George Whitefield
O Método da Graça
“E curam superficialmente a
ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz." (Jr 6:14, ARC, Pt)
Assim como Deus não pode enviar a uma nação ou a um
povo uma bênção maior do que a de dar-lhe pastores fiéis, sinceros e retos,
assim também a maior maldição que Deus pode enviar a um povo deste mundo, é
lhes dar guias cegos, não regenerados, carnais, mornos e não qualificados. Não
obstante, em todas as épocas, descobrimos que tem havido muitos ‘lobos vestidos
de ovelhas’, muitos que manejavam displicentemente conceitos fundamentais que
não haviam assimilado em toda a sua profundidade, que subtraíam importância às
profecias, desobedecendo assim a Deus.
Tal como acontecia no passado, acontece agora. Há
muitos que corrompem a Palavra de Deus e a manejam com engano. Foi assim de uma
maneira especial na época do profeta Jeremias; e ele, fiel ao seu Senhor, fiel
a esse Deus que o havia empregado, não deixou de abrir a sua boca para
profetizar contra eles, e para apresentar um nobre testemunho para honra
daquele Deus em cujo nome falava.
Se você ler as suas profecias, verá que ninguém falou mais contra tais
ministros do que Jeremias, e especialmente aqui, no capítulo do qual foi tomado
o versículo, fala severamente contra eles — acusa-os de vários crimes,
particularmente, acusa-os de avareza: ‘Porque’ diz no versículo 13, ‘Porque
desde o menor deles até ao maior, cada um se dá à avareza; e desde o profeta
até ao sacerdote, cada um usa de falsidade.’ E logo, nas palavras do texto dá
mais especificamente um exemplo de como enganaram, como têm traido as pobres
almas. Diz: “E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo:
Paz, paz; quando não há paz.’ O profeta, em nome de Deus, tinha denunciado que
haveria guerra contra o povo, tinha-lhes estado dizendo que a sua casa ficaria
desolada, e que o Senhor visitaria-a terra trazendo guerra. “Por isso’, diz no
versículo 11, “Estou cheio do furor do SENHOR; estou cansado de o conter;
derrama-lo-ei sobre os meninos pelas ruas e na reunião de todos os jovens;
porque até o marido com a mulher serão presos, e o velho com o que está cheio
de dias. E as suas casas passarão a outros, como também as suas herdades e as
suas mulheres juntamente; porque estenderei a minha mão contra os habitantes
desta terra, diz o SENHOR.’
O profeta apresenta uma estrondosa mensagem a fim
de que se espantem e sintam um pouco de convicção e se arrependam; mas parece
que os falsos profetas, os falsos sacerdotes, se dedicaram a sossegar as
convicções do povo, e quando sofriam e se sentiam um pouco espantados,
preferiam tapar a ferida, dizendo-lhes que Jeremias não era mais do que um
pregador entusiasta, que era impossível que houvesse guerra entre eles, dizendo
ao povo: ‘Paz, paz’ quando o profeta lhes dizia que não haveria paz.
As palavras, então, referem-se primordialmente às
coisas externas, mas eu creio que também se referem à alma, e se devem aplicar
a esses falsos profetas que, quando o povo estava convencido do seu pecado,
quando o povo começava a olhar para o céu, preferiam sossegar as suas
convicções e dizer-lhes que já eram suficientemente bons. E, é obvio, às
pessoas geralmente encanta-as que seja assim; os nossos corações são muito
traiçoeiros e terrivelmente ímpios; ninguém a não ser o Deus eterno sabe quão
traiçoeiros são. Quantos somos os que clamamos: Paz, paz às nossas almas,
quando não há paz! Quantos há que agora estão submergidos nas suas impurezas,
que crêem que são Cristãos, que se gabam
de que se interessam em Jesus Cristo; mas se fôssemos examinar as suas
experiências, descobriríamos que a sua paz não é mais do que uma paz proveniente
do diabo --não é uma paz dada por Deus— não é um paz que escapa à compreensão
humana. Portanto, meus queridos ouvintes, é de suma importância saber se
podemos falar de paz ao nosso coração. Todos anelamos a paz; a paz é uma bênção
inefável; como podemos viver sem a paz? E, por isso, as pessoas de quando em
quando têm de comprovar quão longe devem ir, e que coisas lhes têm de suceder,
antes de poder falar de paz ao seu coração.
Isto é o que anelo agora, poder liberar minha alma,
poder ser livre do sangue daqueles a quem prego —não deixar de declarar todo o
conselho de Deus. Procurarei, com as palavras do texto, mostrar-lhes o que
devem sofrer e o que deve suceder em vocês antes de que possam falar de paz ao
vosso coração.
Mas antes de entrar diretamente nisto, me permitam
-me fazer-lhes uma ou duas advertências. A primeira é que dou por adquirido que
vocês crêem que a religião é algo interior; que crêem que é uma obra no
coração, uma obra realizada na alma pelo poder do Espírito de Deus. Se não
crêem isto, não crêem no que diz vossa Bíblia. Se não crêem isto, ainda que
tenham as vossas Bíblias nas vossas mãos, odeiais ao Senhor Jesus Cristo nos
vossos corações; porque em todas as Escrituras se apresenta a religião como a
obra de Deus no coração. ‘O reino de Deus está dentro de nós’ diz nosso Senhor,
e ‘não é cristão o que o é de fora; mas sim é cristão o que o é no seu
interior’. Se algum de vocês apoia a sua religião em coisas externas,
possivelmente se conforme a si mesmo esta manhã, já não me entenderá quando
falo da obra de Deus no coração do pobre pecador, será como se lhes falasse em
uma língua desconhecida.
