… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

O método da graça




George Whitefield

O Método da Graça

“E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz." (Jr 6:14, ARC, Pt)

Assim como Deus não pode enviar a uma nação ou a um povo uma bênção maior do que a de dar-lhe pastores fiéis, sinceros e retos, assim também a maior maldição que Deus pode enviar a um povo deste mundo, é lhes dar guias cegos, não regenerados, carnais, mornos e não qualificados. Não obstante, em todas as épocas, descobrimos que tem havido muitos ‘lobos vestidos de ovelhas’, muitos que manejavam displicentemente conceitos fundamentais que não haviam assimilado em toda a sua profundidade, que subtraíam importância às profecias, desobedecendo assim a Deus.

Tal como acontecia no passado, acontece agora. Há muitos que corrompem a Palavra de Deus e a manejam com engano. Foi assim de uma maneira especial na época do profeta Jeremias; e ele, fiel ao seu Senhor, fiel a esse Deus que o havia empregado, não deixou de abrir a sua boca para profetizar contra eles, e para apresentar um nobre testemunho para honra daquele Deus em cujo nome falava.

Se você ler as suas profecias, verá que ninguém falou mais contra tais ministros do que Jeremias, e especialmente aqui, no capítulo do qual foi tomado o versículo, fala severamente contra eles — acusa-os de vários crimes, particularmente, acusa-os de avareza: ‘Porque’ diz no versículo 13, ‘Porque desde o menor deles até ao maior, cada um se dá à avareza; e desde o profeta até ao sacerdote, cada um usa de falsidade.’ E logo, nas palavras do texto dá mais especificamente um exemplo de como enganaram, como têm traido as pobres almas. Diz: “E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz.’ O profeta, em nome de Deus, tinha denunciado que haveria guerra contra o povo, tinha-lhes estado dizendo que a sua casa ficaria desolada, e que o Senhor visitaria-a terra trazendo guerra. “Por isso’, diz no versículo 11, “Estou cheio do furor do SENHOR; estou cansado de o conter; derrama-lo-ei sobre os meninos pelas ruas e na reunião de todos os jovens; porque até o marido com a mulher serão presos, e o velho com o que está cheio de dias. E as suas casas passarão a outros, como também as suas herdades e as suas mulheres juntamente; porque estenderei a minha mão contra os habitantes desta terra, diz o SENHOR.’

O profeta apresenta uma estrondosa mensagem a fim de que se espantem e sintam um pouco de convicção e se arrependam; mas parece que os falsos profetas, os falsos sacerdotes, se dedicaram a sossegar as convicções do povo, e quando sofriam e se sentiam um pouco espantados, preferiam tapar a ferida, dizendo-lhes que Jeremias não era mais do que um pregador entusiasta, que era impossível que houvesse guerra entre eles, dizendo ao povo: ‘Paz, paz’ quando o profeta lhes dizia que não haveria paz.

As palavras, então, referem-se primordialmente às coisas externas, mas eu creio que também se referem à alma, e se devem aplicar a esses falsos profetas que, quando o povo estava convencido do seu pecado, quando o povo começava a olhar para o céu, preferiam sossegar as suas convicções e dizer-lhes que já eram suficientemente bons. E, é obvio, às pessoas geralmente encanta-as que seja assim; os nossos corações são muito traiçoeiros e terrivelmente ímpios; ninguém a não ser o Deus eterno sabe quão traiçoeiros são. Quantos somos os que clamamos: Paz, paz às nossas almas, quando não há paz! Quantos há que agora estão submergidos nas suas impurezas, que crêem  que são Cristãos, que se gabam de que se interessam em Jesus Cristo; mas se fôssemos examinar as suas experiências, descobriríamos que a sua paz não é mais do que uma paz proveniente do diabo --não é uma paz dada por Deus— não é um paz que escapa à compreensão humana. Portanto, meus queridos ouvintes, é de suma importância saber se podemos falar de paz ao nosso coração. Todos anelamos a paz; a paz é uma bênção inefável; como podemos viver sem a paz? E, por isso, as pessoas de quando em quando têm de comprovar quão longe devem ir, e que coisas lhes têm de suceder, antes de poder falar de paz ao seu coração.

Isto é o que anelo agora, poder liberar minha alma, poder ser livre do sangue daqueles a quem prego —não deixar de declarar todo o conselho de Deus. Procurarei, com as palavras do texto, mostrar-lhes o que devem sofrer e o que deve suceder em vocês antes de que possam falar de paz ao vosso coração.

Mas antes de entrar diretamente nisto, me permitam -me fazer-lhes uma ou duas advertências. A primeira é que dou por adquirido que vocês crêem que a religião é algo interior; que crêem que é uma obra no coração, uma obra realizada na alma pelo poder do Espírito de Deus. Se não crêem isto, não crêem no que diz vossa Bíblia. Se não crêem isto, ainda que tenham as vossas Bíblias nas vossas mãos, odeiais ao Senhor Jesus Cristo nos vossos corações; porque em todas as Escrituras se apresenta a religião como a obra de Deus no coração. ‘O reino de Deus está dentro de nós’ diz nosso Senhor, e ‘não é cristão o que o é de fora; mas sim é cristão o que o é no seu interior’. Se algum de vocês apoia a sua religião em coisas externas, possivelmente se conforme a si mesmo esta manhã, já não me entenderá quando falo da obra de Deus no coração do pobre pecador, será como se lhes falasse em uma língua desconhecida.

