… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

ARREPENDIMENTO NA CHINA – Relato de Jonathan Goforth


 ARREPENDIMENTO NA CHINA
Relato
 de 
Jonathan Goforth


A comunidade cristã em Shinminfu fora terrivelmente perseguida durante a Rebelião Boxer de 1900, na China. Cinquenta e quatro pessoas foram martirizadas. Aquelas que sobreviveram prepararam uma lista com 250 nomes das pessoas que participaram, de alguma maneira, no massacre. A ideia era de que, um dia, elas conseguiriam vingar-se dos assassinos.

Estávamos no meio de um avivamento nessa mesma cidade, alguns anos depois. No quarto dia das reuniões, à tarde, chegamos a um ponto crítico. Tive a sensação de que era uma testemunha num cenário de julgamento. Após três horas de reunião, dei a bênção para tentar despedir o povo.

Imediatamente, surgiram clamores de todas as partes da congregação. “Por favor, tenha piedade de nós e permita que a reunião continue. Não temos conseguido dormir há várias noites, e assim será esta noite também se você não nos der uma chance de nos livrarmos de nossos pecados.”

Pedi a uma missionária que levasse as senhoras e as meninas para a ala feminina da escola e ficasse lá com elas até as coisas se acalmarem. Não vi nenhuma outra possibilidade de levar a reunião a um encerramento.

Enquanto as senhoras e as meninas saíam uma por uma, um dos evangelistas veio para a frente e ajoelhou-se. Ele confessou vários pecados, aparentemente de forma bem sincera, porém a carga que visivelmente pesava sobre sua consciência não parecia ter sido aliviada em nada.

“Já que você confessou seus pecados”, disse eu para ele, “Deus é fiel e justo para o perdoar de todos eles e para purificá-lo de toda a injustiça. Vá em paz.”

“Mas não confessei o pior de todos”, exclamou ele em lágrimas. “Eu não quero perdoar.”


 “Então, evidentemente Deus não o pode perdoar a si”, respondi-lhe

“É impossível, humanamente, que eu perdoe”, explicou ele angustiado. “No tempo dos Boxers, um homem veio e assassinou o meu pai. Desde então, senti que era minha obrigação vingar-me da sua morte. Há poucos dias que um amigo me escreveu dizendo: ‘Onde está a tua lealdade de filho? O teu pai foi assassinado, e tu continuas sem o vingar. Tu nem és digno de ser meu amigo.’ Assim, eu não posso perdoar àquele homem. Preciso destruí-lo.”

“Receio dizer-lhe, então”, eu disse, “que a Palavra de Deus é muito clara quando afirma que o Senhor tampouco tr perdoará a ti.”

 Depois disso, ele não respondeu mais nada, porém continuou ali de joelhos, chorando.

Em seguida, um garoto, aluno da escola, levantou-se e disse: “Em 1900, os Boxers vieram à minha casa e mataram o meu pai. Durante todos esses anos, sempre achei que não havia outro caminho a seguir, a não ser vingar aquele mal depois que eu me tornasse homem. Agora, porém, nesses últimos dias, o Espírito Santo me fez sentir tão incomodado que não consigo comer ou dormir ou fazer outra coisa. Sei que Ele está instando comigo para perdoar aos assassinos por amor de Jesus. Por favor, orem por mim.”

Um outro rapaz contou como o seu pai, a sua mãe e o seu irmão mais velho também tinham sido mortos pelos Boxers. No total, nove garotos foram à frente naquele dia para contar como pais, mães, irmãos e irmãs haviam sido assassinados diante dos seus olhos, e como desde então eles haviam vivido na esperança de que um dia conseguiriam vingar essas mortes. Mas todos confessaram que estavam sentindo-se muito mal, profundamente incomodados e sem paz, e pediram que orássemos por eles a fim de que tivessem graça para perdoar àqueles que lhes haviam feito tanto mal.

Depois de que as senhoras e meninas saíram, a reunião continuou por mais duas horas e meia. Houve uma corrente ininterrupta de confissões até ao fim. E, durante todo esse tempo, o evangelista que não conseguia perdoar estava ajoelhado ali na frente, chorando. No final da reunião, ele finalmente colocou-se em pé e olhou para a congregação. O seu rosto estava cansado e angustiado.

“Já tomei a minha decisão”, bradou ele. “Não vou descansar enquanto não matar o homem que assassinou o meu pai.”

Achei que nunca mais o veria.

Porém, quando voltei para o auditório das reuniões, no dia seguinte, lá estava ele perto da plataforma, com o rosto brilhando como a luz da manhã. Ele pediu a minha permissão para dizer algumas palavras antes de iniciar a pregação.

Virando-se para o grupo de alunos, ele disse: “Eu queria convidar os garotos que confessaram ontem e pediram graça para perdoar aos assassinos de seus pais e familiares para que viessem aqui à frente, por favor.”

Os nove rapazes saíram dos seus lugares e ficaram enfileirados à frente da congregação.

"Eu ouvi suas confissões ontem à noite, rapazes”, começou o evangelista. “Ouvi vocês dizerem que estavam dispostos a perdoar àqueles que mataram os vossos familiares. Depois me ouviram, a mim, um líder na igreja, declarar que eu não poderia perdoar e que não descansaria enquanto não me tivesse vingado do homem que matou meu pai.

"Quando cheguei a casa depois da reunião, pensei em como o diabo tiraria proveito do meu exemplo para tentar vos ridicularizar na posição que tomaram. As pessoas diriam que vocês são jovens demais para conhecer a própria mente ou coração. Olhariam para mim como um homem inteligente que certamente conhecia o seu próprio coração e diriam: ‘É claro que ele não acredita naquela conversa tola sobre perdoar aos seus inimigos.’

"Portanto, a fim de que o diabo não tire proveito para induzi-los a andar no caminho errado, eu comprei estes nove hinários que vos vou dar de presente, na esperança de que, cada vez que os abrirem para louvar a Deus com os hinos impressos nestas páginas, vocês se lembrem de como eu, um evangelista, recebi a graça de Deus para perdoar ao assassino de meu pai.”

Logo em seguida, a lista contendo os nomes das pessoas contra quem os cristãos haviam planeado vingar-se foi apresentada, na frente da congregação, e foi rasgada em pedaços pequeninos, para serem jogados fora e esquecidos para sempre.
Carlos António da Rocha

DUAS PEQUENAS NOTAS

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