Além disso, recomendo-lhes cautela, de maneira
nenhuma vou circunscrever Deus a uma só maneira de atuar. De maneira nenhuma
diria que todos, antes de ter feito as pazes com Deus, estão obrigados a passar
pelos mesmos graus de convicção. Não; Deus tem diversas maneiras de atrair os
Seus filhos; o Seu Espírito Santo sopra quando, e onde e como quer. Não
obstante, atrevo-me a afirmar isto: que antes de que vocês possam falar de paz
no vosso coração, quer seja por postergar ou alargar as vossas convicções, ou
fazê-lo de um modo mais agressivo ou mais suave, devem passar pelo que daqui em
diante explicarei no seguinte discurso.
Primeiro, antes de poder falar de paz em vossos
corações, deveis sentir-vos obrigados a ver, obrigados a perceber, obrigados a
chorar, obrigados a lamentar as vossas transgressões contra a lei de Deus.
Segundo o pacto das obras: ‘a alma que pecar, essa morrerá’; maldito é aquele
homem, seja quem for, que não segue todas as coisas escritas no livro da lei
para as realizar. Não só devemos cumprir algumas costure, mas também devemos
cumpri-las todas, e devemos perseverar em cumpri-la; de maneira que o menor
desvio do pacto das obras, seja em pensamento, palavra ou obra, merece a morte
eterna às mãos de Deus. E se um pensamento ímpio, se uma palavra ímpia, se uma
ação ímpia, merece condenação eterna, quantos infernos, meus amigos, merecemos
cada um de nós, cujas vistas se têm rebelado continuamente contra Deus!
Portanto, antes de poder falar de paz aos vosso corações, tendes de ver, tendes
que crer, que desgraça é estar separado do Deus vivente.
E agora, meus queridos amigos, examinai os vossos
corações, porque espero que tenhais vindo aqui com o propósito de melhorar as
vossas almas. Permiti que lhes pergunte, na presença de Deus: sabeis o
momento?, ou se não sabeis exatamente o momento, se sabeis que houve um momento
quando Deus escreveu coisas amargas contra vós, quando as flechas do
Todo-poderoso estavam dentro de vós? Aconteceu alguma vez que a lembrança deos
vossos pecados vos causou dor? Foi a carga dos vossos pecados demasiado
intolerável para pensardes neles? Considerastes alguma vez que a Ira de Deus
poderia cair sobre vós com justiça, devido às vossas transgressões contra Deus?
Houve algum momento em vossas vidas quando vos arrependestes dos vossos
pecados? Pudestes dizer alguma vez: Os pecados sobre a minha cabeça são
demasiado pesados para os carregar? Haveis sentido alguma vez algo assim?
Aconteceu alguma vez algo assim entre Deus e a vossa alma? Se não, em nome de
Jesus Cristo, não vos chameis Cristãos; podeis falar de paz aos vossos corações,
mas não tendes paz. Queira o Senhor despertar-vos, queira o Senhor
converter-vos, queira o Senhor dar-vos paz, se é Sua vontade, antes de que
partais deste mundo!
Mas além disso: vós podeis estar convencidos dos
vossos verdadeiros pecados, de maneira que eles vos fazem tremer, e mesmo assim
serdes estranhos para Jesus Cristo, não terdes em vossos corações a autêntica
obra de graça. Portanto, antes de poder falar de paz aos vossos corações, as
vossas convicções têm de ser mais profundas. Não tendes de estar convencidos
unicamente das vossas verdadeiras transgressões contra a lei Deus, mas também
do fundamento das vossas transgressões.
E qual é? Refiro-me ao pecado original, essa
corrupção original que cada um de nós traz ao mundo, que nos expõe à ira e a
condenação de Deus. Existem muitas pobres almas que se crêem muito razoáveis,
não obstante, pretendem afirmar que não existe tal coisa como o pecado
original. Acusarão de injustiça a Deus por nos imputar o pecado de Adão, embora
tenhamos a marca da besta e do diabo sobre nós. Entretanto, dizem-nos que não
nascemos em pecado. Deixem que olhem o que acontece no mundo e vejam as
desórdens nele e pensem, se puderem, que este é o paraíso em que Deus pôs o
homem. Não! Tudo no mundo está desordenado. Tenho pensado muitas vezes, quando
saía de viagem, que se não houvesse outro argumento que dê prova do pecado
original, os ataques das raposas e dos tigres contra o homem, e se, até o
latido de um cão contra nós, é uma prova do pecado original. Os tigres e leões
não se atreveriam a atacar-nos se não fora pelo primeiro pecado do Adão; porque
quando os animais se levantam contra nós, é como se dissessem: vós pecastes
contra Deus, e nós defendemos a causa de nosso Senhor.
Se olharmos para o nosso interior, veremos muitas
lascívias, e o temperamento do homem contrário ao temperamento de Deus. Há
orgulho, malícia e desejos de vingança em todos os nossos corações; e este
temperamento não pode provir de Deus; provém do nosso primeiro pai, Adão, que
depois de cair das mãos Deus, caiu nas do diabo. Algumas pessoas podem negar
isto, não obstante, quando chega a convicção, todas as razões carnais são
arrasadas imediatamente e a pobre alma começa a sentir e ver a fonte da qual
fluem todas as correntes contaminadas.
