… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

quinta-feira, 15 de março de 2012

A glória de Cristo,

por John Owen
Tradução da obra "Meditations on the Glory of Crist" de John Owen, numa versão abreviada 
 intitulada "The Glory of Crist". 


CAPÍTULO 14




Mais diferenças entre a contemplação presente pela fé da Glória de Cristo e o que veremos no Céu

1. No presente obtemos um entendimento espiritual da Glória de Cristo por meio do estudo das Escrituras. Mas a luz da revelação desta Glória está repartida através de todos os livros do Antigo e do Novo Testamento, tal como a luz natural nos é dada através do Sol, da Lua e das estrelas. Se toda a luz fosse concentrada numa só fonte, não seríamos capazes de suportá-la. Assim nas Escrituras, a Glória de Cristo é descrita pouco a pouco em diferentes maneiras. Às vezes é descrita com palavras claras, em outras ocasiões sob tipos e figuras, os quais ilustram a Sua humildade e amor para connosco. Diferentes verdades estão repartidas na Bíblia para que as recolhamos como se fossem flores formosas. Nos Cantares de Salomão, a noiva considera as muitas perfeições de Seu amado e conclui que Ele é em todo o sentido cobiçável (Ct 5:10-16). Assim nós paulatinamente descobrimos as muitas perfeições de Cristo e O encontramos extremamente glorioso.

Não obstante, no Céu toda a Glória de Cristo estará diante de nós. Seremos capazes na luz desta Glória de contemplá-la toda. Aqui não podemos imaginar qual será a beleza e a Glória desta manifestação completa de Cristo. De repente, entenderemos tudo o que Ele fez e sofreu, a Sua posição exaltada, a Sua união com a igreja e como todas as coisas estão reunidas nEle. Veremos a Glória de Deus, a Sua sabedoria, a Sua justiça, a Sua graça, o Seu amor, a Sua bondade e o Seu poder, tudo resplandecendo eternamente em Cristo. Podemos anelar isto agora e ainda ter um vislumbre disso. Mas, todo o conhecimento de Cristo na Sua Glória celestial está no Céu onde há águas de vida e rios de prazer, para sempre.

2. A visão que teremos da Glória de Cristo no Céu mudar-nos-á perfeita e completamente na Sua imagem. “Seremos semelhantes a Ele, porque O veremos tal como Ele é” (1Jo 3:2). Vamos fixar-nos com mais pormenor nisto: I. Quando a alma deixa o corpo, é libertada imediatamente de toda a debilidade, incapacidade, escuridão e temor. A natureza pecaminosa deixará de existir. A morte foi o julgamento divino sobre o pecado, mas por meio da morte de Cristo em nosso lugar, nós recebemos misericórdia (veja-se 1Co 15:54). Não obstante, os incrédulos devem receber a recompensa da sua incredulidade, as suas almas serão separadas eternamente de Deus. II. Os crentes, tendo sido livres da carga da sua natureza pecaminosa, descobrem que o seu espírito pode cumprir o propósito para o qual foi criado. Eles podem desfrutar de Deus com deleite e satisfação. Além disso, na ressurreição, o novo corpo glorificado nunca estorvará, mas antes ajudará em todas as nossas atividades espirituais. Os nossos olhos verão o nosso Redentor e todos os nossos sentidos serão usados para desfrutar da comunhão com Ele.

3. Ao sermos introduzidos na presença de Cristo, um poder novo nos será dado, a capacidade celestial para vermos o Senhor Jesusm tal como Ele é. Esta capacidade gloriosa tomará o lugar da fé, da qual necessitamos somente nesta vida.

4. No momento em que os crentes vejam a Glória de Cristo, imediatamente, serão transformados completamente na Sua semelhança. Quando o pecado entrou no mundo e Adão e Eva foram expulsos do jardim de Éden, Deus disse: “Eis que o homem é como um de nós sabendo o bem e o mal” (Gn 3:22). Quando a obra da graça é terminada Deus pode dizer, não com irritação mas com amor e bondade infinita: “Eis que o homem é como um de nós”. Nesta vida a nossa fé em Cristo produz uma mudança gradual em nós ainda que incompleta. Se queremos estar seguros de que seremos restaurados perfeita e eternamente na imagem de Deus, devemos ter agora alguma experiência desta mudança gradual (veja-se 2Co 3:18; 4:16-18; Fl 3:10-14).

3. Até mesmo no Céu, todas as criaturas têm de viver eternamente numa dependência de Deus como a fonte de vida, de bondade e de bem-aventurança. Não seremos mais auto-suficientes na Glória do que somos agora. Pois tudo nos virá através de Cristo Jesus; todas as coisas no Céu e na Terra serão reunidas nEle (veja-se Ef  1:10-11). O nosso estado contínuo de felicidade e de Glória dependerão inteiramente destas comunicações de Deus mediante Cristo. Nunca nos cansaremos de ver Cristo no Céu. O objeto infinito da nossa visão glorificada será insondável e sempre novo para o nosso entendimento finito. A nossa felicidade consistirá numa contínua comunicação refrescante da infinita plenitude da natureza de Deus. Esta futura vida de Glória é muito maior do que a vida de fé que vivemos agora. Não obstante, não há nenhuma satisfação ou gozo deste mundo presente que possa comparar-se com a visão débil e imperfeita que a nossa fé tem agora da Glória de Cristo. Até a pobre visão da nossa fé nos dá agora um vislumbre da bem-aventurança futura que teremos no desfrute de Cristo.E isto faz-nos suspirar e desejar aquele tempo quando O veremos e estaremos para sempre com Ele e O conheceremos como Ele nos conhece.

Meditations on the Glory of Crist" de John Owen numa versão abreviada intitulada "The Glory of Crist"


Tradução de Carlos António da Rocha


John Owen (Stadhampton, 1616 - Ealing, 24 de agosto de 1683) é, por consenso, o mais bem conceituado teólogo puritano, e muitos o classificariam, ao lado de João Calvino e de Jonathan Edwards, como um dos três maiores teólogos reformados de todos os tempos.
Nascido em 1616, entrou para o Queen's College, em Oxford, aos 12 anos de idade e completou seu mestrado em 1635 aos 19 anos de idade. Em 1637 tornou-se pastor.
Na década de 1640 foi capelão de Oliver Cromwell e, em 1651, veio a ser deão da Christ Church, a maior faculdade de Oxford. Em 1652, recebeu o cargo adicional de vice-reitor da universidade, a qual passou a reorganizar com sucesso notável.
Depois de 1660, foi líder dos Independentes (mais tarde chamados de congregacionais, até sua morte em 1683.

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