Além disso, recomendo-lhes cautela, de maneira nenhuma vou circunscrever Deus a uma só maneira de atuar. De maneira nenhuma diria que todos, antes de ter feito as pazes com Deus, estão obrigados a passar pelos mesmos graus de convicção. Não; Deus tem diversas maneiras de atrair os Seus filhos; o Seu Espírito Santo sopra quando, e onde e como quer. Não obstante, atrevo-me a afirmar isto: que antes de que vocês possam falar de paz no vosso coração, quer seja por postergar ou alargar as vossas convicções, ou fazê-lo de um modo mais agressivo ou mais suave, devem passar pelo que daqui em diante explicarei no seguinte discurso.

Primeiro, antes de poder falar de paz em vossos corações, deveis sentir-vos obrigados a ver, obrigados a perceber, obrigados a chorar, obrigados a lamentar as vossas transgressões contra a lei de Deus. Segundo o pacto das obras: ‘a alma que pecar, essa morrerá’; maldito é aquele homem, seja quem for, que não segue todas as coisas escritas no livro da lei para as realizar. Não só devemos cumprir algumas costure, mas também devemos cumpri-las todas, e devemos perseverar em cumpri-la; de maneira que o menor desvio do pacto das obras, seja em pensamento, palavra ou obra, merece a morte eterna às mãos de Deus. E se um pensamento ímpio, se uma palavra ímpia, se uma ação ímpia, merece condenação eterna, quantos infernos, meus amigos, merecemos cada um de nós, cujas vistas se têm rebelado continuamente contra Deus! Portanto, antes de poder falar de paz aos vosso corações, tendes de ver, tendes que crer, que desgraça é estar separado do Deus vivente.

E agora, meus queridos amigos, examinai os vossos corações, porque espero que tenhais vindo aqui com o propósito de melhorar as vossas almas. Permiti que lhes pergunte, na presença de Deus: sabeis o momento?, ou se não sabeis exatamente o momento, se sabeis que houve um momento quando Deus escreveu coisas amargas contra vós, quando as flechas do Todo-poderoso estavam dentro de vós? Aconteceu alguma vez que a lembrança deos vossos pecados vos causou dor? Foi a carga dos vossos pecados demasiado intolerável para pensardes neles? Considerastes alguma vez que a Ira de Deus poderia cair sobre vós com justiça, devido às vossas transgressões contra Deus? Houve algum momento em vossas vidas quando vos arrependestes dos vossos pecados? Pudestes dizer alguma vez: Os pecados sobre a minha cabeça são demasiado pesados para os carregar? Haveis sentido alguma vez algo assim? Aconteceu alguma vez algo assim entre Deus e a vossa alma? Se não, em nome de Jesus Cristo, não vos chameis Cristãos; podeis falar de paz aos vossos corações, mas não tendes paz. Queira o Senhor despertar-vos, queira o Senhor converter-vos, queira o Senhor dar-vos paz, se é Sua vontade, antes de que partais deste mundo!

Mas além disso: vós podeis estar convencidos dos vossos verdadeiros pecados, de maneira que eles vos fazem tremer, e mesmo assim serdes estranhos para Jesus Cristo, não terdes em vossos corações a autêntica obra de graça. Portanto, antes de poder falar de paz aos vossos corações, as vossas convicções têm de ser mais profundas. Não tendes de estar convencidos unicamente das vossas verdadeiras transgressões contra a lei Deus, mas também do fundamento das vossas transgressões.

E qual é? Refiro-me ao pecado original, essa corrupção original que cada um de nós traz ao mundo, que nos expõe à ira e a condenação de Deus. Existem muitas pobres almas que se crêem muito razoáveis, não obstante, pretendem afirmar que não existe tal coisa como o pecado original. Acusarão de injustiça a Deus por nos imputar o pecado de Adão, embora tenhamos a marca da besta e do diabo sobre nós. Entretanto, dizem-nos que não nascemos em pecado. Deixem que olhem o que acontece no mundo e vejam as desórdens nele e pensem, se puderem, que este é o paraíso em que Deus pôs o homem. Não! Tudo no mundo está desordenado. Tenho pensado muitas vezes, quando saía de viagem, que se não houvesse outro argumento que dê prova do pecado original, os ataques das raposas e dos tigres contra o homem, e se, até o latido de um cão contra nós, é uma prova do pecado original. Os tigres e leões não se atreveriam a atacar-nos se não fora pelo primeiro pecado do Adão; porque quando os animais se levantam contra nós, é como se dissessem: vós pecastes contra Deus, e nós defendemos a causa de nosso Senhor.