Quando o pecador desperta pela primeira vez, começa
a perguntar-se: Como é que chegua a ser tão malvado? O Espírito de Deus então
intervém, e mostra que, por natureza, não tem nada de bom nele. Então vê que se
tem apartado totalmente do caminho, que é totalmente abominável, e a pobre
criatura é impulsionada a cair ao pé do trono de Deus, e a reconhecer que Deus
seria justo se o condenasse, se o rechaçasse embora nunca tivesse cometido um
pecado na sua vida. Havesis sentido e experientado isto alguns de vós —para justificar
que pesa sobre vós a condenação de Deus— que sois por natureza filhos de ira, e
que Deus pode, na Sua justiça rechaçar-vos embora, na verdade alguma vez O
tenhais ofendido em toda a vossa vida? Se alguma vez haveis sentido uma
autêntica convicção, se os vossos corações foram verdadeiramente quebrantados,
se o eu realmente vos tem sido extirpado, terereis visto e compreendido isto.
E se nunca haveis sentido o peso do pecado
original, não vos chameis Cristãos a vós mesmos. Estou convencido de que o pecado
original é a carga maior do verdadeiro convertido; isto entristece sempre a
alma regenerada, a alma santificada. O pecado que mora no coração é a carga da
pessoa convertida; é a carga do verdadeiro cristão. Este clama continuamente;
‘Oh! Quem me libertará deste corpo de morte’, desta corrupção que mora no meu
coração? Isto é o que mais perturba a pobre alma. E, portanto, se nunca vós
sentites esta corrupção interior, se nunca pensastes que Deus poderia
amaldiçoar-vos justamente, então, meus queridos amigos, podeis falar de paz ao
coração mas, temo-me que não, estou seguro de que não tendes verdadeira paz.
E ainda mais: antes de poder falar de paz aos
vossos corações, não só deveis estar compungidos pelos pecados
Na vossa vida, os pecados da vossaa natureza, mas
também pelos pecados dos vossos melhores deveres e obras. Quando uma pobre alma
desperta um pouco pelos terrores do Senhor, então a pobre criatura, tendo
nascido sob o pacto das obras, voa outra vez a ele. E assim como Adão e Eva se
esconderam entre as árvores do jardim, e coseu folhas de figueira para cobrir a
sua nudez, o pobre pecador, ao despertar, voa para os seus deveres e para as
suas obras, para esconder-se de Deus, e trata de coser uma justiça própria.
Diz: agora serei muito bom —reformar-me-ei— farei tudo o que esteja ao meu
alcance; e certamente assim Jesus Cristo terá misericórdia de mim. Mas antes de
poder falar de paz ao seu coração, tem de chegar ao ponto de ver que Deus pode
condená-lo até pela melhor oração que tenha elevado; tem de chegar a
compreender que todos seus deveres —toda a sua justiça— como o expressa
elegantemente o profeta— todo isso junto, dista tanto de recomendá-lo a Deus,
dista tanto de ser um motivo e incentivo para que Deus tenha misericórdia da
sua pobre alma, que os verá, como trapos sujos, panos menstruais —que Deus os
odeia e não pode tirar-lhos se os apresenta como uma recomendação a seu favor.
Meus queridos amigos, o que pode haver em nossas
obras para recomendar-nos a Deus? A nossa pessoa encontra-se, por natureza, num
estado não justificado, merecemos ser condenados dez mil vezes e mais; e o que
são as nossas obras? Por natureza, não podemos fazer nada bom; ‘Os que andam
conforme à carne não podem agradar a Deus.’ Alguém pode realizar coisas
materialmente boas, mas não pode fazer nada bom que seja contado para justiça
porque a natureza não pode atuar contra si mesma. É impossível que o homem inão
convertido possa atuar para a glória de Deus; não pode fazer nada por fé, e ‘e
o que não se obra por fé é pecado.’ Depois de sermos renovados, na verdade
somos renovados sozinho em parte, o pecado continua morando em nós. Há uma
mescla de corrupção em cada um dos nossos deveres de maneira que depois de nos
havermos convertido, se é que Jesus Cristo nos aceitasse peloas nossas obras,
as nossas obras nos condenariam, porque não podemos elevar uma oração que
esteja dentro da perfeição que a lei moral exige. Não sei que o pensareis vós,
mas eu não posso orar sem pecar, não posso pregar-vos a vós nem a ninguém mais
sem pecar, não posso fazer nada sem pecado, e, como alguém o expressou, o meu
arrependimento quer arrepender-se e as minhas lágrimas querem ser lavadas no
precioso sangue do meu querido Redentor. As nossos melhores obras não são mais
do que pecados esplêndidos.
Antes de poder falar de paz aos vossos corações,
necessitais não só de odiar o vosso pecado original e os pecados que de fato
cometeis, mas deveis odiar a vossa própria justiça, todos os vossos deveres e
obras. Tem de haver uma convicção profunda antes que se vos possa tirar o vosso
farisaísmo; é o último ídolo que vos é tirado dos vossos corações. O orgulho do
nosso coração não nos deixa submeternos à justiça de Jesus Cristo. Mas se nunca
sentistes que não contaveis com uma justiça própria, se nunca sentistes a
deficiência da vossa própria justiça, não vos acercastes a Jesus Cristo. Há
muitos que diriam: Bom, nós cremos tudo isto; mas há uma grande diferença entre
dizer e sentir. Alguma vez haveis sentido vós que quereis um amante Redentor?
