… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Ó Médico De Minhas Misérias Diviníssimo

Frei Tomé de Jesus
Ó Médico De Minhas Misérias Diviníssimo


"Ó Médico de minhas misérias diviníssimo, esforçai minha fraqueza, para quebrantar estas más inclinações; Oh conhecedor de minhas imperfeições, que em mim vedes quanto pelo interior d'esta alma estas más raízes entram, e o dano que me fazem, arrancai-as; o que vós quereis, e sois servido, que faça, ensinai-me, e dai-me vontade para o fazer, forças para o executar, e fortaleza para não temer dano, nem perda, nem mal, que este corpo imagina que lhe virá, se vos servir. Dai-me, Senhor, que ame toda a criatura, que me der algum trabalho, pois é instrumento de ser minha culpa castigada. Dai-me que toda a tribulação me seja saborosa, e por ela vos satisfazer por meus pecados. Dai-me que tanto me aborreçam meus pecados, quanto gostei de os cometer. Dai-me que tanto ame a penitência, e a busque, como amei a culpa. E porque vós sabeis o que me cumpre, a vossos pés piedosos me lanço. Perdoai quanto quiserdes, castigai quanto quiserdes, e dai-me que eu outra cousa não queira; aqui queimai, aqui cortai, aqui açoutai, aqui não perdoeis nada, mas que para sempre me perdoeis."



In TRABALHOS DE JESUS, COMPOSTOS PELO VENERÁVEL PADRE FR. THOME DE JESUS. TOMO PRIMEIRO

Lisboa, Em casa do editor A. J. Fernandes Lopes, Rua Áurea, 152-154.

MDCCCLXV.

Frei Tomé de Jesus nasceu em Lisboa, em 1529. De origem nobre, foi educado por Frei Luís de Montoia, no Colégio de "N.ª Sr.ª" da Graça, em Coimbra. Em 1544 professou na Congregação dos Eremitas de Santo Agostinho, no Colégio de "N.ª Sr.ª" da Graça, em Lisboa.

Em 1578, tendo acompanhado D. Sebastião a África, foi capturado em Alcácer Quibir e morreu na prisão, entre finais de 1582 e inícios de 1583.

Das suas obras, Trabalhos de Jesus, dividida em duas partes (a primeira editada em 1601 e a segunda em 1609) e escrita enquanto estava preso, é, sem dúvida, a mais importante. Escritos às escondidas, sem livros de consulta, embora acusem leituras anteriores da escola de místicos flamengos e alemães dos séculos XIV e XV, os Trabalhos de Jesus são constituídos pela reconstituição imaginária de 50 dos padecimentos (ou trabalhos) de Cristo, e ainda de outros passos da sua vida, seguidos de exercícios ou preces de resignação e humilhação. Com o objetivo de consolar os companheiros de cativeiro, elabora uma mística da dor, exaltando, em longas enumerações, os sofrimentos padecidos por Cristo.

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