“Então
lhe trouxeram um surdo e gago, e lhe suplicaram que impusesse a mão sobre
ele... depois, erguendo os olhos ao céu, suspirou e disse: Efata, que quer
dizer: Abre-te.” (Mc 7:32)
Cristo suspirou não somente por causa da
língua e dos ouvidos deste pobre homem. Tratava-se de um suspiro geral por
causa de todos os corações, corpos e almas, e de todos os homens, desde Adão
até ao último que ainda virá a nascer. Deste modo, o motivo principal do
suspiro de Cristo não é que no futuro esta pessoa ainda virá a cometer muitos
pecados. Era porque nesse montão de carne e sangue diante de Si, o Senhor viu
claramente como no paraíso o diabo conseguiu infligir dano mortal ao corpo
humano, tornando as pessoas mudas e surdas, e sujeitando-as à morte e ao fogo
do inferno.
Naquele dia e em muitas outras ocasiões,
Cristo teve diante dos olhos esse quadro da extensão do estrago que o diabo
conseguiu fazer por meio da queda de um só homem no paraíso. Ele não olhou
somente aqueles dois ouvidos, mas para a grande multidão que nasce e ainda há-de
nascer. De modo que este Evangelho nos apresenta a Cristo como o Homem que
aceita a você, a mim e a todos nós, assim como devemos aceitar a nós mesmos,
como se Ele estivesse envolvido no mesmo pecado e dano em que nós nos
encontramos. E ainda nos mostra que Ele suspira por causa do diabo invejoso que
deu origem a toda essa deformação.
Martinho Lutero
In Meditações de Lutero, Castelo Forte - 1983
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