Haveis sentido alguma vez a necessidade de Jesus Cristo, conscientes da
deficiência da vossa própria justiça? E podeis dizer agora de coração: Senhor,
podes na Tua justiça condenar-me pelas melhores obras que jamais realize? Se
não deixardes de lado o eu, podeis falar a vós mesmos de paz, mas não tendes
paz.
Mas então, antes de poder falar de paz às vossas
almas, há um pecado em particular pelo qual deveis estar muito preocupados; mas
temo-me que a poucos de vós vos pode ocorrer de qual se trata; é o pecado
reinante, maldito do mundo cristão; não obstante, o mundo cristão quase nunca
ou nunca pensa nele. E qual é? É aquele do qual muitos de vós não vos sentis
culpados —ou seja, o pecado da incredulidade. Antes de poder falar de paz aos
vossos corações, deveis estar compungidos pela incredulidade que há neles. Mas,
pode-se supor que haja incrédulos aqui neste lugar, nascidos na Escócia, num
país reformado, que vão à igreja todos os domingos? Pode ser que algum de vós
que recebe o sacramento uma vez por ano — Oh que ele fosse administrado com
mais freqüência!— pode-se supor que vós que tinheis oferendas para o
sacramento, que vós que sois constantes na oração familiar, que algum de vós
não creia no Senhor Jesus Cristo? Apelo aos vossos corações, e não me crede
cruel, e não penseis que duvido que alguns de vós criam em Cristo; mesmo assim,
temo-me que sob escrutínio, descobriríamos que a maioria de vós não tem tanta
fé no Senhor Jesus Cristo como a tem o diabo mesmo. Estou convencido de que o
diabo crê mais acerca da Bíblia do que a maioria de nós. Crê na divindade de
Jesus Cristo; isso é mais do que crêem muitos que pretendem ser Cristãos; assim
é, crê e treme, e isso é mais do que fazemos muitos de nós.
Meus amigos, confundimos uma fé histórica com uma
fé autêntica, posto no coração pelo Espírito de Deus. Vós pensais que credes ,
porque credes que existe um livro que chamamos a Bíblia, porque ides à igreja;
podeis fazer tudo isto e não ter uma fé autêntica em Cristo. Meramente crer que
existiu Cristo, crer meramente que há um livro chamado a Bíblia, não vos
servirá de nada, como não vos serve para nada crer que existiu César ou
Alexandre Magno. A Bíblia é um depósito sagrado. Quanto devemos agradecer a
Deus por estes oráculos viventes! Não obstante, podemos tê-los e não crer no
Senhor Jesus Cristo. Meus queridos amigos, tem de existir um princípio posto no
coração pelo Espírito do Deus vivente. Se vos perguntasse há quanto tempo há
que crêem em Jesus Cristo, suponho que muitos me diriam que têm crido em Jesus
Cristo desde que têm uso de razão —nunca houve um momento quando não creram
nEle. Então, não me poderiam dar melhor prova de que nunca creram em Jesus
Cristo a menos que tenham sido santificados prematuramente, desde antes de
nascer, porque os que realmente crêem em Cristo sabem que houve uma época
quando não criam nEle.
Vós dizeis que amais a Deus com todo o vosso
coração, com todo a vossa alma e com todo as vossas forças. Se vos perguntasse
há quanto há que amais a Deus, dirieis: Sempre, nunca odiamos a Deus, nunca
houve uma época em que vossos corações estiveram em inimizade com Deus. Então,
a menos que tivesseis sido santificados muito prematuramente, nunca na vossa
vida amastes a Deus.
Queridos amigos, sou muito específico quanto a isto
porque é uma falsa ilusão em que cai muita gente que pensa que já crê. Por
exemplo, conta-se que o Sr. Marshall, ao relatar as suas experiências, que
tinha trabalhado toda sua vida e tinha organizado os seus pecados sob os dez
mandamentos, e logo, aproximando-se de um pastor, perguntou-lhe a razão pela
qual não podia obter paz. O pastor olhou para a sua lista e disse: ‘A meu ver,
não encontro na sua lista nenhuma palavra sobre o pecado da incredulidade.’ É a
obra singular do Espírito de Deus convencemos da nossa incredulidade —de que não
temos fé. Diz Jesus Cristo: ‘O Consolador, o qual eu enviarei da parte do
Pai... Ele... redarguirá o mundo de pecado’ do pecado da incredulidade; ‘de
pecado’, diz Cristo, ‘por quanto não crêem em Mim’.
Pois bem, meus queridos amigos, mostrou-vos Deus
alguma vez que não tinheis fé? Impulsionou-vos alguma vez a lamentardes um
coração duro de incredulidade? Foi alguma vez a linguagem dos vosso corações,
dizer: Senhor, dá-me fé; Senhor, capacita-me para crer em Ti; Senhor,
capacita-me para Te chamar meu Senhor e meu Deus? Alguma vez Cristo vos
convenceu desta maneira? Convenceu-vos alguma vez da vossa incapacidade de vos
acercardes de Cristo, fazendo-vos clamar a Deus que desse fé? Se não, não
faleis de paz aos vosso corações. Queira o Senhor despertar-vos e dar-vos uma
paz autêntica, sólida antes que seja muito tarde!
