por John Owen
Tradução da obra "Meditations on the Glory of
Crist" de John Owen, numa versão abreviada intitulada "The Glory of Crist".
CAPÍTULO 11
A Glória de Cristo manifestada em reunir todas as
coisas em Si mesmo
“... As riquezas da Sua graça, que Ele tornou abundante para connosco em
toda a sabedoria e prudência, descobrindo-nos o mistério da Sua vontade,
segundo o Seu beneplácito, que propusera em Si mesmo, de tornar a congregar em
Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que
estão nos Céus como as que estão na Terra.” (Ef 1:7-10).
Para procurar entender estas palavras, devemos considerar o estado
original de todas as coisas no Céu e na Terra, a desordem produzida pelo pecado
e a Glória da restauração de todas as coisas por Cristo.
1. Deus identifica-Se a Si mesmo como “EU SOU” (Ex 3:14). Ele é
eternamente auto existente e a fonte de tudo o que existe. Tudo o que existe é
dEle (Rm 11:36). Da mesma forma, Deus é a fonte de toda a bondade.
2. Aonde exista um Ser de tal bondade infinita, aí também existe a
bem-aventurança infinita e a felicidade às quais nada pode ser acrescentado. A
bem-aventurança e a auto-satisfação de Deus eram as mesmas antes de que Ele as
criasse como elas são agora. Esta bem-aventurança consiste no amor eterno e
mútuo das três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo, num só Deus.
3. Deus fez todas as coisas conforme a Sua vontade e de acordo com o Seu
beneplácito, atuando em sabedoria infinita, poder e bondade. Deus deu às coisas
criadas uma existência dependente, limitada e bondosa. Ele disse: “Seja feito”,
e tudo chegou a existir. “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era
muito bom” (Gn 1:31). A primeira forma como Deus mostra a Glória da Sua própria
natureza é pela existência e pela bondade da criação física. A continuidade de
toda a criação também depende de Deus.
4. Então, “No princípio criou Deus os Céus e a Terra” (Gn 1:1). Deus
preparou a Terra para ser a morada dos homens e também preparou o Céu para que
fosse o lar dos anjos. Estes lugares (o Céu e a Terra) de acordo com as suas
distintas naturezas levaram Glória e louvor a Deus. Toda a ordem das coisas
criadas foi sobremaneira formosa. Não existia nenhum rompimento na comunhão
entre Deus e as coisas que Ele tinha criado. Deus comunicava-Se diretamente com
elas e elas obedeciam-Lhe em tudo.
5. Mas esta formosa ordem foi quebrantada e destruída pela entrada do
pecado. Uma parte da família dos anjos no Céu e a totalidade da raça humana
sobre a Terra caíram da sua dependência de Deus e só o ódio e a confusão
reinaram entre eles. Devido a que a Terra tinha sido posta em sujeição sob a
raça humana, (a qual agora está caída) Deus amaldiçoou a Terra. Sem embargo,
Ele não amaldiçoou o Céu devido a muitos dos anjos permaneceram no seu estado
original (sem queda). Os anjos que pecaram foram completamente rejeitados para
sempre (quer dizer, sem a possibilidade de serem salvos). E se bem que toda a
raça humana tinha caído no pecado, Deus determinou salvar uma parte dela pela
Sua graça.
6. Então, o plano de Deus foi agora o de reunir as duas famílias, os
anjos e os homens, juntos sob uma cabeça nova; a família dos anjos bons que
foram preservados do pecado e a de todos os crentes que foram livres dos seus
pecados. Este é o significado das palavras: “De tornar a congregar em Cristo
todas as coisas, ... tanto as que estão nos Céus como as que estão na Terra”
(Ef 1:10); e de “reconciliar Consigo mesmo todas as coisas, assim as que estão
na Terra como as que estão nos Céus” (Cl 1:20). Jesus Cristo, o Filho de Deus é
a nova cabeça em quem Deus reuniu todas as coisas numa só no Céu e na Terra.
Como um corpo e uma família eles agora dependem dEle, por Quem vivem e por Quem
têm a sua existência. Deus, o Pai, “sujeitou todas as coisas a Seus pés (de
Cristo) e, sobre todas as coisas, O constituiu como cabeça da igreja, que é o
Seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos” (Ef 1:22-23). “E Ele é
antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele. E Ele é a cabeça
do corpo da igreja; é o princípio e o primogénito dentre os mortos, para que em
tudo tenha a preeminência, porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude
nEle habitasse.” (Cl 1:17-19)
7. Deus deu todo poder no Céu e na Terra à
Cabeça desta nova e piedosa família. Agora, todos devem vir a Cristo para obter
poder espiritual, graça e bondade. Quer sejam anjos ou homens, ambos dependem
agora completamente dEle. Os anjos que não caíram não necessitaram da redenção
e da graça, e no seu estado original foram capazes de continuar existindo na
Glória do Céu. Mas foi necessário para nós que Cristo tomasse a nossa natureza
e que Se unisse a nós pelo Seu Espírito. Assim, os crentes são redimidos para
viver num Céu glorioso como uma família com os anjos.