Se olharmos para o nosso interior, veremos muitas lascívias, e o temperamento do homem contrário ao temperamento de Deus. Há orgulho, malícia e desejos de vingança em todos os nossos corações; e este temperamento não pode provir de Deus; provém do nosso primeiro pai, Adão, que depois de cair das mãos Deus, caiu nas do diabo. Algumas pessoas podem negar isto, não obstante, quando chega a convicção, todas as razões carnais são arrasadas imediatamente e a pobre alma começa a sentir e ver a fonte da qual fluem todas as correntes contaminadas.

Quando o pecador desperta pela primeira vez, começa a perguntar-se: Como é que chegua a ser tão malvado? O Espírito de Deus então intervém, e mostra que, por natureza, não tem nada de bom nele. Então vê que se tem apartado totalmente do caminho, que é totalmente abominável, e a pobre criatura é impulsionada a cair ao pé do trono de Deus, e a reconhecer que Deus seria justo se o condenasse, se o rechaçasse embora nunca tivesse cometido um pecado na sua vida. Havesis sentido e experientado isto alguns de vós —para justificar que pesa sobre vós a condenação de Deus— que sois por natureza filhos de ira, e que Deus pode, na Sua justiça rechaçar-vos embora, na verdade alguma vez O tenhais ofendido em toda a vossa vida? Se alguma vez haveis sentido uma autêntica convicção, se os vossos corações foram verdadeiramente quebrantados, se o eu realmente vos tem sido extirpado, terereis visto e compreendido isto.

E se nunca haveis sentido o peso do pecado original, não vos chameis Cristãos a vós mesmos. Estou convencido de que o pecado original é a carga maior do verdadeiro convertido; isto entristece sempre a alma regenerada, a alma santificada. O pecado que mora no coração é a carga da pessoa convertida; é a carga do verdadeiro cristão. Este clama continuamente; ‘Oh! Quem me libertará deste corpo de morte’, desta corrupção que mora no meu coração? Isto é o que mais perturba a pobre alma. E, portanto, se nunca vós sentites esta corrupção interior, se nunca pensastes que Deus poderia amaldiçoar-vos justamente, então, meus queridos amigos, podeis falar de paz ao coração mas, temo-me que não, estou seguro de que não tendes verdadeira paz.

E ainda mais: antes de poder falar de paz aos vossos corações, não só deveis estar compungidos pelos pecados
Na vossa vida, os pecados da vossaa natureza, mas também pelos pecados dos vossos melhores deveres e obras. Quando uma pobre alma desperta um pouco pelos terrores do Senhor, então a pobre criatura, tendo nascido sob o pacto das obras, voa outra vez a ele. E assim como Adão e Eva se esconderam entre as árvores do jardim, e coseu folhas de figueira para cobrir a sua nudez, o pobre pecador, ao despertar, voa para os seus deveres e para as suas obras, para esconder-se de Deus, e trata de coser uma justiça própria. Diz: agora serei muito bom —reformar-me-ei— farei tudo o que esteja ao meu alcance; e certamente assim Jesus Cristo terá misericórdia de mim. Mas antes de poder falar de paz ao seu coração, tem de chegar ao ponto de ver que Deus pode condená-lo até pela melhor oração que tenha elevado; tem de chegar a compreender que todos seus deveres —toda a sua justiça— como o expressa elegantemente o profeta— todo isso junto, dista tanto de recomendá-lo a Deus, dista tanto de ser um motivo e incentivo para que Deus tenha misericórdia da sua pobre alma, que os verá, como trapos sujos, panos menstruais —que Deus os odeia e não pode tirar-lhos se os apresenta como uma recomendação a seu favor.

Meus queridos amigos, o que pode haver em nossas obras para recomendar-nos a Deus? A nossa pessoa encontra-se, por natureza, num estado não justificado, merecemos ser condenados dez mil vezes e mais; e o que são as nossas obras? Por natureza, não podemos fazer nada bom; ‘Os que andam conforme à carne não podem agradar a Deus.’ Alguém pode realizar coisas materialmente boas, mas não pode fazer nada bom que seja contado para justiça porque a natureza não pode atuar contra si mesma. É impossível que o homem inão convertido possa atuar para a glória de Deus; não pode fazer nada por fé, e ‘e o que não se obra por fé é pecado.’ Depois de sermos renovados, na verdade somos renovados sozinho em parte, o pecado continua morando em nós. Há uma mescla de corrupção em cada um dos nossos deveres de maneira que depois de nos havermos convertido, se é que Jesus Cristo nos aceitasse peloas nossas obras, as nossas obras nos condenariam, porque não podemos elevar uma oração que esteja dentro da perfeição que a lei moral exige. Não sei que o pensareis vós, mas eu não posso orar sem pecar, não posso pregar-vos a vós nem a ninguém mais sem pecar, não posso fazer nada sem pecado, e, como alguém o expressou, o meu arrependimento quer arrepender-se e as minhas lágrimas querem ser lavadas no precioso sangue do meu querido Redentor. As nossos melhores obras não são mais do que pecados esplêndidos.