Então, digamo-lo uma vez mais: antes de poder falar
de paz aos vossos corações, não só tendes de estar convencidos dos pecados que
de fato cometeis e do vosso pecado original, os pecados de sua própria justiça,
o pecado da incredulidade, tendes de estar capacitados para apropriar-vos da
justiça perfeita, a justiça suficiente para tudo, do Senhor Jesus Cristo;
tendes de apropriar-vos, por fé, da justiça de Jesus Cristo e então, tereis
paz. ‘Vinde a Mim’ diz Jesus, ‘todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu
vos aliviarei.’ Isto anima a todos os cansados e oprimidos; mas a promessa é
para os que vêm a Ele e crêem, fazendo-o seu Deus e seu tudo. Antes de poder
ter paz com Deus, temos de ser justificados pela fé por meio de nosso Senhor
Jesus Cristo, temos de estar capacitados para aceitar a Cristo em nossos
corações, devemos dar cabimento a Cristo nas nossas almas, a fim de que a Sua
justiça seja a nossa justiça, para que os Seus méritos sejam imputados às
nossas almas. Meus queridos amigos, haveis-vos desposado alguma vez com Jesus
Cristo? Entregou-se Jesus Cristo alguma vez por vós? Haveis.vos acercado alguma
vez a Cristo com uma fé viva, a fim de ouvi-Lo falar de paz às vossas almas?
Fluiu alguma vez a paz em vossos corações como um rio? Haveis sentido alguma
vez essa paz da qual Cristo falou aos Seus discípulos? Rogo a Deus que venha e
vos fale de paz.
Tendes de experimentar estas coisas. Refiro-me
agora às realidades invisíveis de outro mundo, de uma religião interior, da
obra de Deus no coração do pobre pecador. Falo agora de uma questão muito
importante, meus queridos ouvintes; algo que concerne a todos, concerne às
vossas almas, concerne à vossa salvação. Quiçá todos estejam em paz, pode ser
que o diabo vos tenha feito cair numa letargia e numa segurança carnal; e
procurará manter-vos nesse estado, até vos levar para o inferno, onde
despertareis; mas será um despertar terrível e descobrireis que vos haveis
equivocado tremendamente, quando a grande separação já se tenha completado,
quando clamareis eternamente por uma gota de água para saciar a vosa sede, e
não a obtereis.
Permi, então, que eu me dirija a vários tipos de
pessoas e, queira Deus, na Sua infinita misericórdia, abençoar a Sua aplicação!
Quiçá haja entre vós quem pode dizer: Pela graça, coincidimos consigo, Bendito
seja Deus, convenceu-nos dos nossos próprios pecados, convenceu-nos que pecado
original, convenceu-nos do nosso fariseísmo, havemos sentido a amargura da
incredulidade e, por graça, aproximamo-nos de Jesus Cristo, podemos falar de
paz ao nosso coração porque Deus nos deu paz. Vós podeis afirmar isto? Então,
saúdo-voa como o anjo saudou as mulheres noo primeiro dia da semana: ‘Não
temais!, meus queridos irmãos, sois vós almas felizes; podeis deitar-vos e
estar certamente em paz, porque Deus vos deu paz; podeis ter contentamiento
vivendo de acordo com todas as dispensas da Providência, porque já nada pode
acontecer-vos, nada que não seja o efeito do amor de Deus em vossas almas; não
tendes por que temer os conflitos que possam existir ao vosso redor, porque
tendes paz no vosso seu interior. Havei-vos vós acercado a Cristo? É Deus vosso
amigo? É Cristo vosso amigo? Então, encarai o vosso futuro com segurança; tudo
vos pertence, e vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus. Tudo obrará para o
vosso bem; cada cabelo da vossa cabeça foi contado; o que vos toca a vós, toca
aos favoritos de Deus.
Mas depois, meus queridos amigos, tomai cuidado de
deter-vos na vossa conversão. Vós, que sois crentes novos em Cristo, vós deveis
estar procurando novos descobrimentos acerca do Senhor Jesus Cristo a cada
momento; não deveis edificar sobre as vossas experiências passadas, não deveis
edificar sobre uma obra no vosso seu interior, mas sempre procurar fora de vós
mesmos a justiça de Jesus Cristo; deveis continuar acercando-se sempre como
pobres pecadores para tirar água das fontes da salvação; deveis esquecer o que
fica atrás, e estender-vos ao que está por diante.
