ATANÁSIO DE ALEXANDRIA
Se
cristo tinha mesmo de entregar o seu corpo à morte por todos nós
“Quando levantardes
o Filho do homem, compreendereis que Eu Sou” (Jo 8:28, ARC, Pt)
Alguém poderia dizer: Se Cristo tinha
mesmo de entregar o Seu corpo à morte por todos nós, porque é que não morreu
normalmente, como homem? porque é que tinha de se deixar crucificar?
Poder-se-ia, na verdade, dizer que era mais conveniente para Ele entregar o seu
corpo de uma maneira digna do que suportar a infâmia de tal morte... Esta
objeção é demasiado humana: o que aconteceu ao Salvador é verdadeiramente
divino e digno da Sua divindade por várias razões.
Em primeiro lugar, porque a morte que
acontece aos homens tem a ver com a fraqueza da sua natureza; não podendo durar
indefinidamente, eles desagregam-se com o tempo. Chegam as doenças e, tendo
perdido as suas forças, acabam por morrer. Mas o Senhor não é fraco; Ele é a
Força de Deus, o Verbo de Deus, a própria Vida. Se Ele entregasse o corpo em
privado, num leito, à maneira dos homens, teriam pensado... que Ele não tinha
nada a mais do que os outros homens... Não convinha que o Senhor adoecesse, Ele
que curava as doenças dos outros...
Então porque é que Ele não afastou a
morte, tal como tinha afastado a doença? Porque Ele possuía um corpo
precisamente para isso e para não pôr entraves à ressurreição... Mas, dirá
talvez alguém, Ele deveria ter evitado a conjura dos Seus inimigos, para
conservar o Seu corpo absolutamente imortal. Que esse aprenda, então, que
também isso não convinha ao Senhor. Tal como não era digno do Verbo de Deus,
por ser a Vida, dar a morte ao Seu corpo por Sua própria iniciativa, também não
Lhe convinha fugir da morte que outros Lhe queriam dar... Morrer como morreu
não significou de modo algum a fraqueza do Verbo, mas fê-lo ser conhecido como
Salvador e Vida... O Salvador não veio experimentar a Sua própria morte mas a
morte dos homens.
Atanásio, Bispo de Alexandria (Alexandria, ca. 295 — Alexandria, 2
de maio de 373)
http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/pais_da_igreja/s_atanasio_antologia.html
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