Antes de poder falar de paz aos vossos corações, necessitais não só de odiar o vosso pecado original e os pecados que de fato cometeis, mas deveis odiar a vossa própria justiça, todos os vossos deveres e obras. Tem de haver uma convicção profunda antes que se vos possa tirar o vosso farisaísmo; é o último ídolo que vos é tirado dos vossos corações. O orgulho do nosso coração não nos deixa submeternos à justiça de Jesus Cristo. Mas se nunca sentistes que não contaveis com uma justiça própria, se nunca sentistes a deficiência da vossa própria justiça, não vos acercastes a Jesus Cristo. Há muitos que diriam: Bom, nós cremos tudo isto; mas há uma grande diferença entre dizer e sentir. Alguma vez haveis sentido vós que quereis um amante Redentor? Haveis sentido alguma vez a necessidade de Jesus Cristo, conscientes da deficiência da vossa própria justiça? E podeis dizer agora de coração: Senhor, podes na Tua justiça condenar-me pelas melhores obras que jamais realize? Se não deixardes de lado o eu, podeis falar a vós mesmos de paz, mas não tendes paz.

Mas então, antes de poder falar de paz às vossas almas, há um pecado em particular pelo qual deveis estar muito preocupados; mas temo-me que a poucos de vós vos pode ocorrer de qual se trata; é o pecado reinante, maldito do mundo cristão; não obstante, o mundo cristão quase nunca ou nunca pensa nele. E qual é? É aquele do qual muitos de vós não vos sentis culpados —ou seja, o pecado da incredulidade. Antes de poder falar de paz aos vossos corações, deveis estar compungidos pela incredulidade que há neles. Mas, pode-se supor que haja incrédulos aqui neste lugar, nascidos na Escócia, num país reformado, que vão à igreja todos os domingos? Pode ser que algum de vós que recebe o sacramento uma vez por ano — Oh que ele fosse administrado com mais freqüência!— pode-se supor que vós que tinheis oferendas para o sacramento, que vós que sois constantes na oração familiar, que algum de vós não creia no Senhor Jesus Cristo? Apelo aos vossos corações, e não me crede cruel, e não penseis que duvido que alguns de vós criam em Cristo; mesmo assim, temo-me que sob escrutínio, descobriríamos que a maioria de vós não tem tanta fé no Senhor Jesus Cristo como a tem o diabo mesmo. Estou convencido de que o diabo crê mais acerca da Bíblia do que a maioria de nós. Crê na divindade de Jesus Cristo; isso é mais do que crêem muitos que pretendem ser Cristãos; assim é, crê e treme, e isso é mais do que fazemos muitos de nós.


Meus amigos, confundimos uma fé histórica com uma fé autêntica, posto no coração pelo Espírito de Deus. Vós pensais que credes , porque credes que existe um livro que chamamos a Bíblia, porque ides à igreja; podeis fazer tudo isto e não ter uma fé autêntica em Cristo. Meramente crer que existiu Cristo, crer meramente que há um livro chamado a Bíblia, não vos servirá de nada, como não vos serve para nada crer que existiu César ou Alexandre Magno. A Bíblia é um depósito sagrado. Quanto devemos agradecer a Deus por estes oráculos viventes! Não obstante, podemos tê-los e não crer no Senhor Jesus Cristo. Meus queridos amigos, tem de existir um princípio posto no coração pelo Espírito do Deus vivente. Se vos perguntasse há quanto tempo há que crêem em Jesus Cristo, suponho que muitos me diriam que têm crido em Jesus Cristo desde que têm uso de razão —nunca houve um momento quando não creram nEle. Então, não me poderiam dar melhor prova de que nunca creram em Jesus Cristo a menos que tenham sido santificados prematuramente, desde antes de nascer, porque os que realmente crêem em Cristo sabem que houve uma época quando não criam nEle.

Vós dizeis que amais a Deus com todo o vosso coração, com todo a vossa alma e com todo as vossas forças. Se vos perguntasse há quanto há que amais a Deus, dirieis: Sempre, nunca odiamos a Deus, nunca houve uma época em que vossos corações estiveram em inimizade com Deus. Então, a menos que tivesseis sido santificados muito prematuramente, nunca na vossa vida amastes a Deus.

Queridos amigos, sou muito específico quanto a isto porque é uma falsa ilusão em que cai muita gente que pensa que já crê. Por exemplo, conta-se que o Sr. Marshall, ao relatar as suas experiências, que tinha trabalhado toda sua vida e tinha organizado os seus pecados sob os dez mandamentos, e logo, aproximando-se de um pastor, perguntou-lhe a razão pela qual não podia obter paz. O pastor olhou para a sua lista e disse: ‘A meu ver, não encontro na sua lista nenhuma palavra sobre o pecado da incredulidade.’ É a obra singular do Espírito de Deus convencemos da nossa incredulidade —de que não temos fé. Diz Jesus Cristo: ‘O Consolador, o qual eu enviarei da parte do Pai... Ele... redarguirá o mundo de pecado’ do pecado da incredulidade; ‘de pecado’, diz Cristo, ‘por quanto não crêem em Mim’.

Pois bem, meus queridos amigos, mostrou-vos Deus alguma vez que não tinheis fé? Impulsionou-vos alguma vez a lamentardes um coração duro de incredulidade? Foi alguma vez a linguagem dos vosso corações, dizer: Senhor, dá-me fé; Senhor, capacita-me para crer em Ti; Senhor, capacita-me para Te chamar meu Senhor e meu Deus? Alguma vez Cristo vos convenceu desta maneira? Convenceu-vos alguma vez da vossa incapacidade de vos acercardes de Cristo, fazendo-vos clamar a Deus que desse fé? Se não, não faleis de paz aos vosso corações. Queira o Senhor despertar-vos e dar-vos uma paz autêntica, sólida antes que seja muito tarde!