Meus queridos amigos, devemos manter um andar
dócil, íntimo com o Senhor Jesus Cristo. Muitos de nós perdemos a nossa paz
pelo nosso andar indisciplinado; alguma coisa ou outra se interpõe entre Cristo
e nós, e caímos na escuridão; uma coisa ou outra nos separa de Deus e isto
entristece o Espírito Santo, e o Espírito Santo
deixa-nos livres aos nossos próprios recursos. Permi, pois, que vos
exorte a vós que tendes paz com Deus, que cuideis para não perderes esta paz. É
certo que uma vez que estais em Cristo, não podeis apartar-vos permanentemente
de Deus: ‘Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus’. Mas embora
não podais apartar-vos permanentemente, podeis sim apartar-vos desastrosamente,
e podeis viver o resto dos vossos dias com ossos quebrados. Cuidem-se de
retroceder em nome de Jesus Cristo, não entristeçais o Espírito Santo —porque
pode ser que nunca na vossa vida recupereis o vosso bem-estar. Oh, cuidai-vos
de não andar vegueando por este mundo de Deus depois de terdes acudido o Jesus
Cristo. Meus queridos amigos, eu paguei caro a minha infidelidade. Os nossos
corações são tão malditamente ímpios, que se não nos cuidamos, se não nos
mantivermos continuamente em guarda, o nosso ímpio coração enganar-nos-á e
desviar-nos-á. Será triste ser objeto do açoite de um Pai que corrige; recorde
os açoites de Job, de David e de outros santos nas Escrituras. Portanto, permi
que vos exorte a vós que tendes paz, que andeis perto de Cristo.
Entristece-me ver o andar libertino dos que sendo
Cristãos, tendo conhecido a Jesus Cristo, diferenciam-se tão pouco de outros
que quase nem se reconhecem como verdadeiros Cristãos. São Cristãos que têm
medo de falar por Deus — deixam-se levar pela corrente; falam do mundo como se
estivessem no seu elemento; não fazem isto quando recentemente descobrem o amor
de Cristo; então podem falar sem parar da luz do Senhor que brilhou nos seus
corações. Houve uma época quando tinham algo que dizer a favor do Seu querido
Senhor; mas agora podem assumar-se a um grupo e escutar a outros falar do mundo
abertamente, e têm medo de que riam deles se falarem a favor de Jesus Cristo.
Muitíssimas pessoas se têm convertido em
conformistas no pior sentido da palavra; queixam-se das cerimónias da igreja,
como podem fazê-lo com razão; mas depois aferram-se a cerimónias na sua
conduta; conformam-se ao mundo, o qual é muito pior. Muitos ficarão até que o
diabo apareça com novas ideias. Cuidai-vos, então de não vos conformades ao
mundo. Que têm os Cristãos que ver com o mundo? Os Cristãos devem ser
singularmente bons, valentes para o Seu Senhor, de modo que todos ao seu redor
notem que têm estido com Jesus. Exorto-vos que chegueis a um acordo com Jesus
Cristo, a fim de que Deus habiteorre continuamente em vossos corações. Edificamos
sobre uma fé apoiada na unidade e perdemos assim a nossa consolação; quando
deveríamos estar desenvolvendo uma fé apoiada na segurança, saber que somos de
Deus, e desta maneira andar na consolação do Espírito Santo e ser edificados.
Jesus Cristo recebe muitas feridas na casa dos Seus
amigos. Desculpai-me, meus amigos, por ser específico, ma entristece-me mais
que Jesus Cristo seja ferido pelos seus amigos do que pelos Seus inimigos. Não
podemos esperar outra coisa dos deístas, mas o fato de que os que hão sentido o
Seu poder se apartem e não andem na vocação a que foram chamados —causam, com
isso, que a religião de nosso Senhor seja objeto de desprezo, que seja mexerico
para os pagãos. Rogo-vos, por Cristo, se conheceis Cristo, que permaneceis
perto dEle; se Deus vos deu paz, oh, mantende essa paz fixando os vossos olhos
em Jesus Cristo a cada momento. Se tendes paz com Deus e sofreis tribulações,
não temais porque todas as coisas obrarão para vosso bem; Se sofreis tentações,
não temais, se Ele concedeu paz aos vossos corações, todas as coisas resultarão
para o vosso bem.
Mas, o que vos direi a vós que não tendes paz com
Deus? —e estes sois, possivelmente, a maioria desta congregação. Só de pensá-lo
faz-me chorar. A maioria de vós, se examinardes os vossos corações tendes de
confessar que Deus nunca vos deu paz; vós sois filhos do diabo se Cristo não
estiver em vós, se Deus não tem falado dee paz aos vossos corações. Pobres
almas! Em que condição de condenação vos encontrais! Não queria estar no vosso lugar
por nada do mundo. Por que? Porque estais suspensos sobre o inferno. Que paz
podeis ter quando Deus é vosso inimigo, quando a ira de Deus habita nas vossas
pobres almas? Despertai, então, vós que dormis numa paz falsa, despertai, vós
professores carnais, vós hipócritas que assistis na igreja, recebeis os
sacramentos, ledes as vossas Bíblias e nunca haveis sentido o poder de Deus em
vossos corações. Vós que sois professores formais, que sois pagãos batizados,
despertai, e não descanseis num fundamento falso. Não me culpem por me dirigir
a vós; faço-o por amor às vossas almas. Vejo-vos entretidos na vossa Sodoma, e
querendo permanecer ali. Mas aproximo-me de vós como se acercou o anjo de Lot,
para tomar-vos pela mão. Apartai-vos desse lugar, queridos irmãos —correi,
correi, correi para Jesus Cristo para salvar as vossas vidas, voai para um Deus
sangrento, correi para um trono de graça; roguai a Deus que quebrante os vossos
corações, roguai a Deus que vos convença do vosso fariseísmo — roguai a Deus
que vos dê fé, e que vos dê poder para vos aproximardes de Jesus Cristo. Oh,
vós que estais seguros, pensado ser um filho do trovão, e oh queira Deus
despertar-vos, ainda que seja com trovões; é por amor, sim, que vos falo
.
