«O Que
Pensas Da Cruz?»
J. C. Ryle
O que pensas e sentes
acerca da Cruz de Cristo? Vives num país Cristão. Provavelmente assistes ao
culto duma igreja cristã. Quiçá tenhas sido batizado no nome de Cristo.
Professas ser e chamas-te Cristão. Tudo isto está bem: é muito mais do que
podem dizer milhões de pessoas no mundo; mas não é uma resposta à minha
pergunta: «O que pensas da Cruz de Cristo?
Quero dizer-te o que pensava da Cruz de Cristo
aquele que foi, provavelmente, o maior dos Cristãos que terá vivido. Escreveu a
sua opinião na carta que dirigiu aos Gálatas (6: 14); e as palavras que usou
para expor a sua opinião são estas: «Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não
ser na Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo.»
Leitor, permite-me que
te fale deste tema. É um tema da maior importância. Não se trata meramente de
uma controvérsia. Este não é um dos pontos nos quais os homens se põem de
acordo, ou sobre o qual estão em desacordo, e consideram que as diferenças não
vão fechar-lhes as portas do Céu. Há que ter uma posição certa neste tema, ou a
pessoa perde-se para sempre. O Céu ou o Inferno, a felicidade ou a miséria, a
vida ou a morte, a bênção ou a maldição no último dia; tudo gira em torno da
resposta a esta pergunta: «O que pensas tu da Cruz de Cristo?»
Há muitas coisas das
quais Paulo podia glorificar-se, se tivesse pensado como pensam muitos no dia
de hoje: Se houve alguma vez alguém neste mundo que tivesse de que jactar-se,
era ele; este homem foi o grande Apóstolo dos gentios. Se ele não se gloria,
então, quem pode fazê-lo?
Nunca se gloriou nos seus privilégios nacionais.
Era judeu de nascimento, e como ele mesmo nos diz: «Um hebreu de hebreus.»
Poderia haver dito como muitos dos seus irmãos: «Tenho a Abraão por antecessor.
Não sou um pagão sem luz nem entendimento. Pertenço ao povo eleito por Deus.
Fui admitido num pacto com Deus por meio da circuncisão. Sou muito melhor do
que os gentios ignorantes.» Mas ele nunca se gloriou em nada semelhante a isso,
nem por um só momento! Nunca se gloriou nas suas próprias obras. Não houve
ninguém que tivesse trabalhado tanto para Deus como ele. Os seus trabalhos eram
mais abundantes do que os de qualquer outro Apóstolo. Jamais algum homem tinha
pregado tanto, viajado tanto e sofrido maiores vicissitudes pela causa de
Cristo do que ele. Ninguém jamais converteu mais almas, fez tanto bem no mundo,
e se fez, ele mesmo, mais útil à humanidade do que ele.
Nenhum pai da Igreja primitiva, nenhum
reformador, puritano, missionário, ministro, leigo, ninguém, a quem pudéssemos
nomear, fez tantas boas obras como o Apóstolo Paulo.
Mas ele nunca se gloriou nelas, como se elas
tivessem algum mérito em si mesmas e pudessem salvar a sua alma.
Nunca! Nem por um só momento.
Nunca se gloriou no seu próprio conhecimento.
Era um homem de grandes dons naturais, e depois que se converteu, o Espírito
Santo ainda lhe deu maiores dons. Era um pregador poderoso, um grande orador e
um grande escritor. Era tão grande com a pluma como com a língua. Podia aduzir
bem e tanto com os judeus como com os gentios. Podia discutir com os infiéis em
Corinto, com os fariseus em Jerusalém, ou os com crentes satisfeitos consigo mesmo, da Galácia. Conhecia muitas coisas ocultas. Havia estado no terceiro Céu,
e ouviu palavras impossíveis de repetir. Havia recebido o dom de profecia, e
podia predizer as coisas futuras.
Mas nunca se gloriou do seu conhecimento como se
este pudesse justificá-lo diante de Deus.
Nunca, nunca, nem por um momento!
Nunca se gloriou nas suas graças ou virtudes. Se
alguma vez tiver existido um homem abundante em graças, esse homem era Paulo.
Estava cheio de amor. De que modo tão tenro e afectuoso costumava escrever!