Então, digamo-lo uma vez mais: antes de poder falar de paz aos vossos corações, não só tendes de estar convencidos dos pecados que de fato cometeis e do vosso pecado original, os pecados de sua própria justiça, o pecado da incredulidade, tendes de estar capacitados para apropriar-vos da justiça perfeita, a justiça suficiente para tudo, do Senhor Jesus Cristo; tendes de apropriar-vos, por fé, da justiça de Jesus Cristo e então, tereis paz. ‘Vinde a Mim’ diz Jesus, ‘todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei.’ Isto anima a todos os cansados e oprimidos; mas a promessa é para os que vêm a Ele e crêem, fazendo-o seu Deus e seu tudo. Antes de poder ter paz com Deus, temos de ser justificados pela fé por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, temos de estar capacitados para aceitar a Cristo em nossos corações, devemos dar cabimento a Cristo nas nossas almas, a fim de que a Sua justiça seja a nossa justiça, para que os Seus méritos sejam imputados às nossas almas. Meus queridos amigos, haveis-vos desposado alguma vez com Jesus Cristo? Entregou-se Jesus Cristo alguma vez por vós? Haveis.vos acercado alguma vez a Cristo com uma fé viva, a fim de ouvi-Lo falar de paz às vossas almas? Fluiu alguma vez a paz em vossos corações como um rio? Haveis sentido alguma vez essa paz da qual Cristo falou aos Seus discípulos? Rogo a Deus que venha e vos fale de paz.

Tendes de experimentar estas coisas. Refiro-me agora às realidades invisíveis de outro mundo, de uma religião interior, da obra de Deus no coração do pobre pecador. Falo agora de uma questão muito importante, meus queridos ouvintes; algo que concerne a todos, concerne às vossas almas, concerne à vossa salvação. Quiçá todos estejam em paz, pode ser que o diabo vos tenha feito cair numa letargia e numa segurança carnal; e procurará manter-vos nesse estado, até vos levar para o inferno, onde despertareis; mas será um despertar terrível e descobrireis que vos haveis equivocado tremendamente, quando a grande separação já se tenha completado, quando clamareis eternamente por uma gota de água para saciar a vosa sede, e não a obtereis.

Permi, então, que eu me dirija a vários tipos de pessoas e, queira Deus, na Sua infinita misericórdia, abençoar a Sua aplicação! Quiçá haja entre vós quem pode dizer: Pela graça, coincidimos consigo, Bendito seja Deus, convenceu-nos dos nossos próprios pecados, convenceu-nos que pecado original, convenceu-nos do nosso fariseísmo, havemos sentido a amargura da incredulidade e, por graça, aproximamo-nos de Jesus Cristo, podemos falar de paz ao nosso coração porque Deus nos deu paz. Vós podeis afirmar isto? Então, saúdo-voa como o anjo saudou as mulheres noo primeiro dia da semana: ‘Não temais!, meus queridos irmãos, sois vós almas felizes; podeis deitar-vos e estar certamente em paz, porque Deus vos deu paz; podeis ter contentamiento vivendo de acordo com todas as dispensas da Providência, porque já nada pode acontecer-vos, nada que não seja o efeito do amor de Deus em vossas almas; não tendes por que temer os conflitos que possam existir ao vosso redor, porque tendes paz no vosso seu interior. Havei-vos vós acercado a Cristo? É Deus vosso amigo? É Cristo vosso amigo? Então, encarai o vosso futuro com segurança; tudo vos pertence, e vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus. Tudo obrará para o vosso bem; cada cabelo da vossa cabeça foi contado; o que vos toca a vós, toca aos favoritos de Deus.

Mas depois, meus queridos amigos, tomai cuidado de deter-vos na vossa conversão. Vós, que sois crentes novos em Cristo, vós deveis estar procurando novos descobrimentos acerca do Senhor Jesus Cristo a cada momento; não deveis edificar sobre as vossas experiências passadas, não deveis edificar sobre uma obra no vosso seu interior, mas sempre procurar fora de vós mesmos a justiça de Jesus Cristo; deveis continuar acercando-se sempre como pobres pecadores para tirar água das fontes da salvação; deveis esquecer o que fica atrás, e estender-vos ao que está por diante.

