristãos e os crentes da
Escócia manter a sua união em oração para que a nuvem de bênção, agora do
tamanho de uma mão humana, se engrandecesse para cobrir totalmente o firmamento
e para trazer-nos tempos do refrigério da presença do Senhor?
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Tradução de Carlos
António da Rocha
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Esta tradução é de
livre utilização, desde que a sua ortografia seja respeitada na íntegra porque
já está traduzida no Português do Novo Acordo Ortográfico e que não seja nunca
publicada nem utilizada para fins comerciais; seja utilizada exclusivamente
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