Sei por triste experiência, o que é confiar
demasiado numa paz falsa; por muito tempo estive adormecido, por muito tempo me
cri cristão quando não sabia nada do Senhor Jesus Cristo. Quiçá fiz mais do que
fazem muitos de vós: estava acostumado a jejuar duas vezes por semana,
costumava orar às vezes nove vezes ao dia, estava acostumado a receber o
sacramento constantemente em cada dia do Senhor; e, não obstante, nada sabia em
meu coração de Jesus Cristo, não sabia que tinha de ser uma nova criatura —não
sabia nada de uma religião interior em minh’alma. E, talvez, muitos de vós
estejam enganados como o estava eu, pobre criatura; e, portanto falo-vos pelo
amor que vos tenho. Oh, se não tomais cuidado, as práticas religiosas
destruirão as vossas almas; confiareis nelas, e não vos acercareis para nada a
Jesus Cristo; quando, na verdade, estas coisas são só o meio, não o fim da
religião. Cristo é o fim da lei de justiça para todos os que crêem. Oh, então,
despertai, vós que estais descansando nas vossas suas impurezas, despertai vós,
professores da igreja, vós que viveis cuidando da vossa reputação, que sois
ricos e credes que de nada necessitais, que não vos considerais pobres, estão
cegos e nus; aconselho-vos que venhais e compreis de Jesus Cristo ouro,
vestimentas brancas e colírio.
Mas espero que haja alguns cujos corações foram
tocados. Espero que Deus não me deixe pregar em vão. Espero que Deus alcance
algumas das vossas almas preciosas e desperte a alguns de vós que descansais na
vossa segurança carnal. Espero que haja alguns dispostos a vir a Cristo, e que
comecem a pensar que têm estado edificando sobre um fundamento falso. Quiçá o
diabo vos ataque e vos incite a não confiar em que há misericórdia; mas não
temeis, o que vos tenho estado dizendo é por amor a vós —é só para vos
despertar, e para vos fazer ver o perigo em que vos encontrais. Se alguns de
vós estais dispostos a reconciliar-vos com Deus, Deus o Pai, o Filho e o
Espírito Santo, estão disposto a reconciliar-se convosco. Oh, então, embora
ainda não tendes paz, aproximai-vos de Jesus Cristo; Ele é a nossa paz, o nosso
pacificador —Ele tem feito as pazes entre Deus e o homem que O ofendeu. Anelais
ter paz com Deus? Então, aproximai-vos já de Deus por meio de Jesus Cristo, que
comprou a paz; o Senhor Jesus derramou o Seu sangue por isso. Morreu por isso;
ressuscitou por isso; subiu ao mais alto dos céus e intercede agora à mão
direita de Deus.
Quiçá crêem que não há paz para vós. Por quê?
Porque são pecadores? Porque crucificaram a Cristo — envergonharam-nO
publicamente— pisotearam o sangue do Filho de Deus? O que importa? Apesar de
tudo isso, há paz para vós. O que disse Jesus Cristo aos seus discípulos quando
lhes apareceu no primeiro dia da semana? A primeira palavra que disse foi: ‘Paz
lhes mostrou suas mãos e seu flanco, e disse: ‘Paz seja
convosco!’ É como se houvesse dito: Não temais, meus
discípulos; vede as minhas mãos e os meus pés, como foram transpassados por
vós; portanto, não temais. O que disse Cristo aos seus discípulos? ‘Ide e dizei
a Meus irmãos e a Pedro em particular, que está desconsolado, que Cristo
ressuscitou e subiu para Seu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus’. E depois
de que Cristo Se levantou dos mortos, veio pregando a paz, com um ramo de
oliveira, como a pomba de Noé: ‘A Minha paz vos deixo.’ Quem eram eles? Eram
inimigos de Cristo como nós, haviam negado a Cristo no passado, tal como o
fizemos nós.
Quiçá alguns de vós tenham retrocedido e perdido a
Sua paz, e crêem que não merecem paz, e é a verdade. Mas, então, Deus curará as
vossas faltas, Ele amá-los-á livremente. Quanto a vós que estais feridos, se
estiverem dispostos a aproximar-vos de Cristo, vinde já. Talvez alguns de vós
queiram revestir-se das suas obras, mas não são mais que trapos podres. Não, é
melhor que venham nus como estão porque devem descartar os vossos trapos e vir
na vossa imundície. Talvez alguns de vós digam: Viríamos, mas temos um coração
duro. Mas este não será abrandado até que tenhais vindo a Cristo; Ele tomará o
coração de pedra e vos dará um coração de carne; Ele dará paz às vossas almas;
Ele será a vossa paz, embora O tenhais traído.
Posso convencer alguns de vós esta manhã de que
venham a Jesus Cristo? Há aqui uma grande multidão de almas; que logo morrereis
todos vós e sereis julgados! Até antes desta noite, ou amanhã pela noite,
alguns de vós estarão no rumo a este cemitério. E o que vos acontecerá se não
tendes feito as pazes com Deus —se o Senhor Jesus Cristo não vos deu paz aos
vossos corações? Se Deus não vos dá a paz aqui, sereis condenados para sempre.
