… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

sábado, 10 de março de 2012

A glória de Cristo,

por John Owen
Tradução da obra "Meditations on the Glory of Crist" de John Owen, numa versão abreviada 
 intitulada "The Glory of Crist". 


CAPÍTULO 11



A Glória de Cristo manifestada em reunir todas as coisas em Si mesmo

“... As riquezas da Sua graça, que Ele tornou abundante para connosco em toda a sabedoria e prudência, descobrindo-nos o mistério da Sua vontade, segundo o Seu beneplácito, que propusera em Si mesmo, de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos Céus como as que estão na Terra.” (Ef 1:7-10).

Para procurar entender estas palavras, devemos considerar o estado original de todas as coisas no Céu e na Terra, a desordem produzida pelo pecado e a Glória da restauração de todas as coisas por Cristo.

1. Deus identifica-Se a Si mesmo como “EU SOU” (Ex 3:14). Ele é eternamente auto existente e a fonte de tudo o que existe. Tudo o que existe é dEle (Rm 11:36). Da mesma forma, Deus é a fonte de toda a bondade.

2. Aonde exista um Ser de tal bondade infinita, aí também existe a bem-aventurança infinita e a felicidade às quais nada pode ser acrescentado. A bem-aventurança e a auto-satisfação de Deus eram as mesmas antes de que Ele as criasse como elas são agora. Esta bem-aventurança consiste no amor eterno e mútuo das três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo, num só Deus.

3. Deus fez todas as coisas conforme a Sua vontade e de acordo com o Seu beneplácito, atuando em sabedoria infinita, poder e bondade. Deus deu às coisas criadas uma existência dependente, limitada e bondosa. Ele disse: “Seja feito”, e tudo chegou a existir. “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” (Gn 1:31). A primeira forma como Deus mostra a Glória da Sua própria natureza é pela existência e pela bondade da criação física. A continuidade de toda a criação também depende de Deus.

4. Então, “No princípio criou Deus os Céus e a Terra” (Gn 1:1). Deus preparou a Terra para ser a morada dos homens e também preparou o Céu para que fosse o lar dos anjos. Estes lugares (o Céu e a Terra) de acordo com as suas distintas naturezas levaram Glória e louvor a Deus. Toda a ordem das coisas criadas foi sobremaneira formosa. Não existia nenhum rompimento na comunhão entre Deus e as coisas que Ele tinha criado. Deus comunicava-Se diretamente com elas e elas obedeciam-Lhe em tudo.

5. Mas esta formosa ordem foi quebrantada e destruída pela entrada do pecado. Uma parte da família dos anjos no Céu e a totalidade da raça humana sobre a Terra caíram da sua dependência de Deus e só o ódio e a confusão reinaram entre eles. Devido a que a Terra tinha sido posta em sujeição sob a raça humana, (a qual agora está caída) Deus amaldiçoou a Terra. Sem embargo, Ele não amaldiçoou o Céu devido a muitos dos anjos permaneceram no seu estado original (sem queda). Os anjos que pecaram foram completamente rejeitados para sempre (quer dizer, sem a possibilidade de serem salvos). E se bem que toda a raça humana tinha caído no pecado, Deus determinou salvar uma parte dela pela Sua graça.

6. Então, o plano de Deus foi agora o de reunir as duas famílias, os anjos e os homens, juntos sob uma cabeça nova; a família dos anjos bons que foram preservados do pecado e a de todos os crentes que foram livres dos seus pecados. Este é o significado das palavras: “De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, ... tanto as que estão nos Céus como as que estão na Terra” (Ef 1:10); e de “reconciliar Consigo mesmo todas as coisas, assim as que estão na Terra como as que estão nos Céus” (Cl 1:20). Jesus Cristo, o Filho de Deus é a nova cabeça em quem Deus reuniu todas as coisas numa só no Céu e na Terra. Como um corpo e uma família eles agora dependem dEle, por Quem vivem e por Quem têm a sua existência. Deus, o Pai, “sujeitou todas as coisas a Seus pés (de Cristo) e, sobre todas as coisas, O constituiu como cabeça da igreja, que é o Seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos” (Ef 1:22-23). “E Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele. E Ele é a cabeça do corpo da igreja; é o princípio e o primogénito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência, porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nEle habitasse.” (Cl 1:17-19)

7. Deus deu todo poder no Céu e na Terra à Cabeça desta nova e piedosa família. Agora, todos devem vir a Cristo para obter poder espiritual, graça e bondade. Quer sejam anjos ou homens, ambos dependem agora completamente dEle. Os anjos que não caíram não necessitaram da redenção e da graça, e no seu estado original foram capazes de continuar existindo na Glória do Céu. Mas foi necessário para nós que Cristo tomasse a nossa natureza e que Se unisse a nós pelo Seu Espírito. Assim, os crentes são redimidos para viver num Céu glorioso como uma família com os anjos.

