“Habite
ricamente em vós a Palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente
em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos e hinos e cânticos
espirituais, com gratidão, em vossos corações.” (Cl 3:16)
Os salmos não nos
apresentam a fala simples, comum dos santos, mas a melhor, aquela que usaram
para falar com Deus com grande fervor sobre assuntos dos mais importantes. Este
é o maior presente que os santos nos deram nos salmos: podermos saber o que sentiam e como falaram com Deus e com as outras
pessoas.
Pois o coração
humano é semelhante a um navio sobre o mar revoltoso, jogado de lá para cá por
ventos tempestuosos dos quatro cantos da Terra.
Tais tempestades
ensinam a orar com fervor e a abrir o coração e pôr tudo <cá> para fora.
Pois quem está mergulhado no medo e cercado de perigos fala dos problemas com palavras
bem diferentes daquelas que seriam empregadas por alguém que está vibrando de
alegria. E aquele que está vibrando de alegria, quando se refere a coisas
alegres, fala e canta de forma bem diferente daquele que está mergulhado no
medo. Quando vemos uma pessoa triste rir ou uma pessoa alegre chorar, dizemos
que isso não vem do fundo do coração, que isto não revela o que se passa no seu
íntimo.
O que são os salmos
em sua maioria senão fervorosas orações feitas no meio de tais ventos
tempestuosos? Onde é que vamos encontrar palavras mais lindas sobre alegria do
que nos salmos de louvor ou de gratidão? Ali, os santos abrem os seus coração e
pode-se ver algo semelhante a jardins floridos, sim, como o próprio Céu. Ali,
desabrocham, qual lindas flores, toda sorte de palavras bonitas e felizes, que
se dirigem a Deus e falam da Sua bondade.
Por outro lado, onde
é que vamos encontrar palavras que exprimem tanta tristeza, queixa e miséria
como as palavras dos salmos de penitência? Aqui pode-se, isto sim, ver no
coração dos santos algo que se parece com a morte, sim, com o próprio inferno.
Como tudo ali é escuro e tenebroso à vista do furor de Deus! Assim, quando
falam de temor e de esperança, os salmistas usam palavras tais que nenhum
pintor seria capaz de reproduzir num quadro, e orador algum, nem mesmo Cícero,
seria capaz de descrever.
Martinho Lutero
In Meditações de Lutero, Castelo Forte - 1983
Sem comentários:
Enviar um comentário