Podia sentir pelas almas o que uma mãe sente pelo seu filho. Era um homem
decidido: não lhe importavam os riscos em que incorria se tinha de ganhar
almas. Era um homem que se negava a si mesmo, na fome e na sede, ao frio e na
nudez, em vigílias e jejuns, muitas vezes. Era um homem humilde: ele
considerava-se a si mesmo o menor dos santos e o principal dos pecadores. Era
um homem de oração: vede como destaca isto em todas as suas epístolas. Era um
homem agradecido; as suas ações de graças e as suas orações andavam juntas.
Porém nunca se gloria nisto, nunca põe a esperança da sua alma nisso. Não! Nem
por um momento!
Nunca se glorifica na sua qualidade de
eclesiástico. Se tiver havido um homem metido na Igreja, este homem era Paulo.
Ele mesmo havia sido escolhido como Apóstolo, era um fundador dr Igrejas, e um
ordenador de ministros. Tinha dado começo a serviços e a sacramentos em muitos
lugares antes desconhecidos do Evangelho. Batizou muitos, e recebeu a muitos na mesa do Senhor.
Mas, gloriou-se alguma vez dos seus cargos e das
suas posições dentro da Igreja? Fala alguma vez da sua qualidade de homem de
Igreja como de algo que pudesse salvá-lo, que o justificasse, lhe tirasse os
seus pecados e o fizesse aceitável diante de Deus?
Nunca, nem por um momento!
E agora, note-se isto bem. Se o Apóstolo Paulo
não se gloriou nunca em nenhuma destas coisas, quem há neste mundo que tenha
direito algum a fazê-lo nos nossos dias? Se Paulo disse: «Mas longe esteja de
mim gloriar-me, a não ser na Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo», quem se
atreverá a dizer: «Tenho algo de que vangloriar-me: eu sou melhor do que
Paulo»?
A Cruz significa que Cristo morreu nela pelos
pecadores, que fez expiação pelos pecadores ao sofrer por eles na Cruz: um
sacrifício completo e perfeito que Ele ofereceu pelo pecado quando deu o Seu
próprio corpo para ser crucificado. Este é o significado no qual Paulo usa a
expressão quando diz aos Coríntios: «A mensagem da Cruz é loucura para os que
se estão perdendo, (1.ª Coríntios 1:18), e quando escreve aos Gálatas: «Que
jamais aconteça que me glorie a não ser na Cruz de Cristo.» Simplesmente, Paulo
queria dizer isto: «Glorio-me só em Cristo crucificado, como a salvação da
minha alma.»
Este era o tema sobre o qual ele gostava de
pregar.
Era um homem que ia de um lado para o outro pela
Terra, proclamando aos pecadores que o Filho de Deus tinha derramado o sangue
do Seu próprio coração para salvar as suas almas, que Jesus Cristo os tinha
amado e que Jesus tinha morrido pelos seus pecados na Cruz. Note-se como Ele
diz aos Coríntios: «Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo
e Este crucificado.» (1.ª Coríntios 2:2). Ele, um fariseu que havia perseguido
os Cristãos, tinha sido lavado pelo sangue de Cristo. Não podia calar-se, nunca
se cansava de contar a história da Cruz.
Este era o tema sobre o
qual ele gostava de insistir quando escrevia aos crentes.
É maravilhoso observar quão cheias estão, em
geral, as suas epístolas dos sofrimentos e da morte de Cristo. Ele amplia o
tema constantemente. Volta para ele. Este fio de ouro segue por todo o seu
ensino doutrinal e pela exortação pratica. Parece que Paulo pensa que os
Cristãos mas adiantados podem, nem uma vez, ter ouvido muito sobre a Cruz.
É sobre isto que insistiu
durante toda a sua vida, desde o tempo da sua conversão. Diz aos Gálatas: «A
vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, O qual me amou e Se
entregou a Si mesmo por mim.» (Gálatas 2:20). O que é que o fez tão forte no
obra, tão decidido no trabalho, tão incansável no esforço para salvar a alguns,
tão perseverante e paciente? O segredo de tudo isso era que Paulo sempre se
alimentava pela fé no corpo de Cristo e no sangue de Cristo. Jesus crucificado
era a carne e a bebida da sua alma.