Alguns pensamentos adicionais ajudar-nos-ão a meditar sobre este tema de reunir todas as coisas em Cristo, a verdadeira Glória, a qual está além do nosso entendimento.

1. Somente Cristo poderia carregar o peso desta Glória. O Espírito Santo descreve-O como: “O qual, sendo o resplendor da Sua Glória (do Pai), e a expressa imagem da Sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do Seu poder...” (Hb 1:3). “O qual é imagem do Deus invisível, o primogénito de toda a criação; porque nEle foram criadas todas as coisas que há nos Céus e na Terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por Ele e para Ele. E Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele.” (Cl 1:15-17)

2. Foi o eterno e maravilhoso propósito de Deus o glorificar-Se a Si mesmo por meio da encarnação de Cristo. Este propósito foi que toda a criação, especialmente a Igreja, a qual seria bendita eternamente, tivesse uma nova cabeça. A ordem de toda a família no Céu e na Terra, anjos e homens, dependeriam de Cristo. Nada deveria encher mais os corações dos crentes com gozo e deleite, do que contemplar pela fé a formosura divina de reunir todas as coisas em Cristo.

3. O problema do pecado que destruiu toda a beleza e a ordem da criação foi resolvido. Todas as coisas no princípio da criação foram formosas pela maneira como tudo era dependente de Deus e mostravam assim a Sua sabedoria e a Sua formosura. A entrada do pecado arruinou esta cena de formosura. Mas agora, ao reunir todas as coisas em Cristo Jesus, todas as coisas são restauradas outra vez a um estado de comunhão com Deus. Efetivamente, toda a maravilhosa estrutura da criação divina foi tornada mais bela do que antes foi e tudo isto surge da sua nova relação com o Filho de Deus.

4. Deus sempre é sábio em tudo o que faz. A Sua sabedoria e poder infinitos foram manifestos na primeira criação. “Quão inumeráveis são as Tuas obras, oh Jeová! Fizeste todas elas com sabedoria...” (Sl 104:24). Mas quando os efeitos desta sabedoria divina foram arruinados, uma sabedoria maior se requeria para restaurar a criação. Ao reunir todas as coisas em Cristo, Deus manifestou a Sua sabedoria inescrutável aos anjos, os quais nada tinham conhecido antes acerca de quais eram os Seus propósitos. “Para que a multiforme sabedoria de Deus seja agora dada a conhecer por meio da igreja aos principados e às potestades nos lugares celestiais.” (Ef 3:10) “Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento.” (Cl 2:3)

5. Na primeira criação, gloriosa como foi, tudo dependia diretamente de Deus e da lei de obediência a Ele. Esta foi uma frágil unidade que dependia de uma vontade disposta das criaturas para obedecer ao seu Criador. Mas tudo na nova criação, até cada crente foi unido a Cristo, a cabeça. Esta é uma unidade inquebrável. Aqueles que dependem inteiramente de Cristo para a sua eterna segurança não podem cair da salvação que agora desfrutam nEle.

Meditations on the Glory of Crist" de John Owen numa versão abreviada intitulada "The Glory of Crist"

Tradução de Carlos António da Rocha


John Owen (Stadhampton, 1616 - Ealing, 24 de agosto de 1683) é, por consenso, o mais bem conceituado teólogo puritano, e muitos o classificariam, ao lado de João Calvino e de Jonathan Edwards, como um dos três maiores teólogos reformados de todos os tempos.
Nascido em 1616, entrou para o Queen's College, em Oxford, aos 12 anos de idade e completou seu mestrado em 1635 aos 19 anos de idade. Em 1637 tornou-se pastor.
Na década de 1640 foi capelão de Oliver Cromwell e, em 1651, veio a ser deão da Christ Church, a maior faculdade de Oxford. Em 1652, recebeu o cargo adicional de vice-reitor da universidade, a qual passou a reorganizar com sucesso notável.
Depois de 1660, foi líder dos Independentes (mais tarde chamados de congregacionais, até sua morte em 1683.

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