por John Owen
Tradução da obra "Meditations on the Glory of
Crist" de John Owen, numa versão abreviada intitulada "The Glory of Crist".
CAPÍTULO 15
Um chamamento urgente a
todos aqueles que ainda não são crentes verdadeiros em Cristo
Amiúde nos evangelhos,
quando há uma descrição da excelência de Cristo como Salvador, há também um
convite aos pecadores para que vão a Ele. Então, é correto que nestes últimos
capítulos de nosso estudo sobre a Glória de Cristo, relacionemos esta verdade
com nossa necessidade como pecadores. Cristo diz: “Vinde a Mim, todos os que
estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei.” (Mt 11:28) E “Se alguém tem
sede, venha a Mim e beba” (Jo 7:37). Há várias razões pelas quais deveríamos
fazer caso deste convite:
1. Muitos escutam a
palavra pregada mas poucos são salvos. “Porque muitos são chamados, mas poucos,
escolhidos.” A tolice maior do mundo consiste em deixar a consideração do nosso
estado eterno para algum ponto futuro e incerto, ao qual possivelmente nunca
pudéssemos chegar.
2. Não pense você que
devido a que professa ser crente e está desfrutando das bênçãos externas do
evangelho, você pertence necessariamente a Cristo. Você pode comparar-se a si
mesmo com outros e pensar que é melhor do que eles. Mas se você descansa para a
sua salvação em algum mérito pessoal ou justiça própria, então você está
correndo o risco de ser enganado eternamente (Mt 3:9).
3. A menos que estejamos
completamente convencidos de que sem Cristo estamos sob a maldição de Deus e
que somos como os Seus piores inimigos, nunca iremos a Ele como nosso refúgio.
Cristo não veio “chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento” (Mt
9:13). Então, se ainda não somos salvos, a nossa principal preocupação deveria
ser a de ter um profundo sentido da condição miserável e perdida das nossas
almas.
4. Agora, considere o
amor infinito de Cristo em o chamar a si para que tenha vida, misericórdia,
graça, paz e salvação eterna. Há muitas coisas nas Escrituras que são dadas
para animar aos pecadores que estão sob a convicção para que vão a Cristo.
Através da pregação dos ministros cristãos Cristo diz: “Porque morrerá? Porque
não tem piedade da sua própria alma? Venha a Mim e Eu tirarei todos os seus
pecados, as suas tristezas, os seus temores e as suas cargas. E dar-lhe-ei
descanso para a sua alma”. Considere a grandeza da Sua misericórdia, graça e
amor em o chamar tão sincera e urgentemente. Não permita que o veneno da
incredulidade a qual conduz indevidamente à ruína eterna lhe faça menosprezar
este convite para vir a Cristo.
5. Possivelmente você
tenha começado a ir a Ele mas teme não ser recebido devido a que você tem sido
tão pecador. Mas, o convite do evangelho diz que Cristo está disposto a receber
a cada pecador que vai a Ele. O Pai, o Filho e o Espírito Santo concordam em que
Cristo, o Senhor, está disposto a receber a todos os pecadores vão a Ele. É
somente a incredulidade obstinada, a qual faz aparecer a Deus como mentiroso, a
que sugere que Cristo não está disposto a receber os pecadores.
6. Considere o fato de
que Cristo é tão capaz de nos salvar como também disposto para nos receber. Não
salvará os pecadores que não se arrependam de seus pecados. Isto seria negar-Se
a Si mesmo e atuar de forma contrária à Sua Palavra. Mas nada pode deter o Seu
poder soberano, irresistível e omnipotente, para salvar aqueles que se
arrependem. “É-Me dado todo o poder no Céu e na Terra.” (Mat 28:18) Cristo
usará este poder para conceder a salvação eterna a todos os que vão a Ele. Eke
disse: “Tudo o que o Pai me dá virá a Mim; e o que vem a Mim de maneira nenhuma
o lançarei fora.” (Jo 6:37)
7. Pense profundamente
sobre o Deus imensamente sábio e piedoso cujo propósito é que a Sua
misericórdia, amor, graça, bondade, justiça, sabedoria e poder sejam
manifestados em Cristo para a salvação de todos aqueles que crêem. Portanto,
quem quer que vá a Cristo através da fé está por meio deste ato honrando a
Deus. Quando os pecadores vão a Cristo, Deus recebe mais glória que a que
receberia se estes pecadores tivessem guardado toda a lei. Não se engane a si
mesmo pensando que é de pouca importância que vá a Cristo ou não. Se você
recusa fazê-lo, este seria o maior ato de odeio contra Deus que você poderia
realizar.