E, leitor, podes estar seguro de que Paulo tinha
razão. A Cruz de Cristo -a morte de Cristo na Cruz para fazer expiação pelos
pecadores- é a verdade central de toda a Bíblia. Esta é a verdade com que
começamos quando se abre o Génesis. A descendência da mulher esmagando a cabeça
da serpente não é nada mais do que uma profecia de Cristo crucificado. Esta é a
verdade que assoma, ainda que velada, em toda a lei de Moisés e na história dos
judeus. O sacrifício diário, o cordeiro pascal, o derramamento contínuo de
sangue no tabernáculo e o templo; todos eles são emblemas de Cristo
crucificado. Esta é a verdade que vemos honrada na visão do Céu antes de
fechar-se o livro do Apocalipse. «No meio do trono e dos quatro
animais viventes», é-nos dito, «E entre os anciãos um
Cordeiro, como havendo sido morto.» (Apocalipse 5:ó). Inclusive
no meio da glória celestial temos uma visão do Cristo crucificado. Eliminai a
Cruz de Cristo, e a Bíblia é um livro escuro e incompreensível. É como os
hieróglifos egípcios sem uma chave para interpretar o seu significado, curioso
e maravilhoso, mas sem utilidade real.
Leitor, nota bem isto. Pode ser que conheças
muito sobre a Bíblia. É possível que conheças os bosquejos das histórias que
ela contém, e as datas dos sucessos ali descritos, tal como podes conhecer a
história do teu próprio país. É possível que conheças os nomes dos homens e das
mulheres importantes que se mencionam nela, como conheces César, Alexandre
Magno ou Napoleão. É possível que conheças os diversos preceitos da Bíblia e os
admires, tal como um homem admira Platão, Aristóteles ou Séneca. Mas, se não
tens achado que Cristo crucificado é o fundamento de todo o volume, tens lido a
Bíblia até agora sem haveres retirado muito proveito dela. A tua religião é um
Céu sem Sol, um arco sem a pedra chave, um compasso sem agulha, um relógio sem
mola ou pesos, uma lâmpada sem azeite. Não te podes consolar nem corroborar.
Não livrarás a tua alma do Inferno. É possível que saibas muito sobre Cristo,
numa ordem de conhecimento intelectual. É possível que saibas quem era, onde
nasceu e o que fez; é possível que conheças os Seus milagres, os Seus ditos, as
Suas profecias e as Suas ordenanças; É possível que saibas como viveu, sofreu e
morreu. Mas a menos que conheças o poder da Cruz de Cristo por experiência
pessoal; a menos que saibas e sintas dentro de ti que o sangue derramado na
Cruz lavou os teus próprios pecados em particular; a menos que estejas disposto
a confessar que a tua salvação depende inteiramente da obra que Cristo fez
sobre a Cruz, Cristo não te vai ser de nenhum proveito. O mero conhecimento do
nome de Cristo não te vai salvar. Tens de conhecer a Sua Cruz e oSeu sangue,
porque senão vais morrer nos teus pecados.
Não te fies duma religião na qual não se fala
muito da Cruz. Vives em momentos em que esta advertência, por desgraça, é muito
necessária. Não confies, repito, numa religião sem a Cruz.
São às centenas os lugares de culto nestes dias
em que há quase de tudo, excepto a Cruz. Há carvalho esculpido e pedra
esculpida. Há cristais de cores e pinturas esplêndidas. Há serviços solenes, e
uma série contínua de regulamentos. Mas a Cruz de Cristo, verdadeiramente, esta
não está ali. Jesus crucificado não é o que Se proclama no púlpito. O Cordeiro
de Deus não é levantado, e a salvação pela fé nEIe não é proclamada em
abundância. De modo que tudo vai mal. Leitor, não confies nestes lugares de
culto. Não são apostólicos; não teriam deixado satisfeito a São Paulo.