Alguns pensamentos adicionais ajudar-nos-ão a meditar sobre este tema de
reunir todas as coisas em Cristo, a verdadeira Glória, a qual está além do
nosso entendimento.
1. Somente Cristo poderia carregar o peso desta Glória. O Espírito Santo
descreve-O como: “O qual, sendo o resplendor da Sua Glória (do Pai), e a
expressa imagem da Sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do
Seu poder...” (Hb 1:3). “O qual é imagem do Deus invisível, o primogénito de
toda a criação; porque nEle foram criadas todas as coisas que há nos Céus e na
Terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam
principados, sejam potestades; tudo foi criado por Ele e para Ele. E Ele é
antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele.” (Cl 1:15-17)
2. Foi o eterno e maravilhoso propósito de Deus o glorificar-Se a Si
mesmo por meio da encarnação de Cristo. Este propósito foi que toda a criação,
especialmente a Igreja, a qual seria bendita eternamente, tivesse uma nova
cabeça. A ordem de toda a família no Céu e na Terra, anjos e homens,
dependeriam de Cristo. Nada deveria encher mais os corações dos crentes com
gozo e deleite, do que contemplar pela fé a formosura divina de reunir todas as
coisas em Cristo.
3. O problema do pecado que destruiu toda a beleza e a ordem da criação
foi resolvido. Todas as coisas no princípio da criação foram formosas pela
maneira como tudo era dependente de Deus e mostravam assim a Sua sabedoria e a
Sua formosura. A entrada do pecado arruinou esta cena de formosura. Mas agora,
ao reunir todas as coisas em Cristo Jesus, todas as coisas são restauradas
outra vez a um estado de comunhão com Deus. Efetivamente, toda a maravilhosa
estrutura da criação divina foi tornada mais bela do que antes foi e tudo isto
surge da sua nova relação com o Filho de Deus.
4. Deus sempre é sábio em tudo o que faz. A Sua sabedoria e poder
infinitos foram manifestos na primeira criação. “Quão inumeráveis são as Tuas
obras, oh Jeová! Fizeste todas elas com sabedoria...” (Sl 104:24). Mas quando
os efeitos desta sabedoria divina foram arruinados, uma sabedoria maior se
requeria para restaurar a criação. Ao reunir todas as coisas em Cristo, Deus
manifestou a Sua sabedoria inescrutável aos anjos, os quais nada tinham
conhecido antes acerca de quais eram os Seus propósitos. “Para que a multiforme
sabedoria de Deus seja agora dada a conhecer por meio da igreja aos principados
e às potestades nos lugares celestiais.” (Ef 3:10) “Em Cristo estão escondidos
todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento.” (Cl 2:3)
5. Na primeira criação,
gloriosa como foi, tudo dependia diretamente de Deus e da lei de obediência a
Ele. Esta foi uma frágil unidade que dependia de uma vontade disposta das
criaturas para obedecer ao seu Criador. Mas tudo na nova criação, até cada
crente foi unido a Cristo, a cabeça. Esta é uma unidade inquebrável.
Aqueles que dependem inteiramente de Cristo para a sua eterna segurança não podem cair da salvação
que agora desfrutam nEle.
Meditations on the Glory of Crist" de John
Owen numa versão abreviada intitulada "The Glory of Crist"
Tradução de Carlos António da Rocha
John
Owen (Stadhampton, 1616 - Ealing, 24 de agosto de 1683) é, por
consenso, o mais bem conceituado teólogo puritano, e muitos o
classificariam, ao lado de João Calvino e de Jonathan Edwards, como um
dos três maiores teólogos reformados de todos os tempos.
Nascido em 1616, entrou para o Queen's College, em Oxford, aos 12 anos de idade e completou seu mestrado em 1635 aos 19 anos de idade. Em 1637 tornou-se pastor.
Na década de 1640 foi capelão de Oliver Cromwell e, em 1651, veio a ser deão da Christ Church, a maior faculdade de Oxford. Em 1652, recebeu o cargo adicional de vice-reitor da universidade, a qual passou a reorganizar com sucesso notável.
Depois de 1660, foi líder dos Independentes (mais tarde chamados de congregacionais, até sua morte em 1683.
Nascido em 1616, entrou para o Queen's College, em Oxford, aos 12 anos de idade e completou seu mestrado em 1635 aos 19 anos de idade. Em 1637 tornou-se pastor.
Na década de 1640 foi capelão de Oliver Cromwell e, em 1651, veio a ser deão da Christ Church, a maior faculdade de Oxford. Em 1652, recebeu o cargo adicional de vice-reitor da universidade, a qual passou a reorganizar com sucesso notável.
Depois de 1660, foi líder dos Independentes (mais tarde chamados de congregacionais, até sua morte em 1683.
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