8. Considere que ao ir a
Cristo, Ele chegará a pertencer-Lhe a si numa relação mais próxima que a que
tem com a sua esposa, o seu marido ou com os seus filhos. Cristo está mais
próximo dos crentes qualquer relação natural. Isto significa que quando você
vai a Cristo, a Glória de Cristo lhe pertence. Parece-lhe pouca coisa, perante
os seus olhos que Cristo lhe pertença? Parece-lhe como nada que a Sua Glória e
a Sua bênção eterna pudessem ser suas?
9. “Como escaparemos nós,
se não atentarmos para uma tão
grande salvação?” (Hb 2:3) De todas as criaturas de Deus, os incrédulos que não
se arrependem sob a pregação do evangelho são os mais maus e os mais ingratos.
Os próprios demónios, ímpios como são, não são culpados deste pecado porque
nunca tiveram a oportunidade de receber a salvação. Alguém poderia perguntar:
“Então o que faremos?” Tome a advertência do apóstolo: “Se ouvirdes hoje a sua
voz, não endureçais o vosso coração” (Hb 3:7-8). “Eis aqui agora o tempo
aceitável, eis aqui agora o dia da salvação.” (2Co 6:2) Este é o melhor tempo
(provavelmente será o melhor que você terá neste mundo) para assegurar-se da
sua salvação. Cristo esperou muito tempo por si, e quem sabe se muito em breve
pode tomar a decisão de o deixar a si mesmo, e então você jamais O encontrará.
A incredulidade muitas
vezes disfarça-se com outras atitudes como as seguintes:
I. Alguns dizem: “Cremos
na palavra pregada até ao ponto em que podemos. Obedecemos voluntariamente em
muitas coisas e tratamos de não pecar. Que mais se requer de nós?” Pensando que
cumpriram com o seu dever, perguntam igualmente como aqueles que perguntaram a
Jesus em Jo 6:28: “O que faremos para que obremos as obras de Deus?” Simão, o
mago, escutou a Palavra e creu tanto como pôde. Herodes escutava a pregação de
João, o batista, mas nenhum dos dois foi um crente verdadeiro. Reações como
estas podem ser imitadas por aqueles que de facto permanecem como incrédulos.
Muitos hipócritas levam a cabo muitas atividades religiosas mas não possuem a
fé verdadeira. A sua incredulidade é disfarçada por toda a sua “atividade”.
Há um acto especial de fé
pelo qual alguém se rende completa e voluntariamente a Deus. Este ato especial
é acompanhado por uma mudança que afeta a nossa completa natureza. “Assim que,
se alguém está em Cristo, nova
criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que
tudo se fez novo.” (2Co 5:17) Sem este ato básico de fé, nenhum outro ato
religioso é evidência de que uma pessoa é um crente verdadeiro.
II. Alguns dizem que
tentaram ir a Cristo e a crer nEle, mas parece que não fazem nenhum progresso.
No profundo do seu coração desesperam-se de não poder receber a Cristo como
lhes é apresentado pelo evangelho. Eu pediria a estas pessoas que se
recordassem dos discípulos que pescaram durante toda a noite sem pescar nada
(veja-se Lc 5:3-6). Cristo aproximou-Se deles e lhes disse que lançassem novamente
as redes. Pedro recordou ao Senhor de como tinha trabalhado em vão durante toda
a noite e não obstante, perante a ordem de Cristo deitou novamente a rede, e
esta se rompia por causa da grande quantidade de peixes. Acaso se cansou e
desiludiu pelos seus intentos de ir a Cristo? Tente-o uma vez mais, e o Senhor
lhe poderá conceder êxito.
Não são os seus
fracassos, mas o dar-se por vencido o que poderia ser a sua ruína. Pense da
mulher cananeia de Mateus 15:22-28. Ao princípio Cristo nem sequer lhe respondeu.
