… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

domingo, 4 de março de 2012


A glória de Cristo,



por John Owen
Tradução da obra "Meditations on the Glory of Crist" de John Owen, numa versão abreviada 
 intitulada "The Glory of Crist". 



CAPÍTULO 8

A Glória de Cristo ilustrada no Antigo Testamento

Sabemos que o Antigo Testamento trata acerca do Senhor Jesus Cristo. Moisés e os profetas e todas as Escrituras atestam acerca de Cristo e da Sua Glória. Os judeus não viram Cristo nem a Sua Glória nas Escrituras, porque tinham o véu posto sobre o seu entendimento. Este véu só pode ser tirado pelo Espírito de Deus (2Co 3:14-16). Em seguida mostrarei algumas maneiras nas quais a Glória de Cristo foi apresentada aos crentes sob o Antigo Testamento.

1. A Glória de Cristo foi revelada por meio da adoração prescrita sob a Lei. Deus deu por meio de Moisés uma bela ordem de adoração. Houve um tabernáculo (e mais tarde o templo) com o lugar santíssimo, a arca, o propiciatório, o sumo-sacerdote, os sacrifícios e o derramamento de sangue. Mas estas coisas eram simplesmente sombras que apontavam para Cristo (que é o único sacrifício pelo pecado) e para a Sua contínua atividade como nosso sumo-sacerdote. Tudo o que Moisés fez na edificação do tabernáculo e a sua adoração teve a intenção de testificar da pessoa e da obra de Cristo, as quais seriam reveladas posteriormente. Também o Espírito de Cristo esteve nos profetas “indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir e a Glória que se lhes havia de seguir.” (1Pe 1:11).

2. A Glória de Cristo foi representada sob o Antigo Testamento na narração mística da Sua comunhão com a Sua Igreja em amor e graça. Esta narração está escrita no livro de Cantares de Salomão. Esta narração é um registo do amor divino e da graça de Cristo para com a Sua Igreja com expressões do Seu amor para com Ele e do Seu deleite nEle. Este livro tem sido grandemente descuidado e mal entendido.

Uns poucos de dias ou umas quantas horas ocupados no desfrute da comunhão amorosa com Cristo, conduzir-nos-iam a termos um melhor apreço por este livro. A comunhão com Cristo descrita nas suas páginas é uma bênção maior do que todos os tesouros da Terra. Mas devido a que estas coisas são entendidas por muito poucos, que este livro é descuidado se não que é até menosprezado. Mas, se nós que fomos favorecidos com a revelação neo-testamentária acerca de Cristo entendemos menos da Sua Glória do que os crentes veterotestamentários, então seremos julgados como não dignos de termos recebido o Novo Testamento.

3. A Glória de Cristo foi representada e manifestada sob o Antigo Testamento pelas Suas aparições na forma de um homem. Nestas aparições, Cristo assumiu a forma de um homem para anunciar o que algum dia chegaria a ser na Sua encarnação. Nesta forma Cristo apareceu a Abraão, a Jacob, a Moisés, a Josué e a outros. Sob o Antigo Testamento Cristo continuamente assumiu sentimentos e emoções humanas que davam a entender que viria um tempo quando Ele tomaria uma natureza humana. Portanto, o Antigo Testamento refere-se a Ele como estando zangado, como estando agradecido, como estando arrependido, e como exibindo todas as demais emoções humanas. Isto apontava para diante quando realmente Ele viria a ser o homem Cristo Jesus.

4. A Glória de Cristo sob o Antigo Testamento foi representada também por visões proféticas. O Apóstolo João diz-nos que a visão que Isaías teve acerca da Glória do Senhor (Jeová), foi, na verdade, uma visão da Glória de Cristo (veja Is 6:1-7 e Jo 12:41). Quando Isaías viu a Glória de Deus encheu-se de terror até que o seu pecado foi tirado por meio de uma brasa acesa tirada do altar. Isto foi uma ilustração do poder purificador do sacrifício de Cristo.

5. A doutrina da encarnação de Cristo foi revelada sob o Antigo Testamento, mas não tão claramente como foi revelada no Evangelho. Um exemplo só basta para demonstrar este ponto: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9:6). Só este testemunho é suficiente para confundir os judeus e a todos os inimigos da Glória de Cristo. Se bem que os profetas profetizaram a Glória vindoura de Cristo, não entenderam completamente o que escreveram. Mas agora, quando cada palavra desta revelação foi esclarecida para nós no Evangelho, seria cegueira negarmo-nos a recebê-lo. Não é mais que o orgulho diabólico dos corações humanos o que os cega para não verem a verdade da Glória de Cristo manifestada no Antigo Testamento. 

"Meditations on the Glory of Crist" de John Owen numa versão abreviada intitulada "The Glory of Crist"

Tradução de Carlos António da Rocha


John Owen (Stadhampton, 1616 - Ealing, 24 de agosto de 1683) é, por consenso, o mais bem conceituado teólogo puritano, e muitos o classificariam, ao lado de João Calvino e de Jonathan Edwards, como um dos três maiores teólogos reformados de todos os tempos.
Nascido em 1616, entrou para o Queen's College, em Oxford, aos 12 anos de idade e completou seu mestrado em 1635 aos 19 anos de idade. Em 1637 tornou-se pastor.
Na década de 1640 foi capelão de Oliver Cromwell e, em 1651, veio a ser deão da Christ Church, a maior faculdade de Oxford. Em 1652, recebeu o cargo adicional de vice-reitor da universidade, a qual passou a reorganizar com sucesso notável.
Depois de 1660, foi líder dos Independentes (mais tarde chamados de congregacionais, até sua morte em 1683.

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