Meus queridos amigos, devemos manter um andar dócil, íntimo com o Senhor Jesus Cristo. Muitos de nós perdemos a nossa paz pelo nosso andar indisciplinado; alguma coisa ou outra se interpõe entre Cristo e nós, e caímos na escuridão; uma coisa ou outra nos separa de Deus e isto entristece o Espírito Santo, e o Espírito Santo  deixa-nos livres aos nossos próprios recursos. Permi, pois, que vos exorte a vós que tendes paz com Deus, que cuideis para não perderes esta paz. É certo que uma vez que estais em Cristo, não podeis apartar-vos permanentemente de Deus: ‘Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus’. Mas embora não podais apartar-vos permanentemente, podeis sim apartar-vos desastrosamente, e podeis viver o resto dos vossos dias com ossos quebrados. Cuidem-se de retroceder em nome de Jesus Cristo, não entristeçais o Espírito Santo —porque pode ser que nunca na vossa vida recupereis o vosso bem-estar. Oh, cuidai-vos de não andar vegueando por este mundo de Deus depois de terdes acudido o Jesus Cristo. Meus queridos amigos, eu paguei caro a minha infidelidade. Os nossos corações são tão malditamente ímpios, que se não nos cuidamos, se não nos mantivermos continuamente em guarda, o nosso ímpio coração enganar-nos-á e desviar-nos-á. Será triste ser objeto do açoite de um Pai que corrige; recorde os açoites de Job, de David e de outros santos nas Escrituras. Portanto, permi que vos exorte a vós que tendes paz, que andeis perto de Cristo.

Entristece-me ver o andar libertino dos que sendo Cristãos, tendo conhecido a Jesus Cristo, diferenciam-se tão pouco de outros que quase nem se reconhecem como verdadeiros Cristãos. São Cristãos que têm medo de falar por Deus — deixam-se levar pela corrente; falam do mundo como se estivessem no seu elemento; não fazem isto quando recentemente descobrem o amor de Cristo; então podem falar sem parar da luz do Senhor que brilhou nos seus corações. Houve uma época quando tinham algo que dizer a favor do Seu querido Senhor; mas agora podem assumar-se a um grupo e escutar a outros falar do mundo abertamente, e têm medo de que riam deles se falarem a favor de Jesus Cristo.

Muitíssimas pessoas se têm convertido em conformistas no pior sentido da palavra; queixam-se das cerimónias da igreja, como podem fazê-lo com razão; mas depois aferram-se a cerimónias na sua conduta; conformam-se ao mundo, o qual é muito pior. Muitos ficarão até que o diabo apareça com novas ideias. Cuidai-vos, então de não vos conformades ao mundo. Que têm os Cristãos que ver com o mundo? Os Cristãos devem ser singularmente bons, valentes para o Seu Senhor, de modo que todos ao seu redor notem que têm estido com Jesus. Exorto-vos que chegueis a um acordo com Jesus Cristo, a fim de que Deus habiteorre continuamente em vossos corações. Edificamos sobre uma fé apoiada na unidade e perdemos assim a nossa consolação; quando deveríamos estar desenvolvendo uma fé apoiada na segurança, saber que somos de Deus, e desta maneira andar na consolação do Espírito Santo e ser edificados.

Jesus Cristo recebe muitas feridas na casa dos Seus amigos. Desculpai-me, meus amigos, por ser específico, ma entristece-me mais que Jesus Cristo seja ferido pelos seus amigos do que pelos Seus inimigos. Não podemos esperar outra coisa dos deístas, mas o fato de que os que hão sentido o Seu poder se apartem e não andem na vocação a que foram chamados —causam, com isso, que a religião de nosso Senhor seja objeto de desprezo, que seja mexerico para os pagãos. Rogo-vos, por Cristo, se conheceis Cristo, que permaneceis perto dEle; se Deus vos deu paz, oh, mantende essa paz fixando os vossos olhos em Jesus Cristo a cada momento. Se tendes paz com Deus e sofreis tribulações, não temais porque todas as coisas obrarão para vosso bem; Se sofreis tentações, não temais, se Ele concedeu paz aos vossos corações, todas as coisas resultarão para o vosso bem.