Mais ainda, os discípulos pediram a Cristo que a despedisse. E se, por acaso,
isto fosse pouco, Jesus disse-lhe que era enviado somente às ovelhas perdidas
da casa de Israel. Mas ela não se deu por vencida, mas pelo contrário, adorou-O
e disse-Lhe: “Senhor socorre-me!” Então Cristo respondeu-lhe: “Não está bem
tomar o pão dos filhos, e deitá-lo aos cachorrinhos.” Se ela se houvesse dado
por vencida então, ela nunca teria obtido misericórdia. Mas ela não tomou este
“Não” como uma resposta, mas perseverou até que recebeu a sua petição. Poderá
ser que você pense que tem orado muitas vezes sem êxito. Mas não se dê por
vencido. “Bem-aventurado o homem que me dá ouvidos, velando às minhas portas
cada dia, esperando às ombreiras da minha entrada. Porque o que me achar achará
a vida e alcançará favor do SENHOR.” (Pv 8:34-35)
III. Alguns dizem que
entendem que devem ir a Cristo e crêem nEle ou ficarão perdidos, mas agora
estão muito ocupados, e consideram que no futuro terão tempo para pensar
seriamente nisso. Poderá haver algo mais parvo do que pensar que as coisas
corriqueiras do presente sejam mais importantes do que a miséria ou a
felicidade de um estado eterno? Alguns assistem à pregação da Palavra, mas a
linguagem do seu coração é: “Um pouco de sono, um pouco tosquenejando, um pouco
encruzando as mãos, para estar deitado.” (Prov.6:10) Enganados desta maneira,
milhares perecem cada dia. O maior êxito de Satanás é obter que as pessoas
pensem que possuem muito tempo antes de morrer para considerarem o seu estado
eterno. Recorde que a Escritura limita a sua oportunidade ao dia presente, e
não lhe dá nenhuma certeza de que haverá outro dia para receber graça e
misericórdia (veja-se 2Co 6:2 e Hb 3:7-13).
IV. Alguns encontram
tanta satisfação em seus prazeres pecaminosos que não podem deixá-los. Se você
for um deles, devo falar-lhe claramente a fim de que não tenha nenhuma dúvida
de que você não pode ter esperança de misericórdia se o seu coração seguir
obstinado a algum pecado. É obvio, que ao chegar a ser um crente verdadeiro,
você não será livrado completamente da pecaminosidade da sua velha natureza.
Mas você tem de amar a Deus ou ao mundo, a Cristo ou a Satanás, a santidade ou
ao pecado. Não há nenhuma outra opção (veja 2Co 6:15-18). A respeito dos seus supostos
prazeres, digo-lhe que a menos que você esteja em Cristo, ou você nunca teve
realmente algum prazer. Uns quantos momentos para desfrutar dos gozos que se
encontram nEle são melhores do que um largo período de tempo gasto nos prazeres
deste mundo, sobre os quais está a maldição de Deus (veja-se Pv.3:13-18).
V. Há alguns que dizem
que conhecem crentes que não são melhores do que eles, e portanto, eles
deveriam considerar-se também como crentes. Eu lhes digo que há aqueles que se
chamam crentes e que são falsos, fingindo ser o que não são. Mas eles terão de
carregar o seu próprio julgamento. É também um facto triste que alguns crentes
verdadeiros são descuidados na sua maneira de viver e deste modo desagradam a
Deus e desonram a Cristo e ao evangelho. Mas estas não são as pessoas a quem
você deve imitar.
O mundo não pode julgar os
crentes com justiça. Somente uma pessoa espiritual pode discernir as coisas de
Deus (veja 1Co 2:14). As debilidades e defeitos dos piedosos são vistos por
todos, mas frequentemente as suas graças não se vêem. Quando você for capaz de
julgar com justiça os crentes verdadeiros, então você estimará como a melhor
coisa estar na companhia deles (Sl l6:3).
Meditations on the Glory of Crist" de John
Owen numa versão abreviada intitulada "The Glory of Crist"
Tradução de Carlos António da Rocha
John
Owen (Stadhampton, 1616 - Ealing, 24 de agosto de 1683) é, por
consenso, o mais bem conceituado teólogo puritano, e muitos o
classificariam, ao lado de João Calvino e de Jonathan Edwards, como um
dos três maiores teólogos reformados de todos os tempos.
Nascido em 1616, entrou para o Queen's College, em Oxford, aos 12 anos de idade e completou seu mestrado em 1635 aos 19 anos de idade. Em 1637 tornou-se pastor.
Na década de 1640 foi capelão de Oliver Cromwell e, em 1651, veio a ser deão da Christ Church, a maior faculdade de Oxford. Em 1652, recebeu o cargo adicional de vice-reitor da universidade, a qual passou a reorganizar com sucesso notável.
Depois de 1660, foi líder dos Independentes (mais tarde chamados de congregacionais, até sua morte em 1683.
Nascido em 1616, entrou para o Queen's College, em Oxford, aos 12 anos de idade e completou seu mestrado em 1635 aos 19 anos de idade. Em 1637 tornou-se pastor.
Na década de 1640 foi capelão de Oliver Cromwell e, em 1651, veio a ser deão da Christ Church, a maior faculdade de Oxford. Em 1652, recebeu o cargo adicional de vice-reitor da universidade, a qual passou a reorganizar com sucesso notável.
Depois de 1660, foi líder dos Independentes (mais tarde chamados de congregacionais, até sua morte em 1683.
Sem comentários:
Enviar um comentário