São aos milhares os livros religiosos que se
publicam nos nossos dias em que se pode achar tudo, excepto a Cruz. Estão
cheios de instruções sobre os sacramentos e de louvores da Igreja. Abundam em
exortações sobre a vida santa, as regras para alcançar a perfeição. Mas a Cruz
de Cristo, verdadeiramente, esta é deixada de lado. O Salvador e o Seu amor que
o levou à morte, isto não é mencionado numa forma escritural. Daí que sejam
piores do que os livros inúteis. Leitor, não confies nestes livros. Não são
apostólicos. Nunca teriam deixado satisfeito a São Paulo.
Creio que é algo excelente que estejamos
insistindo constantemente na Cruz de Cristo. É bom que se recorde a alguém que
Jesus foi entregue nas mãos de homens perversos, que O condenaram num
julgamento injusto, que Lhe cuspiram, que O açoitaram e O coroaram de espinhos;
que O levaram como a um cordeiro ao matadouro, sem que Ele murmurasse ou
resistisse; que cravaram pregos nas Suas mãos e pés, e O levantaram no Calvário
entre dois ladrões; que perfuraram o Seu lado com uma lança, burlaram-se dos
Seus sofrimentos e deixaram-No pendurando nu e sangrando até que Ele morreu.
Todas estas coisas, digo, é bom que nos sejam recordadas.
Não é por acaso que a crucificação se descreve
quatro vezes no Novo Testamento. Há poucas coisas que são descritas pelos
quatro Evangelistas. Falando de modo geral, se Mateus, Marcos e Lucas nos dizem
uma coisa da história de nosso Senhor, João não a conta. Porém, há alguma coisa
que os quatro relatam com grande pormenor, e isto é a história da Cruz.
Este é um facto importante e não deve passar
inadvertido.
As pessoas parecem esquecer que todos os sofrimentos
de Cristo na Cruz foram necessários para a salvação do homem. Teve de levar os
nossos pecados, se é que alguém tinha de encarregar-se deles. Só por meio das
Suas feridas podíamos nós ser curados. Isto foi o único pagamento da nossa
dívida que Deus podia aceitar. Este foi o grande sacrifício do qual dependia a
nossa vida. Se Cristo não tivesse sido sacrificado e sofrido em nosso lugar, o
Justo pelos injustos, não teria havido nem sombra de esperança para nós. Teria
persistido o tremendo abismo entre nós e Deus, que nenhum homem podia cruzar.
As pessoas parece que se esquecem de que todos
os sofrimentos de Cristo foram sofridos voluntariamente, porque Ele quis
aceitá-los. Não estava obrigado a sofrê-los. Pela Sua própria decisão foi à
Cruz, para terminar a obra que tinha vindo a fazer. Podia ter chamado legiões
de anjos e ter esparramado a Herodes e a Pilatos e aos seus exércitos como a
moinha é esparzida no verão pelo vento na eira. Porém, Ele estava disposto a
sofrer. O Seu coração estava posto na salvação dos pecadores. Estava resolvido
a abrir uma fonte para o pecado e a impureza, mediante o derramamento do Seu
próprio sangue.
Leitor, quando penso em tudo isto, não vejo nada
de penoso ou de desagradável no tema da Cruz de Cristo. Pelo contrário, vejo
nele sabedoria e poder, justiça e esperança, ânimo e consolo. Quanto mais tenho
à vista da mente a Cruz de Cristo, mais plenitude discirno nela. Mas fico
convencido de que há mais para aprender ao pé da Cruz do que em qualquer outra
parte do mundo.
A Cruz de Cristo é a força de um ministro. Pela
minha parte não quereria sair dela por nada no mundo. Parecia-me que me
encontrava como um soldado sem armas, como um artista sem pincéis, como um
piloto sem bússola e como um artesão sem ferramentas. Que outros preguem, se
quiserem, a lei e a moralidade. Que os outros mostrem os terrores do Inferno e
os gozos do Céu. A mim, dai-me a Cruz de Cristo. Esta é a única alavanca que
pode voltar o mundo de cabeça para baixo, e fazer com que os homens possam
esquecer os seus pecados.
E se a Cruz não o faz, nada o fará. Um homem
pode pregar com um conhecimento perfeito do latim, do grego e do hebraico, mas
não fará bem algum aos seus ouvintes, a menos que conheça a Cruz de Cristo.