Não posso adulá-los, meus queridos amigos; falar-vos-ei sinceramente acerca das
vossas almas. Talvez alguns de vós pensem que exagero. Mas, certamente, ante o
juízo descobrireis que o que digo é certo, quer seja para a vossa eterna
condenação ou salvação. Queira Deus influenciar os vossos corações para que
venham a Ele!
Não quero retirar-me sem vos convencer-los. Eu não
posso fazê-lo, mas quiçá Deus me use como o meio para convencer a alguns de vós
para que venham ao Senhor Jesus Cristo. Oh, que sentisseis a paz que têm os que
amam ao Senhor Jesus Cristo! ‘Muita paz’ diz o salmista, ‘têm os que amam a tua
lei, e para eles não há tropeço.’ Mas não há paz para os ímpios. Sei o que é
viver uma vida de pecado; eu tinha de pecar a fim de sossegar a convicção que
sentia. E estou seguro de que este é o caminho que muitos de vós tomam; ao
ajuntar-se com os vossos amigos, afogais a convicção. Mas deveis ir ao fundo
das coisas imediatamente; tendes de fazê-lo —a ferida tem de ser investigada ou
sereis condenados. Se fosse uma questão sem importância, não diria nem uma
palavra acerca disso. Mas sereis condenados sem Cristo. Ele é o caminho, a
verdade e a vida. Não quero aceitar que ides para o inferno sem Cristo. Como
havereis de aguentar o fogo eterno? Como podeis agüentar o pensamento de viver
para sempre com o diabo? Não é melhor ter algumas lutas com a alma aqui que ser
enviado para o inferno por Jesus Cristo na vida vindoura? O que é o inferno,
não é estar ausente de Cristo? Se não houvesse nenhum outro inferno, isso seria
inferno suficiente. Será um inferno ser atormentado pelo diabo para sempre.
Então, amiguai-vos com Deus e estai em paz. Rogo-vos, como um pobre e inútil
embaixador de Jesus Cristo, que vos reconcilieis com Deus.
O meu propósito esta manhã, o primeiro dia da
Semana é contar-vos que Cristo está disposto a reconciliar-Se convosco.
Reconciliar-vos-eis alguns de vós com
Jesus Cristo? Então, Ele perdoar-vos-á todos os vossos pecados, apagará
todas as vossas transgressões. Mas se continuais rebelando-vos contra Cristo, e
o apunhalais diariamente —se continuais maltratando a Jesus Cristo, estais
certos que a ira de Deus cairá sobre vós. Deus não pode ser burlado: tudo o que
o homem semear, isso também segará; e se vós não querereis estar em paz com
Deus, Deus não estará em paz convosco. Quem pode permanecer de pé ante um Deus
irado? É espantoso cair nas mãos de um Deus cheio de ira. Quando a multidão se
aproximou para prender Cristo, caíram ao chão quando Este disse: ‘Eu sou’.
E se não podiam resistir na presença de Cristo
quando estava vestido dos trapos de mortalidade, como podereis resistir na Sua
presença quando está no trono de Seu Pai? Parece-me ver os pobres desgraçados
arrastados das suas tumbas pelo diabo; parece-me vê-los tremendo, clamando aos
montes e as rochas para que os cubram. Mas o diabo dirá: Vinde, eu os levarei;
e comparecereis tremendo ante o tribunal de Cristo. Aparecereis ante Ele para
vê-lo uma vez mais, para O escutar pronunciar a sentença irrevogável: ‘Apartai-vos de Mim todos os que praticais a iniquidade.’ Parece-me ouvir as pobres criaturas dizer: Senhor, se tiver de ser
condenado, deixa que um anjo pronuncie a sentenca.’ Não, o Deus de amor, Jesus
Cristo, pronunciá-la-á.
Não quereis crer isto? Não crede que estou dizendo
algo à toa, falo de acordo com as Escrituras dae verdade. Se o crêem, mostrem a
vossa valentia e retirem-se esta manhã totalmente resolvidos, com o poder de
Deus, de aferrar-se a Cristo. E que as vossas almas não descansem até descansar
em Jesus Cristo! Poderia proseguir, porque as minhas palavras são palavras
doces de Cristo. Não anelais o momento quando tereis corpos novos —quando
sereis imortais, à semelhança do glorioso corpo de Cristo? Então falareis de
Jesus Cristo para sempre. Mas é hora, quiçá, de que vos retireis a fim de
preparar-vos para os vossos respectivos cultos, e não quero impedir-vos isto. O
meu propósito é levar pobres pecadores a Jesus Cristo. Oh, queira o Senhor
atrair a Si a alguns de vós! Queira o Senhor Jesus despedir-vos agora com a Sua
bênção, e queira o amado Redentor convencer-vos a vós, aos que não despertaram,
aos ímpios, para que se apartem da maldade dos vossos caminhos! E queira o amor
de Deus, que ultrapassa todo entendimento, encher os vossos corações. Concede
isto, oh Pai, em nome de Cristo; para Quem, juntamente Contigo e o bendito
Espírito, será toda honra e glória, agora e para sempre. Ámen.
http://www.biblebb.com/files/whitefield/gw058.htm
“The Method of Grace” by George Whitefield (1714-1770)
Tradução de Carlos António da Rocha
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Esta tradução é de
livre utilização, desde que a sua ortografia seja respeitada na íntegra porque
já está traduzida no Português do Novo Acordo Ortográfico e que não seja nunca
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