Mas, o que vos direi a vós que não tendes paz com Deus? —e estes sois, possivelmente, a maioria desta congregação. Só de pensá-lo faz-me chorar. A maioria de vós, se examinardes os vossos corações tendes de confessar que Deus nunca vos deu paz; vós sois filhos do diabo se Cristo não estiver em vós, se Deus não tem falado dee paz aos vossos corações. Pobres almas! Em que condição de condenação vos encontrais! Não queria estar no vosso lugar por nada do mundo. Por que? Porque estais suspensos sobre o inferno. Que paz podeis ter quando Deus é vosso inimigo, quando a ira de Deus habita nas vossas pobres almas? Despertai, então, vós que dormis numa paz falsa, despertai, vós professores carnais, vós hipócritas que assistis na igreja, recebeis os sacramentos, ledes as vossas Bíblias e nunca haveis sentido o poder de Deus em vossos corações. Vós que sois professores formais, que sois pagãos batizados, despertai, e não descanseis num fundamento falso. Não me culpem por me dirigir a vós; faço-o por amor às vossas almas. Vejo-vos entretidos na vossa Sodoma, e querendo permanecer ali. Mas aproximo-me de vós como se acercou o anjo de Lot, para tomar-vos pela mão. Apartai-vos desse lugar, queridos irmãos —correi, correi, correi para Jesus Cristo para salvar as vossas vidas, voai para um Deus sangrento, correi para um trono de graça; roguai a Deus que quebrante os vossos corações, roguai a Deus que vos convença do vosso fariseísmo — roguai a Deus que vos dê fé, e que vos dê poder para vos aproximardes de Jesus Cristo. Oh, vós que estais seguros, pensado ser um filho do trovão, e oh queira Deus despertar-vos, ainda que seja com trovões; é por amor, sim, que vos falo
.
Sei por triste experiência, o que é confiar demasiado numa paz falsa; por muito tempo estive adormecido, por muito tempo me cri cristão quando não sabia nada do Senhor Jesus Cristo. Quiçá fiz mais do que fazem muitos de vós: estava acostumado a jejuar duas vezes por semana, costumava orar às vezes nove vezes ao dia, estava acostumado a receber o sacramento constantemente em cada dia do Senhor; e, não obstante, nada sabia em meu coração de Jesus Cristo, não sabia que tinha de ser uma nova criatura —não sabia nada de uma religião interior em minh’alma. E, talvez, muitos de vós estejam enganados como o estava eu, pobre criatura; e, portanto falo-vos pelo amor que vos tenho. Oh, se não tomais cuidado, as práticas religiosas destruirão as vossas almas; confiareis nelas, e não vos acercareis para nada a Jesus Cristo; quando, na verdade, estas coisas são só o meio, não o fim da religião. Cristo é o fim da lei de justiça para todos os que crêem. Oh, então, despertai, vós que estais descansando nas vossas suas impurezas, despertai vós, professores da igreja, vós que viveis cuidando da vossa reputação, que sois ricos e credes que de nada necessitais, que não vos considerais pobres, estão cegos e nus; aconselho-vos que venhais e compreis de Jesus Cristo ouro, vestimentas brancas e colírio.

Mas espero que haja alguns cujos corações foram tocados. Espero que Deus não me deixe pregar em vão. Espero que Deus alcance algumas das vossas almas preciosas e desperte a alguns de vós que descansais na vossa segurança carnal. Espero que haja alguns dispostos a vir a Cristo, e que comecem a pensar que têm estado edificando sobre um fundamento falso. Quiçá o diabo vos ataque e vos incite a não confiar em que há misericórdia; mas não temeis, o que vos tenho estado dizendo é por amor a vós —é só para vos despertar, e para vos fazer ver o perigo em que vos encontrais. Se alguns de vós estais dispostos a reconciliar-vos com Deus, Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo, estão disposto a reconciliar-se convosco. Oh, então, embora ainda não tendes paz, aproximai-vos de Jesus Cristo; Ele é a nossa paz, o nosso pacificador —Ele tem feito as pazes entre Deus e o homem que O ofendeu. Anelais ter paz com Deus? Então, aproximai-vos já de Deus por meio de Jesus Cristo, que comprou a paz; o Senhor Jesus derramou o Seu sangue por isso. Morreu por isso; ressuscitou por isso; subiu ao mais alto dos céus e intercede agora à mão direita de Deus.

Quiçá crêem que não há paz para vós. Por quê? Porque são pecadores? Porque crucificaram a Cristo — envergonharam-nO publicamente— pisotearam o sangue do Filho de Deus? O que importa? Apesar de tudo isso, há paz para vós. O que disse Jesus Cristo aos seus discípulos quando lhes apareceu no primeiro dia da semana? A primeira palavra que disse foi: ‘Paz lhes mostrou suas mãos e seu flanco, e disse: ‘Paz seja convosco!’ É como se houvesse dito: Não temais, meus discípulos; vede as minhas mãos e os meus pés, como foram transpassados por vós; portanto, não temais. O que disse Cristo aos seus discípulos? ‘Ide e dizei a Meus irmãos e a Pedro em particular, que está desconsolado, que Cristo ressuscitou e subiu para Seu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus’. E depois de que Cristo Se levantou dos mortos, veio pregando a paz, com um ramo de oliveira, como a pomba de Noé: ‘A Minha paz vos deixo.’ Quem eram eles? Eram inimigos de Cristo como nós, haviam negado a Cristo no passado, tal como o fizemos nós.

Quiçá alguns de vós tenham retrocedido e perdido a Sua paz, e crêem que não merecem paz, e é a verdade. Mas, então, Deus curará as vossas faltas, Ele amá-los-á livremente. Quanto a vós que estais feridos, se estiverem dispostos a aproximar-vos de Cristo, vinde já. Talvez alguns de vós queiram revestir-se das suas obras, mas não são mais que trapos podres. Não, é melhor que venham nus como estão porque devem descartar os vossos trapos e vir na vossa imundície. Talvez alguns de vós digam: Viríamos, mas temos um coração duro. Mas este não será abrandado até que tenhais vindo a Cristo; Ele tomará o coração de pedra e vos dará um coração de carne; Ele dará paz às vossas almas; Ele será a vossa paz, embora O tenhais traído.

Posso convencer alguns de vós esta manhã de que venham a Jesus Cristo? Há aqui uma grande multidão de almas; que logo morrereis todos vós e sereis julgados! Até antes desta noite, ou amanhã pela noite, alguns de vós estarão no rumo a este cemitério. E o que vos acontecerá se não tendes feito as pazes com Deus —se o Senhor Jesus Cristo não vos deu paz aos vossos corações? Se Deus não vos dá a paz aqui, sereis condenados para sempre. Não posso adulá-los, meus queridos amigos; falar-vos-ei sinceramente acerca das vossas almas. Talvez alguns de vós pensem que exagero. Mas, certamente, ante o juízo descobrireis que o que digo é certo, quer seja para a vossa eterna condenação ou salvação. Queira Deus influenciar os vossos corações para que venham a Ele!