Nunca houve um ministro que fizesse muito para a conversão das almas que não
permanecesse junto de Cristo crucificado. Lutero, Rutherford, Whitfield,
M'Cheyne, todos eles foram eminentemente pregadores da Cruz. Esta é a pregação
que o Espírito Santo Se deleita em abençoar. O Espírito Santo compraz-Se em
honrar aqueles que honram a Cruz.
A Cruz é o segredo de todo o êxito missionário.
Nada há que comova tanto os corações dos pagãos como a Cruz. Na proporção em
que tenha sido levantada a Cruz assim têm prosperado as missões. Esta é a arma
que tem ganho vitórias sobre os corações, em todas partes do globo. Na
Groenlândia, na África, nas Ilhas da Oceânia, na Índia, na China, em todos
estes lugares se tem sentido o seu poder. Tal como uma enorme ponte de ferro
fica afetada e se curva mais por meia hora de Sol do que por todo o peso que se
lhe põe em cima, do mesmo modo como os corações dos selvagens se derretem ante
a Cruz, também da mesma maneira ficam indiferentes como pedras ante outros
argumentos.
«Irmãos», disse um índio norte-americano depois
da sua conversão, «Tenho sido um pagão e sei como pensam os pagãos. Uma vez
veio um pregador e começou a explicar-nos que havia um Deus; mas nós
dissemos-Lhe que voltasse para o lugar donde tinha vindo. Veio outro pregador e
disse-nos que não mentíssemos, roubássemos ou bebêssemos; mas não fizemos
nenhum caso disso. Por fim, veio outro missionário à minha tenda um dia e
disse-me: "Vim em nome do Senhor do Céu e da Terra. Ele enviou-me para que
saibais que Ele vos fará felizes, e vos Iivrará da vossa miséria. Para este fim
Se fez homem, deu a Sua vida como resgate, deu o Seu sangue em favor dos
pecadores." Não pude esquecer as suas palavras. Disse-as a outros índios,
e começou um despertamento entre nós.»
Digo, portanto, que pregueis os sofrimentos e a
morte de Cristo, nosso Senhor, se quiserdes que as vossas palavras sejam
recebidas pelos pagãos.
A Cruz é o fundamento da prosperidade da Igreja.
Nenhuma igreja vai ser honrada se nela Cristo continuamente não é levantado.
Não há nada que possa compensar a falta da Cruz. Sem ela as coisas podem ser
feitas decentemente e com ordem. Sem ela pode haver esplêndidas cerimónias,
música sumptuosa, ministros ilustres, mesas de comunhão lotadas, oferendas e
colectas generosas aos pobres; porém, sem a Cruz não se fará muito bem. Os
corações na escuridão não receberão luz, os corações orgulhosos não serão
humilhados, os corações doloridos não serão consolados, os corações que
desmaiam não receberão ânimos. Uma esplêndida sala de banquete e uma bandeja de
ouro recamado sobre a mesa não vão servir para aliviar a fome daquele que
necessita de alimento. Cristo crucificado é a grande ordenança de Deus para
fazer bem aos homens. Sempre que uma Igreja esconde a Cristo crucificado ou põe
outra coisa qualquer no lugar preeminente que corresponde a Cristo crucificado,
a partir deste momento essa igreja deixa de prestar serviço.
Sem Cristo crucificado
nos púlpitos, uma igreja é pouco melhor do que um túmulo no chão, é um poço sem
água, é uma armadura inerte, é uma figueira seca, é um sentinela adormecido, é
uma trombeta silenciosa, é uma testemunha muda, é um embaixador sem poderes, é
um farol sem luz, é uma pedra de tropeço para os crentes débeis, é um consolo
para os infiéis, é um criadouro de formalismo, é uma jóia para o diabo e uma
ofensa para Deus.
“El milagro de la Cruz,
Moody, Spurgeon e otros”, Clásicos Evangélicos, páginas 45 a 55.
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John Charles Ryle conhecido como J.C. Ryle (1816 –
1900) foi o primeiro bispo anglicano da cidade de Liverpool, Inglaterra. Ryle
foi um firme defensor da escola evangélica e um crítico do ritualismo. Foi um escritor
prolífico, um pregador vigoroso e um pastor fiel .
Tradução de Carlos António da Rocha
***
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