Não quero retirar-me sem vos convencer-los. Eu não posso fazê-lo, mas quiçá Deus me use como o meio para convencer a alguns de vós para que venham ao Senhor Jesus Cristo. Oh, que sentisseis a paz que têm os que amam ao Senhor Jesus Cristo! ‘Muita paz’ diz o salmista, ‘têm os que amam a tua lei, e para eles não há tropeço.’ Mas não há paz para os ímpios. Sei o que é viver uma vida de pecado; eu tinha de pecar a fim de sossegar a convicção que sentia. E estou seguro de que este é o caminho que muitos de vós tomam; ao ajuntar-se com os vossos amigos, afogais a convicção. Mas deveis ir ao fundo das coisas imediatamente; tendes de fazê-lo —a ferida tem de ser investigada ou sereis condenados. Se fosse uma questão sem importância, não diria nem uma palavra acerca disso. Mas sereis condenados sem Cristo. Ele é o caminho, a verdade e a vida. Não quero aceitar que ides para o inferno sem Cristo. Como havereis de aguentar o fogo eterno? Como podeis agüentar o pensamento de viver para sempre com o diabo? Não é melhor ter algumas lutas com a alma aqui que ser enviado para o inferno por Jesus Cristo na vida vindoura? O que é o inferno, não é estar ausente de Cristo? Se não houvesse nenhum outro inferno, isso seria inferno suficiente. Será um inferno ser atormentado pelo diabo para sempre. Então, amiguai-vos com Deus e estai em paz. Rogo-vos, como um pobre e inútil embaixador de Jesus Cristo, que vos reconcilieis com Deus.

O meu propósito esta manhã, o primeiro dia da Semana é contar-vos que Cristo está disposto a reconciliar-Se convosco. Reconciliar-vos-eis alguns de vós com  Jesus Cristo? Então, Ele perdoar-vos-á todos os vossos pecados, apagará todas as vossas transgressões. Mas se continuais rebelando-vos contra Cristo, e o apunhalais diariamente —se continuais maltratando a Jesus Cristo, estais certos que a ira de Deus cairá sobre vós. Deus não pode ser burlado: tudo o que o homem semear, isso também segará; e se vós não querereis estar em paz com Deus, Deus não estará em paz convosco. Quem pode permanecer de pé ante um Deus irado? É espantoso cair nas mãos de um Deus cheio de ira. Quando a multidão se aproximou para prender Cristo, caíram ao chão quando Este disse: ‘Eu sou’.

E se não podiam resistir na presença de Cristo quando estava vestido dos trapos de mortalidade, como podereis resistir na Sua presença quando está no trono de Seu Pai? Parece-me ver os pobres desgraçados arrastados das suas tumbas pelo diabo; parece-me vê-los tremendo, clamando aos montes e as rochas para que os cubram. Mas o diabo dirá: Vinde, eu os levarei; e comparecereis tremendo ante o tribunal de Cristo. Aparecereis ante Ele para vê-lo uma vez mais, para O escutar pronunciar a sentença irrevogável: ‘Apartai-vos de Mim todos os que praticais a iniquidade.’ Parece-me ouvir as pobres criaturas dizer: Senhor, se tiver de ser condenado, deixa que um anjo pronuncie a sentenca.’ Não, o Deus de amor, Jesus Cristo, pronunciá-la-á.

Não quereis crer isto? Não crede que estou dizendo algo à toa, falo de acordo com as Escrituras dae verdade. Se o crêem, mostrem a vossa valentia e retirem-se esta manhã totalmente resolvidos, com o poder de Deus, de aferrar-se a Cristo. E que as vossas almas não descansem até descansar em Jesus Cristo! Poderia proseguir, porque as minhas palavras são palavras doces de Cristo. Não anelais o momento quando tereis corpos novos —quando sereis imortais, à semelhança do glorioso corpo de Cristo? Então falareis de Jesus Cristo para sempre. Mas é hora, quiçá, de que vos retireis a fim de preparar-vos para os vossos respectivos cultos, e não quero impedir-vos isto. O meu propósito é levar pobres pecadores a Jesus Cristo. Oh, queira o Senhor atrair a Si a alguns de vós! Queira o Senhor Jesus despedir-vos agora com a Sua bênção, e queira o amado Redentor convencer-vos a vós, aos que não despertaram, aos ímpios, para que se apartem da maldade dos vossos caminhos! E queira o amor de Deus, que ultrapassa todo entendimento, encher os vossos corações. Concede isto, oh Pai, em nome de Cristo; para Quem, juntamente Contigo e o bendito Espírito, será toda honra e glória, agora e para sempre. Ámen.

http://www.biblebb.com/files/whitefield/gw058.htm
“The Method of Grace” by George Whitefield (1714-1770)



Tradução de Carlos António da Rocha

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